sábado, 15 de abril de 2017

J.R. Guzzo: No picadeiro

Publicado na edição impressa de VEJA
Os brasileiros não param de ouvir, já faz um certo tempo, advertências informando a todos que é preciso tomar muito cuidado com o que estão ouvindo por aí. Essa história de dizer que os políticos são uma completa desgraça em sua conduta e em seus resultados, por exemplo, é um perigo. Segundo os autores dessas recomendações de cautela, não se podem desmoralizar os políticos, pois isso desmoraliza as “instituições”, e aí vai tudo para o diabo — sem eles e sem elas, como ficaria o país? O Judiciário, então, é um tema mais delicado ainda: por mais absurdo que esteja se tornando o Brasil que constrói passo a passo com as suas decisões, como fazer pouco dos nossos mais altos magistrados? Além dos políticos e dos juristas, é preciso prestar muita atenção, também, antes de falar mal dos partidos, das lideranças nacionais e dos homens públicos em geral. Por piores que sejam, não há democracia sem a presença de todos eles – a única solução, portanto, é aguentar. Tudo bem, mas os personagens desse elenco fazem o possível e o impossível para despertar contra eles, como diria o ex-deputado Roberto Jefferson, os instintos mais primitivos da população. Fica difícil desse jeito.
Seu último prodígio, uma obra de autoria coletiva que soma os esforços de juristas, políticos e partidos, é o que poderia se tornar conhecido como “o Caso da Chapa”. A assinatura oficial da obra é da “Justiça Eleitoral” – uma das peças mais notáveis do acervo em exibição no Museu de Horrores do Estado Brasileiro, com o seu Tribunal Superior Eleitoral, os 27 tribunais regionais, mais de 20 000 funcionários e funções desconhecidas em qualquer democracia bem-sucedida do mundo, onde jamais se julgou necessário criar uma “justiça eleitoral” para fazer eleições. O Tribunal Superior Eleitoral, como se sabe, está examinando desde o fim de 2014 um processo para decidir se a chapa vencedora das eleições presidenciais, de Dilma Rousseff e Michel Temer, recebeu dinheiro ilegal na campanha. É um fenômeno: esse delito tornaria “inelegível” uma chapa que já foi eleita dois anos e meio atrás, deporia de novo do cargo uma presidente que já foi deposta e mandaria para a rua o presidente atual, que termina o mandato já no ano que vem — o que obrigaria o Brasil a ter mais um presidente aleijado e de vida breve, o terceiro de 2015 para cá. Para piorar ainda mais a qualidade da charada, o relator do processo julgou necessário escrever um relatório de 1 032 páginas sobre o caso — mais que isso, só a Bíblia. Na semana passada, sempre na esperança de fazer esse disparate desaparecer pelo cansaço, ou pela sua própria falta de nexo, o TSE resolveu deixar tudo do jeito que está.
Depois de todo o tempo que já passou desde o começo do caso, os ministros acharam que seria preciso dar ainda mais uns dias aos advogados de Dilma para que apresentassem sua defesa; para garantirem que nada aconteça, resolveram também que as partes ainda podem chamar testemunhas — enfim, acabaram de adiar tudo de novo, e o caso, que ninguém já levava a sério, entrou definitivamente na área da palhaçada. Mais uma vez, como vem ocorrendo nos últimos 500 anos, “prevaleceu o bom-senso”, como observou um dos marechais de campo da tropa política de Brasília. Nem é preciso avisar: quando o cidadão ouve alguma figura pública brasileira dizer que prevaleceu o bom-senso, pode ter certeza de que estão lhe batendo a carteira. O que prevaleceu, mesmo, foi o interesse de cada um. Ninguém gosta do presidente, ou diz que não gosta, mas todos querem que o presidente fique. O PT finge que está em guerra com o governo: na rua, os militantes gritam “Fora, Temer”, na conversa para valer, os chefes do partido dizem “Fica, Temer”. O PSDB, que começou a ação para anular a chapa Dilma-Temer, reduziu sua cobrança pela metade: como Dilma já foi, quer que Temer fique. O senador Renan Calheiros, ninguém menos que ele, se transformou de vinho em água e todo dia requisita os jornalistas para dizer-lhes que é agora um homem da oposição, aliado de coração do ex-presidente Lula e inimigo mortal de Michel Temer. Ninguém, enfim, quer o que diz — nem o TSE quer julgar coisa nenhuma. Estão todos pensando, apenas, em como tirar proveito do que pode acontecer em 2018, e em permanecer fora do xadrez até lá. É o circo marambaia.
Se você não percebeu quem os políticos, ministros de tribunais, gênios dos partidos etc. escolheram para fazer o papel de palhaço nesse picadeiro, pense um pouco. Em menos de um minuto vai ver que o palhaço é você. DO A.NUNES

