Simultaneamente, no contrafluxo, algumas dezenas de organizações comunistas clandestinas cometiam desatinos. Promoviam atos terroristas e execuções sumárias, assaltavam, assassinavam, sequestravam pessoas e aeronaves. Recebiam orientação, treinamento e recursos de Cuba, URSS, China. Davam calor local à Guerra Fria (há quem diga que ela não existia aqui e que, embora EUA e URSS disputassem até a Lua e o espaço sideral, os soviéticos olhavam para o insignificante Brasil com desdém). Embora os panfletos que espalhavam entre os resíduos criminosos e mortais de suas ações falassem muito em povo, essas organizações não tinham qualquer apoio popular. Semearam dores e danos, e atrasaram a redemocratização. Descriam da democracia, zombavam dos que faziam oposição no plano das instituições.
Entretanto, não há como negar a utilidade da atuação do PMDB. Foi seu trabalho na formação da opinião pública, apoiado por frações da base governista (parte da qual saiu do PDS e formou a Frente Liberal) que criou o ambiente favorável à abertura “lenta, gradual e segura” de Geisel. E é irrecusável, também, que guerrilheiros e terroristas, nessa longa história, não têm qualquer mérito. Foi a ideologia deles, recusada pelo povo nas ruas do país, que gerou a intervenção militar e foi a opção deles pela luta armada que retardou a normalização institucional.
Pois bem, esse é o grupo que, hoje, hegemoniza nossa política com vários de seus membros promovendo “expropriações” do patrimônio público e agindo, agora como então, fora da lei. É esse mesmo grupo que, de tempos para cá, com inacreditável apoio midiático, enfeitando a própria história, se pavoneia como defensor da democracia e paladino histórico das liberdades públicas.
Não preciso escrever mais nada para demonstrar que o PMDB está sendo roubado de seu principal patrimônio político. Líderes vindos da clandestinidade, da luta errada, por meios errados, para fins ainda mais errados, chegaram ao poder pelo voto. Instalam-se para ficar. E passam a buscar méritos que não têm. Posam como vítimas da ditadura (alguns foram mesmo) e ocultam os tenebrosos objetivos que os moviam. Põem o PMDB a tiracolo e, sem pedir licença a ninguém, dão de mão no trabalho de Ulysses, Tancredo, Fernando Henrique, Montoro, Covas, Simon, Teotônio. E o PMDB, submisso à ditadura do “politicamente correto”, submisso à hegemonia petista, a tudo tolera em troca de quinhões do poder. Alguém tem que ir à delegacia e preencher um B.O..
(*) Percival Puggina (68) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia e Pombas e Gaviões.