PAZ AMOR E VIDA NA TERRA
" De tanto ver triunfar as nulidades,
De tanto ver crescer as injustiças,
De tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus, o homem chega
a desanimar-se da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto".
[Ruy Barbosa]
Sérgio Machado e o quarteto insaciável não teriam feito o que fizeram sem a bênção da dupla de protetores de delinquentes
Por: Augusto Nunes
Todas as figuras citadas nos depoimentos de Sérgio Machado, sem
exceção, devem ser incluídas na devassa conduzida pela Lava Jato. Se
comprovada a veracidade da acusação, os culpados serão punidos. Caso
contrário, o acordo de delação não terá validade e Machado vai
envelhecer na cadeia. Simples assim. Nenhum meliante da classe executiva
está fora do alcance da ofensiva apoiada irrestritamente pelo país que
presta.
Brasileiros decentes não têm bandidos de estimação. Não se prestam ao
papel de coiteiro desempenhado por Lula e Dilma Rousseff com muita
aplicação e notável desfaçatez. Em 2003, a pedido de Renan Calheiros, o
ex-senador cearense foi premiado por Lula com a presidência (e o cofre)
da Transpetro. Nos anos seguintes, até as bombas dos postos de gasolina
se assombraram com a roubalheira consumada por Machado em sintonia com
os chefões do PMDB — sempre sob a proteção do Planalto.
Mantido no emprego por Dilma, o notório vigarista seguiu depenando em
sossego o assalto à subsidiária da Petrobras. Deu no que deu. Os
principais beneficiários das ladroagens descritas pelo delator foram os
senadores José Sarney, Romero Jucá, Renan Calheiros e Edison Lobão, que
acertaram com Lula o casamento do PT com o PMDB. Os casos de polícia
protagonizados por Machado e por quatro vorazes pais da pátria não
ocorreram depois da posse de Michel Temer, mas nos 13 anos de hegemonia
da organização criminosa disfarçada de coligação partidária.
José Sarney, por exemplo, voltou a presidir o Senado por vontade de
Lula, que retribuiu os bons serviços prestados pelo antigo dono do
Maranhão com um título honorífico — Homem Incomum — e operações de
socorro que mantiveram no cargo (e em liberdade) um prontuário de
bigode. Romero Jucá foi ministro da Previdência e depois líder do
governo Lula no Senado. Renan foi discípulo do palanque ambulante até
virar conselheiro de um poste. Edison Lobão foi ministro de Minas e
Energia da supergerente de araque.
Tão minucioso ao relatar bandalheiras envolvendo integrantes dos
partidos que hoje se opõem ao PT, Machado evitou detalhar episódios de
que participaram os principais responsáveis por sua longa temporada à
frente da Transpetro. Mesmo assim, a revelação mais relevante está na
soma dos depoimentos: conjugados, eles escancaram a paternidade da
gangrena que consumiu durante 12 anos esse braço da estatal petroleira.
Como todos os participantes do maior esquema corrupto da história,
Machado e o quarteto insaciável não teriam feito o que fizeram sem a
bênção militante de Lula e Dilma. Todos roubaram impunemente graças aos
dois coiteiros de meliantes. O resto é conversa de quadrilheiro
apavorado com a expansão da República de Curitiba.
Começa a ficar claro que Ministério Público
Federal está com uma leitura política da realidade que, no fim das
contas, absolve politicamente o PT
Por: Reinaldo Azevedo
Vejam estes dois bonecos.
Bonecos que fazem alusão crítica a Janot e Lewandowski, do movimento Nas Ruas
Os
movimentos de rua — e foram eles que levaram a Câmara a aceitar a
denúncia contra Dilma e o Senado a abrir o processo contra a presidente
—, mais uma vez, estão à frente da média da imprensa na percepção do que
está em curso. Sempre foi assim, não é mesmo? Enquanto setores
expressivos do jornalismo insistiam em dar espaço para meia dúzia de
bocós que queriam golpe militar, as ruas, de verdade, queriam o
impeachment segundo as regras do jogo. Enquanto os “especialistas” do
jornalismo duvidavam que Dilma seria afastada, as ruas nunca hesitaram.
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O movimento
Nas Ruas me manda a imagem de dois bonecos que passaram a frequentar a
Avenida Paulista, junto com o Pixuleco: o “Enganô”, que faz alusão ao
Rodrigo Janot, procurador-geral da República, e o Petralovski, que
remete ao presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski.