O desatino do financiamento público de campanha

Não faz sentido sacrificar ainda mais o contribuinte, até porque a última eleição mostrou que a proibição das empresas só estimulou o caixa 2

Editorial O Globo
 Faltam pouco mais de cinco meses para o Congresso definir e aprovar as normas para as eleições gerais de 2018. O tempo é curto e parte das alternativas imaginadas até a primeira semana deste mês, consolidadas no relatório da Comissão de Reforma Política da Câmara dos Deputados se tornou obsoleta na terça-feira, quando o Supremo Tribunal Federal divulgou a lista de novos investigados da Operação Lava-Jato.
A edição extra de duas centenas de páginas que o STF mandou imprimir, no mesmo dia, com as decisões sobre os inquéritos, é o melhor retrato de um modelo político-eleitoral falido.
As confissões documentadas da Odebrecht são relevantes para se entender a dinâmica das relações espúrias, subterrâneas, entre agentes públicos e privados. E, também, para se compreender a dimensão do impasse em que se aprisionou o Congresso, que precisa avançar nas regras para as eleições gerais de 2018, como determina a Constituição.
No vácuo, proliferam propostas delirantes, como a da Comissão de Reforma Política que pretende substituir o Fundo Partidário pelo Fundo de Financiamento da Democracia. A nomenclatura atual já é ruim. A imaginada para substituí-la, além de parva, tem o agravante do viés da demagogia explícita.
A proposta da Comissão da Câmara para esse fundo, se aplicada, aumentaria em 162% o volume de dinheiro público transferido aos partidos. Passaria dos R$ 800 milhões reservados no Orçamento deste ano para R$ 2,1 bilhões.
A exorbitância choca. Menos pelo que deixa aparente, e mais pelo que oculta: a tibieza de políticos tradicionais acuados pelas investigações sobre corrupção em negócios públicos.
Eles fracassaram, até agora, nas tentativas de impor à sociedade a autoanistia, assim como em artimanhas como o voto em lista e, agora se vê, a exclusividade no financiamento público das campanhas eleitorais.
Demonizaram o financiamento privado, atribuindo-lhe a gênese da corrupção na política. Mas o que a eleição municipal demonstrou, ano passado, foi que esse exclusivismo do financiamento público conduziu o pleito a um recorde de operações paralelas, de caixa 2, como têm repetido ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Agora, diante de um país com as finanças alquebradas e perplexo com a extensão da corrupção revelada pela Lava-Jato, esses mesmos parlamentares pretendem aumentar o volume de dinheiro público que escoa para o comando de 35 partidos. Muitos deles, ressalte-se, são autênticas empresas familiares. Alguns têm no TSE recomendação para rejeição de até 96% das suas prestações de contas dos últimos cinco anos.
Há formas modernas, honestas, plurais e legítimas de financiamento da democracia. É hora de reexame da proibição do financiamento eleitoral privado. Não apenas por razões econômicas objetivas da penúria fiscal do país, mas porque a corrupção não está na atividade empresarial em si, e sim no ambiente espúrio criado por uma minoria de agentes públicos e privados, aproveitando-se do gigantismo do Estado brasileiro.
A reconstrução dos fundamentos éticos nos negócios públicos, com responsabilidade privada expressamente definida, é essencial ao vigor da democracia. É possível, sim, outra forma de se fazer política no Brasil.
Ela pode e deve se basear em regras transparentes e severas que impeçam que o contribuinte seja mais uma vez sacrificado ao ser obrigado a sustentar um fundo bilionário criado para partidos, muitos dos quais sem qualquer representatividade.
Dinheiro na mão é vendaval... (Foto: Arquivo Google)

