Força-tarefa do Ministério Público
Federal afirma em nota pública que a integração da equipe de policiais
federais à Delegacia de Combate à Corrupção e Desvio de Verbas Públicas,
dificulta as apurações 'com a eficiência com que se desenvolveram até
recentemente'
Os procuradores da República, na força-tarefa da Operação
Lava Jato, no Paraná, afirmou em nota nesta quinta-feira, 6, que o
desmonte do grupo exclusivo da Polícia Federal na investigação
‘prejudica’ as apurações. A força-tarefa manifestou ‘discordância’ em
relação à dissolução do grupo de trabalho dos policiais federais.
“O efetivo da Polícia Federal na Lava Jato, reduzido
drasticamente no governo atual, não é adequado à demanda. Hoje, o número
de inquéritos e investigações é restringido pela quantidade de
investigadores disponível. Há uma grande lista de materiais pendentes de
análise e os delegados de polícia do caso não têm tido condições de
desenvolver novas linhas de investigação por serem absorvidos por
demandas ordinárias do trabalho acumulado”, diz a nota.
+ PF desfaz grupo exclusivo da Lava Jato em Curitiba
A Polícia Federal informou nesta quinta que os grupos de
trabalho dedicados às operações Lava Jato e Carne Fraca agora passam a
integrar a Delegacia de Combate à Corrupção e Desvio de Verbas Públicas
(Delecor), braço da Superintendência no Paraná – base e origem das duas
grandes investigações. Em nota oficial, a PF nega que a Lava Jato esteja
em processo de desmonte.
A corporação afirma que a fusão dos elencos da Lava Jato e
da Carne Fraca visa ‘priorizar ainda mais as investigações de maior
potencial de dano ao erário’. O texto destaca que a medida ‘permite o
aumento do efetivo especializado no combate à corrupção e lavagem de
dinheiro e facilita o intercâmbio de informações’.
Para força-tarefa dos procuradores, a ‘redução e dissolução’
do grupo da PF ‘não contribui para priorizar ainda mais as
investigações ou facilitar o intercâmbio de informações’.
“Pelo contrário, a distribuição das investigações para um
número maior de delegados e a ausência de exclusividade na Lava Jato
prejudicam a especialização do conhecimento e da atividade, o
desenvolvimento de uma visão do todo, a descoberta de interconexões
entre as centenas de investigados e os resultados”, anotaram os
procuradores.
LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA
Nota da Força Tarefa da Lava Jato
Dissolução do Grupo de Trabalho da Lava Jato na Polícia Federal prejudica as investigações
Os procuradores da república da força-tarefa da Lava Jato em
Curitiba vêm manifestar sua discordância em relação à dissolução do
Grupo da Lava Jato no âmbito Polícia Federal.
1. A operação Lava Jato investiga corrupção bilionária
praticada por centenas de pessoas, incluindo ocupantes atuais e
pretéritos de altos postos do Governo Federal. Foram realizadas 844
buscas e apreensões em 41 fases que ensejaram a apreensão de um imenso
volume de materiais – apenas na primeira fase, foram mais de 80 mil
documentos. São rastreadas hoje mais de 21 milhões de transações que
envolvem mais de R$ 1,3 trilhão. Já foram acusadas por crimes graves
como corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa mais de 280
pessoas, e centenas de outras permanecem sob investigação. Embora já
tenham sido recuperados, de modo inédito, mais de
R$ 10 bilhões, há um potencial de recuperação de muitos outros bilhões, se os esforços de investigação prosseguirem.
2. A anunciada integração, na Polícia Federal, do Grupo de
Trabalho da Lava Jato à Delegacia de Combate à Corrupção e Desvio de
Verbas Públicas, após a redução do número de delegados a menos de
metade, prejudica as investigações da Lava Jato e dificulta que
prossigam com a eficiência com que se desenvolveram até recentemente.
3. O efetivo da Polícia Federal na Lava Jato, reduzido
drasticamente no governo atual, não é adequado à demanda. Hoje, o número
de inquéritos e investigações é restringido pela quantidade de
investigadores disponível. Há uma grande lista de materiais pendentes de
análise e os delegados de polícia do caso não têm tido condições de
desenvolver novas linhas de investigação por serem absorvidos por
demandas ordinárias do trabalho acumulado.
4. A redução e dissolução do Grupo de Trabalho da Polícia
Federal não contribui para priorizar ainda mais as investigações ou
facilitar o intercâmbio de informações. Pelo contrário, a distribuição
das investigações para um número maior de delegados e a ausência de
exclusividade na Lava Jato prejudicam a especialização do conhecimento e
da atividade, o desenvolvimento de uma visão do todo, a descoberta de
interconexões entre as centenas de investigados e os resultados.
5. A necessidade evidente de serviço, decorrente inclusive
do acordo feito com a Odebrecht, determinou que a equipe do Ministério
Público Federal na Lava Jato em Curitiba tenha aumentado, o que ocorreu
em paralelo ao aumento das equipes da Lava Jato no Rio de Janeiro, São
Paulo e Brasília, no mesmo período em que a Polícia Federal reduziu a
equipe e dissolveu o Grupo de Trabalho da Lava Jato em Curitiba.
6. A Polícia Federal, assim como a Receita Federal, são
parceiras indispensáveis nos trabalhos da Lava Jato. Reconhece-se ainda a
dedicação do superintendente da Polícia Federal no Paraná, Rosalvo
Franco, e do Delegado de Polícia Federal Igor de Paula, às
investigações. Contudo, a medida tornada pública hoje é um evidente
retrocesso. Por isso, o Ministério Público Federal espera que a decisão
possa ser revista, com a consequente reversão da diminuição de quadros e
da dissolução do Grupo de Trabalho da Polícia Federal na Lava Jato, a
fim de que possam prosseguir regularmente e com eficiência as
investigações contra centenas de pessoas e de que os bilhões desviados
possam continuar a ser recuperados. DO ESTADÃO