Nunca antes da história destepaiz, nem nos tempos do Apedeuta, viu-se o uso tão descarado e organizado da máquina pública para atacar adversários do governo federal. Dilma Rousseff permite que seus ministros atuem como ordem unida contra a gestão de um partido adversário — refiro-me ao PSDB de São Paulo — e que a estrutura subordinada à Presidência da República seja posta a serviço do proselitismo político. Sem falar da rede suja na Internet, financiada diretamente pelo governo federal e por estatais. Ver um banco oficial patrocinando ataques sistemáticos a um membro do Supremo Tribunal Federal nos remete à ditadura bolivariana, não a um regime democrático. Tratam a máquina do Estado e o bem público como coisa particular.
Faço questão de destacar outra vez: ainda que não ancorada em fatos, mas apenas na gritaria militante, a “indignação” da presidente Dilma Rousseff e de ministros como Gilberto Carvalho, Maria do Rosário e José Eduardo Cardozo com os eventos do Pinheirinho, em São José dos Campos, poderia ser autêntica. Mesmo havendo uma ordem judicial determinando a reintegração de posse, de cumprimento obrigatório, esses amantes da democracia poderiam ter ficado sinceramente tocados e comovidos. Mas ouso acusar aqui essa indignação de hipócrita; ouso afirmar aqui que tanto zelo com os direitos humanos trai o cúmulo do desprezo ao homem porque zelo seletivo, destinado mais a atingir adversários do que a proteger os pequenos.
O mesmo se diga de amplos setores da imprensa, que hoje se deixam pautar e patrulhar por pistoleiros a soldo na Internet e pela blitz organizada pelo PT nas redes sociais. Os mesmos que fazem um escarcéu danado por causa do Pinheirinho — onde, felizmente, não houve feridos com gravidade —, calam-se diante de um estudante e de uma cozinheira, do Piauí e da Bahia, respectivamente, que ficaram cegos de um olho em confronto com a polícia. Por que o silêncio? Porque são estados governados pelos “companheiros” — o primeiro pela coligação PSB-PT, e outro, pelos petistas.
Brasiléia, Acre
Muito bem! Vejam este filme. Volto em seguida.
Muito bem! Vejam este filme. Volto em seguida.
No dia 14 de julho do ano passado, o Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar do Acre, obedecendo a uma determinação judicial — a exemplo do que teve de fazer a PM de São Paulo —, foi chamada a executar a reintegração de posse de um terreno privado na periferia da cidade de Brasíleia, no interior do Acre, administrada pela prefeita Leila Galvão, do PT. As 350 famílias de sem-terra e sem-teto brasileiros que estavam no terreno invadido já tinham sido expulsas de uma área que ocupavam na Bolívia, do companheiro Evo Morales. O índio de araque — que nos tomou uma refinaria da Petrobras e que recebe dinheiro do BNDES para fazer uma estrada, por onde transitará a folha de coca que será cheirada no Brasil quando virar cocaína — não quer saber de brasileiros por lá. Pois é…
As famílias invadiram a área particular e tiveram de sair. Houve resistência, e o pau comeu. Notem que o vídeo acima não é um daqueles feitos por inimigos da polícia ou do governo do Estado, como os que circulam na Internet sobre o Pinheirinho. Mesmo assim, dá para perceber que o bicho vai pegar. Assiste-se ali ao princípio do confronto e às primeiras bombas.
Muito bem. Informam a imprensa local que não está rendida ao governo do PT — bem pouca — e a deputada federal Antônia Lucia (PSC-AC) que o índio José Adelson Jaminawa levou um tiro de bala de borracha e ficou cego de um olho — parece que as polícias sob o controle dos companheiros têm predileção por essa modalidade de “contenção de distúrbio”. Júlia Graziela Vasquez, 21 anos, desalojada pela polícia, sofreu um aborto logo depois da operação. Diz que um policial lhe desferiu um chute na barriga. Abimael Filho, outro invasor, levou um tiro, também de bala de borracha, no rosto. Ler a parte da imprensa acreana que é amiga do governador Tião Viana (PT) é uma experiência e tanto. Os invasores de terra são tratados como bandidos e como provocadores.
