O ex-deputado pernambucano Pedro Corrêa teve sete mandatos e está há
sete anos no xilindró. Foi figura importante no Mensalão e no Petrolão,
escândalos comandados por Luiz Inácio Lula da Silva, o maior ladrão da
história do Brasil
Em entrevista exclusiva, rompendo um silêncio de quase sete anos de
prisão, o ex-deputado Pedro Corrêa Neto, também ex-presidente nacional
do PP, afirma que a prisão de Lula foi a maior afirmação da justiça
brasileira. "Tive sete mandatos de deputado desde a época de Figueiredo,
vi muita corrupção e convivi com muitos corruptos, mas nunca assisti
tanta roubalheira quanto no Governo de Lula e do PT em geral. Foi o
maior assalto aos cofres públicos da história", afirmou.
Corrêa não assume, categoricamente, que Lula é ladrão, mas suspeita do
seu patrimônio, dando a entender ser fruto das corrupções em seu
Governo. "Ele declarou uma poupança de R$ 12 milhões. De onde veio esse
dinheiro? Eu não roubei, o dinheiro que arrecadei foi para campanhas,
inclusive de Lula, que foi pobre e mudou de vida muito rápido. Eu venho
de uma família rica, diferente dele", afirmou.
Corrêa assume que cometeu ilegalidades ao arrecadar dinheiro da
Petrobrás, mas que não estava envolvido da arrecadação do mensalão.
Entre as declarações do ex-parlamentar, ele também assume que a sua
delação premiada foi fundamental para prisão do ex-presidente Lula.
“Eu digo que ele (Lula) sabia de tudo, pois ele sabia que íamos para a
Petrobrás para arrecadar recursos, para poder financiar o partido. Ele
sabia que o fundo partidário não dava. Na campanha dele de 2006, nós
pedimos dinheiro a ele. E ele falou que "Paulinho" (Paulo Roberto,
presidente da Petrobrás) tinha dito a ele que a gente estava bem de
dinheiro. Mas o José Janene arrecadava sempre dinheiro e passava pro PT
através do Delúbio Soares”, disse.
Perguntado sobre a sua relação e o que achava do ex-ministro e ex-juiz
Sérgio Moro, Corrêa diz que ele perdeu o seu respeito ao aceitar o
cargo. “Ele condenou Lula, que era o principal opositor de Bolsonaro.
Ele foi para um governo que não sabia para onde estava indo. Eu não
votaria em Bolsonaro porque ele é assim. Eu sei quem ele é. E Moro saiu
mal, saiu batendo no presidente”, afirmou.
Veja abaixo a sua íntegra:
O senhor se sente injustiçado?
Em relação à prisão da lava jato, sim. Não tenho mais nada a ver com a
Lava Jato. Estou preso por conta da minha condenação no Mensalão. Fui
condenado a 7 anos, dois meses e sete dia e estou preso há 6 anos, seis
meses e 17 dias. Eu já deveria estar solto faz tempo, mas por uma
incompreensão do ministro Roberto Barroso, que não quer cumprir uma
decisão do colegiado do Supremo, que decidiu que o decreto do
ex-presidente Temer era constitucional e que ele tinha autoridade para
fazê-lo, que me deu o indulto, apesar de eu não ter podido pagar a
multa. A multa era de 900 mil reais. Quando o juiz mandou para a vara de
execuções, ele corrigiu para 1,6 milhão e hoje está em 3,5 milhão. Se
eu tivesse o dinheiro que dizem que eu tenho eu já teria pago.
O senhor foi acusado de roubar. Mas o senhor roubou?
Eu não vou dizer a você que eu não tenha cometido nenhuma ilegalidade.
