Há coisas, querido leitor, que empurram a gente
quase para a preguiça, tão óbvias elas são. Mas vamos lá. Eu, jornalista,
analista, blogueiro, radialista, escolham aí, posso lidar principalmente com a
ética da convicção. Não disputo o poder nem sirvo a quem o disputa. Só devo
satisfações a meus leitores e a meus ouvintes. E, claro!, os que pagam os meus
salários - todos de conhecimento da Receita Federal - têm de gostar do
trabalho, ainda que possam discordar das ideias.
Assim, tanto quanto reconheci e reconheço o
excelente desempenho de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à frente da Presidência da
Câmara - sim, ele livrou o STF da bolivarianização! -, afirmei que, dadas as
circunstâncias, ou ele negava de forma peremptória as contas da Suíça ou se
afastava da Presidência da Câmara.
Muito bem! Instigados por petistas e por
esquerdistas, líderes oposicionistas se viram compelidos a pedir a cabeça do
presidente da Câmara… Cássio Cunha Lima (PB), líder do PSDB no Senado, até
resolveu fazer uma crítica aberta a seus companheiros de partido na Câmara, que
teriam tardado a se manifestar em favor do afastamento do deputado do comando
da Casa.
É claro que Cássio, que tem a responsabilidade de
ser um quadro da oposição, além de ter suas convicções, está exagerando. Até
porque política não é um exercício solitário. Venham cá: por que a oposição
partiria com tudo para a jugular de Cunha? Para que o governo lhe oferecesse
uma rede, como ofereceu? Nesta quarta, o presidente da Câmara elogiou a
sensibilidade política de… Jaques Wagner, novo ministro da Casa Civil. Posso
imaginar por quê.
A oposição foi até onde era prudente ir, ora essa!
O que não pode agora, e é uma questão elementar, é jogar definitivamente o
presidente da Câmara no colo do governo… Imaginem que graça seria o PSDB a
defender, a um só tempo, a queda de Dilma e de Cunha… Nem a Armata Brancaleone
sonhou ir tão longe, não é mesmo?
Sabem o que é mais fabuloso nisso tudo? No espaço
de negociação que se abriu entre Cunha e o governo, o Planalto acena com a
possibilidade de lhe garantir votos no Conselho de Ética, que impeçam que ação
de cassação de mandato chegue ao plenário.
Entenderam? Os petistas ficaram incitando os
oposicionistas a chutar Cunha para que eles pudessem lhe oferecer proteção.
Não é a única coisa absurda de todo esse episódio. Os
oposicionistas estão se vendo compelidos a jogar Cunha ao mar, mas Dilma mantém
como homem forte no Palácio ninguém menos do que Edinho Silva, um dos braços de
Lula no governo. E quem é ele? Ora, nada menos do que um investigado da
Operação Lava-Jato, acusado por um empreiteiro de lhe ter praticado uma doce
extorsão de R$ 10 milhões - R$ 7,5 milhões dos quais devidamente pagos e postos
na campanha de Dilma à reeleição.
A oposição foi até onde era prudente ir nesse caso.
A retórica do tucano Cássio Cunha Lima está fora do tom. Quem faz política
profissional lida com convicção, mas também lida com a responsabilidade de
saber que as ações têm consequência.
Às oposições cabe hoje atuar dentro do que for
ética e moralmente correto para que Dilma seja afastada da Presidência - de
acordo com a Constituição e com as leis. Reconhecer que Cunha está numa
situação delicada e defender que ele se afaste da Presidência é aceitável,
compreensível e até necessário. Achar que a oposição deva liderar essa cruzada
ou fazer disso um cavalo de batalha é burrice.
Isso é coisa para Psol e Rede, que hoje são linhas
auxiliares do "fica-Dilma".
Fonte: "Blog Reinaldo Azevedo" DO DEMAIS