sábado, 17 de junho de 2017
Ainda
assim, é preciso fazer uma distinção fundamental entre esse tipo de
corrupção, artesanal, individual, e aquela feita pelo partido
totalitário, industrial, sistêmica, avassaladora,
Paulo Roberto de Almeida
Comentário de quem me enviou a matéria:
Joesley
deu uma entrevista à revista Época que liberou apenas parte pela
internet. Só esta parte já antecipa a tremenda revelação que ele faz sobre
o grau de deterioração moral a que chegou BANDIDAGEM POLITICA no
Brasil. Toda esta gente tem que apodrecer na cadeia por muitos anos - de
Temer a Moreira Franco, Padilha, Geddel, sem esquecer é claro, Lula e
Aécio, que são chefes de outras grandes quadrilhas
Roque Callage
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Em entrevista exclusiva a ÉPOCA, o empresário diz que o presidente não tinha “cerimônia” para pedir dinheiro e que Eduardo Cunha cobrava propina em nome de Temer
DIEGO ESCOSTEGUY
ÉPOCA, 16/06/2017
Na manhã da quinta-feira (15), o empresário Joesley Batista,
um dos donos do grupo J&F, recebeu ÉPOCA para conceder sua primeira
entrevista exclusiva desde que fechou a mais pesada delação dos três
anos de Lava Jato. Em mais de quatro horas de conversa, precedidas de
semanas de intensa negociação, Joesley explicou minuciosamente, sempre
fazendo referência aos documentos entregues à Procuradoria-Geral da
República, como se tornou o maior comprador de políticos do Brasil.
Discorreu sobre os motivos que o levaram a gravar o presidente Michel Temer e
a se oferecer à PGR para flagrar crimes em andamento contra a Lava
Jato. Atacou o presidente, a quem acusa, com casos e detalhes inéditos,
de liderar “a maior e mais perigosa organização criminosa do Brasil” – e
de usar a máquina do governo para retaliá-lo. Contou como o PT de Lula “institucionalizou” a corrupção no Brasil e de que modo o PSDB de Aécio Neves entrou
em leilões para comprar partidos nas eleições de 2014. O empresário
garante estar arrependido dos crimes que cometeu e se defendeu das
acusações de que lucrou com a própria delação.
A
seguir, os principais trechos da entrevista publicada na edição de
ÉPOCA desta semana. Leia as 12 páginas da conversa com Joesley na edição
que chega às bancas neste sábado (17) ou disponível agora nos aplicativos ÉPOCA e Globo+:
ÉPOCA - Quando o senhor conheceu Temer?
Joesley Batista – Conheci
Temer através do ministro Wagner Rossi, em 2009, 2010. Logo no segundo
encontro ele já me deu o celular dele. Daí em diante passamos a falar.
Eu mandava mensagem para ele, ele mandava para mim. De 2010 em diante.
Sempre tive relação direta. Fui várias vezes ao escritório da Praça
Pan-Americana, fui várias vezes ao escritório no Itaim, fui várias vezes
à casa dele em São Paulo, fui alguma vezes ao Jaburu, ele já esteve
aqui em casa, ele foi ao meu casamento. Foi inaugurar a fábrica da
Eldorado.
ÉPOCA – Qual, afinal, a natureza da relação do senhor com o presidente Temer?
Joesley – Nunca
foi uma relação de amizade. Sempre foi uma relação institucional, de um
empresário que precisava resolver problemas e via nele a condição de
resolver problemas. Acho que ele me via como um empresário que poderia
financiar as campanhas dele – e fazer esquemas que renderiam propina.
Toda a vida tive total acesso a ele. Ele por vezes me ligava para
conversar, me chamava, e eu ia lá.
ÉPOCA – Conversar sobre política?
Joesley – Ele
sempre tinha um assunto específico. Nunca me chamou lá para bater papo.
Sempre que me chamava, eu sabia que ele ia me pedir alguma coisa ou ele
queria alguma informação.
ÉPOCA – Segundo a colaboração, Temer pediu dinheiro ao senhor já em 2010. É isso?
Joesley – Isso.
Logo no início. Conheci Temer, e esse negócio de dinheiro para campanha
aconteceu logo no iniciozinho. O Temer não tem muita cerimônia para
tratar desse assunto. Não é um cara cerimonioso com dinheiro.
ÉPOCA – Ele sempre pediu sem algo em troca?
Joesley – Sempre
estava ligado a alguma coisa ou a algum favor. Raras vezes não. Uma
delas foi quando ele pediu os R$ 300 mil para fazer campanha na internet
antes do impeachment, preocupado com a imagem dele. Fazia pequenos
pedidos. Quando o Wagner saiu, Temer pediu um dinheiro para ele se
manter. Também pediu para um tal de Milton Ortolon, que está lá na nossa
colaboração. Um sujeito que é ligado a ele. Pediu para fazermos um
mensalinho. Fizemos. Volta e meia fazia pedidos assim. Uma vez ele me
chamou para apresentar o Yunes. Disse que o Yunes era amigo dele e para
ver se dava para ajudar o Yunes.
