segunda-feira, 6 de março de 2017

Artistas de esquerda surtam: Doria congela orçamento da Secretaria de Cultura e mamatas criadas por Haddad

Pelo jeito, Doria terá que aguentar mais ofensas da esquerda por um bom tempo. A gestão do prefeito acaba de  congelar 43,5% do orçamento municipal destinado à Secretaria de Cultura, o que, como era de se esperar,  gerou protestos dos artistas/oportunistas que vivem às custas do dinheiro dos pagadores de impostos.
Já foi até organizado um ato contra a medida. O evento foi convocado pela “Cooperativa Paulista de Teatro” junto com a “Frente Única – Descongela Cultura Já” e se chama o “Grande Ato pelo Descongelamento da Cultura”, que  aconteceu no dia 22 deste mês. Foram pouco menos de 300 pessoas de acordo com a Polícia Militar.
Os artistas/oportunistas  não se conformaram com a baixa aderência e preparam outro evento, a “ação na Câmara Municipal de São Paulo” no próximo dia 14 de março e um novo “Grande Ato” no dia 27 de março. Reserve na sua agenda para acompanhar mais dois fracassos!
Na visão dos organizadores da baderna, o congelamento das verbas estaria atrapalhando as atividades da “Escola Municipal de Iniciação Artística de São Paulo” e o “prêmio Zé Renato”, criado pela gestão do petista Fernando Haddad para financiar peças de teatro (no valor de até 250 mil reais por peça) com o dinheiro público. DO J.LIVRE
Colaboração do ILISP.

Doria diz que vai retirar invasão criminosa do MTST da Av. Paulista ainda nesta semana

João Doria, prefeito de São Paulo, disse que vai retirar a invasão criminosa do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto da Avenida Paulista, onde estão acampados desde o dia 15 de fevereiro, ainda nesta semana.
Em entrevista ao Jornal da Manhã nesta segunda, Doria garantiu que antes da manifestação pró-Lava Jato marcada para o dia 26 de março, o assunto vai estar resolvido.
“Nós vamos liberar a Paulista e, evidentemente, nós vamos tentar fazer isso sem violência, nenhum risco às pessoas, mesmo aquelas que são utilizadas indevidamente para esse tipo de movimento”, afirmou Doria.
 “A Prefeitura tem direito legal à medida que você está dificultando o direito de ir e vir dos transeuntes. Ela fará isso, mas de uma maneira construtiva, sem estabelecer a violência como princípio básico para a liberação. Nesta semana esse assunto estará resolvido, posso assegurar” concluiu. DO J.LIVRE

Juiz nega a Lula depor por videoconferência

Lula. Foto: Ricardo Nogueira/EFE
Lula. Foto: Ricardo Nogueira/EFE
O juiz federal Ricardo Augusto Soares Leite, da 10ª Vara Federal, em Brasília, negou ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta segunda-feira, 6, ser interrogado por meio de videoconferência. O petista havia solicitado ao magistrado para que fosse ouvido em São Bernardo do Campo (SP). Lula será interrogado em 14 de março, às 10h, na sede da Justiça Federal de Brasília.
São réus nesta ação, além do ex-presidente Lula, seu amigo, o pecuarista José Carlos Bumlai, o ex-senador Delcídio Amaral, o banqueiro André Santos Esteves, o ex-assessor de Delcídio, Diogo Ferreira Rodriguez, o advogado Edson Siqueira Ribeiro Filho, e o filho de Bumlai, Maurício Barros Bumlai. Todos são acusados de ‘agirem irregularmente para atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato’.
O interrogatório de Lula estava marcado para 17 de fevereiro. Após a morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia, mulher do petista, o juiz adiou o depoimento do ex-presidente para 14 de março.
“Este Juízo, dessarte, tem atendido aos pleitos das defesas desde que dentro de suas possibilidades técnicas e da ausência de prejuízo ao andamento processual. Todavia, não poderá acolher postulação que envolva logística fora de suas capacidades, a par da indisponibilidade de videoconferência no dia 14/03/2017 com São Paulo e com São Bernardo do Campo, conforme certificado pela Secretaria deste Juízo (fls. 4149-51), e que imponha ao retardamento de seu curso regular desta ação penal, ressaltando-se que os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva (artigo 6º do Código de Processo Civil)”, anotou o juiz. DO ESTAÃO

