terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Eliseu Padilha é gravado explicando fisiologismo

Em palestra para fucionários da Caixa Econômica Federal, o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) explicou o funcionamento da engrenagem fisiológica que permite ao governo de Michel Temer dispor de maioria no Congresso. Em timbre de galhofa, Padilha usou como exemplo o preenchimento do cargo de ministro da Saúde. Contou que, para obter o apoio do PP, descartou a nomeação de “um médico famoso de São Paulo” para acomodar na poltrona o deputado Ricardo Barros (PP-PR), um engenheiro civil. (ouça a voz do ministro abaixo). O médico que Temer se absteve de nomear chama-se Raul Cutait, um dos cirurgiões mais notáveis do país.
A palestra de Padilha ocorreu na semana passada, em São Paulo. Sem saber que estava sendo gravado, o ministro protagonizou algo muito parecido com um sincericídio. A certa altura, brincou com um dos presentes, Gilberto Occhi, o filiado do PP que preside a Caixa. “O Occhi tem que fechar os ouvidos, porque dessa ele participou, decerto, do outro lado!”
Padilha lembrou que, na composição da primeira equipe do governo Temer, havia uma decisão de nomear ministros notáveis em suas respectivas áreas. A pasta da Saúde seria do PP. Mas a legenda foi alertada para o desejo do presidente de ter na poltrona um profissional que fosse “dintinguido”. “Aí nós ensaiamos uma conversa de convidar um médico famoso em São Paulo”, relatou o chefe da Casa Civil, sem mencionar o nome do doutor Raul Cutait.
Segundo Padilha, o PP mandou um recado para Temer: “Diz para o presidente que o nosso notável é o deputado Ricardo Barros.” Portador da mensagem, o ministro aconselhou o amigo a ceder ao partido, campeão no ranking de enrolados no escândalo da Petrobras. “Nós não temos alternativa”, disse Padilha a Temer, realçando que o objetivo do governo era obter 88% dos votos no Legislativo.
“Vocês garantem todos os votos do partido em todas as votações?”, perguntou Padilha. E os representantes do PP: “Garantimos.” O ministro diz ter encerrado a negociação nos seguintes ternos: “Então, o Ricardo será o notável.”
O blog apurou detalhes que Padilha sonegou em sua palestra. Sondado para o cargo de ministro da saúde, o cirurgião Raul Cutait impôs condições para assumir o cargo. Conversou com o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI). Queria que todas as nomeações para os cargos relevantes da pasta passassem por sua mesa. Mais: escolheria seus auxiliares por critério técnico, não político.
A bancada de deputados federais do PP ameaçou pegar em armas se Cutait virasse ministro da Saúde. Os parlamentares exigiram a nomeação do colega e Ricardo Barros. E Michel Temer aceitou. Nesse contexto, a palestra de Eliseu Padilha vale como uma espécie de strip-tease político. DO J.DESOUZA

Pior do que um vagabundo pichador de muro é um juiz pichador da Justiça!