Eu cometi. Eu era presidente do partido e eu arrecadei muito dinheiro da
Petrobrás e etc. O Mensalão eu não fazia parte da arrecadação, eu pedi
como sempre pedia aos empresários amigos. O pessoal da Lava Jato diz que
nós arrecadamos R$ 400 milhões, que não é verdade. Porque esse dinheiro
tinha que ter passado em algum banco, em algum lugar... e na verdade
não teve isso. O Youssef, que foi preso, que arrecadava dinheiro da
Petrobrás nesse caso. Isso era uma coisa comum. A Petrobrás sempre fez
isso, em todos os governos. Por ter ligações com usinas, eu fazia parte
da bancada do açúcar, então eu arrecadava dinheiro do Sindicato do
Açúcar e usineiros.
Esse dinheiro que o senhor fala – de R$ 400 milhões – foi destinado para a campanha de Lula também?
Claro. Para todos os partidos. O Youssef arrecadava para todos os
partidos. No final, Paulo Roberto Costa queria ser presidente da
Petrobrás e queria fazer uma bancada. Então se ligou a vários partidos.
Quando nós indicamos o nome dele pra diretoria de abastecimento, foi
aceito com muita facilidade, com exceção do presidente da Petrobrás.
Pois o ex-diretor dizia que dava "1 milhão e tanto" para o presidente da
Petrobrás. E isso ficou provado. E teve uma encrenca grande para nomear
o Paulo Roberto. O presidente Lula teve que intervir nessa questão.
O PT criou aquela imagem da ética e dos bons costumes. O senhor que conviveu de perto, o que pode dizer?
O PT, como todo partido que foi para a presidência, quis montar uma base
aliada para garantir a administração, a partir do Mensalão. O PT não
estava preparado para ser Governo. Lula estava, mas o PT, não. Eles
acharam que tinham que colocar a companheirada toda deles nos cargos. Aí
colocaram gente incompetente. Sindicalistas, gente que não tinha noção
de gestão pública. Esse povo gerou essa corrupção tão grande, a maior do
País. Se envolveu num mar de lama.
Por que os lulistas acham que Lula não é corrupto?
É essa coisa de achar que ele é a tábua de salvação. Eles sabem que não
tem outra liderança. Haddad e esses outros não existem. Lula está velho,
sem saúde e não tem outro. Eles estão com medo de Ciro, que Ciro vá ser
o novo Bolsonaro da próxima eleição. Eu pensava que pudesse ser Moro.
Mas quando Moro foi ministro ele perdeu o respeito a nação, pois não
podia ter sido ministro de Bolsonaro, um governo que ele mesmo ajudou a
construir.
Dizem que a sua delação premiada foi fundamental para a prisão de Lula. É verdade?
É. Tanto é que se você pegar a sentença da condenação de Lula, o Moro
usa a minha delação em 25% dela. E se for pegar o TRF4, os
desembargadores citam longamente a minha delação. Eu digo que ele sabia
de tudo, pois ele sabia que íamos para a Petrobrás para arrecadar
recursos, para poder financiar o partido. Ele sabia que o fundo
partidário não dava. Eu conversei diversas vezes com ele sobre isso,
fazíamos reunião de 15 em 15 dias. Eu, ele e Zé Dirceu falamos várias
vezes. Eu me lembro, por exemplo, que na campanha dele de 2006 pedimos
dinheiro a ele. E ele falou que "Paulinho" (Paulo Roberto, presidente da
Petrobrás) tinha dito a ele que a gente estava bem de dinheiro. Mas o
José Janene arrecadava sempre dinheiro e passava para o PT através do
Delúbio Soares.
Com quem o senhor ficou preso e dividiu a cela?
Zé Dirceu, Delúbio Soares, Pedro Henry, Valdemar Costa Neto, Zé
Genuíno... vivíamos todos lá dentro. O banheiro era coletivo, tinha uma
cortina e pronto. Isso era na Papuda. Depois fui para o Cotel e depois
para Canhotinho. Fiquei até abril e depois fui para a Polícia Federal em
Brasília. Em seguida parti para da Curitiba, onde estava Marcelo
Odebrecht, esse pessoal todo. Na PF, eu dormia na cama e Marcelo no
chão. Era um cara que não tinha nada dessa coisa de rico. O negócio era
fazer exercício, era oito horas de exercício.