ÉPOCA – E ajudou?
Joesley – Não
chegamos a contratar. Teve uma vez também que ele me pediu para ver se
eu pagava o aluguel do escritório dele na praça [Pan-Americana, em São
Paulo]. Eu desconversei, fiz de conta que não entendi, não ouvi. Ele
nunca mais me cobrou.
ÉPOCA – Ele explicava a razão desses pedidos? Por que o senhor deveria pagar?
Joesley – O Temer tem esse jeito calmo, esse jeito dócil de tratar e coisa. Não falava.
ÉPOCA – Ele não deu nenhuma razão?
Joesley – Não,
não ele. Há políticos que acreditam que pelo simples fato do cargo que
ele está ocupando já o habilita a você ficar devendo favores a ele. Já o
habilita a pedir algo a você de maneira que seja quase uma obrigação
você fazer. Temer é assim.
ÉPOCA – O empréstimo do jatinho da JBS ao presidente também ocorreu dessa maneira?
Joesley – Não
lembro direito. Mas é dentro desse contexto: “Eu preciso viajar, você
tem um avião, me empresta aí”. Acha que o cargo já o habilita. Sempre
pedindo dinheiro. Pediu para o Chalita em 2012, pediu para o grupo dele
em 2014.
ÉPOCA
– Houve uma briga por dinheiro dentro do PMDB na campanha de 2014,
segundo o lobista Ricardo Saud, que está na colaboração da JBS.
Joesley – Ricardinho
falava direto com Temer, além de mim. O PT mandou dar um dinheiro para
os senadores do PMDB. Acho que R$ 35 milhões. O Temer e o Eduardo
descobriram e deu uma briga danada. Pediram R$ 15 milhões, o Temer
reclamou conosco. Demos o dinheiro. Foi aí que Temer voltou à
Presidência do PMDB, da qual ele havia se ausentado. O Eduardo também
participou ativamente disso.
ÉPOCA – Como era a relação entre Temer e Eduardo Cunha?
Joesley – A
pessoa a qual o Eduardo se referia como seu superior hierárquico sempre
foi o Temer. Sempre falando em nome do Temer. Tudo que o Eduardo
conseguia resolver sozinho, ele resolvia. Quando ficava difícil, levava
para o Temer. Essa era a hierarquia. Funcionava assim: primeiro vinha o
Lúcio [o operador Lúcio Funaro]. O que ele não conseguia resolver pedia
para o Eduardo. Se o Eduardo não conseguia resolver, envolvia o Michel.
ÉPOCA
– Segundo as provas da delação da JBS e de outras investigações, o
senhor pagava constantemente tanto para Eduardo Cunha quanto para Lúcio
Funaro, seja por acertos na Câmara, seja por acertos na Caixa, entre
outros. Quem ficava com o dinheiro?
Joesley – Em
grande parte do período que convivemos, meu acerto era direto com o
Lúcio. Eu não sei como era o acerto do Lúcio do Eduardo, tampouco do
Eduardo com o Michel. Eu não sei como era a distribuição entre eles. Eu
evitava falar de dinheiro de um com o outro. Não sabia como era o acerto
entre eles. Depois, comecei a tratar uns negócios direto com o Eduardo.
Em 2015, quando ele assumiu a presidência da Câmara. Não sei também
quanto desses acertos iam para o Michel. E com o Michel mesmo eu também
tratei várias doações. Quando eu ia falar de esquema mais estrutural com
Michel, ele sempre pedia para falar com o Eduardo. “Presidente, o
negócio do Ministério da Agricultura, o negócio dos acertos…” Ele dizia:
“Joesley, essa parte financeira toca com o Eduardo e se acerta com o
Eduardo”. Ele se envolvia somente nos pequenos favores pessoais ou em
disputas internas, como a de 2014.
ÉPOCA – O senhor realmente precisava tanto assim desse grupo de Eduardo Cunha, Lúcio Funaro e Temer?
Joesley – Eles
foram crescendo no FI-FGTS, na Caixa, na Agricultura – todos órgãos
onde tínhamos interesses. Eu morria de medo de eles encamparem o
Ministério da Agricultura. Eu sabia que o achaque ia ser grande. Eles
tentaram. Graças a Deus, mudou o governo e eles saíram. O mais relevante
foi quando Eduardo tomou a Câmara. Aí virou CPI para cá, achaque para
lá. Tinha de tudo. Eduardo sempre deixava claro que o fortalecimento
dele era o fortalecimento do grupo da Câmara e do próprio Michel. Aquele
grupo tem o estilo de entrar na sua vida sem ser convidado.
ÉPOCA – Pode dar um exemplo?
Joesley – O
Eduardo, quando já era presidente da Câmara, um dia me disse assim:
“Joesley, tão querendo abrir uma CPI contra a JBS para investigar o
BNDES. É o seguinte: você me dá R$ 5 milhões que eu acabo com a CPI”.
Falei: “Eduardo, pode abrir, não tem problema”. “Como não tem problema?
