sábado, 8 de agosto de 2015

A delação premiada veio para ficar

Com a adoção dessa ferramenta, a lei brasileira segue uma tendência mundial no combate ao crime, mas já há quem queira restringir a conquista

Por Mariana Barros
 VEJA.COM
SENTENÇA MAIOR - Léo Pinheiro, ex-OAS, ao ser preso, em 2014: ele calcula que aguentaria até dois anos em regime fechado. Acaba de ser condenado a mais que issoSENTENÇA MAIOR - Léo Pinheiro, ex-OAS, ao ser preso, em 2014: ele calcula que aguentaria até dois anos em regime fechado. Acaba de ser condenado a mais que isso
(Vagner Rosário/VEJA)
Arte quebrando o silêncio
                      (VEJA.com/VEJA)
​No começo, era apenas um despiste. "Espalhamos que já tinha gente na fila para colaborar, mas a gente ainda não tinha nada." A confissão, divulgada meses atrás, é do procurador Carlos Fernando Lima, considerado o cérebro da força-tarefa de Curitiba, quando lembrava como ele e os colegas conseguiram atrair os primeiros suspeitos da Lava-Jato para inaugurar os hoje tão famosos, tão temidos e tão aguardados acordos de delação premiada.
Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, abriu a fila. Seu acordo foi homologado pelo juiz Sergio Moro em 27 de agosto de 2014, uma quarta-feira. Daí em diante, um carrossel virtuoso começou a girar com uma delação puxando a outra, e alguns acusados apressando-se para assinar a delação antes que não houvesse mais novidades a revelar. Na semana passada, a Lava-Jato tinha 25 acordos homologados. Mas, como se tornou habitual nesse escândalo, as expectativas sempre se voltam para o próximo acordo.

Na mira dos procuradores está o empreiteiro Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, preso há nove meses. Desde o primeiro contato com o Ministério Público, seus advogados estão negociando os termos de uma delação cujo potencial explosivo é medido em escala atômica. A princípio, o empreiteiro resistia à delação na esperança de pegar até dois anos de prisão em regime fechado, limite que dizia suportar.
Na semana passada, o juiz Sergio Moro condenou Pinheiro a dezesseis anos de prisão, dos quais pelo menos dois e meio terão de ser cumpridos em regime fechado. A condenação, um pouco maior do que o esperado, pode quebrar suas últimas resistências a abrir o bico. Outros dois, ambos ex-diretores da Petrobras, ainda não assinaram acordo, mas já estão em estágio avançado conversas para informar os procuradores sobre o que podem oferecer em troca de redução de pena. São eles: Renato Duque, homem do PT na direção da Petrobras, e Nestor Cerveró, o propineiro de Pasadena.

O volume de acordos de delação premiada na Lava-Jato é algo jamais visto em qualquer investigação criminal no país. Resulta da confluência de um acontecimento de 1990 com outro de 2004. Em 1990, o instituto da delação premiada apareceu pela primeira vez na legislação brasileira, na nova lei dos crimes hediondos. Foi ampliado nove anos depois para todos os demais crimes, deixando de se restringir aos hediondos.
Em 2004, quando trabalhava no caso Banestado, escândalo de remessa ilegal de dinheiro para o exterior, um jovem juiz homologou uma das primeiras delações feitas nos moldes atuais. Era Sergio Moro. O delator era o mesmo Alberto Youssef de agora, o doleiro que se tornou talvez o único brasileiro a ter feito não uma, mas duas delações premiadas. Juntando a lei de 1990, o juiz de 2004 e a megarroubalheira na Petrobras, produziram-se as condições para o recorde: 25 acordos de colaboração, e a conta ainda não terminou.
A delação premiada surgiu como um antídoto contra a globalização do crime. Com organizações criminosas transnacionais cada vez mais sofisticadas, os legisladores, sobretudo na Itália e nos Estados Unidos, passaram a pensar em instrumentos capazes de chegar aos chefes desses mamutes do crime: as máfias, os cartéis da droga, os grupos terroristas, as quadrilhas de corruptos.
A colaboração de um acusado em troca da redução da pena surgiu como o único meio de quebrar o código de silêncio dos criminosos e pôr as mãos no alto-comando. Nos últimos trinta anos, os Estados Unidos acumularam vasta experiência nesse campo. Desde a Operação Mãos Limpas, na década de 90, uma gigantesca ação contra políticos corruptos, a Itália também avançou.
O relativo sucesso da delação premiada no combate ao crime organizado levou a ONU a lançar uma convenção anticorrupção cujo texto sugere explicitamente que os países-membros adotem algum tipo de recompensa aos criminosos que denunciam comparsas.