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Em decisão publicada nesta terça-feira (14), a Justiça de São Paulo proíbe o prefeito João Doria (PSDB) de apagar novos grafites na cidade sem autorização prévia do Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo).
Em caso de descumprimento, a prefeitura terá de pagar uma multa diária de R$ 500 mil, além de outras sanções. A decisão é do juiz Adriano Marcos Laroca, da 12ª Vara de Fazenda Pública do Foro Central da Capital. No texto, ele afirma que a “remoção dos grafites em espaços públicos da cidade” coloca “em risco o seu patrimônio cultural”.
Diversos grafites da cidade têm sido cobertos por tinta cinza como medida do “São Paulo Cidade Linda”, programa de zeladoria do prefeito João Doria, que desde o início de sua gestão vem fazendo campanha contra os pichadores. “Se preferirem continuar pichando a cidade, terão o rigor da lei. É tolerância zero”, afirmou o prefeito.
Procurada pelo UOL, a prefeitura afirmou que irá recorrer da liminar assim que for notificada. A prefeitura ainda disse que enviará ao Poder Judiciário documentos com os planos de ampliação dos grafites na cidade, além de um programa que prevê o encaminhamento de pichadores à prática das artes de rua.
Vou te contar uma coisa… só mesmo no Brasil perdemos tempo “debatendo” se os vagabundos têm ou não o direito de emporcalhar as cidades! É muito atraso. E pior: vem a própria “Justiça” determinar que os meliantes têm sim o direito de pichar muros, pois isso, afinal, é “arte”. Bernardo Santoro, ex-presidente do Instituto Liberal, desabafou:
Poucas coisas expõem tanto o baixo nível civilizatório do Brasil quanto a existência de debate acerca de pichação. Só de ter gente sendo legitimada a argumentar em defesa da pichação já me deixa chocado.
Porque falar coisas sem sentido é um direito que assiste a todos dentro da democracia, mas a janela de overton brasileira estar tão jogada para a esquerda a ponto de defensores de pichadores serem levados a sério e ouvidos como autoridades em parlamentos municipais é praticamente um atestado da indigência intelectual, ética e estética da nossa sociedade.
A sensação das pessoas normais e racionais no Brasil é a de dar murros em ponta de faca, de remar contra a maré vermelha, uma correnteza forte e indomável, imune a argumentos e lógica. Guilherme Macalossi, do programa “Confronto”, foi preciso em seu comentário:
Um juiz resolveu determinar que João Doria está proibido de apagar grafitagens sem autorização do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico e Ambiental de São Paulo (que nome pomposo, não acham?). Mesmo os grafites depredados por pichadores, que são o alvo do prefeito, precisarão de autorização do distinto senhorio que compõe o órgão. É a justiça em defesa do emporcalhamento urbano por meio da burocracia.
O autor da liminar ilegal que proíbe João Doria de apagar grafitagens depredadas é um tal de Adriano Marcos Laroca, integrante de um troço chamado Associação Juízes para a Democracia (deve haver juízes que não são). A dita Associação não passa de um grupelho esquerdista que tenta aparelhar a magistratura. Defendem tudo o que não presta, inclusive invasões ilegais e depredação.
Em 2011, os doutores declararam, por meio de um manifesto, que “Não é verdade que ninguém está acima da lei, como afirmam os legalistas e pseudodemocratas: estão, sim, acima da lei, todas as pessoas que vivem no cimo preponderante das normas e princípios constitucionais e que, por isso, rompendo com o estereótipo da alienação, e alimentados de esperança, insistem em colocar o seu ousio e a sua juventude a serviço da alteridade, da democracia e do império dos direitos fundamentais”.
Ai está. Pichadores, invasores e desordeiros compõe uma casta de iluminados que vivem no “cimo preponderante das normas e princípios constitucionais”. Na visão desses depravados de toga, a ação criminosa deles não é apenas legal, mas um direito sacrossanto.
É o que acontece quando “juízes” colocam sua ideologia acima das leis, e partem para um ativismo militante tosco. É tão cansativo tudo isso… Dória chegou para impor um ritmo novo, para limpar a cidade, para fazer cumprir a lei, mas encontra no caminho não só os artistas engajados, os “intelectuais” de esquerda e os criminosos em geral, como os próprios guardiões da lei! É muito surreal. O Brasil cansa…
Rodrigo Constantino

Pezão é o Lula do Rio: nunca soube de nada

 Em dez anos de convívio, o filhote de Cabral só viu o lado bom do ladrão compulsivo

“Todos os amigos dele eu conheci, convivi dez anos com eles, a gente passava o réveillon na casa dele em Mangaratiba”, disse o governador Luiz Fernando Pezão na entrevista publicada pela Folha. Vice de Sérgio Cabral entre 2007 e 2014, quando o titular lhe entregou o cargo para que disputasse a sucessão estadual instalado no gabinete que continua a ocupar, poucos parceiros desfrutaram de tanta intimidade com o homem que fingia chefiar a administração fluminense enquanto comandava em tempo integral a quadrilha que saqueou o Rio. Mas Pezão garante que nem desconfiou das bandalheiras ocorridas a um palmo do seu nariz.
Nunca conversaram sobre dinheiro?, quis saber o repórter. Nunca notou nada de errado? “Não. Zero”, jurou Pezão. “Nunca vi isso, nunca percebi, para mim é uma grande surpresa. Estou triste, chateado. Eu não via esse lado dele, só o outro”. Se diz a verdade, é ele o único amigão do ex-governador hoje engaiolado em Bangu que não enxergou nada de mais nas evidências contundentes de enriquecimento rápido, nas farras em Paris, nos jantares de califa de filme antigo, na transformação da primeira-dama em vitrine de joalheria, nas parcerias bilionárias com empreiteiros de estimação e na gastança com helicópteros, fora o resto.
Além de não enxergar a face escura, só Pezão viu o lado bom de Cabral. Deveria consolar os parentes do preso contando como é esse lado que nenhum deles conheceu. DO A.NUNES

