sábado, 3 de março de 2018

O "dia D' da Lava-Jato: plano da PF para prender Lula envolve 350 agentes, avião, helicóptero e até apoio militar.


Matéria da revista Veja, que estará nas bancas neste final de semana, esmiúça o plano para a prisão de Lula, que não deve esperar colher de chá do TRF-4 e, condenado em segunda instância, será preso, se algum tribunal superior não vier em seu socorro. "O fim, no seu caso, está cada vez mais perto, seja o de sua liberdade, seja o do seu encarceramento", conclui a reportagem:
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Em março de 2016, o ex-presidente Lula, ao ser submetido a um mandado de condução coercitiva, ameaçou dois delegados e quatro agentes da Polícia Federal que participaram da operação: “Eu vou voltar a ser presidente em 2018 e lembrarei de cada um de vocês. Me aguardem”. Dois anos depois, o reencontro decisivo entre Lula e os investigadores da força-­tarefa da Lava-­Jato está prestes a se realizar, mas não da forma imaginada pelo ex-­presidente. Condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região a doze anos e um mês de prisão, Lula tornou-se inelegível e será recolhido ao cárcere tão logo seu recurso contra a sentença seja julgado no TRF4, o que deve ocorrer a partir do próximo dia 23. A cadeia, se nenhuma reviravolta acontecer, é uma questão de dias. Por isso, um grupo restrito de delegados e agentes da PF vem discutindo, há três semanas, um plano para cumprir a ordem de prisão de Lula. O trabalho é sigiloso. Até o planejamento operacional foi registrado nos arquivos da polícia apenas como uma sequência numérica. O objetivo é impedir o vazamento de informações que dificultem o cumprimento da missão.
Pelo roteiro traçado até agora, todo o efetivo da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, de cerca de 350 pessoas, estará de prontidão para trabalhar no dia da prisão de Lula, chamado de o “Dia D” da Lava-Jato na corporação. A Polícia Militar também já foi acionada e alertada para a necessidade de conter protestos nas ruas e isolar as avenidas consideradas estratégicas para a segurança da operação. A Infraero, estatal responsável pelos aeroportos, tem recebido informes sobre como Lula, depois de preso, viajará de São Paulo a Curitiba, se realmente tiver de cumprir a pena na capital paranaense. A Polícia Federal em Brasília já disponibilizou um jato para o deslocamento do ex-presidente. Desde março de 2014, quando a Lava-Jato foi deflagrada, o juiz Sergio Moro expediu 212 ordens de prisão, mas nenhuma delas provocou o impacto político e simbólico que pode ter uma ordem de prisão contra Lula, o mandatário mais popular do país desde a redemocratização e o atual líder nas pesquisas eleitorais. Ciente do peso da biografia do alvo, a PF quer evitar erros cometidos em ações anteriores, para não vitaminar o discurso de Lula segundo o qual ele tem sido vítima de uma caçada judicial. Já foi acordado, por exemplo, que não haverá o uso de algemas nem de camburão.
A Polícia Federal espera deter Lula em sua casa em São Bernardo do Campo (SP), mas está disposta a negociar com a defesa do ex-presidente o local de rendição. Se for recolhido em São Paulo, Lula será encaminhado ao Aeroporto de Congonhas, provavelmente com destino ao Aeroporto Afonso Pena, em Curitiba. Diz-se “provavelmente” porque caberá à Justiça definir onde se dará o cumprimento da pena. Na capital paranaense, Lula fará exame de corpo de delito no Instituto Médico- Legal (IML) ou no próprio aeroporto, ao desembarcar. O passo seguinte ainda está sob estudo. A Polícia Federal listou cinco locais onde o ex-presidente pode cumprir sua pena. Um deles é um quartel do Exército em Curitiba. Outro, a base aérea, no Aeroporto de Bacacheri, a 5 quilômetros da Superintendência da Polícia Federal. Ambas as alternativas encerram, em tese, duas vantagens: mais segurança pessoal para o ex-presidente e desestímulo a manifestações em suas imediações, já que Lula ficaria muito distante dos populares. Apesar disso, há resistência sobretudo ao uso do quartel, porque abre o flanco para o discurso segundo o qual o ex-presidente é vítima de “prisão política” e está detido dentro de uma “masmorra militar”.
Diz um policial envolvido no planejamento da prisão, que pediu para não ser identificado porque não tem autorização para falar publicamente: “A gente poderia dar munição para ele posar de vítima e de injustiçado. Isso certamente acontecerá se utilizarmos como alternativa de segurança uma unidade do Exército”. Entre as outras opções de prisão está a própria Superintendência da PF, no bairro de Santa Cândida, apontada como a mais adequada para a custódia inicial do ex-presidente. Como o local não está preparado para abrigar presos em cumprimento de pena, a ideia é utilizá-lo até que a Justiça decida o destino definitivo para onde o petista deve ser levado. A estada de Lula na superintendência provocaria uma reacomodação dos condenados ali alojados. Os policiais pretendem reunir todos os presos da Lava-Jato em duas celas, deixando uma terceira cela exclusivamente para o ex-presidente. Se isso não for possível, planejam esvaziar uma sala, transformando-a em cárcere temporário, para que Lula fique isolado dos demais.
Outra hipótese é levar o ex-presidente para o Complexo Médico-Penal (CMP), em Pinhais. Desde 2015, o CMP é o destino oficial dos presos condenados no petrolão. Apesar de ser reservado prioritariamente a sentenciados que precisam de tratamento médico, o complexo tem duas alas para corruptos e criminosos de colarinho-branco. Na ala 6, estão doze estrelas do petrolão — entre elas os ex-deputados Eduardo Cunha e André Vargas, o ex-governador Sérgio Cabral, o ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine e o petista João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do partido. Lula reforçaria esse escrete de estrelas abatidas pela corrupção.
Comparado aos presídios brasileiros, o CMP é tranquilo e dispõe de boas instalações. Tem banho quente, graças a uma obra patrocinada pelo empresário Sérgio Mendes, da empreiteira Mendes Júnior, que passou um tempo por lá e foi sentenciado a 27 anos e dois meses de prisão na segunda instância por envolvimento no escândalo da Petrobras. No local não há superlotação — mais de 30% das vagas para detentos estão desocupadas. Os policiais acham que o CMP só deve ser acionado depois de a Justiça decidir se o petista deve cumprir seus anos de cadeia em Curitiba. É que, no caso de presos como Lula, a lei oferece a possibilidade do cumprimento da sentença em local próximo aos familiares. Na situação do ex-presidente, esse lugar seria São Paulo, onde moram seus filhos e irmãos.
Precavido, o complexo de Pinhais também se prepara para receber Lula. Se isso ocorrer, a logística já está planejada. Ao chegar, o ex-presidente deverá ficar de quinze a trinta dias isolado para que seja avaliado o seu comportamento e, em seguida, será encaminhado a uma cela na ala dos condenados do petrolão. Não há chance de Lula ficar numa ala de prisioneiros comuns. “Existe prisão especial para ex-presidente? Não está escrito em lei nenhuma, mas como dirigente penitenciário não posso colocar um ex-presidente da República junto com a massa carcerária em geral. Não existe a possibilidade de ele não ocupar uma cela especial”, diz o diretor do Departamento Penitenciário do Estado do Paraná, Luiz Alberto Cartaxo Moura. “Ele vai ocupar uma cela especial não pela condição específica de ex-presidente, mas pela figura pública que é e pelas questões que envolvem a segurança do preso.”
São remotas as probabilidades de o TRF4 reverter a condenação de Lula, o que suspenderia a sua inelegibilidade e a sua prisão. Há, no entanto, a possibilidade de um tribunal superior em Brasília conceder uma liminar ou habeas-corpus livrando-o das duas penas. O ex-presidente faz pressão nesse sentido. Seus correligionários até lançaram uma campanha, “Eleição sem Lula é fraude”, a fim de garantir a sua participação no próximo pleito. A iniciativa padece, pelo menos até agora, de falta de apoio popular. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, publicada na quinta-feira 1º, Lula disse que não fugirá do país, nem se matará. E prometeu brigar até o fim. O fim, no seu caso, está cada vez mais perto, seja o de sua liberdade, seja o do seu encarceramento. DO O.TAMBOSI

