segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Eduardo agora quer provar que nunca foi Cunha

Josias de Souza
O depoimento de Eduardo Cunha à Justiça Federal de Brasília inaugurou um espetáculo novo, estrelado por um personagem desconhecido. Ao tentar se defender das acusações do delator Lúcio Funaro, o detento apresentou-se como um pobre-diabo que jamais teve influência política.
O depoente admitiu ter marcado uma audiência de Funaro com Moreira Franco, então vice-presidente da Caixa Econômica Federal. Mas ignora os negócios que resultaram do encontro. ''Se Moreira Franco recebeu [propina] —em se tratando do Moreira Franco até não duvido—, não foi através das minhas mãos'', desconversou.
Eduardo Cunha também admitiu ter apresentado Funaro, doleiro manjado e operador de propinas requisitado, a outro peemedebista que passou pela vice-presidência da Caixa: Geddel Vieira Lima, o homem do cafofo que servia de esconderijo para R$ 51 milhões. Mas o ex-deputado fez pose de intermediário desinteressado.
Esse novo Eduardo Cunha, espécie de relações públicas inocente, coadjuvante nato, não faz justiça ao personagem que frequentava as manchetes como político voraz. Um sujeito que atropelou o PT na disputa pela presidência da Câmara. Cercou-se de uma milícia parlamentar suprapartidária. Capitaneou a deposição de Dilma Rousseff.
Nas pegadas da abertura do processo de impeachment, Dilma colocou no olho da rua Fábio Cleto, homem que Eduardo Cunha acomodou na vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias da Caixa, pra fazer negócios com verbas do FGTS. Agora, o padrinho renega apadrinhado, atribuindo a nomeação exclusivamente a Guido Mantega, então ministro da Fazenda.
Recorrendo a todos os estratagemas para atingir seus subterfúgios, o ex-mandachuva da Câmara exagera na humildade. Antes, jactava-se dos seus superpoderes. Agora, auto-convertido num antilíder, alega que querem transformá-lo num ''Posto Ipiranga.'' É como se Eduardo se empenhasse para provar que nunca foi o Cunha que todos imaginavam.
A nova biografia que não deve colar. Mas Eduardo, o ex-Cunha, agora vivendo na penúria, já pode estruturar uma nova carreira para quando deixar a cadeia. Talvez não tenha o mesmo êxito como político. Mas fará muito sucesso como comediante.

O decisivo Fator Honestidade em 2018

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

    
Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net
O fator Honestidade tende a ser decisivo na eleição de 2018. Por isso, é muito improvável que um candidato como Luiz Inácio Lula da Silva consiga vencer no segundo turno eleitoral. Pode até ser verdadeira a tendência, apontada nas “enquetes”, de que o ex-presidente ainda contar com a média histórica de 30% dos votos de um eleitorado que combina “esquerdismo” com “idiotice”. Lula (mal) representa uma minoria sem-noção. O fator “anti-Lula” é outra tendência.
Da mesma forma como é uma tendência o crescimento da candidatura de Jair Bolsonaro. Mesmo sem uma base partidária sólida, o perfil de Bolsonaro combina bem com a força do “Fator Honestidade”. Até agora, acusaram Bolsonaro de tudo, principalmente de radical de extrema-direita,  ultraconservador e nacionalista. Os esquerdóides até tentam pintá-lo como “maluco”. No entanto, o importante é que não cola em Bolsonaro o terrível rótulo de “corrupto”. Em 26 anos como deputado, Bolsonaro não aparece como participantes de esquemas de roubalheira. Por isso já conta com o apoio de tanta gente, inclusive no mercado financeiro.  
Se 30% apóiam Lula (será?), o restante dos eleitores (70%) tende a rejeitar candidatos fichas-sujas ou comprometidos com o Crime (estrutural ou institucionalizado). Ainda não se fez uma pesquisa científica sobre a muito provável influência do Fator Honestidade na próxima eleição. No entanto, nas redes sociais já crescem movimentos espontâneos com pregações tipo “reeleja ninguém” ou, até mais radical, “não vote em ninguém – anule o voto”. Resumindo: a classe política, identificada com a ladroagem, é alvo fácil da revolta dos eleitores.
Não está fácil emplacar uma “terceira via” capaz de encarar Lula e Bolsonaro com chances concretas de vitória no fla-flu eleitoral de 2018. Uma das candidaturas que já nasce morta é a de Henrique Meirelles. Depois que admitiu o “sonho” de disputar o Palácio do Planalto, Meirelles começou a sofrer ataques que o inviabilizam. A primeira pancada foi dada por ele mesmo, ao admitir que assinou atas de reuniões das quais não participou na J&F (Holding da família de Joesley e Wesley). Será que a Comissão de Valores Mobiliários terá coragem de apurar o sincericídio de Meirelles?
Outra recente bordoada que arrasa com a imagem de Meirelles vem do exterior. Um novo vazamento global revela offshores pertencentes a Henrique Meirelles no Caribe. O escândalo “Paradise Papers” mexe com figuras importantes do governo Donald Trumpo, mas também do Temer. Além de Meirelles, que seria o controlador de uma empresa chamada “The Sabedoria Trust”, a denúncia atinge Blairo Maggi, ministro da Agricultura. Ter offshore não é crime, desde que se declare a movimentação financeira à Receita Federal, Banco Central, CVM, COAF e demais aparelhos de repressão financeira do Estado-Ladrão brasileiro.
Por tudo isso, a pergunta fatal de 2018 será a do título de uma música dos lendários Noel Rosa e Francisco Alves, na distante década de 30 do século passado: “Onde está a Honestidade?”. Letra mais atual que esta, impossível... A resposta será bem difícil de encontrar na próxima eleição, em meio a um oceano de corrupção cultural e sistêmica no regime Capimunista do Brazil...