Quando vocês receberam a notícia da prisão de Lula?
Eu estava em Recife. Eu saí no dia 1 de março de 2017 porque eu não
aguentava mais ficar em pé. Eu me internei quatro vezes. Mas eu já
estava em casa quando vi a prisão de Lula. Acho que ele foi preso um ano
depois da eleição. E achei justa a prisão dele, porque ele tinha que
pagar. Ia ser diferente dos outros? Ele deixou os amigos dele na mão.
Deixou Zé Dirceu, Palocci, todo mundo se lascar. E aí botou Dilma e nada
chegava nele. Chegou nele e chegou na Dilma. Quando fui fazer minha
delação, eu avisei a todo o pessoal o que eu ia falar. Eles disseram que
iam prender meu filho, minha nora e minha filha. Então, eu tinha que
falar. Fiz delação e ele sabia de tudo. Eu apresentei todos os
documentos que eu tinha, de valores, transferências, projetos aprovados
Petrobrás, fotos de reunião com o presidente Lula... e outras coisas.
Lula é um homem rico hoje?
Não sei. Mas certamente ele é mais rico que eu. Ele disse que tem R$ 12
milhões numa conta e eu não tenho nem um tostão. Meu patrimônio todo não
é nem R$ 6 milhões. Não sei como o dinheiro dele se multiplica tanto.
Acho que todo diz um dinheiro dele dá luz a outra nota de cem. Já os
filhos, eu não sei.
Por que o senhor silenciou por tanto tempo?
Talvez eu escreva um livro. Eu fui deputado por 28 anos. Minha vida foi
toda política. E acho que o País precisa de pacificação. Não sei para
onde o país vai. Antes existia um acirramento na campanha, mas depois
parava. Agora, não sei é porque a esquerda não aceita a vitória a
direita, mas tem destruído as pessoas e desestabilizado o governo. Hoje,
as pessoas tem medo de tomar atitudes no governo e amanhã estar depondo
na Polícia Federal, estar com o rosto estampado nas páginas dos
jornais.
Nesse governo Bolsonaro tem corrupção?
Eu não sei. Sei que Bolsonaro nunca recebeu nada de Mensalão nem Lava
Jato. Jair só recebia uma cota de selo do fundo partidário. O deputado
tinha uma cota de 10 mil selos por mês, que naquela época correspondia a
R$ 20 mil. Mas Jair queria mandar 500 mil cartas, então não tinha
jeito. Mas aí eu arranjava para ele mais 30 mil selos, pelo fundo
partidário. Dinheiro vivo, ele não queria. Ele dizia para dar para outra
pessoa, pois ele não precisava. A campanha dele era barata, só gastava
com selo para mandar santinho.
Então a oposição nunca vai pegar Bolsonaro em caso de corrupção?
Eu não acredito, pois ele nunca recebeu nada, pelo menos no período que estive à frente do PP.
Por qual motivo o senhor está sem a tornozeleira?
Estava ferindo minha perna, pois sou diabético. Tive até que fazer
cirurgia. Tem um despacho da juíza autorizando-me a retirar. O
dermatologista disse que eu não posso usar em nenhuma das pernas, pois
causa ferimento.
O que o senhor diz sobre Supremo não ter dado andamento ao processo de sua liberdade?
O Supremo não aceita crítica. Acho que essas coisas de dizer que vai
estuprar filha de ministro é um absurdo e tem que combater. Mas eles se
acham deuses. Ele sequer se adequa ao que decidiram. Eu tive direito a
indulto de Dilma e Temer e eles não consideraram. Meu processo foi para
as mãos do Barroso, ele perdeu por 7 a 4 no Plenário e mesmo assim ele
não cumpre. Ele está sentado em cima do meu processo. Sou diabético,
tenho preferência, sou idoso, estou preso e ele não decide. Eu vou
entrar com uma medida para mostrar que ele tem que decidir. Isso é abuso
de autoridade. Mas aí você vai reclamar do Supremo? Depois do Supremo,
só Deus. Os caras são intocáveis.