Assim, a delação premiada começou a proliferar pelo mundo.
O Brasil assinou a convenção no ano do seu lançamento, em 2003, e promulgou-a três anos depois. A novidade, no entanto, está longe de ser consensual. Os advogados, em geral, e os criminalistas, em particular, consideram a delação premiada um instrumento antiético e imoral porque a negociação da pena corrompe o processo penal, cuja essência é comprovar, ou não, a culpa do réu, e não colocá-la numa barganha. Também lhes desagrada o fato de a delação premiada levar o acusado a renunciar a um direito fundamental - o direito a um processo justo -, pois a sentença é previamente acertada.
As reservas são mais fortes em países como o Brasil, cujo ordenamento jurídico vem da tradição romana, em contraposição ao de tradição inglesa. Em 2003, quando o governo da França propôs uma reforma jurídica que copiava parte do sistema dos Estados Unidos, houve uma gritaria geral.
Mesmo na pátria mundial da cidadania, os franceses acabaram se rendendo à dureza da realidade do crime. A Assembleia Nacional aprovou as mudanças, inclusive a delação premiada. Hoje, um francês pode ficar até quatro dias preso sem acusação formal, algo impensável até uma década atrás.

 07/08/2015- DO R.DEMOCRATICA

A missa negra celebrada para salvar o moribundo apressou a extrema-unção

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O dia e a hora da encenação, o elenco bisonho, o roteiro mambembe, o mestre-de-cerimônias repulsivo, a arrogância dos parteiros da obra – tinha tudo para dar errado o programa partidário de 10 minutos exibido pelo PT na noite desta quinta-feira. E deu. Mas o que se viu superou as previsões mais catastróficas do mais radical antipetista.
As agressões ao Brasil indignado começaram com a entrada em cena de José de Abreu. Cicerone do passeio pelo lixão do PT, o rei de lixão de novela puxou o desfile de ameaças e insinuações belicosas. “O caminho do pessimismo nos leva a lugares bem sombrios e o alçapão mais perigoso é o que nos lança no conflito, com final sempre trágico para todos”.
Um porta-voz do bloco da barba abriu o cortejo de figurantes escalados para recitar cretinices sobre coisas que ignoram. “Durante seis anos, os governos do PT conseguiram retardar a chegada da crise econômica no (sic) Brasil”, mentiu. “Hoje o país vive problemas passageiros em (sic) economia”, mentiu a representante da elite branca. “E tem gente tentando se aproveitar disso para criar uma crise política”, mentiu o terceiro destaque do grupo de jovens robotizados.
O espetáculo do cinismo estava quase na metade quando irrompeu o bordão ilustrado por imagens de políticos oposicionistas: “Não se deixe enganar por aqueles que só pensam em si mesmos”. E então chegou a vez da trinca de protagonistas. Cada vez mais parecido com um agente funerário que furta o relógio do defunto, Rui Falcão invadiu a tela para repetir a tapeação do momento.
“Tem gente dizendo que só existe crise no Brasil, mas as manchetes provam que há crise em toda a parte”, mentiu o presidente do PT, amparado por dois recortes de jornal. O primeiro noticiava um soluço na bolsa de valores da China, cujo PIB vai crescer além de 6% neste ano. O segundo tratava do agravamento da crise da Grécia, uma espécie de Brasil da Europa.
Além de gregos e brasileiros, só estão aflitos com crises os russos e os venezuelanos. O resto do mundo está muito melhor que o paraíso tropical castigado pela alta da inflação, pela ampliação do desemprego e pela paralisia nos investimentos, fora o resto. Nada disso foi mencionado no programa, que também contornou cuidadosamente a corrupção de dimensões amazônicas, a segunda prisão de José Dirceu ou a destruição da Petrobras.
“Eu sei que a crise já chegou na nossa casa”, fingiu condoer-se Lula já na primeira linha do palavrório. (Não na dele: o chefão de tudo não sabe o que é problema financeiro desde que virou gigolô de empreiteira). Mas tudo vai melhorar, prometeu o mágico de picadeiro que não para de pensar “naqueles que mais precisam”. (O tempo que sobra é consumido na proteção a parentes e amigos multimilionários, como o filhote Lulinha ou os quadrilheiros do Petrolão).
A Ópera dos Malandros foi encerrada por Dilma Rousseff: “Quem pensa que nos falta (sic) ideias está muito enganado”, gabou-se a recordista de impopularidade sem apresentar uma única ideia. Ao som da lira do delírio, os idiotas no poder despediram-se dos espectadores zombando dos 71% de brasileiros exaustos de ladroagem e incompetência. Em vez de pedir desculpas ao país que presta, o exército brancaleônico preferiu chamar para a briga a imensidão de descontentes.
O maior panelaço da história do Brasil foi o ensaio geral para o resposta dos afrontados, que virá em 16 de agosto. A missa negra celebrada para salvar o governo moribundo apressou a extrema-unção. A data do enterro será determinada pelo povo nas ruas. DO A.NUNES-VEJA