quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Salários pagos pelo BNDES fazem 'corar qualquer pessoa de bom senso', diz ministro do TCU

Tribunal começa a fazer varredura nos salários e benefícios de remuneração pagos pelas estatais federais

André Borges, O Estado de S.Paulo
10 Agosto 2017 | 15h34
BRASÍLIA - O Tribunal de Contas da União (TCU) começou a fazer uma varredura nos salários e benefícios de remuneração pagos pelas estatais federais. O objetivo é identificar exageros da gestão pública e possíveis irregularidades na concessão de benefícios.

A auditoria foi aprovada pelo plenário da corte de contas no dia 14 de junho e está sendo conduzida pelo ministro relator Walton Alencar Rodrigues. Em sua justificativa para realizar o trabalho, Walton citou o exemplo do BNDES, banco estatal que, segundo o ministro, chegou a transferir “centenas de milhões de reais da atividade fim da instituição para seu fundo de pensão, de forma absolutamente criminosa, inconstitucional e ilegal”ctv-ool-tcu
“Cito especificamente o BNDES, cujos 5 mil  empregados, sobre receberem 16 salários por ano, fazem-no em valores que fariam corar qualquer pessoa dotada de bom senso. Afinal, não dependem do Tesouro, mas a União é a maior acionista”, afirmou Walton, em comunicado que oficializou o início da auditoria. “Em última análise, é dinheiro público que custeia os altíssimos salários. E indago com que moral ou fundamento pode um bancário da estrutura ordinária de uma empresa estatal ganhar mais do que um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), digo, várias vezes o subsídio de um ministro do STF, ou plúrimas vezes o que ganha o seu congênere na iniciativa privada.”

Segundo o ministro, todos os dados relacionados aos salários pagos pelas estatais no Brasil “constituem segredo guardado a sete chaves” e que, quando tornados públicos, passam a ser “motivo de escândalo”. “Veja que não estou a tratar do quadro de dirigentes, mas do empregado normal, integrante da estrutura de pessoal da estatal. Para mim, a violação do princípio da moralidade é evidente e patente”, declarou Walton, na ocasião.DO ESTADÃO