 Delação Preniada
Certamente que o STF será cobrado pela sociedade em relação à velocidade do seu trabalho. Queremos pressa e não desculpas

Calçada da fama (Foto: Arquivo Google)
João Teixeira de Azevedo Neto, leitor O Globo
O prêmio Nobel deveria ser entregue ao inventor da delação premiada. Inteligentemente, trocamos a redução da pena de alguns maus políticos por uma centena de outros que jamais iriam presos se ela não existisse.
Graças à atuação do juiz Sérgio Moro, do Ministério Público e da Polícia Federal, está ocorrendo o que seria impensável anos atrás.
Falta agora o STF agilizar os inquéritos e os julgamentos para termos a convicção de que realmente o crime não compensa.
Certamente que o STF será cobrado pela sociedade em relação à velocidade do seu trabalho. Queremos pressa e não desculpas.
Por fim, caberá a sociedade enviar para Brasília novos políticos íntegros e capazes de promover uma nova gestão pública. DO NOBLAT

Kim Kataguiri, do MBL, comenta o “acordão” entre caciques políticos


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Publiquei há pouco um texto sobre a estranha – cada vez mais estranha postura de Reinaldo Azevedo, que ficaria feliz caso um “acordão” entre os principais caciques políticos do PT, PMDB e PSDB realmente fosse feito, para impedir algum “aventureiro” em 2018. Eis uma boa resposta a essa turma, de Kim Kataguiri, do MBL:
Há um Brasil que acordou para a podridão do sistema atual, e há uma ala menor que resiste às forças de mudança, defendendo os “monstros do pântano”. Esses passarão para a História como os cúmplices do atraso. Ninguém aqui é jacobino por desejar mudanças radicais nesse modelo falido. Ninguém é aventureiro por lutar por Justiça contra esses métodos fracassados e corruptos. Gustavo Nogy explica bem o que está em jogo, que é a desmistificação dessa democracia:
Muita gente tem se preocupado com a “criminalização da política”. Em tese, isso abriria espaço para caudilhos, ditadores, malucos de toda ordem. A mim não me preocupa. E mais: acredito que seja urgente uma radicalização filosófica, moral, nos debates sobre política e sobre democracia. Dizer que o fim da política abriria espaço para bandidos, mafiosos e oportunistas é se esquecer de que boa parte dos nossos problemas foi criada por bandidos, mafiosos e oportunistas que chegaram ao poder justamente por meio da política. Hitler, Fidel Castro, Mussolini, Stálin, Pol Pot, Lula, Dilma, Maduro, Kirchner, Tiririca – todos têm em comum a mesma coisa: são palhaços; e são políticos, de uma forma ou de outra. Degenerados, mas políticos. Não há política ideal, assim como não há socialismo ideal, nem livre mercado ideal. Há o que há. Todos discutem aborto amistosamente, como se não passasse de opção feminina. Todos discutem a existência de Deus, como recreação. Agora, discutir democracia; discutir a própria natureza da política? Tabu. Não acreditamos na Cidade de Deus, mas nos ajoelhamos na Cidade dos Homens. Pois discutamos sem pudores nem temores. Se a conclusão a que chegarmos é de que não passa mesmo de atividade criminosa, amém. Desacreditamos de tantas coisas santas, não é mesmo? Então podemos desacreditar, com vigor renovado, das coisas mais profanas. A política não nos salva. A política não nos protege da política.
Se a nossa “democracia” trouxe ao poder alguém como Lula e depois seu “poste” Dilma, quase destruindo de vez com o País, então essa “democracia” não merece mesmo ser salva! Só que alguns, para defender seus companheiros políticos, parecem dispostos até a engolir um bandido como Lula na política, para evitar “aventureiros”. Que vergonha!
Rodrigo Constantino

Esquema da Odebrecht com Itaipava bancou compra de dossiê dos ‘Aloprados do PT’