Ministério da Fazenda como centro da ‘propinocracia’ supera qualquer ficção


— Quem é o ‘Italiano’ referido no e-mail?, inquiriu Sergio Moro
— A gente sabia que o 'Italiano' era o Palocci, respondeu executivo da Odebrecht Fernando Sampaio Barbosa.
— A gente sabia quem?, insistiu Moro.
— Eu sabia. Eu tinha sido informado pelo Márcio Faria, acrescentou Fernando Sampaio, citando outro executivo da Odeebrecht.
Arrolado como testemunha de Marcelo Odebrecht, Fernando Sampaio prestou depoimento nesta segunda-feira. Foi a primeira vez que um operador da Odebrecht reconheceu em juízo que ‘Italiano’ é mesmo o apelido de Antonio Palocci nas planilhas do departamento de propinas da construtora. De acordo com os investigadores, Palocci atuou como coletor de pixulecos para o PT enquanto foi ministro da Fazenda de Lula. Beliscou pelo menos R$ 128 milhões. Foi sucedido no ministério e nas planilhas da Odebrecht por Guido Mantega, o ‘Pós-Italiano’.
Se a Era do PT no Poder fosse um filme de James Bond, o serviço secreto britânico descobiria uma caverna nos subterrâneos da pasta da Fazenda. Dentro dela, protegida por paredes de aço, um sofisticado centro tecnológico de gerenciamento de interesses espúrios e captação de verbas tóxicas. No comando, uma dupla de personagens satânicos de vida dupla. Nos porões, eram gênios do mal, dedicados a comprar o PMDB e assemelhados, para dominar o mundo. Na superfície, não passavam de ministros inocentes, empenhados em defender os cofres da República.
Por azar, a realidade brasileira superou qualquer ficção. Faltou à nação petista um 007 capaz de explodir com uma caneta a laser a caverna instalada sob a Fazenda antes que os vilões transformassem o sistema político nacional numa propinocracia pós-ideológica. Num filme, Bond exterminaria os vilões e livraria a humanidade de suas ameaças. No Brasil real, o PMDB cavalga a Presidência de Michel Temer como se não tivesse nada a ver com o governo comprado pela Odebrecht. E Lula é candidato a um terceiro mandato. Talvez um quarto. Quem sabe um quinto… O que diferencia o Brasil da ficção é que a ameaça dura muito mais do que o intervalo de um filme. DO J.DESOUZA

Lula perde processo que moveu contra jornalista

A jornalista Joice Hasselman foi absolvida no processo movido pelo ex-presidente Lula, que a acusou dos crimes de calúnia, injúria e difamação em razão de comentários feitos em seu blog.
Para o advogado Adib Abdouni, que defendeu Hasselman, a sentença preserva o direito à liberdade de expressão. 
A decisão foi proferida na sexta-feira (3) pelo juiz José Zoéga Coelho, da Vara do Juizado Especial Criminal, do Foro Central Criminal da Barra Funda, em São Paulo. Ainda cabe recurso ao TJ-SP. DO R.ONLINE
 