Dora Kramer: Orquestra do Titanic

Publicado na edição impressa de VEJA
Nos últimos trinta anos o Brasil mudou. Depois de reconquistar a democracia, a sociedade evoluiu, os critérios do maléfico e do benéfico se agravaram, novos valores se incorporaram ao cotidiano das pessoas. Devagar, o país trilha o caminho inexorável da modernidade. As maneiras da política, no entanto, permanecem referidas na antiguidade.
Nada mais velho no front do Parlamento que as recentes eleições para as presidências da Câmara e do Senado, evidência da distância abissal entre a oferta dos métodos vencidos dos representantes e a demanda dos representados por meios mais avançados.
À semelhança dos músicos que entoavam as melodias do melhor tempo enquanto o Titanic afundava, deputados e senadores conduziram os processos de sucessão como se mal algum os acometesse nem ameaçasse. Falamos de uma espécie humana que não pode andar na rua, caminhar na praia, frequentar um restaurante ou entrar num avião sem o risco de levar uma invertida nas ventas.
O senador Eunício Oliveira (PMDB-­CE) e o deputado Rodrigo Maia (DEM-­RJ) elegeram-se com a tranquilidade dos cemitérios. Sem ocorrências relevantes, alheios à realidade de fora em que o carrinho sobe a montanha-russa vagarosamente, mas está prestes a desabar na toada da Operação Lava-Jato.
Eunício Oliveira é o 21º presidente do Senado desde a redemocratização, período no qual o posto foi ocupado dezesseis vezes por senadores filiados ao PMDB, considerados aqui os quatro mandatos de Renan Calheiros e José Sarney cada um, eleitos e reeleitos a despeito de escândalos, denúncias e processos.
Réu perante o Supremo Tribunal Federal, Calheiros foi aclamado líder do partido por seus pares que não encontraram em sua folha corrida impedimento algum. Além dele, nos últimos 32 anos dois presidentes do Senado (Antônio Carlos Magalhães e Jader Barbalho) viram-se na contingência de renunciar ao cargo para não perder o mandato por quebra do decoro parlamentar.
Assim como seu colega do Senado, Rodrigo Maia é citado em delações decorrentes da Lava-Jato. Foi eleito com a sustentação do governo federal, presidido por Michel Temer, que é apontado por delatores como beneficiário do duto de propinas construído entre partidos e empreiteiras, alvo do Tribunal Superior Eleitoral em acusação de uso indevido de recursos na campanha presidencial de 2014.
O que significa o relato acima? Que as trocas nos postos não correspondem à mudança dos fatos. E fato é que a vida passou na janela, mas só o Congresso não viu. Pagará em breve o preço da indiferença aos postulados éticos. Cidadãos podem até não corresponder a esses critérios no cotidiano, mas esperam que seus representantes observem as regras da melhor conduta.
Com razão. Racionalidade cuja expressão é a busca do voto. Eleitor indiferente corresponde a eleito frouxo. Tal indiferença abre espaço para o que der e vier. Notadamente a representantes permeáveis ao que vier e der. Portanto, amigos leitores e caras leitoras, vamos ao nosso trabalho de cobrar, examinar e julgar. DO A.NUNES

