Por Mino Pedrosa
A disputa pelo Governo do Distrito Federal nas eleições de 2010 trouxe à tona um processo volumoso de desvio de milhões em verbas públicas na gestão de Agnelo Queiroz no Ministério dos Esportes. O processo, que ainda tramita na Justiça, começou com exploração sexual de crianças e adolescentes, queima de arquivo com assassinato e fechou com um grande escândalo de ONGs fantasmas e está recheado de provas contra o atual governador do DF. Se fosse um filme, poderia se chamar Guerra entre Gangsters.
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Agnelo e Filipelli |
O processo, um dos mais rumorosos dos últimos anos envolvendo autoridades e empresários, teve um agente da Polícia Civil infiltrado na chamada Operação Shaolin, que foi assassinado, segundo a perícia, por alguém com o domínio das artes marciais.
Na campanha de 2010, Agnelo contou com a ajuda de Tadeu Filipelli, vice na chapa que hoje dirige o GDF. O argumento desse filme partiu de um vídeo onde
Michael Vieira da Silva, um faz tudo da ONG Instituto Novo Horizonte, aparece no programa eleitoral do adversário Joaquim Roriz reiterando denuncias contra Agnelo e sua turma no Esporte.Michael explicava, em horário nobre, como eram feitos os repasses de dinheiro desviado dos cofres do Ministério do Esporte e como Agnelo recebia a sua parte do leão.
Abatido, Agnelo contou com a ajuda de Filipelli para montar estratégia para desqualificar Michael, e dar a volta por cima na campanha. Mas, o plano custava dinheiro.
A esta altura do roteiro, só quem tinha dinheiro em espécie, capaz de resolver tamanho problema, era o doleiro Fayed Antoine Traboulsi, muito conhecido nos meandros da política na Capital da República.
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Miguel Lucena (Codepan) |
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Rafael Barbosa (secretário de Saúde) |
Naquele momento os responsáveis pela arrecadação de dinheiro para a campanha de Agnelo e Filipelli, através de caixa 2, eram o delegado e ex-chefe da Inteligência da Polícia Civil, Miguel Lucena, e o hoje secretário de Saúde Rafael Barbosa. A mando de Agnelo e Filipelli, os “malas” procuraram Marcelo Toledo e Fayed, a fim de levantar a verba para comprar o depoimento de Marlene Vieira da Silva Santos, tia de Michael, e desqualificar o depoimento do rapaz.
Aí o roteiro do filme passa a esquentar. O doleiro, então, financiou a estratégia de Filipelli e Agnelo através de seu amigo Marcelo Toledo. Na mesa de negociações, ficou acertado que com a vitória de Agnelo e Filipelli a autarquia DF Trans –Transporte Urbano do Distrito Federal e a Corretora de Seguros do BRB, ficariam sob o comando de Toledo, que nomearia as diretorias, enquanto Lucena ficaria com a Secretaria de Segurança Pública.
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Marcelo Toledo |
Lucena e Rafael receberam das mãos do doleiro R$ 500 mil na hora, como uma parcela para engordar o Caixa 2 da campanha. O delegado saiu do primeiro encontro e convocou um amigo para testemunhar o pagamento de Marlene. João Dias, o homem que tem o domínio das artes marciais em Brasília, preside a Federação Brasiliense de Karatê e é o suspeito número um na morte do agente da Polícia Civil infiltrado na Operação Shaolin, que desvendou o esquema das ONGs no Ministério dos Esportes.
A operação foi um sucesso. A campanha de Agnelo conseguiu estancar uma série de denuncias que seriam feitas por Michael.
Agnelo e Filipelli, vitoriosos, teriam que cumprir com os compromissos assumidos durante a campanha. O que não aconteceu. Lucena viajou para o exterior para descansar e se preparar para assumir a Secretaria de Segurança. Mas no retorno encontrou outro no seu lugar.
Lucena procurou Toledo e Fayed para chorar as mágoas. Entre uma lamentação e outra desabafou e revelou todo o esquema do Caixa 2 da campanha minuciosamente explicado como operava junto com o já nomeado secretário de Saúde Rafael Barbosa. O assunto era dinheiro. E Fayed e Toledo, experientes, gravaram toda a conversa.
No primeiro encontro, a gravação tem o tempo de 46 minutos. Depois, Toledo e Fayed tiveram mais três encontros com Lucena, todos devidamente registrados.
Lucena então cobrou de Agnelo e Filipelli uma solução. Imediatamente foi nomeado presidente da Codeplan. Aí, o filme mudaria de nome: De volta ao Passado. Lucena passou a ocupar o mesmo cargo de Durval Barbosa, no Governo Arruda. Lembrando também que Durval foi o arrecadador de dinheiro do caixa 2 de Arruda.