A imprensa estrangeira enfim descobriu a Olimpíada da Ladroagem


maracanã

Uma reportagem do jornal francês Le Monde revelou nesta sexta-feira que a imprensa estrangeira demorou menos de um ano para descobrir o que os brasileiros já começaram a enxergar faz tempo. Como esta coluna vem alertando desde 2009, quando nasceu, depois da Copa da Roubalheira viria a Olimpíada da Ladroagem. Segundo a denúncia publicada por Le Monde, três dias antes da eleição que transformou o Rio em sede dos Jogos de 2016, uma empresa ligada ao empresário brasileiro Arthur Cesar de Menezes Soares Filho pagou US$ 1,5 milhões a Papa Diack, filho de Lamine Diack, então presidente da Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF) e membro do Comitê Olímpico Internacional (COI). O pagamento do voto saiu do bolso dos brasileiros em geral e dos fluminenses em particular.
Conhecido entre amigos e desafetos pelo título de “rei Arthur”, o empresário, ex-dono do Grupo Facilitity, é investigado na Operação Calicute. Desfrutou anos da amizade e confiança do ex-governador Sérgio Cabral, preso em novembro passado. Entre os afluentes do rio de propinas que desaguou em contas de Cabral no Exterior figuram a reforma bilionária do Maracanã e as negociações para garantir a vitória do Rio na eleição olímpica. O vale-tudo para hospedar os Jogos movimentou fortunas. O legado prometido pelos organizadores é uma afronta aos pagadores de impostos.
Há menos de um mês, o site do jornal espanhol La Vanguardia descreveu a situação de parte da herança desastrosa. “Durante os Jogos Olímpicos Rio 2016, um dos motivos de maior polêmica foi a cor excessivamente verde da água de uma de suas piscinas”, registrou a publicação, evocando o dia em que as águas do Complexo Maria Lenk amanheceram aparentemente cobertas de limo. “Apenas quatro meses depois do fim dos Jogos Paralímpicos, o total abandono das instalações fizeram com que a cor ficasse completamente marrom”.
O vídeo que ilustra a reportagem (veja acima) mostra imagens de um Maracanã em ruínas, com o gramado imprestável, cadeiras quebradas e instalações destruídas. “Quando Neymar ganhou seu ouro olímpico, ninguém imaginou o destino do Maracanã, abandonado, sem luz e saqueado”, reafirma a legenda. “As águas onde Michael Phelps ampliou sua lenda agora estão estagnadas em um recinto que perdeu seu esplendor. Seis meses depois, as instalações Olímpicas do Rio se desmoronam. A Rio 2016 apodrece”.
Em setembro de 2011, um post da coluna relacionou promessas feitas por Lula, Sérgio Cabral e Eduardo Paes ao Comitê Olímpico Internacional para emplacar a candidatura do Rio. Entre as mais vistosas, delirantes, malandras, lucrativas ou simplesmente irresponsáveis, foram selecionadas 20, reproduzidas abaixo exatamente como apareciam no “caderno de encargos” que garantiu a escolha do Rio.
1. Entregar à iniciativa privada a administração do Maracanã, em regime de concessão, até julho de 2013.
2. Despoluir a Baía de Guanabara.
3. Transformar a Zona Portuária em um bairro residencial de entretenimento e turismo.
4. Plantar 24 milhões de árvores na cidade até 2016.
5. Criar uma política de tolerância zero ao desmatamento da Mata Atlântica, para acelerar a regeneração do Parque Nacional da Pedra Branca e da Floresta da Tijuca, e estender à medida aos mangues da Barra e às proximidades das instalações esportivas.
6. Tratar e reciclar 100% do lixo sólido gerado durante os preparativos e operação dos Jogos de 2016 em parceria com comunidades carentes.
7. Recuperar até junho de 2016 a Baía de Guanabara, além de rios e córregos, em particular o sistema lagunar da Barra da Tijuca.
8. Eliminar todos os lixões ilegais da cidade até 2010.
9. Criar novas estratégias para a reciclagem do lixo e enviar o entulho das novas construções para usinas de reciclagem.
10. Implantar mecanismos para reaproveitar a água das chuvas e um sistema de economia de energia elétrica com o uso de painéis solares nas instalações esportivas e nas vilas a ser construídas.
11. Gerar 50 mil empregos temporários e 115 mil permanentes em áreas como turismo, gestão de esporte, construção civil e comércio, entre outras.
12. Construir uma Vila Olímpica no terreno da Cidade do Rock com 17,7 mil camas, um centro de treinamento que reúna equipamentos de 11 esportes olímpicos e oito paraolímpicos, empreendimento que será habitado por cerca de 2.400 famílias após o término do evento.
13. Criar uma praia particular para os atletas (Reserva).
14. Implantar o projeto Jovens Embaixadores: a partir de março de 2015, alunos das escolas do Rio estudarão os valores Olímpicos e Paraolímpicos, os esportes e também a cultura dos países que participarão das Olimpíadas.
15. Investir, até 2012, R$ 3,35 bilhões no Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci) para implantar medidas preventivas de combate à violência.
16. Criar uma força única e integrada de segurança sob a coordenação da Secretaria Nacional de Segurança Pública.
17. Investir R$ 731 milhões (em valores de setembro de 2009) em projetos de segurança para o evento.
18. Ter, em 2016, 100% da frota de ônibus do Rio equipada com combustíveis limpos, como o biodiesel e o etanol.
19. Criar barreiras acústicas para os novos corredores de transporte, com o plantio de árvores ou paisagismo.
20. Concluir a linha de metrô até a Barra da Tijuca.
Dessas obras, uma das poucas visíveis a olho é a linha 4 do metrô, ligando a Zona Sul à Barra da Tijuca. Entregue com três décadas de atraso em relação ao cronograma original e uma estação a menos (a sexta e última deve ser concluída em 2018), um relatório do Tribunal de Contas do Estado divulgado em novembro de 2016 constatou que o superfaturamento engoliu R$ 2,3 bilhões. Também saíram do papel — ambas por quantias amplamente superiores às previstas — a revitalização da região portuária e a melhoria no sistema de transporte, que incluiu o VLT e o BRT.
Em contrapartida, as demais promessas estão arquivadas nas cabeças baldias dos vendedores de nuvens. “Vamos entregar tudo absolutamente no prazo, será uma marca desta Olimpíada”, delirou Eduardo Paes em 2015, numa resposta a críticas de Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI). “Para mostrar que o Brasil consegue fazer as coisas no prazo, no custo e de maneira adequada”, gabou-se o prefeito. Foi assim com o plantio de 24 milhões de árvores — que subiu para 34 milhões em 2012, quando o então secretário estadual do Meio Ambiente, Carlos Minc, considerou tímida a miragem inicial. As mudas efetivamente plantadas foram 5,5 milhões.
Nenhuma das metas ambientais foi alcançada. A despoluição da Baía de Guanabara, prometida durante a Eco-92 e, 24 anos mais tarde, para os Jogos Olímpicos, terá de esperar pelo menos mais um quarto de século. Antes da Olimpíada, o governo anunciou que trataria 80% do esgoto despejado num dos maiores cartões postais do Rio. Depois, festejou o índice inferior a 50%: “Se não chegarmos a 80% de despoluição, o importante é que saímos de 17% do esgoto tratado para 49%”, comemorou o governador Luiz Fernando Pezão em março de 2015. “Vai ficar como legado para a cidade”.
As lagoas da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá continuam imundas como sempre. E a ideia de liberar a Lagoa Rodrigo de Freitas para banhistas foi abandonada no mesmo minuto em que a cidade venceu a disputa contra Madri, Tóquio e Chicago naquele remoto 2009, em Copenhague. Os Jogos não deixaram para o Brasil nem mesmo o legado intangível propagado pelos governos federal, estadual e municipal.
Uma reportagem publicada neste domingo no Estadão descreveu a situação de alguns medalhistas brasileiros depois que a tocha se apagou. Rogério Micale, técnico do dourado time de futebol masculino, está desempregado. Sem dinheiro e sem equipe, Felipe Wu, medalha de prata no tiro, também não pode preparar-se adequadamente para repetir a façanha. Das 10 fontes de renda de Arthur Zanetti, estrela da ginástica artística, restam três (Bolsa Pódio, Força Aérea Brasileira e Adidas). E Poliana Okimoto, primeira mulher brasileira a conquistar uma medalha olímpica em esportes aquáticos, perdeu o patrocínio dos Correios.
Entre os monumentos à incompetência, à corrupção e à insensibilidade dos organizadores, nenhum é mais desolador que o Maracanã entregue às traças. A dramática novela começou no fim dos Jogos, quando o Comitê Olímpico Rio 2016 tentou devolver o estádio à concessionária Maracanã S/A, liderada pela Odebrecht, com 7 mil cadeiras a menos, vidros, portas e balcões destroçados. Como o contrato estabelecia que o estádio fosse devolvido como estava ao ser repassado provisoriamente ao comitê, a concessionária se recusou a recebê-lo de volta. Em janeiro deste ano, a Justiça determinou que a Odebrecht reassumisse a administração do Maracanã. Um mês depois, o grupo francês Lagardère fez uma oferta, ainda sem resposta: pagaria R$ 60 milhões para tornar-se responsável pelo estádio mais famoso do mundo.
Em junho de 2016, pouco depois que o governo do Rio de Janeiro decretou calamidade financeira, Eduardo Paes concedeu uma entrevista coletiva para explicar que a Olimpíada não está entre as causas da derrocada financeira do Estado. “A crise econômica do Brasil veio ano passado e a Olimpíada está montada há muito tempo”, alegou. “Isso foi porque, desde o início, o conceito da nossa Olimpíada é fazer coisas sem exagero, sem elefantes brancos, sem coisas que permanecessem sem uso depois”. A reforma do estádio que precisa novamente ser reformado custou R$ 1,2 bilhão — o dobro do valor previsto. Virou um elefante cinza.
Se acreditasse no que diz, Eduardo Paes não perderia a chance de exibir-se para a multidão nas provas mais concorridas — e saborear a popularidade de dimensões cósmicas. Em vez disso, viu a maior parte dos Jogos pela TV ou escondido na tribuna das autoridades. DO A.NUNES