Releia o artigo de domingo: Questionamentos Imagéticos

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Tem culpa Temer?

Ruralistas usam MP de Temer para se autoconceder uma farra previdenciária

Josias de Souza

Fraco, impopular e às voltas com uma erosão em sua base de apoio congressual, Michel Temer tornou-se uma oportunidade que os ruralistas aproveitam ao máximo. Medida provisória editada pelo presidente para parcelar dívidas de produtores rurais foi transformada no Congresso numa farra previdenciária. Nela, os agroparlamentares se autoconcederam o esticamento do prazo, o perdão das multas, a redução da entrada e a eliminação das garantias exigidas pelo governo.
A medida provisória leva o número 793. Contém as regras de um parcelamento das dívidas de produtores rurais com o Funrural, a previdência dos trabalhadores do campo. Parecia apenas mais um privilégio no varejão do fisiologismo, em cujas prateleiras já estão uma portaria escravagista e um anteprojeto de arrendamento de terras indígenas a agricultores. De repente, virou algo muito parecido com um escárnio.
Chama-se Tereza Cristina (PSB-MS) a deputada escolhida para exercer a atribuição de relatora na comissão especial constituída para analisar a MP. Os ruralistas apresentaram emendas reivindicando tudo. E Tereza não hesitou em entregar. A comissão deve se reunir nesta segunda-feira. Se houver quórum, o novo texto será votado. São grandes, muito grandes, enormes as chances de ser aprovado.
Temer brindou o agronegócio com um parcelamento de suas dívidas previdenciárias em 180 meses (pode me chamar de 15 anos). Pelo texto original, os devedores teriam de pagar uma entrada de 4% do total da dívida, diluídos nas quatro primeiras parcelas. O resto seria dividido em 176 meses. Na versão de Tereza Cristina, a entrada cai para apenas 1%.
O texto que veio do Planalto concedia aos devedores que aderissem ao parcelamento um abatimento generoso no valor das multas: 25%. Na proposta que será votada pela Câmara, as multas são 100% perdoadas.
A MP condicionava o parcelamento de dívidas superiores a R$ 15 milhões à apresentação de garantias — cartas de fiança e seguros bancários, por exemplo. No projeto da relatora, esse tipo de exigência sumiu.
Deveriam ser excluídos do programa de parcelamento os devedores que deixassem de pagar três prestações consecutivas ou seis alternadas. Tereza Cristina modificou os termos da MP. Pela sua proposta, o devedor não será importunado se o atraso no pagamento for provocado por uma queda na safra.
Em vigor desde o dia em que foi publicada no Diário Oficial, a medida provisória de Temer fixara o dia 29 de setembro como prazo limite para a adesão ao parcelamento das dívidas do Funrural. A relatora propõe que o prazo seja esticado até 20 de dezembro. O upgrade que guindou o privilégio ao estágio de escárnio beneficiaria retroativamente todos os que já aderiram ao programa.
Costuma-se utilizar como pretexto para a concessão de refinanciamentos de débitos tributários e previdenciários a carga extorsiva de impostos que asfixia a iniciativa privada no Brasil. O argumento não é ruim. O problema é que passaram a coexistir dois guichês no fisco. Num, quem sonega é brindado com sucessivos parcelamentos. Noutro, quem deve paga suas dívidas e faz papel de idiota.