Depois disso tudo, o senhor pensa em voltar à política?
Eu não sei, o futuro a Deus pertence. Estou com 72 anos e muitos eleitores meus já morreram (risos).
O senhor tem alguma mágoa com o ex-deputado Roberto Jefferson, que incluiu seu nome na Lava Jato?
Eu tinha uma ligação estreita com ele, era meu amigo. E quando ele foi
acusado de receber aquele dinheiro do funcionário dos Correios, eu
estava indo para Brasília com Severino Cavalcanti e tinha um recado que
Roberto Jefferson queria falar comigo. E aí fui à casa dele, e ele me
pediu pra eu falar com Severino para dar mais tempo a ele, pois ele iria
se defender. E eu falei que Severino ia dar esse tempo. Mas eu disse
para ele: "Roberto, vê bem o que você falar. Só diga o que você tiver
certeza de que é verdade." E ele disse: "Esse filho da p*** do José
Dirceu quer me jantar e antes de ele me jantar eu vou almoçar ele". Ele
estava com muita raiva do PT. Eu até falei com Zé Dirceu, mas Dirceu
disse: "Se der o governo a Roberto, mesmo assim ele não fica
satisfeito". E aí estava nessa confusão. Quando foi no outro domingo, eu
vi no jornal que Roberto tinha colocado meu nome. Eu quebrei todos os
meus sigilos, mas não adiantou. Joaquim Barbosa não aceitou e me meteu
na história. Imaginou que eu tivesse uma relação obscura com o PT e foi
isso. Então, fiquei com mágoa de Roberto Jefferson e não quero conversa
com ele.
O senhor foi
condenado e preso por Sérgio Moro. É verdade que o senhor fazia ele
descontrair e até rir com suas reações inusitadas?
Sim. Eu sou um sujeito brincalhão e todo mundo diz que sou simpático.
Todo gordinho é simpático. E eu tive duas passagens com Moro. Uma foi em
relação a testemunha que era de Limoeiro, um negociante de gado. Só que
ele tinha morrido e eu não sabia. Aí chegou na audiência e Moro
reclamou do advogado, pois o cara estava morto. Só que eu disse que a
testemunha era muito importante para mim. Eu disse que em Pernambuco
tinha um pai de santo que iria fazer uma sessão de materialização e a
gente ia ouvir a testemunha (risos). Aí Moro deu uma risada que nunca
tinha dado. Ele perdeu a compostura. E sempre passou a me cumprimentar. E
a outra vez foi que ele mandou um recado dizendo que poderia fazer a
audiência com Lula, quando fui ser testemunha contra ele. Foi muita
confusão, o advogado me chamava de "meia testemunha" e eu pedi a palavra
e disse que não ia aceitar isso e chamei o advogado de "um quarto de
advogado". E aí foi o carnaval maior do mundo. Então, o Moro sempre
conversava comigo. Agora, perdeu o meu respeito quando ele aceitou ser
ministro da Justiça. Ele condenou Lula, que era o principal opositor de
Bolsonaro. Ele foi para um governo que não sabia para onde estava indo.
Eu não votaria em Bolsonaro porque ele é assim. O pessoal está achando
que Jair vai abrir contra o Supremo, mas não vai. Pode vir um trem
carregado de dinamite, mas ele não abre. Eu sei quem ele é. E Moro saiu
mal, saiu batendo no presidente... tiraram o COAF dele pois os
parlamentares não gostam dele. Ele não conseguiu agradar. Ele não
aprovou os projetos dele. Não acredito que o futuro político dele tenha
sucesso. Pode ser deputado ou senador pelo Paraná, mas mais do que isso,
não.J.TOMAZ
Com Blog do Magno Martins