Democracia ameaçada

Ricardo Noblat
Fica combinado com o PT: o que Marcelo Odebrecht disse sobre Temer, Padilha e Aécio é verdade, mas o que disse sobre Dilma, Palocci e Guido Mantega não é.
Com o PMDB: Padilha pode ter recebido dinheiro de caixa dois, mas jamais contou a Temer, nem ele quis saber.
Com o PSDB: Aécio pediu dinheiro para financiar campanhas, mas dinheiro declarado à Justiça.
Com o distinto público: bem, deixa pra lá...
Deixa pra lá também a combinação sugerida por Henrique Eduardo Alves, ex-ministro de Dilma e Temer, a propósito da descoberta de que ele tinha uma conta secreta na Suíça.
Eduardo Alves admite que abriu uma conta por lá e que não a declarou por aqui. Mas quer que acreditemos que os 833 mil dólares encontrados na conta não foram depositados nem movimentados por ele. Foram por quem então?
Por generosidade ou cinismo, dê-se a Eduardo Alves o benefício da dúvida. Dê-se o mesmo a Lula, que não sabia que a OAS reformou e equipou de graça o tríplex que ele havia comprado na praia do Guarujá.
Lula ficou surpreso ao saber que a Odebrecht havia reformado de graça o sítio de Atibaia, registrado em nome do sócio de um dos seus filhos, e que servia de repouso à família Silva.
Estenda-se o benefício da dúvida ao advogado José Yunes, amigo há mais de 40 anos de Temer, assessor especial dele até dezembro último. Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil, pediu a Yunes que recebesse um pacote no seu escritório, em São Paulo.
Entregue pelo doleiro Lúcio Funaro, hoje preso em Brasília, o pacote foi repassado depois a Padilha. Yunes jura desconhecer seu conteúdo. Pode, Arnaldo?
Reza a lenda que Fernando Henrique Cardoso, um dia, pediu que esquecessem o que ele havia escrito antes de assumir a presidência da República.
Se não pediu, talvez um dia peça que esqueçam o que ele escreveu na semana passada sobre a diferença entre dinheiro de caixa dois pago para enriquecer políticos e dinheiro de caixa dois doado para financiar campanhas – esse, uma reles infração eleitoral.
No tempo do absolutismo não havia crime mais grave, sujeito à pena de morte, do que o de lesa-majestade - traição cometida contra a pessoa do Rei, ou seu Real Estado.
O crime de lesa-pátria é o crime contra o poder de um Estado. Como deve ser chamado o crime contra o povo, convocado nas democracias a manifestar sua vontade por meio do voto, e em nome do qual todo o poder é exercido?
Porque quando recebe propina para que vote assim ou assado, ou quando recebe dinheiro sujo para financiar sua eleição, o político atenta contra a vontade soberana do povo a quem representa.
Atenta contra o Estado Democrático onde todos são iguais perante a lei. Como disputar o voto popular em igualdade de condições um político que respeita a lei e outro que a desconhece?
Como dizer que reflete a vontade do povo eleições corrompidas pela troca de favores entre políticos e seus patrocinadores ocultos?
Vota-se por melhor educação, melhor saúde, mais saneamento básico, mais empregos.
A corrupção superfatura o preço de obras públicas, diminui a eficiência do Estado, encarece o custo de vida e estimula a sociedade a copiar o mau exemplo que vem do alto.
Resultado: um país que vê dissiparem-se pouco a pouco princípios e valores da civilização que um dia imaginou cultivar.
Por sua extensão, um país gigante, mas a serviço de uma tribo de pigmeus gulosos e insaciáveis. Haverá crime mais abominável do que esse de lesa-democracia?
Democracia (Foto: O Globo)Foto: O Globo 06/03/2017 - 03h00

