sábado, 17 de junho de 2017

INCENDIO FLORESTAL DEIXA AO MENOS 19 MORTOS EM PORTUGAL


Um incêndio florestal deixou ao menos 19 mortos, 21 feridos e dois desaparecidos neste sábado (17) no vilarejo de Pedrógão Grande, no centro de Portugal.
"Temos a confirmação de 19 mortos, todos civis. Três faleceram por inalação de fumaça e 16 calcinados em seus carros quando foram cercados pelas chamas na estrada entre Figueiro dos Vinhos e Castanheira de Pêra", informou o secretário do Interior, Jorge Gomes.
Alguns dos mais de 330 bombeiros que tentavam combater as chamas ficaram feridos e veículos da corporação foram destruídos. As causas do incêndio, que começou por volta das 14h (10h em Brasília), não estão claras.
O presidente da Câmara municipal, Valdemar Alves, anunciou que as autoridades tentaram retirar os residentes das áreas mais afetadas, mas que algumas vilas estavam "em muito perigo, completamente cercadas" pelas chamas. Ele também reclamou da falta de bombeiros para apagar o fogo.
O presidente Marcelo Rebelo de Souza viajou ao local do incêndio e disse que os bombeiros são "verdadeiros heróis". "Não era posível fazer mais. Há situações que são imprevisíveis, e quando acontecem não há prevenção possível."
O distrito de Leiria, onde fica Pedrógão Grande, decretou estado de emergência. O vilarejo tem cerca de 4.000 habitantes e fica a 200 quilômetros de Lisboa.
"Este incêndio é algo de anormal nos incêndios que têm ocorrido em Portugal", disse Jaime Marta Soares, presidente da Liga de Bombeiros Portugueses.DA FOLHA

Após o TSE, a Câmara sepultará escândalo vivo

A denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Michel Temer ainda não chegou ao Supremo Tribunal Federal. Mas a Câmara dos Deputados, que receberá o processo para decidir se autoriza ou não o Supremo a abrir uma ação penal contra o presidente da República, já decidiu o que fazer. Rodrigo Maia, presidente da Câmara, prometeu a Temer uma tramitação rápida. Não importa o teor da denúncia. O Planalto e seus aliados organizam um enterro relâmpago para a peça.
O governo alega que o Brasil não pode perder tempo. É preciso cuidar de reformas como a da Previdência. É lorota. Deve-se a pressa de Temer ao medo do presidente de ser abalroado por novas delações. O doleiro Lúcio Funaro já exercita a língua. Rodrigo Rocha Loures, o homem da mala, é pressionado pela família. Eduardo Cunha se aconselha com um novo advogado. Sitiado pela suspeição, Temer vive a neurose do que está por vir.
Para desassossego de Temer, o procurador-geral Rodrigo Janot adiou a apresentação de sua denúncia para a última semana do mês. Se o Brasil fosse um país lógico, os deputados não se atreveriam a arquivar as acusações de corrupção, obstrução de Justiça e formação de organização criminosa. Não há lógica em sonegar ao país a oportunidade de conhecer o veredicto do Supremo Tribunal Federal sobre a reputação do presidente. Costuma-se dizer que o brasileiro não tem memória. Mas num país em que o TSE e a Câmara enterram escândalos vivos o que falta às autoridades não é memória, mas um mínimo de curiosidade.


– Via Aroeira. DO J.DESOUZA

Marco Aurélio nega recurso de Aécio para Plenário do STF analisar pedido de prisão

Primeira Turma do Supremo deve analisar recurso da PGR reforçando o pedido de prisão do senador na próxima terça-feira, 20

