Manifestação marca os 10 anos do fechamento da emissora RCTV por decisão do governo do então presidente Hugo Chávez.
A oposição venezuelana voltou neste sábado (27) às ruas de Caracas para
protestar contra o presidente Nicolás Maduro, levantando a bandeira da
liberdade de expressão 10 anos depois do fechamento de uma emblemática
emissora.
Aos 57 dias de protestos violentos, que deixaram 58 mortos, a oposição
prevê intensificar a pressão contra o governo com novas mobilizações a
partir da segunda-feira.
O fechamento da emissora RCTV por decisão do governo do então
presidente Hugo Chávez foi um "golpe atroz contra a liberdade de
expressão", disse Julio Borges, presidente do Parlamento, ao convocar a
marcha neste sábado.
Com uma linha editorial contrária ao presidente socialista, a RCTV,
fundada em 1953, era a emissora aberta de maior tradição e inserção na
Venezuela.
Funcionários de alto escalão defenderam em 2007 a negativa de renovar a
licença de operação da RCTV com uma política de "democratização" as
telecomunicações. A emissora estatal TVES a substitui desde então.
"Ninguém sabe de nada. Temos que nos informar pelo Facebook e pelas
redes sociais, pela Internet, por canais internacionais. E também
tiraram a CNN do ar", reclamou Matilde Quintero, aposentada, que
marchava em Caracas com um boné com as cores de seu país: vermelha, azul
e amarela.
O sinal da CNN em espanhol foi tirado do ar por operadoras a cabo
venezuelanas por ordem do governo de Maduro, que acusa a emissora
americana de "propaganda de guerra".
Segundo o Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa (SNTP), o
fechamento da RCTV abriu o caminho para uma "política de censura e
autocensura" em meios de comunicação privados.
Enquanto a mobilização opositora avançava, jovens com rostos cobertos bloquearam com caminhões a principal estrada da capital.
Na sexta-feira, manifestações em Caracas e em outras cidades foram
reprimidas com bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e jatos de
água. A oposição pediu à Força Armada que pare com a "repressão" e
retire seu apoio a Maduro.
Governo e oposição se culpam pela violência. Maduro denuncia que seus
adversários promovem "atos de terrorismo", enquanto estes o
responsabilizam por uma "repressão selvagem" de militares e policiais.
Os protestos, que exigem eleições gerais, ganharam força com o chamado
de Maduro a uma Assembleia Constituinte com votações por "setores
sociais", o que analistas e opositores consideram uma manobra do
presidente para evitar o voto universal e se manter no poder.
Importações proibidas
As empresas de correio estão avisando seus clientes que a autoridade
aduaneira venezuelana proibiu a importação de itens como máscaras de
gás, estilingues e coletes à prova de balas usados por alguns
manifestantes.
Outros itens proibidos incluem suprimentos de primeiros socorros, como
cremes contra queimaduras e gaze, de acordo com mensagens enviadas por
email aos clientes esta semana pelas empresas de entrega expressa. Estes
produtos têm sido usados para tratar feridos nos protestos.
Os serviços de correio que enviavam os avisos incluíam o serviço local
Zoom e o escritório venezuelano da Mail Boxes Etc., conhecida como MBE.
Outra empresa, a BVA Export, disse aos clientes em um email: "Não é
permitido enviar máscaras de gás e itens que podem ser usados para
defesa e/ou ataque nos protestos venezuelanos". Ela incluiu uma lista
detalhada dos produtos que disse que tinham sido banidos.
Não houve resposta imediata das empresas aos pedidos de comentários.DO G1
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