‘Divórcio entre cidadão e políticos é sem volta e País precisa de uma repactuação’, diz pesquisador

FOTO IARA MORSELLI / ESTADÃO
FOTO IARA MORSELLI / ESTADÃO
Renato Meirelles, do Instituto Locomotiva, revela, em pesquisa, que 84% veem o País ‘no rumo errado’,
que o povo pouco espera do Estado  e que
os políticos não perceberam como a internet
revolucionou a vida social 
Não é fácil entender um país onde 64% acham que a democracia é o melhor regime e 51% afirmam que as coisas estariam melhor se não existisse partido nenhum. Onde 47% dos que se dizem de esquerda sustentam que “direitos humanos não devem valer para bandidos” e 64% dos ditos direitistas aprovam um governo com estatais fortes. E tudo num cenário onde 84% dizem que o País “está no rumo errado” mas, ao mesmo tempo,  a política é relegada, nas percepções individuais,ao oitavo ou nono lugar entre as coisas que o pesquisado considera importantes.
Números como esses e outros na mesma direção – ou falta dela… – acabam de ser levantados na pesquisa “O Brasileiro e a Política”, pelo Instituto Locomotiva, do economista Renato Meirelles, em parceria com a eCGlobal. O  trabalho traz, em seu conjunto, dois fatos centrais. O primeiro, um distanciamento gigantesco entre cidadania e classe política — fenômeno que não é novo mas que vem à tona em números atuais. O segundo é um cenário difuso, de percepções às vezes conflitantes, de uma nova opinião pública forjada pelas redes sociais e até aqui ignorada pela maioria dos políticos.
“Os dados, no conjunto, mostram que o descolamento entre dirigentes e opinião pública nunca chegou a um patamar tão grande”, resume Meirelles sobre a sondagem, que apresentou questões com escolhas múltiplas a 640 cidadãos, com margem de erro de 4%. “O que temos hoje, no País, é um caminho sem volta, que só se resolve quando se repactuar um novo modelo para gerir a sociedade”, constata o pesquisador nesta entrevista a Gabriel Manzano.
Essa nova realidade não apareceu de repente, diz Meirelles. “Já em 2014, um terço do eleitorado nacional voltou em Dilma, um terço em Aécio e um terço não votou – essa foi a soma de nulos, brancos e abstenções. Assim, qualquer  que fosse o vencedor teria contra si dois terços do Brasil.”
E há outros sinais, mais recentes, dessa nova situação de imprevisibilidade. Quanta gente, mesmo entre analistas, previu que João Doria ganharia em São Paulo no primeiro turno? Quantos, nos EUA, levavam Donald Trump a sério até 20 dias antes da eleição? “Acho que tem muita gente olhando a sociedade contemporânea com olhos do século 20”, observa Meirelles. A pesquisa perguntou aos eleitores o que eles querem? “Sim. E eles não sabem. Querem algo diferente, e pronto.” A seguir, os principais trechos da conversa.
A pesquisa do Locomotiva mostra que 96% acham que o País vive uma crise. Para 75% é uma crise grave e 43% se sentem muito atingidos por ela. Por fim, 84% não se sentem representados por nenhum partido político. O que esses dados mostram?
Eles apontam que o descolamento dos dirigentes em relação à opinião pública nunca chegou a patamar tão grande. E grande a ponto de ser transversal – está presente em todas as classes econômicas, faixas etárias, regiões e níveis de educação. É um descontentamento inédito, um divórcio, um caminho sem volta que só vai se resolver quando se repactuar um novo modelo para gerir a sociedade.
Quando e como tomou corpo todo esse descontentamento?
Foi principalmente a partir de 2013, quando a cidadania mudou sua régua de qualidade, tornando-se mais exigente com as autoridades. O que impressiona é como a classe política desprezou a importância disso. Até hoje ela não enxerga direito a situação.
Como assim?
O debate atual ignora que, em 2014, dois terços do País não tinham votado no eleito. Dilma tinha um terço do eleitorado total, Aécio outro terço e o último era dos nulos, brancos e abstenções. Não havia ali um sentimento majoritário para nada.
Qual o peso que têm, nisso, as manifestações de rua?
Elas foram causa, e não consequência, dessa mudança. O povo que foi à rua já sabia o que não queria, foi marcar presença a respeito. Veja, em abril de 2016 uns 62% aprovaram o impeachment de Dilma, mas 50% também queriam o de Temer. O descontentamento era contra a classe política inteira e não mudou de intensidade nem de direção. Aí você pergunta: o que eles querem? Eles não sabem. Querem é algo diferente.
Em outro ponto, o levantamento diz que 64% acreditam que para melhorar dependem mesmo é de si próprios, de seu esforço, e 45% (as respostas são múltiplas) confiam “na fé e em Deus”. Ou seja, não esperam nada de um governo.
Sim, é uma alta parcela que não acredita em governo para melhorar de vida. A classe dirigente fica discutindo entre Estado grande e Estado pequeno. Isso pouco importa pro cidadão, ele quer um Estado eficiente. Que faça valer seus direitos, dê igualdade de oportunidades. Cada vez mais pessoas defendem a meritocracia, mas sabem que ela só faz sentido se houver igualdade de oportunidades. Quando todos partem de um mesmo patamar.
‘EM DEZ ANOS, O PAÍS 
GANHOU 54 MILHÕES DE 
NOVOS INTERNAUTAS’
Como analisa o que chamou de ‘descolamento’ entre cidadãos e governos? Qual  a saída? 