Aécio Neves
O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou recurso da defesa do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) para que o pedido de prisão contra ele, apresentado pela Procuradoria-Geral da República (PGR), seja apreciado pelo plenário da Corte e não pela Primeira Turma. 
O advogado de Aécio, Alberto Toron, alegava que a análise do pedido de prisão é uma questão "da mais alta relevância e gravidade" e, portanto, deveria ser remetida ao plenário. Já Marco Aurélio entendeu que "o desfecho desfavorável a uma das defesas é insuficiente" para este deslocamento e manteve sua decisão anterior. 
Na semana passada, Marco Aurélio afirmou que o recurso da PGR reforçando o pedido de prisão de Aécio será analisado na próxima terça-feira, 20, pela Primeira Turma - formada pelos ministros Marco Aurélio, Luiz Fux, Rosa Weber, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.
Há menos de uma semana, esta mesma composição negou o pedido de liberdade de Andrea Neves, irmã do senador, presa desde o dia 18 de maio pela Operação Patmos. O placar foi apertado e terminou em 3 a 2. Barroso, Rosa e Fux votaram pela manutenção da prisão, enquanto Marco Aurélio e Alexandre se manifestaram pela revogação da medida.
Relator da Lava Jato na Corte, o ministro Edson Fachin inicialmente negou o pedido de prisão feito pela PGR e determinou apenas o afastamento de Aécio do mandato parlamentar. O tucano é acusado de ter acertado e recebido por meio de assessores vantagem indevida no valor de R$ 2 milhões JBS. A PGR, no entanto, insistiu no pedido e o recurso foi sorteado para análise de Marco Aurélio. 
Para a PGR, mais do que afastado, Aécio deveria ser preso. Segundo o procurador-geral, Rodrigo Janot, "o senador teria tentado organizar uma forma de impedir que as investigações avançassem, por meio da escolha dos delegados que conduziriam os inquéritos, direcionando as distribuições, mas isso não teria sido finalizado entre ele, o Michel Temer e o ministro da Justiça e atual ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. 
Janot defende que, devido à alta gravidade do delito e o risco de reiteração, a prisão preventiva é "imprescindível para a garantia da ordem pública". Segundo ele, "são muitos os precedentes do Supremo Tribunal Federal que chancelam o uso excepcional da prisão preventiva para impedir que o investigado, acusado ou sentenciado torne a praticar certos delitos enquanto responde a inquérito ou processo criminal, desde que haja prova concreta do risco correspondente". 
A defesa do senador afastado, no entanto, alegou inexistência de crime inafiançável por parte do tucano, ao rebater o segundo pedido de prisão feito pela PGR. "A menos que rompamos de vez com os princípios constitucionais mais caros da nossa República, a decretação de prisão do Senador Aécio Neves é uma verdadeira aberração", diz a defesa de Aécio.
Mandato. A Primeira Turma do STF também deve examinar na próxima semana recurso da defesa de Aécio para que ele retorne ao exercício do mandato de senador. A defesa também solicitou mais dez dias de prazo para se defender do pedido de prisão, já que a PGR apresentou “fato novo” na justificativa do pleito enviado ao Supremo.
No documento, Janot utilizou uma postagem de Aécio em rede social na qual ele aparece ao lado dos senadores do PSDB Tasso Jereissati (CE), Antonio Anastasia (MG), Cássio Cunha Lima (PB) e José Serra (SP) e diz, na legenda, que a “pauta” da reunião são as “votações no Congresso e a agenda política”. Para Janot, o encontro mostra que Aécio continua exercendo suas atividades político-partidárias, mesmo não comparecendo mais às sessões no Senado. DO ESTADÃO

PF apreende recibos de offshore com coronel

Documentos relacionados a empresa de Montevidéu foram encontrados na casa de amigo de Temer, que também é investigado na Operação Patmos

