quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Josias de Souza

Virou pó o compromisso assumido por Michel Temer de afastar os ministros alvejados por denúncias da Procuradoria-Geral da República. Incluídos na segunda denúncia de Rodrigo Janot contra o presidente, os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) permanecerão nos respectivos cargos. Com isso, Temer rasga uma regra que criara em fevereiro.
Na época, acossado por notícias que o acusavam de blindar auxiliares tóxicos, Temer criou um sistema de exoneração a prazo: Denunciado, o ministro deixaria o cargo temporariamente, preservando o salário e o escudo do foro privilegiado. Convertido em réu, seria enviado ao olho da rua. Agora, na primeira oportunidade que tem para aplicar seus autocritérios, Temer decidiu dar o dito por não dito. (reveja no vídeo abaixo o pronunciamento que Temer fizera em fevereiro)
Padilha e Moreira foram incluídos na denúncia de Janot porque uma investigação da Polícia Federal apontou-os como membros da “organização criminosa” formada pelo chamado PMDB da Câmara, grupo 100% feito de correligionários de Temer.
Além do presidente e dos dois ministros, há outros quatro denunciados. Sem mandato, todos estão presos. Encontram-se atrás das grades os ex-ministro Geddel Vieira Lima e os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves. Está em prisão domiciliar o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, o ‘homem da mala’.

'Os mortos, deixai-os a seus próprios cuidados', diz Janot para rebater Gilmar

Pedro Ladeira/Folhapress
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no lançamento da campanha "Todos juntos contra a corrupção", em Brasília
14/09/2017 Em sua última sessão no Supremo Tribunal Federal, nesta quinta-feira (14), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, reagiu à alfineta desferida horas antes pelo ministro Gilmar Mendes.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral e ministro do STF afirmou que "que saiba morrer quem viver não soube.
Janot devolveu a provocação, depois de falar sobre os ataques que sofreu: "Mas tudo isso já encontra-se no passado. Os mortos, então, deixai-os a seus próprios cuidados".
Mendes não estava no plenário do tribunal para testemunhar o discurso final do desafeto.
"As páginas da história certamente hão de contar com isenção e verdade o lado que cada um escolheu para travar sua batalha pessoal nesse processo", disse.
CONVULSÃO
Janot afirmou que o Brasil "convulsiona no processo curativo do combate à corrupção".
"O Brasil, tal qual paciente submetido a gravoso tratamento, convulsiona no processo curativo do combate à corrupção", disse Janot, que afirmou que a "imagem que se revelou da nossa organização política é pungente".
Ele também afirmou ter sofrido ataques durante sua trajetória no comando do Ministério Público ("que não poucas vezes pareceu inglória") que os considerava esperados. "Saberia que haveria um custo por enfrentar o modelo político corrupto e produtor de corrupção cimentado por anos de impunidade."
Com tom de despedida, Janot afirmou que o STF tem "desempenhado papel de esteio da estabilidade institucional e democrática" durante a crise política.
Pouco antes da fala, ele enviou ao tribunal a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer. Os delatores da JBS Joesley Batista e Ricardo Saud também foram denunciados, bem como os peemedebistas Geddel Vieira Lima, Eduardo Cunha, Henrique Eduardo Alves, Eliseu Padilha e Moreira Franco.

Economia serve de álibi para abafar corrupção

Josias de Souza

O Planalto enterrará no plenário da Câmara a segunda denúncia contra Michel Temer com um discurso ensaiado. Adestrada e municiada com indicadores econômicos, a infantaria de deputados governistas entoará um coro com dois refrões. O primeiro diz que a recessão ficou para trás. O segundo afirma que as investidas do quase ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot não passam de flechadas irresponsáveis que podem frear o avanço da economia.
Não há em Brasília quem aposte uma cédula de real na hipótese de a Câmara autorizar o Supremo Tribunal Federal a dar andamento às investigações contra Temer e a quadrilha que Janot enxerga no coração do governo. A oposição não tem musculatura para cravar no painel eletrônico os 342 votos de que precisa. E Temer atrairá sem dificuldades o mínimo de 172 deputados que, subtraídos do total de 513 votos disponíveis na Câmara, impedirá seus rivais de atingirem a marca mágica dos 342.
A tática do governo convive, entretanto, com um grave paradoxo. Para sepultar a nova denúncia, Temer desperdiçará o tempo e a energia que lhe faltam para aprovar a reforma da Previdência. Em português claro: junto com as acusações de Janot, os deputados devem enviar à cova a pretensão do governo de mexer nas regras previdenciárias. Se isso acontecer, como parece provável, a recuperação da economia, mais lenta do que seria desejável, caminhará em ritmo de lesma.
Quer dizer: Temer conseguirá evitar a realização do pesadelo da queda. Mas não conseguirá realizar o sonho de passar à história como “presidente reformista.” Não deixará de se vangloriar de parado de cavar o buraco que Dilma Rousseff converteu em abismo. Mas tende a ser visto pela posteridade como alguém que testou os limites da paciência do brasileiro, ressuscitando a tese de que supostas realizações de um governante perdoam todos os seus meios. No passado, esse fenômeno costumava ser chamado de “rouba, mas faz.”
De costas para a sociedade brasileira, que lhe atribui uma taxa de aprovação de 7%, a mais baixa desde José Sarney, Temer ignora o saco cheio nacional. Voltará a oferecer cargos e verbas aos deputados. Se não for capaz de entregar a mãe de todas as reformas, como a equipe econômica se refere ao pacote de mudanças na Previdência, mesmo o brasileiro mais tolerante será levado a questionar se é mesmo tolerável um governo que se vende como reformista sem reformar seus velhos e maus hábitos.