Esse descolamento foi uma das razões que nos levaram, a mim e ao Carlos Alberto Julio, a criar o Instituto Locomotiva. Queríamos saber por que muitas previsões de governos, de empresas, mostram-se erradas. Nós nos demos conta de que tem gente olhando a sociedade de hoje com olhos do século 20. Ainda se fala demais de grupos “de esquerda” e “de direita” — a sociedade hoje é bem mais complexa do que isso. Constatamos também que se exagera o peso do bolso, do dinheiro, na formação de opiniões. A dinâmica de hoje não permite mais a previsibilidade de outros tempos.
Pode explicar melhor?
Aquela “família margarina” tradicional, reunida no café da manhã, constitui hoje apenas um terço do total das famílias brasileiras. Temos no País 10 milhões de pessoas que vivem sozinhas – um mercado específico, de comportamentos e expectativas pouco avaliadas. A comunicação não é mais só TV-rádio-jornal, as redes sociais se expandiram. A nova comunicação não se resume a passar mensagem e pronto, é de trocas dinâmicas. O Brasil ganhou 54 milhões de novos internautas só nos últimos dez anos. É gente que vê, ouve, escreve, responde, aprova, discorda, espalha. E é um fenômeno global. Fazer análise correta do presente e previsão do futuro virou uma tarefa mais arriscada.
Tem números sobre isso?
Sim, temos. Um exemplo: 43% dos que apoiam partidos de esquerda acreditam em Deus e dizem que isso as torna pessoas melhores. E mais: 47% desse universo dito esquerdista acha que direitos humanos não devem valer para bandidos. E 85% dos que apoiam partidos ditos de direita afirmam que cabe ao governo promover justiça social e 64% acham positivo o governo ter empresas estatais fortes. Como, então, dividir esse eleitorado entre esquerda e direita? O mundo não se organiza mais dessa forma.
De que forma ele se organiza?
Acredito que ganha força, em nossa sociedade urbana, um comportamento do tipo “eu acredito no meu trabalho e no meu esforço, no qual o Estado tem é que funcionar.” Veja, se eu fico três horas numa fila de banco, ligo pro Procon. Mas se eu fico três horas na fila do SUS, ligo pra quem? O desafio seguinte é o dado já mencionado de que 51% dos que entendem que  a democracia é o melhor regime também afirmam que o País estaria melhor sem partidos políticos. Isso quer dizer que não acreditam na democracia? Não. Quer dizer que esse modelo partidário tradicional, para o cidadão, perdeu a razão de ser.
E essa opinião é reforçada, no dia a dia, pelas denúncias, prisões e condenações de outrora poderosos líderes políticos e empresariais. Até o presidente Temer sofre com a carência de “fichas limpas” para formar sua equipe.
Sim, e esses episódios, no dia a dia, comprovam para o cidadão que sua visão da classe política é correta. E assim ele continua não confiando em ninguém.
47% DA ‘ESQUERDA’ APROVA
A LINHA DURA NO 
TRATO COM ‘BANDIDOS’
Há um peso óbvio da internet, que mudou a dinâmica, a velocidade e portanto a percepção geral da vida social, criando um novo espírito crítico. Para onde isso aponta?
A internet, de fato, representa uma revolução – e tanto governos quanto empresas, não avaliaram devidamente o seu impacto. A democratização da internet faz com que as pessoas se organizem de formas diferentes. O modo como se organizam pra defender um candidato é diferente do modo como o fazem para defender, ou atacar, a lei do aborto, ou debater o feminismo. São formas de organização mais líquidas, que trazem consigo mais incoerências.
Como é entendida, nesse quadro, a epidemia de corrupção que veio à tona no País?
Há um ano uma pesquisa nossa revelou que pouco mais de 3% dos brasileiros se consideravam corruptos. E 6%, o dobro, admitiam que já foram corruptos em algum momento da vida. Diante de perguntas como “você já falsificou uma carteira de estudante”, ou “deu propina a um guarda de trânsito”, o número chegava 8 de cada 10 pessoas.
Ou seja, não é só político ou empresário, a sociedade de modo geral é corrupta.
Isso quer dizer que a corrupção na vida brasileira é naturalizada. Tanto que criamos até um eufemismo pra ela, o chamado “jeitinho brasileiro”. Isso tem de ser mudado na escola, na educação. O Brasil só melhorou os índices de cárie quando passou a ensinar as crianças na escola a escovar os dentes. E a economizar energia quando se ensinou também na escola a importância de apagar a luz. A meninada adotou e passou a patrulhar os pais em casa pra fazerem a mesma coisa. Por que não fazer isso também com a corrupção?
A propósito, sua pesquisa perguntou às pessoas sobre preferências, valores e prioridades. O que se revelou?
Tentamos saber qual o peso, na vida deles, de coisas concretas, diárias, na visão que formam de si mesmos, como influem em suas opiniões. Metade deles achou importante “o papel na família, hobbies, preferências pessoais”. E 45% citaram “trabalho e profissão”. Seguem-se escolhas como preferência musical (38%), crença (36%), idade (36%), condição financeira (27%). Isto é, só 27% admitem que se autoavaliam pela situação econômica que alcançaram. Muito mais abaixo é que aparece a posição política, com 15%. O peso do time pelo qual torcem foi mencionado por 14%. Concluindo: para se entender de fato, hoje, como as pessoas selecionam os fatores que formam suas avaliações de si e do mundo, é preciso levar em conta que condição financeira não é predominante e que a posição política está empatada com o time preferido. DO ESTADÃO

