sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Dilma, Lula e Santana se encontram para a troca de ideias que não têm. Deveriam estar à procura dos álibis que não há

A trinca dos pecadores: o populista que se acha um messias, a sucessora que pensa ser filha do mestre e o marqueteiro que tem certeza de que é um espírito santo
O pecador que se acha um messias, a sucessora que pensa ser filha do mestre e o marqueteiro que tem certeza de que é o espírito santo
A economia está fazendo água — e, desde o tempo das cavernas, é quando ela bate na linha da cintura que o homem começa a nadar. O Pibinho vai descendo a níveis siberianos, a inflação “oficial” rompe a fronteira dos 7% e os soluços do dragão rondam os dois dígitos. O rombo nas contas públicas é de assustar esquerdista grego, os juros sobrevoam a estratosfera e a alta do dólar escancara a desconfiança mundial no Brasil.
O que Dilma faz para escapar do afogamento nessas cataratas de más notícias? Conversa com Joaquim Levy, para afinar-se com o ministro da Fazenda emparedado pela idiotia do PT, pela gula da base alugada, por “movimentos sociais” estacionados no século 19, pela  sede dos ministros que bebem verbas? Nada disso. Em vez de socorrer o economista castigado por seus acertos, pede conselhos a Lula e encomenda ideias a João Santana.
O edifício político federal está sitiado por rachaduras internas e fraturas expostas nos alicerces. A bancada fiel a Dilma na Câmara é insuficiente para eleger um vereador de grotão. No Senado, os contratos com o grupo de Renan Calheiros são tão confiáveis quanto os prazos do PAC. O “núcleo íntimo do Planalto” é mais uma reedição piorada dos Três Patetas.
Sem porta-vozes nem interlocutores, o que faz a presidente? Arquiva o besteirol que não para de crescer e busca propostas que façam sentido? Livra-se do cerco dos áulicos que a bajulam desde que se tornou a sucessora escolhida pelo chefe? Nada disso. Encomenda ideias ao padrinho e pede conselhos ao marqueteiro do reino. A pesquisa divulgada neste fevereiro pelo Datafolha reafirmou a trágica contemporaneidade da lição ministrada por Mário de Andrade, há quase 90 anos, pela boca do personagem Macunaíma: “Muita saúva e pouca saúde, os males do Brasil são”.
Para os entrevistados, o mais terrível problema brasileiro é o sistema de atendimento à saúde que Lula, cliente preferencial do Sírio Libanês, qualificou de “perto da perfeição”. Perto da perfeição estavam chegando as saúvas do Petrolão, todas cevadas pelo governante que transformou o país num viveiro atulhado de quadrilhas de estimação. Todas roubaram muito. Nenhuma roubou tanto quanto a desbaratada pela Operação Lava Jato e exemplarmente enquadrada pelo juíz Sérgio Moro. As investigações estão chegando aos protagonistas. José Dirceu (codinome Bob) e Antônio Palocci, acabam de entrar em cena. É iminente a subida ao palco do astro principal.
Do total de brasileiros, Dilma é considerada falsa por 47%, desonesta por 54% e indecisa por 50%. Para 52%, a presidente sabia da corrupção na Petrobras e deixou que ela ocorresse. Confrontada com tantos algarismos pressagos, o que faz a chefe de governo? Tenta desvincular-se dos corruptos sem cura? Procura costurar a fantasia esfarrapada? Não. Chama para encontros a sós equilibristas alquebrados e contadores de lorotas que já se tornaram exasperantes.
Por que Dilma não cria juízo e toma vergonha? Simples: por que ela é só mais uma no bando. É só um poste instalado no Planalto para fazer o que o mestre manda. Em parceria, Lula e Dilma criaram o país autosuficiente em petróleo que importa um oceano de barris, o colosso do pré-sal que continua nos abismos do Atlântico, a pátria sem miseráveis que hasteia andrajos em todas as esquinas, fora o resto.
O que o padrinho, a afilhada e o marqueteiro deveriam fazer é uma atenta releitura da pesquisa. O Datafolha apenas acentuou as cores do dramático quadro esboçado pelas urnas de outubro. Dilma reelegeu-se amparada nas falácias do Brasil Maravilha, nos truques dos mágicos de picadeiro, nas espertezas dos canastrões com topete implantado e nas diversas ramificações que compõem o Grande Clube dos Cafajestes no Poder.
Ainda assim, mais de 51 milhões de brasileiros votaram contra o PT. Cruzou-se um ponto de não retorno. Dilma está há mais de um mês sem dizer qualquer coisa que mereça ser transcrita. Lula é o único “campeão de votos” que jamais venceu no primeiro turno, o único “líder de massas” que está há anos se apresentando exclusivamente para plateias amestradas que fingem ignorar o Caso Rose e o buquê de escândalos.
Dilma, Lula e Santana não deveriam perder tempo trocando ideias que não têm. A trindade nada santa faria um favor a si própria se saísse à caça dos álibis que até agora não há.
DO A.NUNES

