Delegado que comanda equipe da PF, em Curitiba, no escândalo Petrobrás diz que órgão está tentando recompor grupo que cuida da operação, mas não vê interferência política
Marcelo Godoy e Ricardo Brandt, enviado especial a Curitiba
27 Maio 2017 | 20h00
27 Maio 2017 | 20h00
Responsável por coordenar a equipe da Lava Jato na Polícia Federal, em Curitiba, o delegado Igor Romário de Paula teve este ano que encontrar tempo dentro de sua rotina administrativa de chefe da divisão de Combate ao Crime Organizado do Paraná para assumir alguns dos 120 inquéritos em andamento do escândalo Petrobrás.
Com quatro delegados – em 2016, eram 9 – na força-tarefa da operação, essa foi a solução encontrada para aliviar a sobrecarga da equipe e dar andamento nos inquéritos, que têm prazos a serem cumpridos.
“Temos enfrentado um problema objetivo”, afirmou Igor, anteontem, quando foi deflagrada a 41.ª fase, batizada de Operação Poço Seco. “Com o número que temos hoje fica difícil dar continuidade, prosseguimento da forma como sempre foi. Estamos tentando recompor.”
Foi a quarta operação da Lava Jato no ano. Entre janeiro e maio de 2015, a força-tarefa havia deflagrado seis fases. Em 2016, no mesmo período, foram nove. Entre elas, a 24ª fase (Operação Aletheia) que levou coercitivamente para depor o suposto líder do esquema de corrupção na Petrobrás, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – réu em três ações penais abertas pelo juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal, em Curitiba.
O número de quatro delegados atuando na Lava Jato, representa 5% do total que atua no Paraná. “É uma dificuldade operacional que a gente vai ter que superar, porque senão o prejuízo, para nós, vai ser completo”, disse o delegado.
Ele disse não ter conhecimento de qualquer interferência política, mas sim um remanejamento para outros Estados decorrente dos procedimentos abertos com base nas delações dos 77 executivos da Odebrecht. “Vejo limitação em função da disseminação da investigação. São 17 Estados que vão receber desdobramentos. Realmente, fica difícil continuar trazendo gente para cá (Curitiba).”
O procurador Regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima disse que é um erro argumentar que houve redução de casos a serem apurados. “A operação em Curitiba não está diminuindo, ao contrário, vamos ter muito serviço, novos fatos, e todas as acusações que temos que proceder.”
Para ele, é importante que “se compreenda, talvez a direção da PF, que precisamos manter uma equipe que dê condições de suporte às medidas que vão ser tomadas daqui para a frente, investigações que vão se desenvolver.”
Clima. Além da redução de efetivo e de recursos para as operações, um clima de desanimo tomou a equipe da Lava Jato na PF em Curitiba.
Nos corredores do segundo
andar do edifício de vidros pretos da Superintendência Regional da PF
do Paraná, o silêncio e a desconfiança viraram palavra de ordem. Reflexo
dos processos administrativos, investigações da Corregedoria, ações
movidas por investigados, como as da defesa do ex-presidente Lula,
colocaram os policiais na defensiva.
“Quem está fora não quer mais entrar e quem está dentro não quer se arriscar”, resumiu um investigador com acesso à equipe. ESTADÃO