Para relator, Odebrecht se apropriou do poder público

O ministro Herman Benjamin, relator no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do processo que pede a cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, considerou os depoimentos de Marcelo Odebrecht e de dois outros ex-executivos da empreiteira – tomados na quarta e na quinta-feira passadas – como os mais importantes de todos os 50 que já colheu desde que assumiu o caso em agosto do ano passado, segundo apurou o Estado
Foto: Dida Sampaio/Estadão
Herman Benjamin
Herman Benjamin, ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
A oitiva do ex-presidente da empreiteira, Marcelo Odebrecht, preso desde junho de 2015 na operação Lava Jato, deixou Benjamin particularmente impressionado, como perceberam advogados presentes.
Primeiro, pelo grau de acesso e de domínio que o empresário contou ter ao topo da cadeia de poder, sugerindo a impressão de apropriação do poder público pelo poder privado. 
Segundo, pelo valor de caixa 2 – R$ 180 milhões –, desproporcionalmente gigantesco em relação às doações oficiais. O ministro batizou de caixa 3, ou barriga de aluguel, a doação da Odebrecht para uma outra empresa o Grupo Petrópolis, da cervejaria Itaipava fazer o repasse, modalidade que considerou uma novidade no esquema de corrupção. 
Benjamin, que também é ministro do Superior Tribunal de Justiça, e não dá entrevistas sobre o caso, disse a advogados presentes nos depoimentos dos delatores Benedicto Barbosa Júnior e Fernando Reis, estes na quinta-feira, que considerou inadmissível o vazamento de partes do interrogatório de Marcelo Odebrecht. Informou sobre a sua suspeita de que até as suas intervenções tenham sido gravadas, e disse aos advogados que poderiam, no máximo, falar em tese, para defender a posição de seus clientes, mas não repassar passagens inteiras, e muito menos gravar. 
No processo que relata – a Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) 1943-58, movida pelo PSDB e outros partidos derrotados na eleição de 2014 –, o ministro optou pela transparência de todos os depoimentos e também das perícias, tudo com íntegra disponível, on line, no site do TSE. A exceção são esses últimos depoimentos, e mais os que tomará hoje, também de ex-diretores da Odebrecht, todos sigilosos por decisão da Procuradoria-Geral da República respaldada pelo Supremo Tribunal Federal. 
Preocupado em cumprir o cronograma que estabeleceu para apresentar seu relatório, ele informou ao procurador-geral Rodrigo Janot e ao ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo, que faria as oitivas mesmo com o sigilo. Os vazamentos podem levar a alguma restrição na quantidade de advogados que poderão assistir aos próximos depoimentos.
Um deles é o do delator Hilberto Mascarenhas – o responsável direto pela contabilidade clandestina da Odebrecht, o chamado Departamento de Operações Estruturadas. Este ponto do depoimento de Marcelo Odebrecht deixou o ministro particularmente estupefato, como ficou claro para advogados presentes nas quatro horas em que durou o interrogatório. Não era para ser uma contabilidade tão perfeita e tão completa – mas Mascarenhas, até sem maior detalhamento à cúpula da empresa, registrava tudo, minuciosamente. 
Benjamin ficou espantado com o efeito bumerangue do detalhismo de Mascarenhas e sua equipe. É provável que o crive de perguntas específicas a respeito.
Dono. Já pelo final do longo interrogatório o ministro perguntou, chamando-o educadamente de “seu Marcelo”, se o empresário se considerava dono do governo. Foi quando ele saiu-se com a resposta já vazada de que estava mais para bobo da corte, quiçá otário. Benjamin perguntou, também, se ele se via como uma espécie de embaixador do setor produtivo junto ao poder. É que o procuravam, afirmou o empresário. E então ele encaminhava os pleitos, deixando claro que tudo tinha um preço. 
O tom das perguntas fizeram advogados mais atentos achar que o ministro viu um empresário muito amargurado, que ainda não se conformou com o final da ópera como o está vendo no momento. 
O ministro também fez perguntas, digamos, existenciais, para o ex-diretor Benedicto Júnior, um dos depoentes da quinta-feira passada, no Rio de Janeiro. Numa delas quis saber como é que um jovem cheio de gás entra numa empresa daquele tamanho e é iniciado na cultura de corrupção. O ex-diretor declarou-se prisioneiro do sistema. Até poderia deixar a empresa, disse, mas não tinha como evitar aquela cultura. Já vinha, segundo ele, desde o dr. Norberto (avô de Marcelo).
Empresas. Benedicto Júnior também disse ao ministro do TSE que o que está correndo agora é que empresas não implicadas na operação Lava Jato estão procurando os políticos para dizer que estão dispostas a cobrir o recuo da Odebrecht, e de outras distribuidoras de propinas. DO ESTADÃO