Fabio Serapião, O Estado de S.Paulo
17 Junho 2017 | 03h00
BRASÍLIA - A Polícia Federal encontrou 17 recibos relacionados a uma offshore na casa do coronel aposentado João Baptista Lima Filho, amigo do presidente Michel Temer e alvo da Operação Patmos. Os investigadores vão agora apurar a origem dos documentos.
Os recibos foram recolhidos na residência de Lima Filho, durante busca e apreensão, em São Paulo. A operação foi realizada em maio deste ano – a Patmos, que tornou Temer investigado por corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa, foi deflagrada no dia 18 de maio.
Michel Temer
Lima Filho passou a ser investigado após a delação de Joesley Batista, acionista do Grupo J&F, apontá-lo como responsável por receber parte dos valores de propina supostamente destinada a Temer. Os recibos são relacionados a offshore Langley Trade Co. S.A.
Na Receita Federal, a Langley está registrada como empresa domiciliada em Montevidéu, capital do Uruguai. No banco de dados do Panamá Papers, do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, que teve participação de jornalistas do Estado, o endereço está atrelado ao escritório Zolkwer y Asociados. 
Delação. No acordo de colaboração dos executivos da J&F, o contador Florisvaldo Caetano de Oliveira, apontado pela JBS como responsável por entregar dinheiro a políticos, relatou ao menos dois encontros com Lima Filho. O primeiro, segundo Oliveira, teve como objetivo conhecer o destinatário, chamado de “coronel”, e combinar a forma de entrega dos valores. No segundo encontro, o contador afirmou ter entregue R$ 1 milhão em espécie para Lima Filho.
Outro delator, o diretor de Relações Institucionais da J&F, Ricardo Saud, entregou uma série de documentos à Procuradoria-Geral da República mostrando que o endereço citado por Oliveira era o da empresa Argeplan Arquitetura e Engenharia, cujo dono é o amigo de Temer. A Argeplan integra um consórcio que ganhou concorrência em 2012 para executar serviços na Usina de Angra 3. As obras são investigadas na Lava Jato.
O Estado procurou Lima Filho na Argeplan por telefone, mas foi informado de que a empresa não operou e não haveria ninguém para responder. DO ESTADÃO

Joesley, da JBS: uma delação para a história

sábado, 17 de junho de 2017

Registro de tempos escabrosos, de homens temerários no crime.
Ainda assim, é preciso fazer uma distinção fundamental entre esse tipo de corrupção, artesanal, individual, e aquela feita pelo partido totalitário, industrial, sistêmica, avassaladora,
Paulo Roberto de Almeida
Comentário de quem me enviou a matéria:
Joesley deu uma entrevista à revista Época que liberou apenas parte pela internet. Só esta parte já antecipa a tremenda revelação que ele faz sobre o grau de deterioração moral a que chegou  BANDIDAGEM POLITICA no Brasil. Toda esta gente tem que apodrecer na cadeia por muitos anos - de Temer a Moreira Franco, Padilha, Geddel, sem esquecer é claro, Lula e Aécio, que são chefes de outras grandes quadrilhas 
Roque Callage
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Em entrevista exclusiva a ÉPOCA, o empresário diz que o presidente não tinha “cerimônia” para pedir dinheiro e que Eduardo Cunha cobrava propina em nome de Temer

