quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Lula é o réu oculto do mensalão


O historiador Marco Antônio Villa deu entrevista a um jornal do interior de São Paulo dizendo que o "Barba" do Dops, vulgo Lula, é o réu oculto do mensalão. É um fato. Ele tem o mérito de dizer isto claramente, mesmo a um repórter que deve ter carteirinha do PT:
Um dos principais historiadores do Brasil, Marco Antonio Villa, da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), acredita que as prisões de políticos poderosos devido ao mensalão marca uma nova era para a Justiça brasileira.
“O julgamento do mensalão sinalizou que a leniência com que eram tratados os casos de corrupção é coisa do passado”, disse Villa, em entrevista exclusivo O VALE concedida por e-mail.
Autor do livro “Mensalão: o julgamento do maior caso de corrupção da política brasileira”, ele considera que o ex-presidente Lula (PT) também teria que ser julgado.
“Lula é o réu oculto do mensalão. É impossível que não tenha tomado conhecimento de tudo que o que estava sendo armado à sua volta.
Na entrevista, Villa fala também do caso do cartel no metrô de São Paulo e do mensalão mineiro.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
O ex-procurador-geral da República Antônio Fernando de Souza classificou o mensalão como o maior escândalo político da história brasileira. O senhor concorda? Por que?
Sim. Não houve nada parecido. O projeto criminoso de poder foi articulado no interior do Palácio do Planalto. Não há nenhum caso semelhante na história do Brasil.
Que análise o senhor faz do julgamento do mensalão para as histórias política e jurídica do Brasil?
Foi um marco. Poderá significar um corte na história jurídica do país. A justiça, finalmente, iniciou o processo (que deve ser longo) de igualizar os cidadãos pois, até hoje, uns brasileiros eram mais iguais que outros.
O senhor acredita que o julgamento do mensalão significou uma ruptura com a impunidade, principalmente em relação a políticos poderosos?
Sim. Nunca na história deste país tivemos, ao mesmo tempo, tantos políticos presos. E não só políticos, mas empresários e também banqueiros.
Qual será, na avaliação do senhor, o reflexo do julgamento do mensalão nos próximos casos de corrupção que serão analisados e julgados pelo STF e pela Justiça brasileira?
O julgamento sinalizou que a leniência com que eram tratados os casos de corrupção é coisa do passado.
O senhor acredita que foi cometida alguma injustiça no julgamento do mensalão, como tem sido dito por advogados, juristas e líderes políticos do PT?
Não. Foi um julgamento absolutamente legal, com amplo direito de defesa, transmitido pela televisão. Quer mais transparência que isso? Os protestos são justificáveis, mas estão distantes do que efetivamente ocorreu.
O que representou para o Brasil a prisão de políticos poderosos como José Dirceu, José Genoino e Valdemar da Costa Neto, principalmente nos casos ocorridos no dia da Proclamação da República?
É o início da refundação da República. Como costumo dizer, Deodoro da Fonseca só anunciou, em 1889, a República que, até hoje, não foi proclamada.
Como analisa as declarações da direção do PT e de presos como José Dirceu e José Genoino de que eles são presos políticos?
São políticos presos. E foram presos por formação de quadrilha, por corrupção ativa, por lavagem de dinheiro, etc. Como disse um ministro do STF, são os marginais do poder.
Como o senhor avalia os casos clínicos do José Genoino e do Roberto Jefferson? Acredita que eles teriam que ter prisão domiciliar ou podem ficar na cadeia como os demais presos?
Cabe à perícia definir cada caso, mas Jefferson, parece, tem o quadro clínico mais grave.
Na opinião do senhor, qual foi a participação do ex-presidente Lula no mensalão? O fato dele não ser julgado compromete a atuação do STF e da Justiça? Tem esperança de que o ex-presidente Lula ainda seja julgado?
Lula é o réu oculto do mensalão. É impossível que não tenha tomado conhecimento de tudo o que estava sendo armado à sua volta.
Qual será o impacto do mensalão nas eleições do ano que vem, principalmente sobre as candidaturas do PT? Acredita que a oposição irá explorar o escândalo durante o pleito?
É difícil estimar. O problema maior é que a oposição é muito ruim de discurso. Mas pode ser, que no momento de maior temperatura da eleição – no caso de segundo turno, o tema tenha alguma centralidade.
O STF e a Justiça preparam o julgamento do mensalão mineiro. Qual a expectativa do senhor em termos de condenações, principalmente do ex-governador Eduardo Azeredo?
O que aconteceu em Minas é diferente do ocorrido na ação penal 470 \[mensalão\]. Entre os réus, é importante destacar, tem também o Mares Guia, que foi ministro do Lula, e o Clésio Andrade, entusiasta das administrações petistas. Mas, é importante destacar, o PSDB não soube enfrentar a questão. O melhor procedimento seria expulsar o ex-governador do partido.
O senhor acredita que o mensalão mineiro será julgado antes das eleições do ano que vem? Se isto não acontecer, acredita que o PT explorará o episódio na eleição de 2014 para desgastar o PSDB?
É improvável. Ainda não foram resolvidos os embargos da AP-470 e tem muito processo na fila. E para o PT é melhor julgar a ação quando a presidência estiver com o Ricardo Lewandowski.
Como analisa as denúncias de formação de cartel nas licitações do metrô paulista e as suspeitas sobre os governos tucanos Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra?
Vamos aguardar o processo. Até agora não passam de especulações. É evidente que tem algo de errado e funcionários podem ter sido corrompidos.
Em termos de corrupção, é possível fazer comparação do caso Siemens com o mensalão?
Não. O caso Siemens é um fato isolado, mas que deve ser apurado, evidentemente. O mensalão foi um projeto de tomada do aparelho de Estado, um golpe, armado pela quadrilha petista que foi condenada.
Na opinião do senhor, o STF e a Justiça também têm que julgar o caso Siemens? Acredita que pode resultar em condenações para o governador Geraldo Alckmin e para José Serra?
O processo sequer foi aberto. Vamos aguardar mas, volto a dizer, são casos e situações distintas.
DO ORLANDO TAMBOSI

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