Começa o jogo perigoso. Entra em campo outro personagem: Paulo Tadeu, secretário de Governo e responsável pela distribuição dos cargos no GDF. Com Filipelli e Agnelo, Paulo Tadeu resolveu enfrentar Marcelo Toledo e não cumpriu o acordo firmado na campanha, descartou o doleiro e o amigo. Toledo e Fayed procuraram Lucena, o avalista da operação. E começaram a cobrar: os cargos ou o dinheiro com juros e correção. Já não eram mais R$500 mil. Passavam de R$ 3 milhões.
Lucena, Filipelli e Agnelo resolveram montar um flagrante de extorsão e levar Toledo e Fayed pra cadeia. Encontro marcado, Fayed revelou a Lucena que o esquema para montagem do caixa 2 de Agnelo e Filipelli contado pelo delegado estava todo documentado.
Aí, Lucena convocou como testemunha novamente o policial militar e professor de artes marciais João Dias, e sua turma de caratecas para garantir a prisão de Toledo e Fayed no flagrante de extorsão. Mas o que Lucena e João não contavam é que do outro lado havia uma turma de policiais civis para “garantir” a conversa.
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João Dias |
O bate papo aconteceu no Sudoeste, bairro classe A de Brasília, no Café Pães e Vinhos. Ali, Toledo e Fayed cobraram a fatura combinada. Sentados, a conversa começou a esquentar, e Toledo, percebendo que não sairia nem cargo nem dinheiro, com voz alterada ameaçou colocar na rua as gravações que tinha em seu poder. Lucena, com João preparado para o flagrante de extorsão, deu voz de prisão a dupla de cobradores. A confusão estava armada.
Turma de Toledo...Turma de João. Policiais e caratecas...Começam os empurrões e... chegam rapidamente as viaturas da PM, como que aguardassem a voz de prisão a qualquer momento. Todos para o 3º Distrito Policial. Na chegada da Delegacia, procuraram Lucena e ele havia fugido.
Toledo e Fayed estavam detidos. João Dias fazia escândalo na Delegacia. No corre-corre, Fayed ainda dentro do carro, uma BMW vermelha, gritava, com sotaque árabe,“estou sendo preso por tentar recuperar meu dinheiro roubado por vocês! Quem tem que ir pra cadeia são vocês !” Um dos policiais que fazia a escolta de Fayed e Marcelo sacou uma arma e deu fuga para o doleiro.
Dentro da Delegacia, João Dias, vestido de colete de proteção de luta e jeans, gritava e dava ordens para os agentes exigindo a prisão de Toledo e Fayed, e ameaçava telefonar para o secretário de Segurança, Sandro Avelar. O delegado titular, Onofre de Moraes, foi acordado à 1h15 da madrugada para tentar resolver o problema. Onofre disse a João que não poderia fazer a ocorrência policial porque Lucena e Fayed haviam fugido da Delegacia. João Dias revoltado disse ao Delegado que levaria o caso para o Ministério Público e abriria o verbo.
Na manhã seguinte, o delegado Onofre de Moraes se dirigiu ao local onde a voz de prisão foi dada a Fayed e Toledo, em busca de imagens que comprovassem a discussão. Onofre tentou juntar provas para guardar na gaveta, porque sabia que o desenrolar dessa história pode gerar um processo de prevaricação. Portanto, na gaveta do delegado pode estar um Boletim de Ocorrência contando toda a história.
Toda esta cena já tinha se passado no filme do Governo de José Roberto Arruda: Durval era o arrecadador e caixa 2 da campanha, assumiu a Codeplan, filmou e denunciou todo o esquema do Governo e se escorou numa delação premiada.
Agora Lucena, no mesmo papel, foi o caixa 2 e arrecadador da campanha de Agnelo e Filipelli, assumiu a Codeplan, foi parar na delegacia e também existem gravações de todos os lados que revelam as mazelas do Governo Agnelo e Filipeli. Só que Lucena tentou mudar a história colocando de imediato Toledo e Fayed na cadeia como chantagistas. Mas o plano falhou. Por enquanto.
Aliás, nessa história a única pessoa que teve o prometido foi a tia de Michael, a 2º sargento da QPPMC Marlene Vieira da Silva Santos, matrícula 154.175-7, que foi nomeada conforme publicação na página 35 do Diário Oficial do DF, do dia 31 de março de 2011, “para exercer o Cargo em Comissão, Símbolo DFG-14, de Diretor, da Diretoria de Integração e Articulação Comunitária, da Subsecretaria de Programas Comunitários, da Secretaria de Estado de Segurança Pública do Distrito Federal, no lugar do major da PMPM Hélio de Almeida Jardim, matrícula 190.732-8.”
Agnelo e Filipelli, na tentativa de abafar escândalos, além pagar os serviços sujos, estão acomodando, aqueles que chamam chantagistas, em cargos no Governo.
COMENTO: o relato é pesado! Infelizmente, faltam dados que poderiam melhorar a credibilidade sobre os fatos relatados, como a especificação de datas, mas é mais um fato que, certamente, não constará nas notícias divulgadas pela "grande imprensa", nem terá uma apuração promovida por algum "procurador justiceiro"!
DO BLOG MUJAHDIN CUCARACHA