Os desalojados reclamaram de toda sorte de maus-tratos. Os que são pais acusam o Ministério Público Estadual de tê-los ameaçado com o Estatuto da Criança e do Adolescente porque teriam exposto suas crianças ao perigo. Antônia Lúcia cobrou explicações do Ministério da Justiça, da Secretaria de Relações Institucionais e até do presidente da Funai. Em sua denúncia, aponta o “descalabro e a injustiça cometida pela Policia Militar do Estado do Acre e os funcionários públicos estaduais que participaram da ação de reintegração de posse no município de Brasiléia”.
- Vocês já tinham ouvido falar da desocupação de Brasiléia?
- Vocês já tinham ouvido falar do índio que ficou cego em razão de uma bala de borracha?
- Vocês já imaginaram o que seria do noticiário se algo assim tivesse se dado no Pinheirinho?
- Vocês já tinham ouvido falar do índio que ficou cego em razão de uma bala de borracha?
- Vocês já imaginaram o que seria do noticiário se algo assim tivesse se dado no Pinheirinho?
As coisas pararam por aí?
Não! No dia 18 de julho, uma comissão dos desalojados foi falar com a prefeita Leila Galvão (PT). Houve um novo desentendimento, e um dos líderes da invasão, Marcos Filho, foi atingido por uma pistola de choque, o taser, no pescoço (ver fotos). Há recomendação expressa dos fabricantes para que a arma não seja usada nessa parte do corpo. Ele desmaiou e precisou de atendimento médico.
Não! No dia 18 de julho, uma comissão dos desalojados foi falar com a prefeita Leila Galvão (PT). Houve um novo desentendimento, e um dos líderes da invasão, Marcos Filho, foi atingido por uma pistola de choque, o taser, no pescoço (ver fotos). Há recomendação expressa dos fabricantes para que a arma não seja usada nessa parte do corpo. Ele desmaiou e precisou de atendimento médico.
Então…
Não estou demonizando a polícia do Acre, não. Assim como não demonizei a da Bahia ou do Piauí. Cada um desses relatos precisa ser devidamente apurado.Tudo indica que os invasores de Brasiléia não receberam mesmo a polícia com flores — a idéia também não era essa em Pinheirinho, mas a PM teve o bom senso de infiltrar homens no local para desarmar a tal tropa de choque mambembe que o PSTU tinha organizado. A julgar pelos resultados, a operação no Acre não foi tão bem-sucedida como a de São Paulo.
Um pouco de vergonha na cara
Não escrevo essas coisas para defender que todos os partidos e todos os governos têm a sua cota de direito à violência. Tampouco censuro em princípio a polícia do Acre — como não censurei as do Piauí e da Bahia. Resistência a ações policiais nunca são coisas muito bonitas de se ver, no Brasil ou no mundo.
Não escrevo essas coisas para defender que todos os partidos e todos os governos têm a sua cota de direito à violência. Tampouco censuro em princípio a polícia do Acre — como não censurei as do Piauí e da Bahia. Resistência a ações policiais nunca são coisas muito bonitas de se ver, no Brasil ou no mundo.
Cobro dos petistas, em suma, é um pouco de vergonha na cara. Só um pouco. Não é pedir demais.
As duas fotos acima estão publicada no “Blog do Leudo”. Trata-se de Marcos Filho, um dos líderes da invasão, atingido por pistola elétrica na Prefeitura. O fabricante recomenda explicitamente que não seja usada no pescoço. Gilberto Carvalho ficou indignado porque um assessor seu, Paulo Maldos, teria sido atingido por uma bala de borracha no Pinheirinho. O homem não fez BO nem exame de corpo de delito porque não quis. Os invasores de Brasiléia acusam a polícia de não ter querido registrar suas queixas. Verdade ou mentira? Uma coisa é certa: para esses invasores, Carvalho não deu a menor bola. Nem Dilma. Nem Cardozo. Nem Maria do Rosário. Gente que perturba governo petista é, naturalmente, reacionária!
Por Reinaldo AzevedoREV VEJA