Para salvar Michel Temer, TSE terá de se matar


Arma-se no Tribunal Superior Eleitoral uma grande encenação. Envolve o processo sobre a reeleição de Dilma Rousseff e Michel Temer. Suas páginas estão apinhadas de provas do uso de recursos ilícitos na campanha vitoriosa de 2014. As evidências tocam fogo na Presidência-tampão de Temer. Para ocultar as manobras que visam salvar o mandato do subsituto de Dilma, ninguém grita incêndio dentro do teatro. Mas a inclusão dos depoimentos de delatores da Odebrecht no processo mostra que, às vezes, torna-se inevitável gritar teatro dentro do incêndio.
Nesta segunda-feira, o ministro Herman Benjamin, relator do processo, interrogará mais dois ex-executivos da Odebrecht: Cláudio Melo Filho e Alexandrino de Salles Ramos de Alencar. Com isso, Benjamin fecha a série de cinco oitivas de colaboradores da empreiteira. Os depoimentos forneceram dados que complicam a vida da turma do deixa-disso. Agora, quem quiser se fingir de cego para livrar Temer da cassação terá de fechar os olhos para as propinas que ajudaram a reelegê-lo.
Ao julgar o processo, o TSE não decidirá somente contra ou a favor da interrupção do governo Temer ou da inelegibilidade de Dilma. Os ministros votarão para saber de que matéria-prima é feita a Justiça Eleitoral. Prevalecendo o conchavo, os colegas de Benjamin terão de fazer contorcionismo retórico para justificar um incômodo paradoxo: depois de transformar a auditoria nas contas da chapa Dilma—Temer num marco histórico, o TSE jogará o trabalho no lixo. Em nome da etabilidade da República, manterá a tradição de cassar apenas vereadores, prefeitos e governadores de Estados periféricos.
Inicialmente, tramava-se a separação das contas de Dilma e Temer, sob o pretexto de que apenas as arcas da campanha de madame receberam verbas sujas. Como os votos que o eleitorado deu para Dilma são os mesmos que fizeram de Temer seu substituto constitucional, aceitar a tese da segregação das contas poderia levar à desmoralização. Ficaria claro que, sob o exterior meio idiota de um magistrado disposto a engolir esse lero-lero, se esconde um débil mental completo.
Dentro e fora do TSE, os operadores de Temer agarraram-se a um novo lema: “Nunca deixe para amanhã o que você pode deixar hoje.” Trabalha-se agora para enviar o julgamento às calendas. Algo que talvez leve a plateia a se perguntar: para que serve a Justiça Eleitoral? Se o TSE chegar a esse ponto, como parece provável, potencializará a impressão de ter perdido a sua função.
Os partidários do resgate de Temer alegam que o TSE não pode ficar alheio à conjuntura política e econômica. O risco de mergulhar o país numa turbulência que ameaçaria a tímida recuperação da economia justificaria um olhar atenuatório sobre as culpas e as omissõers de Temer.
Recorda-se, de resto, que a cassação de Temer desaguaria numa eleição indireta para a escolha do seu substituto. Como prevê a Constituição, caberia ao Congresso, abarrotado de parlamentares enrolados no petrolão, apontar o nome do próximo presidente. Paradoxo supremo: para fugir da lama congressual, finge-se que a podridão da campanha não existiu.
Se a sensibilidade auditiva fosse transportada para o nariz, as pessoas, ao ouvir o burburinho por trás das portas de certos gabinetes brasilienses, sentiria um mau cheiro insuportável. É um odor típico dos processos de decomposição. Para salvar Michel Temer, o Tribunal Superior Eleitoral terá de se matar. DP J.DESOUZA