Pilha de dinheiro apreendida com os 'Aloprados do PT', às vésperas da eleição de 2006. Foto: Polícia Federal - 29/9/2006
Pilha de dinheiro apreendida com os ‘Aloprados do PT’, às vésperas da eleição de 2006. Foto: Polícia Federal – 29/9/2006
O esquema de lavagem de dinheiro criado entre a Odebrecht e a cervejaria Itaipava não bancou apenas o caixa 2 de campanhas eleitorais, mas também a compra, em 2006, de um dossiê contra o então candidato à presidência, José Serra (PSDB), episódio que ficaria famoso como o escândalo dos “aloprados do PT”.
O capítulo das falcatruas com dinheiro ilícito é narrado em detalhes pelo delator Luiz Eduardo Soares, ex-executivo da Odebrecht que atuava no departamento da propina da empreiteira.
No dia 15 de setembro de 2006, a apenas duas semanas do primeiro turno das eleições para presidência, integrantes do PT foram presos pela Polícia Federal em um hotel de São Paulo ao tentar comprar um dossiê contra o então candidato tucano ao governo de São Paulo, que concorria com Aloizio Mercadante. O então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tentando diminuir a importância do episódio, afirmou que aquilo era obra de “um bando de aloprados”.
Foram presos em flagrante Valdebran Padilha, que tinha US$ 109,800 mil e mais R$ 758 mil em dinheiro e Gedimar Passos, com US$ 139 mil e mais de R$ 400 mil em dinheiro. Ao todo, os dois tinham R$ 1,7 milhão. Valdebran era empresário e havia sido tesoureiro do PT em Mato Grosso em 2004. Gedimar havia sido agente da PF e se apresentava como advogado do PT.
O dinheiro seria usado para comprar um dossiê envolvendo Serra, ex-ministro da Saúde, no escândalo da Máfia dos Sanguessugas. O dossiê, que se revelou ser falso, seria vendido pelos empresários Darci Vedoin e seu filho, Luiz Antônio Vedoin, donos da empresa Planam, pivô do escândalo das sanguessugas.
Um dia depois da prisão, em 16 de setembro, disse o delator Luiz Eduardo Soares, o ex-tesoureiro da campanha de Lula, José de Filippi, convocou uma reunião de emergência no comitê de campanha do PT, em São Paulo. Para não levantar suspeitas, Soares disse que tomou o cuidado de deixar seu carro no aeroporto de Congonhas e seguiu de táxi para o comitê do PT.
Quando chegou ao local, Soares diz que encontrou José de Filippi, o presidente da Itaipava, Walter Faria e Benedicto Júnior, ex-presidente da construtora Odebrecht. “Nós fomos tomados de surpresa na operação dos aloprados. BJ me ligou dizendo que tinha dado um grande problema e que precisava de minha ajuda”, disse o delator. O clima era de tensão: entre as centenas de maços de dinheiro apreendidos, um deles estava com rótulo da empresa Leyroz de Caxias, distribuidora da Itaipava que articulava a distribuição de dinheiro no esquema de propina da cervejaria.
“Como nós tínhamos essa operação que já tinha começado, de troca de reais por dólar, eles estavam com medo, porque descobriram que uma parte desse dinheiro estava com o timbre da Leyroz de Caxias. Mostrava que isso era da cervejaria Itaipava”, disse Soares.
O delator chega a dar risada, ao se lembrar do episódio. “Me dá vontade até de rir um pouco. O senhor Walter (Faria, presidente da Itaipava) falou que ele mesmo estava tirando (o rótulo) e esqueceu de um pacote, de tirar os invólucros.”
O delator lembra que as investigações avançaram, mas não chegaram à Itaipava. “Aí a coisa morreu, arrefeceu, e ninguém nunca soube de onde era o dinheiro”, disse. Luiz Eduardo Soares confirmou que o dinheiro foi repassado ao ex-tesoureiro do PT pelo próprio Walter Faria. “Eles pediram esse dinheiro e usaram esse dinheiro”, disse. Segundo o delator, José de Filippi sabia que a propina seria usada para a compra do dossiê. “Pediram a minha ajuda naquele momento de tensão. Eu sempre tive uma postura de me afastar dos problemas, apesar de eles estarem sempre me perseguindo”.
Procurado, o PT disse que não comentaria a delação. O Estado não conseguiu localizar nenhum representante da Itaipava desde sexta-feira para se posicionar. DO ESTADÃO