Investigar o BNDES, vocês.” Falei: “Não, não tem problema”. “Você tá
louco?” Depois de tanto insistir, ele virou bem sério: “É sério que não
tem problema?”. Eu: “É sério”. Ele: “Não vai te prejudicar em nada?”.
“Não, Eduardo.” Ele imediatamente falou assim: “Seu concorrente me paga
R$ 5 milhões para abrir essa CPI. Se não vai te prejudicar, se não tem
problema… Eu acho que eles me dão os R$ 5 milhões”. “Uai, Eduardo, vai
sua consciência. Faz o que você achar melhor.” Esse é o Eduardo. Não
paguei e não abriu. Não sei se ele foi atrás. Esse é o exemplo mais
bem-acabado da lógica dessa Orcrim.
ÉPOCA – Algum outro?
Joesley – Lúcio
fazia a mesma coisa. Virava para mim e dizia: “Tem um requerimento numa
CPI para te convocar. Me dá R$ 1 milhão que eu barro”. Mas a gente ia
ver e descobria que era algum deputado a mando dele que estava fazendo. É
uma coisa de louco.
ÉPOCA – O senhor não pagou?
Joesley – Nesse
tipo de coisa, não. Tinha alguns limites. Tinha que tomar cuidado. Essa
é a maior e mais perigosa organização criminosa deste país. Liderada
pelo presidente.
ÉPOCA – O chefe é o presidente Temer?
Joesley – O
Temer é o chefe da Orcrim da Câmara. Temer, Eduardo, Geddel, Henrique,
Padilha e Moreira. É o grupo deles. Quem não está preso está hoje no
Planalto. Essa turma é muita perigosa. Não pode brigar com eles. Nunca
tive coragem de brigar com eles. Por outro lado, se você baixar a
guarda, eles não têm limites. Então meu convívio com eles foi sempre
mantendo à meia distância: nem deixando eles aproximarem demais nem
deixando eles longe demais. Para não armar alguma coisa contra mim. A
realidade é que esse grupo é o de mais difícil convívio que já tive na
minha vida. Daquele sujeito que nunca tive coragem de romper, mas também
morria de medo de me abraçar com ele.
ÉPOCA
– No decorrer de 2016, o senhor, segundo admite e as provas corroboram,
estava pagando pelo silêncio de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, ambos já
presos na Lava Jato, com quem o senhor tivera acertos na Caixa e na
Câmara. O custo de manter esse silêncio ficou alto demais? Muito
arriscado?
Joesley – Virei
refém de dois presidiários. Combinei quando já estava claro que eles
seriam presos, no ano passado. O Eduardo me pediu R$ 5 milhões. Disse
que eu devia a ele. Não devia, mas como ia brigar com ele? Dez dias
depois ele foi preso. Eu tinha perguntado para ele: “Se você for preso,
quem é a pessoa que posso considerar seu mensageiro?”. Ele disse: “O
Altair procura vocês. Qualquer outra pessoa não atenda”. Passou um mês,
veio o Altair. Meu Deus, como vou dar esse dinheiro para o cara que
está preso? Aí o Altair disse que a família do Eduardo precisava e que
ele estaria solto logo, logo. E que o dinheiro duraria até março deste
ano. Fui pagando, em dinheiro vivo, ao longo de 2016. E eu sabia que,
quando ele não saísse da cadeia, ia mandar recados.
ÉPOCA – E o Lúcio Funaro?
Joesley – Foi
parecido. Perguntei para ele quem seria o mensageiro se ele fosse
preso. Ele disse que seria um irmão dele, o Dante. Depois virou a irmã.
Fomos pagando mesada. O Eduardo sempre dizia: “Joesley, estamos juntos,
estamos juntos. Não te delato nunca. Eu confio em você. Sei que nunca
vai me deixar na mão, vai cuidar da minha família”. Lúcio era a mesma
coisa: “Confio em você, eu posso ir preso porque eu sei que você não vai
deixar minha família mal. Não te delato”.
ÉPOCA – E eles cumpriram o acerto, não?
Joesley – Sim.
Sempre me mandando recados: “Você está cumprindo tudo direitinho. Não
vão te delatar. Podem delatar todo mundo menos você”. Mas não era
sustentável. Não tinha fim. E toda hora o mensageiro do presidente me
procurando para garantir que eu estava mantendo esse sistema.
ÉPOCA – Quem era o mensageiro?
Joesley – Geddel.
De 15 em 15 dias era uma agonia terrível. Sempre querendo saber se
estava tudo certo, se ia ter delação, se eu estava cuidando dos dois. O
presidente estava preocupado. Quem estava incumbido de manter Eduardo e
Lúcio calmos era eu.
ÉPOCA – O ministro Geddel falava em nome do presidente Temer?
Joesley – Sem
dúvida. Depois que o Eduardo foi preso, mantive a interlocução desses
assuntos via Geddel. O presidente sabia de tudo. Eu informava o
presidente por meio do Geddel. E ele sabia que eu estava pagando o Lúcio
e o Eduardo. Quando o Geddel caiu, deixei de ter interlocução com o
Planalto por um tempo. Até por precaução. DO DIPLOMATIZZANDO
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