Ex-gerente da Petrobrás entregou contabilidade de propina de Vaccari

Pedro Barusco, delator da Lava Jato, disse que anotação de US$ 4,5 milhões com a sigla “Moch”, de mochila, refere-se a valor de tesoureiro do PT, João Vaccari Neto

Por Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba, e Fausto Macedo
Estadão
O ex-gerente de Engenharia da Petrobrás Pedro Barusco – primeiro integrante do esquema do PT no escândalo de corrupção da Petrobrás a fechar acordo de delação premiada com a Operação Lava Jato – entregou à Justiça registro da contabilidade de US$ 4,5 milhões de propina do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.
“João Vaccari é identificado pela sigla ‘Moch’, que significa mochila”, afirmou Barusco, ao depor à Polícia Federal, no dia 20 de novembro de 2014. Segundo o delator, a sigla foi criada porque “quase sempre presenciava João Vaccari usando uma mochila”. No dia 5, quando foi alvo da nona fase da Lava Jato – Operação My Way -, o tesoureiro estava com a mochila. Nela, policiais federais encontraram apenas um caderno, em branco, e uma agenda pequena com poucas anotações.
Metódico, o delator impressionou os investigadores por sua disciplina e organização. Braço direito do ex-diretor de Serviços e Renato Duque – principal canal do PT, via Vaccari, no esquema de corrupção -, ele lançava em seu computador dados relativos a cada contrato, incluindo datas, valores dos negócios e quanto cabia a cada beneficiário da máquina de propinas.