Na Coreia do Sul, Doria é 'chefe de Estado' ao buscar investidores

Empresários cortejam tucano durante viagem; prefeito chegou a ser chamado de 'futuro presidente do Brasil'
Foto: Letícia Bragaglia/Secom/Prefeitura de São Paulo
Na Coreia, Doria é
Coreia do Sul. Dominada por reuniões com empresários, a agenda do tucano também teve espaço para políticos
SEUL - Ao chegar na quinta-feira,  13, à sede da Korea Investment Corporation (KIC), a agência pública responsável pelo Fundo Soberano sul-coreano, o prefeito João Doria (PSDB) foi surpreendido ao ouvir do CEO, Hyun Man Choi, o pedido de um foto “ao lado do futuro presidente do Brasil”. O tucano sorriu e despistou, dizendo que era “apenas o prefeito”. Ao contar o episódio, um auxiliar comenta que as notícias “correm rápido”. 
Nas sete reuniões de trabalho em dois dias de missão oficial, Doria foi tratado como chefe de Estado ao buscar investidores para seu plano de privatização. Embaixador do Brasil na Coreia, Luis Fernando Serra reconhece que a agenda “foi mais densa” do que as visitas do gênero. Em seu 10.º posto diplomático, ele não se lembra de um prefeito que tenha buscado recursos de modo tão intenso.No caso da KIC, a agência demonstrou preocupação com a crise política e relatou perda de dinheiro no Brasil no setor de petróleo e gás. “Com a Lava Jato, o Brasil está sendo passado a limpo. A opinião pública internacional vê isso com bons olhos”, disse o prefeito.
Dominada por reuniões com empresários, a agenda do tucano – que recebeu o título de cidadão honorário de Seul – também teve espaço para políticos. Um dos encontros foi com o prefeito Park Won Soon, de um partido de esquerda e que não comunga com privatizações. 
Na prática. Após negociar com Doria, a Samsung vai fazer testes em São Paulo nos próximos três meses para implementar o bilhete único no celular. “Será possível fazer pagamentos com a simples aproximação do celular, por leitores óticos”, disse Doria. 
Questionado pelo Estado sobre qual será a contrapartida para a empresa, ele afirmou que o bilhete único dá acesso a 15 milhões de consumidores, mas garante a privacidade. “Na emissão do bilhete único você já sabe o CPF. As demais informações só serão apresentadas com autorização de cada cidadão.” 
Na visita ao Transportation & Information Service, centro de inteligência de transporte, ele perguntou quem bancava o sistema. Ao ouvir que era a prefeitura, brincou: “Nada como ter uma prefeitura que tem dinheiro”.
* O REPÓRTER VIAJOU A CONVITE DA PREFEITURA DE SEUL - DO ESTADÃO

PT é chamado de Flamengo e PSDB, de Corinthians em planilhas da Odebrecht


Empreiteira também usava termos do futebol, como centroavante e goleiro, para identificar políticos pelo cargo que ocupavam.

No jogo das propinas da Odebrecht, o PT era o Flamengo e o PSDB, o Corinthians. O PR ganhou o codinome de São Paulo e o DEM, de Fluminense (veja a lista completa abaixo). Os apelidos aparecem em algumas das planilhas entregues ao Ministério Público Federal (MPF) pelo delator Luiz Eduardo Soares, que atuou no Setor de Operações Estruturadas – como era chamado o departamento de propinas da empreiteira.
Candidatos a cargos do Executivo e Legislativo também chegaram a ser identificados por termos do futebol. O candidato à Presidência da República era o "centroavante" e o governador, o "meia". Senadores ocupavam a "ponta". E deputados federais e estaduais eram, respectivamente, "volantes" e "zagueiros". Quem não tinha cargo e pertencia às bases dos partidos ganhava o apelido de goleiros.
O documento entregue por Soares não deixa claro a qual eleição se refere, mas ele foi colocado pelo Supremo Tribunal Federal em uma pasta nomeada como 2014.