Acho que não
é preciso expor, vamos dizer assim, as reservas a Lewandowski. Pode até
ser um exagero meter-lhe uma estrela no peito, mas não chega a ser
segredo que suas concepções mais gerais de mundo estão bastante
adequadas ao universo mental petista. No julgamento de uma das ações que
buscavam paralisar a tramitação do impeachment, o ministro discursou em
favor de uma inexistente soberania do Supremo para decidir se Dilma
será ou não cassada. Como se sabe, a Constituição diz que os juízes num
processo de crime de responsabilidade são os senadores. PONTO!
Qual é a treta com Janot? E com Janot? Qual é a treta? Notem: toda pessoa decente quer
que todos os corruptos paguem por seus crimes. Mas os movimentos que
levaram milhões às ruas em favor da deposição de Dilma começam a
perceber que o sr. Rodrigo Janot se move com o que parece, a esta
altura, ser uma agenda.
Um
estrangeiro que não tivesse acompanhado o escândalo e conseguisse ler a
imprensa brasileira teria algumas certezas inquestionáveis: a: o PMDB foi o coração do petrolão; b: o PMDB comandou o governo mais corrupto da história; c: Eduardo Cunha é o chefe inconteste do petrolão; d: nada há, até agora, que justifique uma denúncia contra Dilma; e: nada há, até agora, que justifique uma denúncia contra Lula; f: o PT foi um parceiro menor na administração do petrolão.
Ora, é a maior coleção de mentiras jamais contada sobre o caso.
Militância política Infelizmente, resta evidente que o
Ministério Público Federal, ao lado do meritório trabalho de
investigação que fez em muitos casos, resolveu operar também com a
política. Aponto esses desvios aqui no meu blog desde sempre.
Infelizmente, eu estava certo. Ocorre que a militância passou a ser,
agora, mais desabrida. Com os holofotes no mais das vezes acríticos que
lhes garante a imprensa, procuradores falam abertamente em refundar a
República e não têm receio nenhum de conceder entrevistas que buscam
intimidar até o Supremo.
Ou Deltan
Dallagnol, o loquaz coordenador da Lava-Jato, não o fez duas vezes
enquanto Teori Zavascki decidia sobre o destrambelhado e injustificado
pedido de prisão de Renan Calheiros, Romero Jucá e José Sarney? O
irrequieto procurador deu a entender, com todas as letras, que a Teori
só cabia uma decisão correta: dizer “sim” à pretensão do Ministério
Público. O ministro consultou a lei e disse “não”.
Dallagnol e pares seus estiveram em Londres para um seminário sobre a Lava-Jato. Ele e Paulo Roberto Galvão concederam uma entrevista ao
Globo. Mais uma vez se manifesta aquele viés de salvadores do mundo e
almas messiânicas tocadas pelo desejo de purificar a Terra.
Numa de suas respostas, afirmou Dallagnol: “Sem entrar no caso concreto, eu diria que
a corrupção não tem cor, não tem partido. Ela existe há séculos no
Brasil. Apenas na década de 90 tivemos 88 casos de corrupção só na área
federal. O nosso compromisso é apurar corrupção envolva quem for de modo
cego, apartidário, técnico e imparcial. Esse é o compromisso que temos
com a sociedade.”
De todas as
teses até agora expostas, essa é a mais profundamente petista. Já
escrevi aqui que a Lava-Jato fala, muitas vezes, com o sotaque do PT da
década de 80. Ora, essa avaliação desconsidera a particularidade do
assalto petista ao estado: foi também uma forma de conquista do estado;
não foi só o roubo aos cofres públicos; tratou-se também do sequestro da
democracia.
A escolha
das palavras diz muito do que vai hoje no MPF: “uma apuração de modo
cego”. Os olhos vendados da Justiça significam apenas que ela não
distingue nem protege este ou aquele. Mas não se pode ser tão cego a
ponto de não enxergar os limites institucionais.
A seleção de
alvos que vem fazendo o Ministério Público e a forma como articulou a
delação do senhor Sérgio Machado puseram a instituição a serviço de uma
tese: a deposição do governo Temer para a realização de novas eleições,
o que poderia levar hoje o país para o buraco.
E, no buraco, não se consegue nem combater a corrupção.
É bom o
Ministério Público Federal deixar a política de lado. As ruas já
perceberam. Elas apoiam o combate à corrupção, não os impulsos de
candidatos a tiranos virtuosos. Porque isso não existe.