Janot denuncia Temer, Joesley e mais 7 ao STF por obstrução e organização criminosa

Os 7 são Eliseu Padilha, Moreira Franco, Geddel, Henrique Alves, Eduardo Cunha, Rocha Loures e Ricardo Saud. PGR já havia denunciado presidente por corrupção passiva, mas Câmara rejeitou.

Janot denuncia Temer, Joesley e mais 7 ao STF por obstrução e organização criminosa
Janot denuncia Temer, Joesley e mais 7 ao STF por obstrução e organização criminosa
Por Vladimir Netto, Renan Ramalho e Filipe Matoso, TV Globo e G1, Brasília
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira (14) uma nova denúncia contra o presidente Michel Temer, desta vez pelos crimes de obstrução à Justiça e organização criminosa.
Outras oito pessoas são alvos da mesma denúncia (dois ministros, dois ex-ministros, dois ex-deputados, um empresário e um executivo). De acordo com o procurador, os políticos denunciados arrecadaram mais de R$ 587 milhões em propina.
O empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F, e o executivo Ricardo Saud estão entre os denunciados, mas somente pelo crime de obstrução de Justiça.
O STF somente poderá analisar a denúncia contra Temer se a Câmara autorizar. Em agosto, a Câmara rejeitou a primeira denúncia de Janot contra Temer, por corrupção passiva.
Além de Temer e de Joesley, também foram denunciados nesta quinta:
  • Eliseu Padilha (PMDB-RS), ministro da Casa Civil
  • Moreira Franco (PMDB-RJ), ministro da Secretaria-Geral
  • Ricardo Saud, executivo do grupo J&F
  • Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ex-deputado
  • Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), ex-deputado e ex-ministro
  • Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), ex-ministro
  • Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), ex-deputado e ex-assessor de Temer

Organização criminosa

Segundo Rodrigo Janot, Temer, Cunha, Henrique Alves, Geddel, Rocha Loures, Padilha e Moreira Franco, todos integrantes do PMDB, formaram um núcleo político para cometer crimes contra empresas e órgãos públicos.
De acordo com a denúncia, os integrantes do suposto esquema receberam valores de propina que, somados, superam R$ 587,1 milhões, arrecadados de empresas e órgãos públicos, entre os quais ais Petrobras, Furnas, Caixa Econômica Federal, Ministério da Integração Nacional, Ministério da Agricultura, Secretaria de Aviação Civil e Câmara dos Deputados.

Obstrução de justiça

Entre as ações que configuram obstrução de justiça, a denúncia se refere ao "pacto de silêncio" entre Funaro e Joesley Batista para que eles não fechassem acordo de delação. Funaro é apontado como operador de propinas do PMDB. Os dois se tornaram delatores.
Janot também diz que Temer estimulouj Joesley a fazer pagamentos regulares a Eduardo Cunha para que o ex-deputado não feche acordo delação.

