Atenção!
Surgiu aquela que é, entendo, a denúncia mais grave desde que o
escândalo do petrolão começou a vir à luz. E, desta vez, pega em cheio a
Controladoria-Geral da União (CGU), órgão subordinado à Presidência da
República. Mais uma vez, o descalabro se aproxima perigosamente da
presidente Dilma Rousseff. Mas, suponho, Rodrigo Janot, procurador-geral
da República, não vai pedir ao Supremo Tribunal Federal nem mesmo a
abertura de um inquérito. A que me refiro?
Em entrevista a Leandro Colon, da Folha,
Jonathan David Taylor, ex-diretor da SBM Offshore, afirmou que entregou
à CGU, durante a campanha eleitoral do ano passado, provas de que a
empresa holandesa havia pagado propina a agentes da Petrobras. O órgão,
no entanto, só abriu sindicância em novembro, depois da eleição. Segundo
Taylor, ele entregou à CGU mil páginas de documentos entre agosto e
outubro de 2014.
O ex-diretor
diz que foi ele quem teve a iniciativa de procurar a CGU. No dia 27 de
agosto, afirma, entregou ao órgão o relatório de uma auditoria interna
da SBM, mensagens eletrônicas, contratos com o lobista Júlio Faerman — a
quem ele pagou US$ 139 milhões para obter contratos com a Petrobras —,
extratos de depósitos em paraísos fiscais, a gravação de uma reunião da
empresa e uma lista com nomes da Petrobras…
Mesmo assim,
a CGU foi abrir sindicância só em novembro, 17 dias depois de realizado
o segundo turno. Para lembrar. A VEJA publicou reportagem em
fevereiro do ano passado informando que auditoria interna da SBM havia
encontrado indícios de pagamento de propina a funcionários da Petrobras.
Lá já se podia ler:
“O esquema de corrupção no
Brasil, de acordo com a investigação interna, era comandado pelo
empresário Julio Faerman, um dos mais influentes lobistas do setor e
dono das empresas Faercom e Oildrive. Ele assinava contratos de
consultoria com a SBM que serviam para repassar o dinheiro de propina
para diretores da Petrobras. Essas consultorias previam o pagamento de
uma ‘comissão’ de 3% do valor dos contratos celebrados entre a SBM e a
Petrobras – 1% era destinado a Faerman e 2% a diretores da petrolífera
brasileira.”
Em março do
ano passado, um mês depois da reportagem, a então presidente da
Petrobras Graça Foster anunciou que uma auditoria interna não encontrara
nada de errado. Nesse mês, foi deflagrada a Operação Lava Jato. No
começo de novembro, o Ministério Público da Holanda anunciou que a SBM
havia sido multada naquele país em US$ 240 milhões em razão de propinas
pagas mundo afora, INCLUSIVE NA PETROBRAS.
Só no dia 17
de novembro Graça Foster veio a público para admitir que, de fato,
havia indícios de corrupção. Segundo ela, estava com essa informação
desde meados do ano… E não falou pra ninguém. Agora se descobre que a
CGU também amoitou a informação. A mesma CGU que negocia com a SBM um
acordo de leniência…
Prestem atenção a este trecho da entrevista (em azul).
O sr. esteve com Faerman?
Várias vezes. Julio Faerman não era um
agente independente. Ninguém da Petrobras falava com a SBM sem ele. Era
altamente íntimo do esquema no Brasil, e atuava com seu filho Marcello e
o sócio Luiz Eduardo Barbosa.
CGU, SBM e Petrobras admitiram irregularidades somente em 12 de novembro.
A única conclusão que posso tirar disso é
que essas partes queriam proteger o Partido dos Trabalhadores e a
presidente Dilma ao atrasar o anúncio dessas investigações para evitar
um impacto negativo nas eleições. Para a SBM, era importante ter uma
sobrevida com os contratos no Brasil. É minha opinião.
O sr. aceitaria colaborar com a CPI no Congresso?
Claro. Provavelmente, se tudo isso tivesse sido descoberto mais cedo, Dilma Roussef não seria presidente.
Que tipo de documentos o sr. tem e entregou?
Tenho, por exemplo, uma gravação de Hanny
Tagher (ex-dretor da SBM) de uma reunião de 27 de março de 2012. Quando
perguntado por Bruno Chabas (CEO) sobre Julio Faerman, Tagher explica
quem é e o que fazia. Disse que, dos pagamentos feitos pela SBM para
comissões, 1% ficava com o Faerman, e a outra parte, 2%, iria para a
Petrobras. E eu perguntei então para ele, na gravação: “Petrobras?”. Ele
responde “Sim”.
Volto
Para encerrar: segundo Pedro Barusco, a SBM doou US$ 300 mil para a
campanha de Dilma, em 2010, de forma irregular. Faerman teria sido o
intermediário. O mais impressionante é que a CGU confirma a versão de
Taylor, inclusive a data da entrega dos documentos. Para ela, no
entanto, aqueles ainda não constituíam os “indícios mínimos”. Reitero: a
Controladoria-Geral da União é um órgão subordinado à Presidência da
República. Dilma tenta se afastar da crise, mas a crise não se afasta
dela porque é perseguida pelos métodos a que seu partido recorreu,
inclusive para elegê-la e reelegê-la.