O PMDB decidiu que vai voltar a se chamar MDB. O
truque
é antigo. Foi ensinado pelos portugueses. Chama-se o Cabo das Tormentas
de Cabo da Boa Esperança e imagina-se que tudo está resolvido.
“Queremos
ganhar as ruas”, disse Romero Jucá, presidente da sigla. Se o objetivo é
esse, há uma fórmula infalível: o partido de Michel Temer poderia
aprovar em convenção nacional um requerimento de autodissolução, a bem
da moralidade pública. As ruas bateriam palmas.
Em 1966, um
paradoxo deu à luz o MDB: após extinguir todos os partidos, a ditadura
militar autorizou o funcionamento de apenas dois —um contra o regime,
outro a favor.
Enrolados na bandeira do combate à tirania
representada pela Arena (Aliança Renovadora Nacional), ficou fácil para
os fundadores do MDB (Movimento Democrático Brasileiro) transformar sua
logomarca num ativo politicamente atraente.
Na transição para a
democracia, com o ‘P’ já incorporado ao nome, o PMDB recepcionou em seus
quadros José Sarney, apoiador e grande amigo da ditadura até seis meses
antes. Desde então, uma maldição persegue a legenda. Sarney viraria
presidente da República graças a uma cilada das bactérias que invadiram o
organismo de Tancredo Neves, para impedir que assumisse o trono obtido
em eleição indireta.
Em meio século de existência, o PMDB foi à
sorte das urnas em eleições para a Presidência da República apenas duas
vezes. Numa, em 1989, Ulysses Guimarães amealhou irrisórios 4,7% dos
votos válidos. Noutra, em 1994, Orestes Quércia arrebanhou ínfimos 4,4%.
O partido tornou-se prisioneiro de uma contradição: gigante no
Legislativo, optou por ser subalterno no Executivo. Virou sócio
minoritário dos governos do PSDB e do PT. Manteve com ambos um
matrimônio político lastreado pelo patrimônio público.
O PMDB
percebeu que, no Brasil, o dinheiro do Orçamento sai pelo ladrão porque
os ladrões entram no Orçamento. A legenda fez dos cofres públicos seu
habitat natural. De repente, decorridos 31 anos da vitória de Tancredo
no Colégio Eleitoral, um raio caiu no mesmo lugar pela segunda vez. Com
Temer, outro vice com destino de versa, o PMDB chegou ao Planalto
novamente sem passar pela pia batismal das urnas. Achou que podia
plantar bananeira no Tesouro Nacional.
O MDB representava os
ideiais da humanidade. O PMDB pode ser a favor de tudo ou absolutamente
contra qualquer outra coisa. Basta que paguem o seu preço. A troca de
nomes não fará do Cabo das Tormentas um Cabo da Boa Esperança. Seja qual
for a sigla, todos sabem que dessa moita não sai mais coelho. Sai
víbora, Sarney, jacaré, Temer, abutre, Renan, morcego, Jader, escorpião,
Jucá, hiena, Cunha…
Em situações assim, tão desesperados, só a
autodissolução pode promover um reencontro com o meio-fio. A morte
costuma atenuar os julgamentos negativos. No caso do PMDB, o único
inconveniente é que o partido talvez tenha que morrer uma dúzia de
vezes.