Temer

Esta é a segunda acusação formal de Janot contra Temer. Na primeira, apresentada em junho, o presidente foi acusado do crime de corrupção passiva. Mas a Câmara rejeitou o prosseguimento do processo para o Supremo Tribunal Federal (relembre no vídeo abaixo).
Governo e oposição analisam impacto da decisão que livrou Temer
Governo e oposição analisam impacto da decisão que livrou Temer
A nova denúncia contra Temer é apresentada depois de a PGR abrir um processo de revisão da delação premiada de executivos da JBS, cujos benefícios foram temporariamente suspensos em razão do fato de o Ministério Público Federal entender que pode ter havido omissão nas informações.
A defesa de Temer chegou a pedir ao STF o afastamento de Janot de investigações contra ele e também a suspensão de uma nova denúncia, mas o ministro Edson Fachin, a quem cabe a decisão, negou os pedidos.
Temer, então, recorreu ao plenário da Corte, mas o STF manteve Janot à frente das investigações.
A denúncia desta quinta foi protocolada a poucos dias de Janot deixar o cargo e, caso tenha prosseguimento no STF, passará a ser conduzida por Raquel Dogde, indicada para o comando da PGR por Temer. Ela toma posse no próximo dia 18 de setembro.

Tramitação

Assim como na primeira denúncia, como o alvo é o presidente da República, a Constituição determina que o andamento do processo no Supremo Tribunal Federal (STF) depende de autorização de pelo menos 342 dos 513 deputados federais.
Na Câmara, a nova denúncia deve seguir a mesma tramitação da primeira:
>> STF aciona a Câmara - Após o oferecimento de denúncia pelo Ministério Público, a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, envia à Câmara uma solicitação para a instauração do processo. Cabe ao presidente da Câmara receber o pedido, notificar o acusado e despachar o documento para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa.
>> Prazo para a defesa - A partir da notificação, a defesa de Temer tem até dez sessões do plenário da Câmara para enviar os argumentos, se quiser.
Para a contagem do prazo, é levada em consideração qualquer sessão de plenário, seja de votação ou de debate, desde que haja quórum mínimo para abertura (51 deputados presentes). Se houver mais de uma sessão no dia, apenas uma será validada. Não são computadas as sessões solenes e as comissões gerais.
>> CCJ analisa - Assim que a defesa entregar as alegações, o regimento determina que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) terá prazo de até cinco sessões do plenário para se manifestar sobre a denúncia encaminhada pela Procuradoria Geral da República (PGR).
Nesse período, o relator a ser designado pelo presidente da CCJ deverá apresentar um parecer, no qual se manifestará, concordando ou não com o prosseguimento da denúncia.
Os membros da CCJ poderão pedir vista do processo (mais tempo para análise) por duas sessões plenárias antes de discutir e votar o parecer, que será pelo deferimento ou indeferimento do pedido de autorização para instauração de processo.
Antes de ser votado no plenário, o parecer da CCJ terá de ser lido durante o expediente de uma sessão, publicado no "Diário da Câmara" e incluído na ordem do dia da sessão seguinte à do recebimento pela mesa diretora da Câmara.
O regimento não define quando o presidente da CCJ deverá escolher o relator, mas o deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG) poderá indicar qualquer um dos outros 65 membros titulares da comissão.
>> Decisão pelo plenário - O parecer discutido na comissão é incluído na pauta de votação do plenário principal da Câmara na sessão seguinte deo recebimento pela Mesa Diretora, depois da apreciação pela CCJ.
Após discussão, o relatório será submetido a votação nominal, pelo processo de chamada dos deputados. O regimento define que a chamada dos nomes deve ser feita alternadamente, dos estados da região Norte para os da região Sul e vice-versa.
Os nomes serão enunciados, em voz alta, por um dos secretários da Casa. Os deputados levantarão de suas cadeiras e responderão "sim", "não" ou "abstenção", assim como na votação do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
>> Aprovação ou rejeição da denúncia
  • Aprovação - A denúncia seguirá para o STF se tiver o apoio de pelo menos dois terços dos 513 deputados, ou seja, 342 votos. Se ficar admitida a acusação, após a aprovação do parecer, será autorizada a instauração do processo no Poder Judiciário. No STF, os 11 ministros votam para decidir se o presidente Michel Temer vira réu. Nesse caso, Temer é afastado do cargo por 180 dias. O presidente só perde o cargo defintivamente se for condenado pelo Supremo. Quem assume o cargo é presidente da Câmara, que convoca eleições indiretas em um mês. Segundo a Constituição, o novo presidente da República seria escolhido pelo voto de deputados e senadores.
  • Rejeição - No caso de rejeição da denúncia pela Câmara, o efeito ainda é incerto, segundo a assessoria de imprensa do STF, e pode ser definido pelos ministros ao analisar esse caso específico. Se a denúncia for rejeitada pelos deputados, o Supremo fica impedido de dar andamento à ação, que será suspensa e só será retomada depois que Temer deixar a Presidência.