DIEGO ESCOSTEGUY
ÉPOCA, 16/06/2017

Na manhã da quinta-feira (15), o empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F, recebeu ÉPOCA para conceder sua primeira entrevista exclusiva desde que fechou a mais pesada delação dos três anos de Lava Jato. Em mais de quatro horas de conversa, precedidas de semanas de intensa negociação, Joesley explicou minuciosamente, sempre fazendo referência aos documentos entregues à Procuradoria-Geral da República, como se tornou o maior comprador de políticos do Brasil. Discorreu sobre os motivos que o levaram a gravar o presidente Michel Temer e a se oferecer à PGR para flagrar crimes em andamento contra a Lava Jato. Atacou o presidente, a quem acusa, com casos e detalhes inéditos, de liderar “a maior e mais perigosa organização criminosa do Brasil” – e de usar a máquina do governo para retaliá-lo. Contou como o PT de Lula “institucionalizou” a corrupção no Brasil e de que modo o PSDB de Aécio Neves entrou em leilões para comprar partidos nas eleições de 2014. O empresário garante estar arrependido dos crimes que cometeu e se defendeu das acusações de que lucrou com a própria delação. 
A seguir, os principais trechos da entrevista publicada na edição de ÉPOCA desta semana. Leia as 12 páginas da conversa com Joesley na edição que chega às bancas neste sábado (17) ou disponível agora nos aplicativos ÉPOCA e Globo+:
ÉPOCA - Quando o senhor conheceu Temer?
Joesley Batista – Conheci Temer através do ministro Wagner Rossi, em 2009, 2010. Logo no segundo encontro ele já me deu o celular dele. Daí em diante passamos a falar. Eu mandava mensagem para ele, ele mandava para mim. De 2010 em diante. Sempre tive relação direta. Fui várias vezes ao escritório da Praça Pan-Americana, fui várias vezes ao escritório no Itaim, fui várias vezes à casa dele em São Paulo, fui alguma vezes ao Jaburu, ele já esteve aqui em casa, ele foi ao meu casamento. Foi inaugurar a fábrica da Eldorado.
ÉPOCA – Qual, afinal, a natureza da relação do senhor com o presidente Temer?
Joesley – Nunca foi uma relação de amizade. Sempre foi uma relação institucional, de um empresário que precisava resolver problemas e via nele a condição de resolver problemas. Acho que ele me via como um empresário que poderia financiar as campanhas dele – e fazer esquemas que renderiam propina. Toda a vida tive total acesso a ele. Ele por vezes me ligava para conversar, me chamava, e eu ia lá.
ÉPOCA – Conversar sobre política?
Joesley – Ele sempre tinha um assunto específico. Nunca me chamou lá para bater papo. Sempre que me chamava, eu sabia que ele ia me pedir alguma coisa ou ele queria alguma informação.
ÉPOCA – Segundo a colaboração, Temer pediu dinheiro ao senhor já em 2010. É isso?
Joesley – Isso. Logo no início. Conheci Temer, e esse negócio de dinheiro para campanha aconteceu logo no iniciozinho. O Temer não tem muita cerimônia para tratar desse assunto. Não é um cara cerimonioso com dinheiro.
ÉPOCA – Ele sempre pediu sem algo em troca?
Joesley – Sempre estava ligado a alguma coisa ou a algum favor. Raras vezes não. Uma delas foi quando ele pediu os R$ 300 mil para fazer campanha na internet antes do impeachment, preocupado com a imagem dele. Fazia pequenos pedidos. Quando o Wagner saiu, Temer pediu um dinheiro para ele se manter. Também pediu para um tal de Milton Ortolon, que está lá na nossa colaboração. Um sujeito que é ligado a ele. Pediu para fazermos um mensalinho. Fizemos. Volta e meia fazia pedidos assim. Uma vez ele me chamou para apresentar o Yunes. Disse que o Yunes era amigo dele e para ver se dava para ajudar o Yunes.
ÉPOCA – E ajudou?
Joesley – Não chegamos a contratar. Teve uma vez também que ele me pediu para ver se eu pagava o aluguel do escritório dele na praça [Pan-Americana, em São Paulo]. Eu desconversei, fiz de conta que não entendi, não ouvi. Ele nunca mais me cobrou.
ÉPOCA – Ele explicava a razão desses pedidos? Por que o senhor deveria pagar?
Joesley – O Temer tem esse jeito calmo, esse jeito dócil de tratar e coisa. Não falava.
ÉPOCA – Ele não deu nenhuma razão?
