Empreiteira também usava termos do futebol, como centroavante e goleiro, para identificar políticos pelo cargo que ocupavam.
No jogo das propinas da Odebrecht, o PT era o Flamengo e o PSDB, o
Corinthians. O PR ganhou o codinome de São Paulo e o DEM, de Fluminense (veja a lista completa abaixo).
Os apelidos aparecem em algumas das planilhas entregues ao Ministério
Público Federal (MPF) pelo delator Luiz Eduardo Soares, que atuou no
Setor de Operações Estruturadas – como era chamado o departamento de
propinas da empreiteira.
Candidatos a cargos do Executivo e Legislativo também chegaram a ser
identificados por termos do futebol. O candidato à Presidência da
República era o "centroavante" e o governador, o "meia". Senadores
ocupavam a "ponta". E deputados federais e estaduais eram,
respectivamente, "volantes" e "zagueiros". Quem não tinha cargo e
pertencia às bases dos partidos ganhava o apelido de goleiros.
O documento entregue por Soares não deixa claro a qual eleição se
refere, mas ele foi colocado pelo Supremo Tribunal Federal em uma pasta
nomeada como 2014.
Codinomes militares
Além das referências ao futebol, outras planilhas da Odebrecht, com
data de 2010, também relacionavam cargos políticos a patentes militares.
Em uma das eleições, o cargo de presidente foi chamado de “general”,
governador era “capitão”, senador “tenente”, deputado federal
“sargento”, deputado estadual “cabo”.
Como capitão, por exemplo, foram listados codinomes como:
- Balzac - identificado por deladores como Yeda Crusius (PSDB-RS)
- Aspirina - Angela Amin (PP)
- Fantasma - Ideli Salvatti (PT)
- Brigão - Beto Richa (PSDB)
- Caim - Osmar Dias (PDT)
Como tenente, aparecem entre os apelidos:
- Desesperado - Germano Rigotto (PMDB)
- Amante - Gleisi Hoffmann (PT-PR)
- Dentuço - Gustavo Fruet (PDT)
Na coluna de sargentos, estão nomes como:
- Italiano - Antonio Palocci (PT)
- Avião - Manuela D'Avila
- Aliado - Marco Maia (DEM) - também chamado em outras planilhas de gremista
- Solução - Maria do Rosário (PT-RS)
- Princesa - Cida Borghetti (PP)
- Decodificado - Luiz Carlos Hauly (PSDB)
Como funcionavam os repasses
Em delação premiada, Luiz Soares explicou como funcionavam as
planilhas. Ele disse que controlava os repasses lícitos, por meio de
doações oficiais, e também os ilícitos. As ordens sobre quem deveria
receber o que vinham de diretores da Odebrecht. Benedicto Júnior era o
executivo que dirigia o departamento de Operações Estruturadas e
direcionava o trabalho de Luiz Soares.
"Fazíamos diversos tipos de planilhas para acompanhamento", contou o
delator. Em geral, elas traziam os nomes de partidos e políticos e os
valores destinados a cada um antes das campanhas eleitorais. Soares
disse que trabalhou com os documentos nas eleições de 2006, 2010 e 2012.
Segundo ele, nas planilhas não apareciam obras ou outros assuntos de
interesse da empreiteira.
Os repasses, disse o delator, eram sempre feitos aos partidos políticos.
"Nós nunca pagávamos os candidatos diretamente. Nós gostávamos de pagar
para o diretório nacional. Daí o diretório nacional tinham que mandar
para quem era de direito. Quem tinha contato com os políticos falava 'eu
vou fazer a doação para você e estou mandando para o diretório
nacional'", contou.
A Odebrecht, segundo relato de Luiz Soares, "não gostava" de fazer
muitos pagamentos lícitos, porque isso chamava a atenção. A tesouraria
corporativa da empresa cuidava das doações lícitas, enquanto o Setor de
Operações Estruturadas das ilícitas. Conforme o colaborador, a Odebrecht
e suas subsidiárias sempre ficavam abaixo do limite de 2% do
faturamento para as doações. "Tínhamos 16 CNPJs, dava para brincar",
ressaltou.
Segundo Benedicto Júnior, os apelidos eram usados para que os
funcionários do “baixo clero” da área que fazia os repasses irregulares
não ficassem sabendo para quem ia o dinheiro. As pessoas que tinham
contato com as autoridades é que escolhiam os codinomes.
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