Um dos
principais historiadores do Brasil, Marco Antonio Villa, da UFSCar
(Universidade Federal de São Carlos), acredita que as prisões de
políticos poderosos devido ao mensalão marca uma nova era para a Justiça
brasileira.
“O
julgamento do mensalão sinalizou que a leniência com que eram tratados
os casos de corrupção é coisa do passado”, disse Villa, em entrevista
exclusivo O VALE concedida por e-mail.
Autor do
livro “Mensalão: o julgamento do maior caso de corrupção da política
brasileira”, ele considera que o ex-presidente Lula (PT) também teria
que ser julgado.
“Lula é o
réu oculto do mensalão. É impossível que não tenha tomado conhecimento
de tudo que o que estava sendo armado à sua volta.
Na entrevista, Villa fala também do caso do cartel no metrô de São Paulo e do mensalão mineiro.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
O
ex-procurador-geral da República Antônio Fernando de Souza classificou o
mensalão como o maior escândalo político da história brasileira. O
senhor concorda? Por que?
Sim. Não
houve nada parecido. O projeto criminoso de poder foi articulado no
interior do Palácio do Planalto. Não há nenhum caso semelhante na
história do Brasil.
Que análise o senhor faz do julgamento do mensalão para as histórias política e jurídica do Brasil?
Foi um
marco. Poderá significar um corte na história jurídica do país. A
justiça, finalmente, iniciou o processo (que deve ser longo) de
igualizar os cidadãos pois, até hoje, uns brasileiros eram mais iguais
que outros.
O
senhor acredita que o julgamento do mensalão significou uma ruptura com a
impunidade, principalmente em relação a políticos poderosos?
Sim.
Nunca na história deste país tivemos, ao mesmo tempo, tantos políticos
presos. E não só políticos, mas empresários e também banqueiros.
Qual
será, na avaliação do senhor, o reflexo do julgamento do mensalão nos
próximos casos de corrupção que serão analisados e julgados pelo STF e
pela Justiça brasileira?
O julgamento sinalizou que a leniência com que eram tratados os casos de corrupção é coisa do passado.
O
senhor acredita que foi cometida alguma injustiça no julgamento do
mensalão, como tem sido dito por advogados, juristas e líderes políticos
do PT?
Não. Foi
um julgamento absolutamente legal, com amplo direito de defesa,
transmitido pela televisão. Quer mais transparência que isso? Os
protestos são justificáveis, mas estão distantes do que efetivamente
ocorreu.
O que
representou para o Brasil a prisão de políticos poderosos como José
Dirceu, José Genoino e Valdemar da Costa Neto, principalmente nos casos
ocorridos no dia da Proclamação da República?
É o
início da refundação da República. Como costumo dizer, Deodoro da
Fonseca só anunciou, em 1889, a República que, até hoje, não foi
proclamada.
Como analisa as declarações da direção do PT e de presos como José Dirceu e José Genoino de que eles são presos políticos?
São
políticos presos. E foram presos por formação de quadrilha, por
corrupção ativa, por lavagem de dinheiro, etc. Como disse um ministro do
STF, são os marginais do poder.
Como o
senhor avalia os casos clínicos do José Genoino e do Roberto Jefferson?
Acredita que eles teriam que ter prisão domiciliar ou podem ficar na
cadeia como os demais presos?
Cabe à perícia definir cada caso, mas Jefferson, parece, tem o quadro clínico mais grave.
Na
opinião do senhor, qual foi a participação do ex-presidente Lula no
mensalão? O fato dele não ser julgado compromete a atuação do STF e da
Justiça? Tem esperança de que o ex-presidente Lula ainda seja julgado?
Lula é o réu oculto do mensalão. É impossível que não tenha tomado conhecimento de tudo o que estava sendo armado à sua volta.
Qual
será o impacto do mensalão nas eleições do ano que vem, principalmente
sobre as candidaturas do PT? Acredita que a oposição irá explorar o
escândalo durante o pleito?
É difícil
estimar. O problema maior é que a oposição é muito ruim de discurso.
Mas pode ser, que no momento de maior temperatura da eleição – no caso
de segundo turno, o tema tenha alguma centralidade.
O STF e
a Justiça preparam o julgamento do mensalão mineiro. Qual a expectativa
do senhor em termos de condenações, principalmente do ex-governador
Eduardo Azeredo?
O que
aconteceu em Minas é diferente do ocorrido na ação penal 470
\[mensalão\]. Entre os réus, é importante destacar, tem também o Mares
Guia, que foi ministro do Lula, e o Clésio Andrade, entusiasta das
administrações petistas. Mas, é importante destacar, o PSDB não soube
enfrentar a questão. O melhor procedimento seria expulsar o
ex-governador do partido.
O
senhor acredita que o mensalão mineiro será julgado antes das eleições
do ano que vem? Se isto não acontecer, acredita que o PT explorará o
episódio na eleição de 2014 para desgastar o PSDB?
É
improvável. Ainda não foram resolvidos os embargos da AP-470 e tem muito
processo na fila. E para o PT é melhor julgar a ação quando a
presidência estiver com o Ricardo Lewandowski.
Como
analisa as denúncias de formação de cartel nas licitações do metrô
paulista e as suspeitas sobre os governos tucanos Mário Covas, Geraldo
Alckmin e José Serra?
Vamos
aguardar o processo. Até agora não passam de especulações. É evidente
que tem algo de errado e funcionários podem ter sido corrompidos.
Em termos de corrupção, é possível fazer comparação do caso Siemens com o mensalão?
Não. O
caso Siemens é um fato isolado, mas que deve ser apurado, evidentemente.
O mensalão foi um projeto de tomada do aparelho de Estado, um golpe,
armado pela quadrilha petista que foi condenada.
Na
opinião do senhor, o STF e a Justiça também têm que julgar o caso
Siemens? Acredita que pode resultar em condenações para o governador
Geraldo Alckmin e para José Serra?
O processo sequer foi aberto. Vamos aguardar mas, volto a dizer, são casos e situações distintas.
DO ORLANDO TAMBOSI