 (Foto: Arte/G1)

Codinomes militares

Além das referências ao futebol, outras planilhas da Odebrecht, com data de 2010, também relacionavam cargos políticos a patentes militares. Em uma das eleições, o cargo de presidente foi chamado de “general”, governador era “capitão”, senador “tenente”, deputado federal “sargento”, deputado estadual “cabo”.
Como capitão, por exemplo, foram listados codinomes como:
  • Balzac - identificado por deladores como Yeda Crusius (PSDB-RS)
  • Aspirina - Angela Amin (PP)
  • Fantasma - Ideli Salvatti (PT)
  • Brigão - Beto Richa (PSDB)
  • Caim - Osmar Dias (PDT)
Como tenente, aparecem entre os apelidos:
  • Desesperado - Germano Rigotto (PMDB)
  • Amante - Gleisi Hoffmann (PT-PR)
  • Dentuço - Gustavo Fruet (PDT)
Na coluna de sargentos, estão nomes como:
  • Italiano - Antonio Palocci (PT)
  • Avião - Manuela D'Avila
  • Aliado - Marco Maia (DEM) - também chamado em outras planilhas de gremista
  • Solução - Maria do Rosário (PT-RS)
  • Princesa - Cida Borghetti (PP)
  • Decodificado - Luiz Carlos Hauly (PSDB)

Como funcionavam os repasses

Em delação premiada, Luiz Soares explicou como funcionavam as planilhas. Ele disse que controlava os repasses lícitos, por meio de doações oficiais, e também os ilícitos. As ordens sobre quem deveria receber o que vinham de diretores da Odebrecht. Benedicto Júnior era o executivo que dirigia o departamento de Operações Estruturadas e direcionava o trabalho de Luiz Soares.
"Fazíamos diversos tipos de planilhas para acompanhamento", contou o delator. Em geral, elas traziam os nomes de partidos e políticos e os valores destinados a cada um antes das campanhas eleitorais. Soares disse que trabalhou com os documentos nas eleições de 2006, 2010 e 2012. Segundo ele, nas planilhas não apareciam obras ou outros assuntos de interesse da empreiteira.
Os repasses, disse o delator, eram sempre feitos aos partidos políticos.
"Nós nunca pagávamos os candidatos diretamente. Nós gostávamos de pagar para o diretório nacional. Daí o diretório nacional tinham que mandar para quem era de direito. Quem tinha contato com os políticos falava 'eu vou fazer a doação para você e estou mandando para o diretório nacional'", contou.
A Odebrecht, segundo relato de Luiz Soares, "não gostava" de fazer muitos pagamentos lícitos, porque isso chamava a atenção. A tesouraria corporativa da empresa cuidava das doações lícitas, enquanto o Setor de Operações Estruturadas das ilícitas. Conforme o colaborador, a Odebrecht e suas subsidiárias sempre ficavam abaixo do limite de 2% do faturamento para as doações. "Tínhamos 16 CNPJs, dava para brincar", ressaltou.
Segundo Benedicto Júnior, os apelidos eram usados para que os funcionários do “baixo clero” da área que fazia os repasses irregulares não ficassem sabendo para quem ia o dinheiro. As pessoas que tinham contato com as autoridades é que escolhiam os codinomes.

Esquerda de araque levou 30 anos para perceber que Lula, o corrupto, é só um vigarista

Com O Antagonista 

À esquerda de Lula

Uma parte da esquerda, com trinta anos de atraso, compreendeu que Lula é um reles aproveitador.
O site de Glenn Greenwald, por exemplo, fez uma boa reportagem sobre a conta corrente do Amigo no departamento de propinas da Odebrecht.
DO J.TOMAZ

Aloizio pediu R$1 milhão da Odebrecht via Edinho

 
O ex-ministro de Dilma Edinho Silva, então tesoureiro de campanha de Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo, procurou a Odebrecht em nome do candidato para pedir “doações”, em 2010. O ex-executivo Benedicto Júnior autorizou a propina pessoalmente, no caixa 2, segundo confessou. Edinho pediu R$1 milhão a Carlos Armando Paschoal, ex-executivo, mas a empreiteira só deu R$ 750 mil. Por fora. A informação é do colunista Cláudio Humberto, do Diário do Poder.
O codinome do ex-senador Aloizio Mercadante (PT-SP), na lista de propineiros da Odebrecht, era “Aracaju”. A cidade não merece.
A expectativa da Odebrecht era que Aloizio Mercadante poderia vencer a disputa contra Geraldo Alckmin (PSDB-SP). Aposta errada.
Os pagamentos das propinas para Mercadante, segundo o delato, foram no bairro de Moema, tudo combinado por Edinho Silva. DO D.DOPODER

