A denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Michel Temer
ainda não chegou ao Supremo Tribunal Federal. Mas a Câmara dos
Deputados, que receberá o processo para decidir se autoriza ou não o
Supremo a abrir uma ação penal contra o presidente da República, já
decidiu o que fazer. Rodrigo Maia, presidente da Câmara, prometeu a
Temer uma tramitação rápida. Não importa o teor da denúncia. O Planalto e
seus aliados organizam um enterro relâmpago para a peça.
O
governo alega que o Brasil não pode perder tempo. É preciso cuidar de
reformas como a da Previdência. É lorota. Deve-se a pressa de Temer ao
medo do presidente de ser abalroado por novas delações. O doleiro Lúcio
Funaro já exercita a língua. Rodrigo Rocha Loures, o homem da mala, é
pressionado pela família. Eduardo Cunha se aconselha com um novo
advogado. Sitiado pela suspeição, Temer vive a neurose do que está por
vir.
Para desassossego de Temer, o procurador-geral Rodrigo Janot
adiou a apresentação de sua denúncia para a última semana do mês. Se o
Brasil fosse um país lógico, os deputados não se atreveriam a arquivar
as acusações de corrupção, obstrução de Justiça e formação de
organização criminosa. Não há lógica em sonegar ao país a oportunidade
de conhecer o veredicto do Supremo Tribunal Federal sobre a reputação do
presidente. Costuma-se dizer que o brasileiro não tem memória. Mas num
país em que o TSE e a Câmara enterram escândalos vivos o que falta às
autoridades não é memória, mas um mínimo de curiosidade.
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