segunda-feira, 5 de março de 2018

Carne Fraca: PF cumpre 11 mandados de prisão temporária em nova fase da operação que tem BRF como alvo

3ª etapa foi deflagrada na manhã desta segunda-feira (5); ex-diretor-presidente global da BRF foi preso.

O ex-diretor-presidente global da BRF Brasil Foods Pedro De Andrade Faria foi preso na manhã desta segunda-feira (5) em São Paulo na 3ª fase da Operação Carne Fraca. Outras 10 pessoas relacionadas à empresa são alvo de prisão temporária. Até o momento, três investigados foram presos.
Ao todo, são 27 mandados de condução coercitiva e 53 de busca e apreensão.
Pedro De Andrade Faria chegou por volta das às 8h35 à sede da PF, em São Paulo. Outras duas pessoas também já foram presas em São Paulo: o ex-diretor e ex-vice-presidente Hélio Rubens Mendes dos Santos Júnior e o gerente jurídico Luciano Bauer Wienke .
Pedro Faria, ex-presidente da BRF (Foto: Reprodução/TV Globo)
Os alvos de mandados de prisão temporária dessa fase trabalham ou já atuaram na BRF.

Veja a lista

  • André Luís Baldissera
  • Décio Luiz Goldoni
  • Fabiana Rassweiller de Souza
  • Fabianne Baldo
  • Harissa Silvério el Ghoz Frausto
  • Hélio Rubens Mendes dos Santos Júnior
  • Luciano Bauer Wienke
  • Luiz Augusto Fossati
  • Natacha Camilotti Mascarello
  • Pedro De Andrade Faria
  • Tatiane Cristina Alviero
O G1 enviou um e-mail pra BRF às 7h12 e aguarda um posicionamento sobre o assunto. A reportagem tenta localizar a defesa dos citados.
Agentes da PF chegam à sede da corporação em SP com materiais apreendidos na Operação Trapaça (Foto: Amós Alexandre/GloboNews)
Esta nova fase foi batizada de Operação Trapaça. Ao todo, são 91 ordens judiciais no Paraná, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, em Goiás e em São Paulo.
Conforme a PF, as investigações apontaram que cinco laboratórios credenciados ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e setores de análises da BRF fraudavam resultados de exames em amostras de processo industrial.
Assim, eram informados dados fictícios em laudos e planilhas técnicos ao Serviço de Inspeção Federal.
O objetivo das fraudes era burlar o Serviço de Inspeção Federal (SIF/MAPA) para impedir que o Mapa fiscalizasse a qualidade do processo industrial da BRF.
Os investigados podem responder, de acordo com a PF, por crimes como falsidade documental, estelionato qualificado e formação de quadrilha ou bando, além de crimes contra a saúde pública, entre outros.
Segundo a Justiça, os "crimes contra a saúde pública, tiveram início e foram essencialmente praticadas na planta da BRF em Carambeí/PR".
"Em tal região teria havido a contaminação de granjas pela bactéria Salmonella e a empresa, além de não tomar as providências necessárias para a sua contenção, também não teria comunicado às autoridades competentes", diz um trecho do despacho.
Ainda conforme a Justiça, "o que se verifica é a existência de um círculo vicioso, em que um crime foi cometido para ocultar o outro e assim por diante, restando evidente a conexão e impossibilidade de dissociação dos fatos".
A primeira fase da Operação Carne Fraca, lançada em março de 2017, investigou o envolvimento de fiscais do Ministério da Agricultura em um esquema de liberação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos. Cinquenta e nove pessoas viraram rés.
A operação causou um impacto financeiro de R$ 363 milhões nas contas da BRF de 2017. Houve gastos e despesas extras com mídia e advogados, além de frete, armazenagem e perdas com devoluções de produtos
Carro da PF na seda BRF em Curitiba; 3ª fase da Operação Carne Fraca foi deflagrada nesta segunda-feira (5) (Foto: Denilson Beltrame/RPC)

Operação Trapaça

"Trapaça" é uma alusão, conforme a PF, ao sistema de fraudes operadas pela BRF e por laboratórios de análises de alimentos a ele vinculados.
Executivos da BRF, do corpo técnico e profissionais responsáveis pelo controle de qualidade dos produtos da empresa consentiam com as fraudes, segundo a PF.
De acordo com a PF, também foi constatado que executivos da BRF fizeram manobras extrajudiciais para acobertar a prática das irregularidades ao longo das investigações.
Duzentos e setenta policiais federais e 21 auditores fiscais federais agropecuários estão nas ruas cumprindo os mandados desta nova etada da Carne Fraca, de acordo com a PF.

Cidades onde há mandados

No Paraná, há mandados sendo cumpridos em Curitiba e em Araucária, na Região Metropolitana; em Carambeí, em Castro, em Palmeira, em Ipiranga, em Piraí do Sul e em Ponta Grossa, nos Campos Gerais; em Dois Vizinhos e em Toledo, no oeste; e em Maringá, no norte.
Em Goiás, os mandados são cumpridos em Mineiros e em Rio Verde. No Rio Grande do Sul, em Arroio do Meio. Em Santa Catarina, as cidades com ordens judiciais são Chapecó e Treze Tílias.
Em São Paulo, a PF cumpre mandados em Piracicaba, em Santana do Paranaíba, em Sorocaba, em Vinhedo, em São Paulo e em Porto Feliz.
Os mandados judiciais foram expedidos pelo Juízo da 1ª Vara Federal de Ponta Grossa.

O que diz o Mapa

Por meio de nota, o Mapa informou que vai adotar algumas medidas a partir desta 3ª etapa da Carne Fraca. Uma delas é a suspensão dos estabelecimentos envolvidos para exportar a países que exigem requisitos sanitários específicos de controle e tipificação de Salmonella spp.
Será suspenso também o credenciamento dos laboratórios alvo da operação, até finalização dos procedimentos de investigação, que podem resultar no cancelamento definitivo do credenciamento
Haverá a implementação de medidas complementares de fiscalização, com aumento de frequência de amostragem para as empresas envolvidas, até o final do processo de investigação.
O Mapa disse que a Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA) implementará novos modelos de controle de laboratórios credenciados visando a redução de fraude.
Outra medida vai ser aprimoramemto de ferramentas de combate a fraudes em alimentos.
Por José Vianna, Thais Kaniak, Alana Fonseca e Camila Bonfim, RPC Curitiba, G1 PR e TV Globo