Joesley – Não, não ele. Há políticos que acreditam que pelo simples fato do cargo que ele está ocupando já o habilita a você ficar devendo favores a ele. Já o habilita a pedir algo a você de maneira que seja quase uma obrigação você fazer. Temer é assim.
ÉPOCA – O empréstimo do jatinho da JBS ao presidente também ocorreu dessa maneira?
Joesley – Não lembro direito. Mas é dentro desse contexto: “Eu preciso viajar, você tem um avião, me empresta aí”. Acha que o cargo já o habilita. Sempre pedindo dinheiro. Pediu para o Chalita em 2012, pediu para o grupo dele em 2014.
ÉPOCA – Houve uma briga por dinheiro dentro do PMDB na campanha de 2014, segundo o lobista Ricardo Saud, que está na colaboração da JBS.
Joesley – Ricardinho falava direto com Temer, além de mim. O PT mandou dar um dinheiro para os senadores do PMDB. Acho que R$ 35 milhões. O Temer e o Eduardo descobriram e deu uma briga danada. Pediram R$ 15 milhões, o Temer reclamou conosco. Demos o dinheiro. Foi aí que Temer voltou à Presidência do PMDB, da qual ele havia se ausentado. O Eduardo também participou ativamente disso.
ÉPOCA – Como era a relação entre Temer e Eduardo Cunha?
Joesley – A pessoa a qual o Eduardo se referia como seu superior hierárquico sempre foi o Temer. Sempre falando em nome do Temer. Tudo que o Eduardo conseguia resolver sozinho, ele resolvia. Quando ficava difícil, levava para o Temer. Essa era a hierarquia. Funcionava assim: primeiro vinha o Lúcio [o operador Lúcio Funaro]. O que ele não conseguia resolver pedia para o Eduardo. Se o Eduardo não conseguia resolver, envolvia o Michel.
ÉPOCA – Segundo as provas da delação da JBS e de outras investigações, o senhor pagava constantemente tanto para Eduardo Cunha quanto para Lúcio Funaro, seja por acertos na Câmara, seja por acertos na Caixa, entre outros. Quem ficava com o dinheiro?
Joesley – Em grande parte do período que convivemos, meu acerto era direto com o Lúcio. Eu não sei como era o acerto do Lúcio do Eduardo, tampouco do Eduardo com o Michel. Eu não sei como era a distribuição entre eles. Eu evitava falar de dinheiro de um com o outro. Não sabia como era o acerto entre eles. Depois, comecei a tratar uns negócios direto com o Eduardo. Em 2015, quando ele assumiu a presidência da Câmara. Não sei também quanto desses acertos iam para o Michel. E com o Michel mesmo eu também tratei várias doações. Quando eu ia falar de esquema mais estrutural com Michel, ele sempre pedia para falar com o Eduardo. “Presidente, o negócio do Ministério da Agricultura, o negócio dos acertos…” Ele dizia: “Joesley, essa parte financeira toca com o Eduardo e se acerta com o Eduardo”. Ele se envolvia somente nos pequenos favores pessoais ou em disputas internas, como a de 2014.
ÉPOCA – O senhor realmente precisava tanto assim desse grupo de Eduardo Cunha, Lúcio Funaro e Temer?
Joesley – Eles foram crescendo no FI-FGTS, na Caixa, na Agricultura – todos órgãos onde tínhamos interesses. Eu morria de medo de eles encamparem o Ministério da Agricultura. Eu sabia que o achaque ia ser grande. Eles tentaram. Graças a Deus, mudou o governo e eles saíram. O mais relevante foi quando Eduardo tomou a Câmara. Aí virou CPI para cá, achaque para lá. Tinha de tudo. Eduardo sempre deixava claro que o fortalecimento dele era o fortalecimento do grupo da Câmara e do próprio Michel. Aquele grupo tem o estilo de entrar na sua vida sem ser convidado.
ÉPOCA – Pode dar um exemplo?
Joesley – O Eduardo, quando já era presidente da Câmara, um dia me disse assim: “Joesley, tão querendo abrir uma CPI contra a JBS para investigar o BNDES. É o seguinte: você me dá R$ 5 milhões que eu acabo com a CPI”. Falei: “Eduardo, pode abrir, não tem problema”. “Como não tem problema? Investigar o BNDES, vocês.” Falei: “Não, não tem problema”. “Você tá louco?” Depois de tanto insistir, ele virou bem sério: “É sério que não tem problema?”. Eu: “É sério”. Ele: “Não vai te prejudicar em nada?”. “Não, Eduardo.” Ele imediatamente falou assim: “Seu concorrente me paga R$ 5 milhões para abrir essa CPI. Se não vai te prejudicar, se não tem problema… Eu acho que eles me dão os R$ 5 milhões”. “Uai, Eduardo, vai sua consciência. Faz o que você achar melhor.” Esse é o Eduardo. Não paguei e não abriu. Não sei se ele foi atrás. Esse é o exemplo mais bem-acabado da lógica dessa Orcrim.