Bolsa político: 10 motivos para impedi-la


Sérgio Lima-28.mar.2012/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL 28-03-2012, 18h30 Deputado Vicente Candido (relator) na sessao no plenário da Camara dos Deputados para votar a Lei Geral da Copa. (Foto: Sergio Lima/Folhapress PODER)
A Câmara dos Deputados apresentou na quarta (9) seu Cavalo de Troia. Ele vem sendo articulado há meses, recheado de maldades, para roubar de nós, cidadãos brasileiros, a pouca esperança que nos resta. Dentro dele, nossos parlamentares, quase todos eles, esfregam as mãos esperando a torneira de dinheiro ser aberta para que possam gastar em suas campanhas.
O Cavalo de Troia é o novo Fundo Eleitoral que Vicente Cândido, do PT, quer criar para que nós cidadãos contribuamos com R$ 3,6 bilhões adicionais para a campanha de nossos pobres políticos.
A proposta de Vicente, uma atrocidade moral que eles ousam chamar de Reforma Política, carrega armadilhas perversas. Aponto aqui as mais graves.
1. Nosso país está quebrado. A "meta" de rombo, neste ano, é de R$ 139 bilhões, e o governo está em dificuldades para honrá-la. Sem a reforma da previdência, e gastando desvairadamente para comprar apoio no Congresso, está num beco sem saída. Vai ter que aumentar o rombo, ou aumentar impostos. Os dois cairão no nosso colo. Jornais mostraram nesta semana fotos de hospitais públicos que, sem verbas, não podem fazer cirurgias de coração. Enquanto tem gente morrendo por falta de dinheiro, irresponsáveis querem mais dinheiro para eleições. É uma atrocidade.
2. A população não quer. Qualquer pesquisa mostraria que não há um brasileiro sequer disposto a pagar um novo fundo eleitoral. Ora, são os deputados e senadores nossos representantes ou não? Ao implementar algo que nenhum de seus eleitores quer, merecem continuar lá? Estão lá por eles ou por nós? Merecem ser reeleitos? Têm alguma legitimidade moral?
3. Não há tempo para debate e discussão pública. Faltam menos de dois meses para acabar o prazo constitucional para mudanças de legislação eleitoral, que têm que ser feitas até início de outubro —um ano antes das eleições. Os deputados postergaram o trâmite deliberadamente, para que seja feito a toque de caixa, com a desculpa do prazo. Tentarão aprovar a reforma, de forma expressa e dissimulada, votando em madrugadas. Discussões de assuntos do interesse do povo levam meses. A discussão na comissão da Câmara foi feita em um dia. Fique de olho, eles vão voar.
4. A proposta diminui a representatividade. Como se não bastasse a já combalida representatividade do nosso Congresso, qualquer aumento de dinheiro público a piora, e muito. Para entender o porquê, imagine hipoteticamente que os partidos políticos tivessem acesso ilimitado a recursos públicos. Para que precisariam dar satisfação à população e aos seus eleitores, se têm recursos para comprar os votos dos menos informados? Por outro lado, com menos dinheiro público, teriam que cativar suas bases, criar militantes e contribuidores, pesquisar o que querem, e representá-los no congresso. Enfim, precisariam se aproximar dos eleitores. Dinheiro público é inversamente proporcional à representatividade.
5. O fundo é variável. Vicente Cândido, que não é bobo, está tentando fixar o valor do novo fundo como um percentual da RCL (Receita Corrente Líquida) da União. Ele havia sinalizado 0,25% da RCL. Agora quer dobrar para 0,50%. Isso daria, este ano, R$ 3,6 bilhões. Porém, como sabemos, estamos ainda no fundo do poço criado por Dilma, Lula e o PT. Quando a economia se recuperar, a RCL também crescerá, e com ela o Fundo Eleitoral. Para você ter uma ideia, a RCL mais do que triplicou nos últimos 15 anos. Podemos ter que contribuir, daqui a quatro eleições, com R$ 11 bilhões para campanhas eleitorais. O Cavalo de Troia pode virar um tirano(ssauro) que se alimenta de dinheiro.
6. Os valores atuais já são exorbitantes. O Fundo partidário foi triplicado por Romero Jucá em 2015 e, hoje, é de R$ 819 milhões (sem contar as concessões de tempo em rádio e TV, na ordem de centenas de milhões de reais). Eles não querem aumentar esse valor em 10%, mas em 340%. Seria 12 vezes o valor de 2014.
7. Os gastos partidários não são transparentes. Partidos não têm rigor na forma que prestam contas. Cada um faz de seu jeito, agrega valores da forma que bem entende, e pode mudar a metodologia de um ano para outro. Não há transparência dos gastos do dinheiro da sociedade para a sociedade.
8. Mesmo sem o Fundo, partidos grandes já receberiam mais. Com a cláusula de barreira proposta, partidos menores não terão acesso a dinheiro público. Em vez de deduzir esses valores da contribuição da sociedade, eles serão redistribuídos aos partidos grandes.
9. Há alternativas. Os parlamentares estão argumentando que, na ausência do financiamento privado, precisam aumentar o público. Não é verdade, pois podem mudar o sistema, implementando outro mais barato e eficiente. O "distritão" (será alvo de outro artigo), apesar de perverso, já é mais barato que o atual sistema proporcional, por ter menos candidatos. Mas a melhor solução, em termos de custo e representatividade, seria a adoção do sistema distrital, que pode diminuir os custos de campanhas em até 80%. Por que não implementar agora essa modalidade, cogitada apenas para 2022?
10. A renovação política será comprometida. Os atuais parlamentares querem essa reforma para terem maiores chances de se reeleger. Se o conseguirem, perderemos uma enorme, talvez a maior, chance de renovação do nosso Congresso. Reeleitos, além de darem continuidade ao abominável desserviço que vêm prestando ao país, eles podem piorar o sistema ainda mais, revertendo medidas que estão prometendo para 2022.
A proposta de Vicente Cândido, a ser votada nas duas casas, e já apoiada pela quase totalidade do Congresso, não é reforma, mas ROMBO político, financeiro e de representatividade, que estão tentando enfiar nossa goela abaixo.
É o momento de acordarmos e exercermos cidadania. Se não o fizermos, perderemos a maior, talvez a única, chance de renovação política para tirar o Brasil deste buraco. E você? Vai ficar no sofá assistindo? DA FOLHA