Eliane Cantanhêde: De jararaca a crocodilo

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Publicado no Estadão
O ex-presidente Lula tem razão ao dizer que “cai a máscara” de todo o mundo político, porque tudo é realmente esclarecedor, além de estarrecedor, nas delações da cúpula da Odebrecht. Mas que adjetivo usar para a “conta Amigo” da Odebrecht? Era uma saco sem fundo, um cartão pré-pago em favor de Lula e gerenciado pelo ex-ministro Antonio Palocci.
Na versão de Marcelo Odebrecht, tanto para o juiz Sérgio Moro quanto para os procuradores, eram R$ 40 milhões à disposição de Palocci, o “Itália” das planilhas, que enviava emissários com sacolas para sacar R$ 1 milhão, R$ 2 milhões, R$ 3 milhões – em espécie!
Mesmo quando entravam em campo ministros como Guido Mantega e Paulo Bernardo, quem dizia “sim” a operações, negociatas, pagamentos e saques era Palocci. Está claro que ele agia como tesoureiro pessoal de Lula. E, aliás, jamais revelou quem era o proprietário real do apartamento de R$ 7 milhões que foi o pivô de sua queda da Casa Civil.
Nos demais envolvidos, havia caixa 2 e/ou relação de causa e efeito entre doações de campanha e favorecimento à empresa em licitações ou votações no Congresso, mas Lula tinha um tratamento muito diferenciado, com um saldo livre, independentemente de campanhas, mais uma ajudazinha para seu filho, seu irmão, seu sítio… A Odebrecht comprou não um mandato, mas o próprio Lula.
Ao atingir tão profundamente Lula, que já é réu em cinco processos, as delações têm impacto decisivo em 2018. Com Lula na disputa, o cenário é um, excluindo outros candidatos à esquerda e deixando os demais girando em torno dele. Sem Lula, o cenário é outro, com um estouro da boiada à esquerda, ao centro e à direita, repetindo aquela multidão de candidatos de 1989, quando se deu o desastre Collor.
Aliás, o que é a Odebrecht? Um conglomerado empresarial, uma empreiteira, um banco ou uma fábrica de corrupção? Sabe-se agora onde foram parar R$ 450 milhões que fluíram para os políticos, mas falta explicar de onde vieram. E ainda tem OAS, Camargo Corrêa…
Os vídeos e áudios, transmitidos incansavelmente, são a maior aula de política brasileira jamais vista ou imaginada neste País, mas vocês já repararam a tranquilidade, a coloquialidade, com que Emílio e Marcelo Odebrecht descrevem esse roteiro macabro? Eles falam as coisas mais absurdas como se fosse um palitar de dentes, assim como os executivos da empresa se referem ao tal Setor de Operações Estruturadas como se fosse normal como o almoxarifado. Isso revela décadas de compra do poder, tanto que são listados todos os ex-presidentes vivos, Sarney, Collor, FHC, Lula e Dilma.
Não há um governo, um dos maiores partidos, um dos principais líderes que escapem do terremoto. Não parece sobrar pedra sobre pedra nas pré-candidaturas petistas nem tucanas nem peemedebistas para 2018, nem legitimidade para os atuais e ex-presidentes da Câmara e do Senado tocarem a reforma da Previdência.
A estratégia do Planalto e do mercado de tentar separar duas pautas para o País, uma da Lava Jato, outra do “Brasil real”, parece não ter resistido dois dias. Se o presidente Michel Temer cumpriu agenda normal na quarta-feira, ontem já gravou um vídeo para negar que tenha participado de um pedido de US$ 40 milhões para o PMDB em uma reunião em São Paulo: “Jamais colocaria minha biografia em risco”. Ele acusou o golpe.
Piada. Em nota, assessores de Dilma dizem que “todas as decisões do seu governo foram voltadas ao desenvolvimento do País, buscando o bem-estar da população, a partir do programa eleito nas urnas”. Uma frase, três piadas.
Guerra. Como as delações são em vídeos, as reações dos políticos (FHC, Temer, Renan…) também passaram a ser. É vídeo contra vídeo. DO A.NUNES

Os detalhes das contas no exterior indicadas por Pedro Paulo

Nos próximos meses, a dor de cabeça de Pedro Paulo e Paes aumentará