ÉPOCA – Algum outro?
Joesley – Lúcio fazia a mesma coisa. Virava para mim e dizia: “Tem um requerimento numa CPI para te convocar. Me dá R$ 1 milhão que eu barro”. Mas a gente ia ver e descobria que era algum deputado a mando dele que estava fazendo. É uma coisa de louco.
ÉPOCA – O senhor não pagou?
Joesley – Nesse tipo de coisa, não. Tinha alguns limites. Tinha que tomar cuidado. Essa é a maior e mais perigosa organização criminosa deste país. Liderada pelo presidente.
ÉPOCA – O chefe é o presidente Temer?
Joesley – O Temer é o chefe da Orcrim da Câmara. Temer, Eduardo, Geddel, Henrique, Padilha e Moreira. É o grupo deles. Quem não está preso está hoje no Planalto. Essa turma é muita perigosa. Não pode brigar com eles. Nunca tive coragem de brigar com eles. Por outro lado, se você baixar a guarda, eles não têm limites. Então meu convívio com eles foi sempre mantendo à meia distância: nem deixando eles aproximarem demais nem deixando eles longe demais. Para não armar alguma coisa contra mim. A realidade é que esse grupo é o de mais difícil convívio que já tive na minha vida. Daquele sujeito que nunca tive coragem de romper, mas também morria de medo de me abraçar com ele.
ÉPOCA – No decorrer de 2016, o senhor, segundo admite e as provas corroboram, estava pagando pelo silêncio de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, ambos já presos na Lava Jato, com quem o senhor tivera acertos na Caixa e na Câmara. O custo de manter esse silêncio ficou alto demais? Muito arriscado?
Joesley – Virei refém de dois presidiários. Combinei quando já estava claro que eles seriam presos, no ano passado. O Eduardo me pediu R$ 5 milhões. Disse que eu devia a ele. Não devia, mas como ia brigar com ele? Dez dias depois ele foi preso. Eu tinha perguntado para ele: “Se você for preso, quem é a pessoa que posso considerar seu mensageiro?”. Ele disse: “O Altair procura vocês. Qualquer outra pessoa não atenda”.  Passou um mês, veio o Altair. Meu Deus, como vou dar esse dinheiro para o cara que está preso? Aí o Altair disse que a família do Eduardo precisava e que ele estaria solto logo, logo. E que o dinheiro duraria até março deste ano. Fui pagando, em dinheiro vivo, ao longo de 2016. E eu sabia que, quando ele não saísse da cadeia, ia mandar recados.
ÉPOCA – E o Lúcio Funaro?
Joesley – Foi parecido. Perguntei para ele quem seria o mensageiro se ele fosse preso. Ele disse que seria um irmão dele, o Dante. Depois virou a irmã. Fomos pagando mesada. O Eduardo sempre dizia: “Joesley, estamos juntos, estamos juntos. Não te delato nunca. Eu confio em você. Sei que nunca vai me deixar na mão, vai cuidar da minha família”. Lúcio era a mesma coisa: “Confio em você, eu posso ir preso porque eu sei que você não vai deixar minha família mal. Não te delato”.
ÉPOCA – E eles cumpriram o acerto, não?
Joesley – Sim. Sempre me mandando recados: “Você está cumprindo tudo direitinho. Não vão te delatar. Podem delatar todo mundo menos você”. Mas não era sustentável. Não tinha fim. E toda hora o mensageiro do presidente me procurando para garantir que eu estava mantendo esse sistema.
ÉPOCA – Quem era o mensageiro?
Joesley – Geddel. De 15 em 15 dias era uma agonia terrível. Sempre querendo saber se estava tudo certo, se ia ter delação, se eu estava cuidando dos dois. O presidente estava preocupado. Quem estava incumbido de manter Eduardo e Lúcio calmos era eu.
ÉPOCA – O ministro Geddel falava em nome do presidente Temer?
Joesley – Sem dúvida. Depois que o Eduardo foi preso, mantive a interlocução desses assuntos via Geddel. O presidente sabia de tudo. Eu informava o presidente por meio do Geddel. E ele sabia que eu estava pagando o Lúcio e o Eduardo. Quando o Geddel caiu, deixei de ter interlocução com o Planalto por um tempo. Até por precaução. DO DIPLOMATIZZANDO