Contabilidade de propina apresentado por Pedro Barusco com registro “moch” de valores referentes a João Vaccari
Na mesma planilha de contabilidade estão registrados valores de Duque – indicado ao cargo pelo ex-ministro José Dirceu. A sigla para o ex-diretor era “MW” – referência à My Way, música de Frank Sinatra usada por ele para tratar do ex-chefe.
Barusco operava a contabilidade da propina na diretoria, segundo confessou. Por meio da área de Serviços, o PT arrecadava de 1% a 2% de propina em contratos das demais diretorias da Petrobrás, por ser ela quem passou a concentrar as contratações e fiscalizações de obras a partir de 2003. As diretorias de Abastecimento e Internacional seriam cotas do PP e do PMDB na estatal.
O valor de Vaccari dos US$ 4,5 milhões entrou para a contabilidade de Barusco, à partir de 2013, segundo ele diz, quando passou a registrar os valores arrecadados com estaleiros em contratos de navios-sondas. A quantia do tesoureiro do PT seria de pagamentos do Keppel Fels, de Singapura.
Segundo registro da Polícia Federal, quando Barusco começou a “contabilizar o pagamento de propinas referentes a Keppel Fels, verificou que João Vaccari já havia recebido até aquela data” o valor de US$ 4.523.000.
Barusco afirmou ainda que a propina paga entre 2003 a 2013 a “João Vaccari foi adiantada pelo Keppel Fels, pois até tal data (março de 2013) o faturamento não havia sido atingido pelo estaleiro”.
Investimento público.
O negócio envolveu contratos que somaram US$ 22 bilhões para construção de 28 navios-sondas pela Sete Brasil para a Petrobrás. Barusco diz ter participado diretamente da constituição da empresa em 2011, que teve “como principal financiador o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)”.
A Sete Brasil, segundo ele, foi constituída com capital privado e de investidores, entre eles três fundos de pensão de servidores federais – Petros (Petrobrás), Previ (Banco do Brasil) e Funcef (Caixa Econômica Federal) -, a Petrobrás e os bancos BTG Pactual, Bradesco e Santander.
Barusco afirma que a esse foi “o maior contrato do mundo interior de sondas de uma só vez”. Ele disse que a licitação foi “dura” e vencida sem acertos. A única concorrente foi a Ocean Ring – que já foi representada no Brasil pelo lobista e operador do PMDB Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano.
O ex-gerente de Engenharia explicou que para vencer o contrato da Petrobrás, a Sete Brasil negociou com cinco estaleiros a construção das sondas (todos com empresas do cartel integrando a sociedade).
“Havia uma combinação de pagamento de 1% de propina para os contratos firmados entre a Sete Brasil e cada um dos estaleiro”, revelou Barusco. Essa combinação de propina teria envolvido o tesoureiro do PT “João Vaccari Neto”, o próprio delator e “agentes de cada um dos estaleiros”.
Barusco disse que a divisão da propina era feita da seguinte forma: ”2/3 para João Vaccari e 1/3 para a ‘Casa 1′ e ‘Casa 2′”. O ex-gerente explicou que a terminologia “Casa 1″ era referente aos valores de propina para agentes da Petrobrás. “Especificamente para o Diretor de Serviços Renato Duque e Roberto Gonçalves (que sucedeu Barusco na gerência de Engenharia).”
Já o termo “Casa 2″ era referente aos pagamentos de propina para executivos da Sete Brasil, em especial o presidente João Carlos de Medeiros Ferraz, e o diretor de Participações, Eduardo Musa.
Planilha com registros de propina de Vaccari ("moch"), Renato Duque ("MW") e outros, entregue por delator
Barusco identificou na tabela Ferraz como “Mars”, de marshall, “MZB” era a sigla de “muzamba”, para referir-se a Musa, e “Sab”, era sua própria rubrica, referência à Sabrina, nome de uma ex-namorada.
O ex-gerente de Engenharia disse ainda que “achava injusta a distribuição estabelecida por João Vaccari”. “Isso o motivou a negociar por fora o pagamento em seu favor de 0,1%.”
LEIA TERMO DE DELAÇÃO DO EX-GERENTE DA PETROBRÁS PEDRO BARUSCO
COM A PALAVRA, JOÃO VACCARI NETO
O secretário Nacional de Finanças do PT, João Vaccari Neto, negou veementemente ontem que tenha recebido qualquer quantia em dinheiro fruto de propina.
Em nota, na semana passada, Vaccari “esclareceu (à PF), em especial, que enquanto secretário de Finanças do PT jamais recebeu dinheiro em espécie”.
“O PT não tem caixa 2, o PT não tem conta no exterior”, diz o texto divulgado por Vaccari. “Todas as contribuições ao partido, vindas pela Secretaria de Finanças por mim, foram absolutamente dentro da lei.”
VEJA NOTA COMPLETA:
“João Vaccari Neto, secretário de Finanças do Partido dos Trabalhadores – PT, por sua defesa, vem a público para dizer que há muito ansiava pela oportunidade de prestar os esclarecimentos que nesta data foram apresentados à Polícia Federal, para de forma cabal, demonstrar as inúmeras impropriedades publicadas pela imprensa nos últimos meses, envolvendo seu nome.
Reitera, mais uma vez, que o Partido dos Trabalhadores – PT, não tem caixa dois, nem conta no exterior, que não recebe doações em dinheiro e somente recebe contribuições legais ao partido, em absoluta conformidade com a Lei, sempre prestando as respectivas contas às autoridades competentes.
Sua defesa registra ainda, que o Sr. Vaccari permanece à disposição das autoridades, para prestar todos e quaisquer esclarecimentos, e que sua condução coercitiva, desta data, entendeu-se desnecessária, pois bastaria intimá-lo, que o Sr. Vaccari comparece e presta todas as informações solicitadas, colaborando com as investigações da operação “Lava Jato”, como sempre o fez.
DO R.DEMOCRÁTICA