Temer e PMDB ouvirão de novo o ronco da rua

O período pré-carnavalesco não fez bem a Michel Temer. Seu governo entoa um samba com dois puxadores: Henrique Meirelles e a caciquia do PMDB. O enredo ficou confuso. A ala da economia não orna com a da política. O carro alegórico das reformas não combina com uma comissão de frente que desfila fantasias parecidas com aquelas que levaram Dilma e o PT ao rebaixamento.
As contradições reacenderam o ceticismo da plateia. Que começa a programar seu próprio desfile. Nesta segunda-feira (13), os movimentos que organizavam atos pró-impeachment se juntaram para preparar nova manifestação. Será no último domingo de março, dia 26. A pauta prestigia o samba de Meirelles, defendendo as reformas previdenciária e trabalhista. E rosna para o baticum do PMDB, em eterna conspiração contra a Lava Jato.
Ainda não se viu nenhum líder de movimento de rua enrolado na bandeira do ‘Fora, Temer.” Mas convém não cutucar a rua com o pé. Em comunicado conjunto, os movimerntos anotaram: “Nosso mote será: Brasil sem partido, pois não queremos um STF que se dobre às vontades deste ou de qualquer outro governo, agindo com lentidão para salvar os que têm foro privilegiado, utilizando-se dele para escapar da Justiça.”
Também nesta segunda-feira, o ministro Herman Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral, divulgou despacho que fez acender uma luz amarela no painel de (des)controle do Planalto. Relator da ação que pede a cassação da chapa Dilma –Temer, Benjamin indeferiu pedido da defesa da ex-presidente petista para que fossem realizadas novas diligências. Sustentou que esse tipo de providência pode estender o processo “ao infinito, sem possibilidades concretas de conclusão.”
Lendo-se a justificativa de Benjamin de trás para a frente, fica claro que o ministro quer encerrar a encrenca, submetendo seu voto à consideração do plenário do Supremo. Os autos estão fornidos. Realizaram-se perícias no papelório de gráficas que simularam prestação de serviço à campanha de Dilma, quebraram-se sigilos bancários e fiscais, ouviram-se 42 testemunhas.
Se quiser, o relator Herman Benjamin pode votar a favor da lâmina, contra a permanência de Temer no Planalto. Não lhe faltam independência nem matéria-prima. Suponha que um voto aziago de Benjamin venha à luz até o final de março. Dependendo de como Temer e seus correligionários do PMDB se comportarem até lá, as ruas, que já pararam de abanar o rabo para o govenro, podem acabar mordendo. DO J.DESOUZA

Temer inventa demissão em suaves prestações

Incomodado com o noticiário sobre o complô anti-Lava Jato que se move no eixo Planalto-Congresso, Michel Temer veio à boca do palco para dizer meio dúzia de palavras. Rodeado de auxiliares tóxicos, Temer esclareceu: se algum ministro for denunciado pela Procuradoria, será afastado temporariamente do governo (pode me chamar de licença com vencimentos e foro privilegiado). O denunciado só será demitido se for transformado em réu pelo Supremo Tribunal Federal. Espremendo-se as palavras do presidente, ficou entendido o seguinte: não adianta empurrar, porque Temer não se afastará dos amigos facilmente. Enquanto for possível, permanecerá abraçado a delatados como Moreira Franco e Eliseu Padilha.
Quem ouve de relance, imagina que Temer está sendo rígido. Denunciados subirão no telhado. Réus irão para o olho da rua. Mas, na verdade, o que há é um rebaixamento dos padrões éticos do governo. Romero Jucá, você se lembra, foi afastado do Ministério do Planejamento 13 dias depois de assumir porque sua voz soou num grampo dizendo que era preciso “estancar a sangria” da Lava Jato. Jucá é investigado. Não foi denunciado. Tampouco virou réu. Pelo novo padrão de Temer, Jucá ainda seria ministro.
Há uma esperteza primária no modelo criado por Temer para lidar com auxiliares suspeitos. Em Brasília, a Lava Jato caminha num ritmo de lesma. Na Capital, a Procuradoria é mais lenta do que em Curitiba. A lentidão também é uma das marcas do Supremo. Não é incomum que uma denúncia demore mais de dois anos para ser apreciada na Suprema Corte. Ou seja: o governo Temer vai avabar e ele ta;lvez nao precise demitir os amigos.
Foi por isso que Temer inventou a demissão em suaves prestações. Passa a delação. Vem a denúncia. E o sujeito só começa a pagar se virar réu. Temer subestima a inteligência da plateia. O brasileiro não é precisamente contra a embromação. Só não gosta de ser embromado. DO J.DESOUZA