“Consciência ética de político é medo da Polícia”



Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net
Qualquer um com um pouquinho de discernimento já verificou a gravidade da situação brasileira, no curtíssimo prazo. Novamente, a Nova República nos “brinda” com um Presidente da República totalmente desmoralizado, impopular, investigado por crimes ligados à corrupção. Tão ou mais grave que isto é que a Procuradoria Geral da República está prestes a denunciá-lo, porém a maioria corrupta e clientelista da Câmara dos Deputados não dará autorização para que o Supremo Tribunal Federal processe o titular do Palácio do Planalto (ou da cama da bela Marcela).
Tal situação é pra lá de surreal. Atingimos o resultado mais desastroso daquela tal de “Nova República” – que já nasceu esclerosada em 1985, com a posse espúria de José Sarney, em função da morte do Presidente (eleito indiretamente) Tancredo Neves que nem conseguiu tomar posse. Sarney, que continua mandando no pedaço até hoje, fez um governo desastroso e ajudou a promulgar uma Constituição que ele mesmo classificou de problemática. Foi sucedido por Collor – que acabou impedido.
O vice que o sucedeu, Itamar Franco, nos deu uma ilusão de melhora com o Plano Real, que fez um serviço incompleto, sem as mudanças estruturais necessárias. Seu legado foi a eleição de Fernando Henrique Cardoso, que negociou com o Diabo para conseguir uma reeleição, fracassou no segundo mandato, e abriu caminho para o desastre de 13 anos de nazicomunopetralhismo, com Lula (duas vezes) e Dilma Rousseff (também em dobro), até ser derrubada, para a entrada temerária de quem está hoje por um fio.     
A escrota Nova República (1985 até quando mais vai durar?) é uma sucessão de escândalos derivados da corrupção sistêmica gerada e reproduzida pelo Crime Institucionalizado, fruto podre de um modelo estatal Capimunista Rentista. Anos atrás, tivemos a ilusão de que chegamos ao máximo da vergonha nacional com escândalo do Mensalão, com punições meia-boca impostas pelo Supremo Tribunal Federal para julgamento de políticos corruptos. Como não se mudou a estrutura, o Mensalão não morreu, se sofisticou e acabou expondo a Lava Jato – descoberta acidentalmente em uma investigação sobre tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
A Lava Jato é motivo de orgulho nacional. Produziu heróis nacionais a partir do modelo Sérgio Moro e dos jovens (ou nem tão novos) procuradores da Força Tarefa do Ministério Público Federal. Obrigou um Procurador Geral da República a não ser um “Engavetador-Geral”. Popularizou o Supremo Tribunal Federal, embora tenha ajudado a produzir uma falsa noção de que todos os problemas brasileiros podem se resolver pela via judicial. Talvez a mais perigosa ilusão seja a crescente judicialização da política (ou da politicagem). No entanto, a Lava Jato não produziu mudanças. Até porque nem era o papel originário dela. No entanto, chamou a atenção para a necessidade de mudarmos o Brasil, de verdade.
O cineasta, jornalista e livre pensador Arnaldo Jabor, na “opinião do Jornal da Globo” na noite sexta para este sábado, tocou em vários gargalos e paradoxos do momento político brasileiro. Na verdade, Jabor fez um rápido resumo de nossa deficiência histórico-cultural e apontou qual o nosso grande e verdadeiro problema a ser resolvido o mais urgentemente possível. Resumindo: a sociedade brasileira e seus segmentos esclarecidos ainda não levaram a sério sua missão de definir um Projeto Estratégico para o Brasil. Falhamos em não formular planos com soluções reais e efetivas para mudar o Brasil para melhor, e não apenas ficar enxugando gelo. Vale pensar seriamente sobre o recado de Jabor – que, não por mera coincidência, é a maior preocupação atual dos militares brasileiros.