Temer virou um réu esperando para acontecer



Em matéria penal, Michel Temer revela-se um recordista. Supera suas próprias marcas numa velocidade estonteante. Virou o primeiro presidente da história a ser denunciado por corrupção. Tornou-se o primeiro mandatário a ostentar duas denúncias criminais. Sobreveio um inquérito sobre a suspeita de recebimento de propinas de empresas portuárias. E nesta sexta-feira, o relator da Lava Jato no Supremo, Edson Fachin, adicionou Temer no rol de investigados do inquérito que apura o pagamento de propina de R$ 10 milhões da Odebrecht para o PMDB. Coisa negociada num jantar no Palácio do Jaburu, a residência oficial de Temer.
A coleção de encrencas impressiona: presidente de um mandato-tampão, Temer ostenta duas denúncias e dois inquéritos. Para lidar com o passivo ético, o presidente desenvolveu uma filosofia peculiar. Para ele, não há problema tão grande que não caiba no dia seguinte. Ser transformado em réu, por exemplo, é uma coisa que  Temer prefere deixar sempre para depois.
É falsa a impressão de que Temer resolve seus problemas penais. O presidente apenas sobrevive a eles. Terminado o mandato, as denúncias congeladas serão retiradas do freezer. E nada impede que os dois inquéritosos se convertam em mais um par de denúncias. Mais do que um presidente, Temer é um réu esperando para acontecer. Cada vez que ele faz pose de presidente, despenca sobre sua cabeça uma novidade para recordar aos brasileiros anestesiados que um presidente não pode ser só uma pose. É preciso que, por trás da pose, exista uma noção qualquer de ética.
Josias de Souza
03/03/2018 05:18