Jabor: “A luta contra corrupção não pode nos cegar para o principal: Quais são os planos para mudar a velha estrutura histórica que nos formou? Não temos... Estamos vidrados nessa história policial, querendo saber se o Temer sai, se o Temer fica... Digamos que o Temer saia. Eleição direta, indireta, não resolvem o terrível vazio teórico e programático que nos ameaça. Não há reflexão sobre reformas profundas, muito além da previdência e do trabalho, aliás já aguadas pelo oportunismo do Temer. Sem dúvida, uma nova consciência ética se forma com a Lava Jato. Ou melhor: há um crescimento do medo. Como diria Nelson Rodrigues, ‘consciência ética de político é medo da polícia’. E todos dizemos que, se as reformas não forem aprovadas, o Brasil vai para o brejo. Mas como será esse brejo? Será o seguinte: a desorganização maior do Estado falido, a falta de grana para pagar funcionários e aposentados, a degradação da infraestrutura, o aumento brutal da criminalidade, o desemprego em massa, mais miséria para os já miseráveis, a classe média desorientada, pairando acima de todos a desesperança sobre o presente e o futuro. Tem de haver uma grande reforma do patrimonialismo que nos formou, em que o Estado é dominado pelas oligarquias. A Lava Jato é o primeiro passo para sairmos da barbárie. Mas conseguiremos chegar a uma civilização?”
Por tudo isso, ficamos diante do paradoxo que deixa tanta gente bestificada, desanimada ou muito pt da vida. A questão pode ser bem resumida pela indagação (com três pontos de interrogação) feita pela cidadã carioca Eliane Cantini, em um comentário na página da cientista política Celina Vargas do Amaral Peixoto, no Facebook: “Os internautas clamam por mudanças, mas estão realmente dispostos a mudar???”.
Eis o megaparadoxo tupiniquim. As mudanças estão ocorrendo, mas em velocidade aquém do ideal ou do necessário. A pista para a uma resposta à dúvida da internauta esteja no comentário do Jabor (vale reler ou rever). Sem querer ou querendo, as pessoas se tornam reféns da estrutura estatal. Ainda mais no Brasil onde a maioria se acostumou ou foi adestrada a ser “estadodependente”...
Assim, voltamos à tragicomédia institucional (que alguns insistem estar dentro da “normalidade”). Temer viaja para Rússia e Noruega, deixando Rodrigo Maia uma semana como Presidente Interino da República, para alegria do Papai César Maia e do Sogrão Moreira Franco. Ironia é que Temer “sai fora”, mas a coisa por aqui segue russa e muito, mas muito longe da realidade norueguesa... Temer teme ser defenestrado, mas segue fingindo que é corajoso, em um show de autoengano ou cinismo...
A nossa sorte, repetindo o flamenguista enrustido Nelson Rodrigues, é que: “Consciência ética de político é medo da Polícia”... Mas o chefe da Polícia só não manda avisar isto, porque o telefone dele, certamente, está grampeado...
Traficando influência
Defesa do Juiz
Fernando Cordioli tem esperança que a Justiça seja feita e ele volte a atuar como magistrado:
“Depois de mais de um ano de espera (e representações no CNJ), seis meses somente com a Relatoria do Des. Ricardo Roesler, no Órgão Especial, está pautado para o dia 21 o julgamento do meu Mandado de Segurança preventivo, que atacava a forma mais que abusiva e causadora de nulidades, que foi a condução dada pelo Des. Ernani, para a alcançarem minha aposentadoria compulsória que estava pré-julgada”.
Segue cópia do referido Mandado de Segurança, para conhecimento público.
Empate mafioso
Periguetes
Sobrevivendo
Na berlinda