Fux homologa ‘monstruosa’ delação de ex-governador de MT

Silval Barbosa fez acordo após prisão na Operação Sodoma, que apura esquema de propina em troca da concessão de incentivos fiscais


O ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, homologou nesta quarta-feira (9) a delação premiada de Silval Barbosa (PMDB), ex-governador de Mato Grosso. Na semana passada, o ministro havia dito que se trata de uma delação “monstruosa”.
RELEMBRE: Polícia prende outra vez Silval Barbosa, ex-governador de Mato Grosso
Silval Barbosa, que foi governador de Mato Grosso entre 2010 e 2014, fez delação premiada após prisão na Operação Sodoma, sob suspeita de liderar esquema de recebimento de propina em troca da concessão de incentivos fiscais. Na delação ele deve fazer revelações que têm relação tanto com a Operação Sodoma quanto com a Operação Ararath, na qual também é investigado.
Em junho deste ano, a juíza Selma Santos Arruda, da 7.ª Vara Criminal de Cuiabá, autorizou a transferência do ex-governador do regime fechado para a prisão domiciliar. A decisão foi proferida no âmbito da Operação Sodoma e levou em conta o fato de Barbosa ter confessado uma série de crimes e disponibilizado para a Justiça mais de R$ 40 milhões em bens.
Ao comentar sobre o conteúdo da delação na semana passada, o ministro Fux provocou grande expectativa quanto ao que pode ser revelado pelo delator. “Essa é monstruosa, depois da Lava Jato é a maior operação. Silval trouxe material, mas não foi homologada ainda”, disse o ministro a jornalistas, ao chegar para a sessão plenária do STF da quarta-feira (2).
Na ocasião, a defesa do ex-governador informou que não iria comentar o acordo.
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Nesta quarta-feira, 9, antes da sessão plenária do Supremo Tribunal Federal, Fux disse que não poderia fazer mais comentários sobre a delação de Silval Barbosa.
Os conteúdos trazidos pelo ex-governador poderão motivar novas operações da Polícia Federal no âmbito de investigações existentes ou originadas a partir da delação.
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Fux já havia homologado a delação premiada de Pedro Nadaf, ex-chefe da Casa Civil do governo de Mato Grosso. Nadaf disse em recente depoimento ao Ministério Público de Mato Grosso que Silval Barbosa lhe afirmou haver pago cerca de R$ 50 milhões em propina para conselheiros do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso. DO ESTADÃO
Breno Pires e Rafael Moraes Moura, de Brasília
10 Agosto 2017 | 00h07

Bolsa eleição sem qualificação do gasto é tunga

Josias de Souza

Em sessão que entrou pela madrugada desta quinta-feira, a comissão que trata da pseudoreforma política aprovou seu texto-base. E já iniciou a análise das emendas. Tudo ainda pode mudar, exceto um ponto: o Bolsa Eleição, fundo criado para financiar campanhas eleitorais com verba pública, é intocável. Para 2018, reservaram-se R$ 3,6 bilhões. A coisa foi batizada de Fundo Especial de Financiamento da Democracia. Jamais foi inventado nome mais bonito para tunga.
No fundo, no fundo a única coisa que interessa aos congressistas é o fundo. Desde que o Supremo Tribunal Federal proibiu as contribuições eleitorais de empresas, a turma não pensa noutra coisa. A medida é um avanço. Supostos representantes do povo avançam sobre o bolso de contribuintes que não se consideram representados. Fazem isso sem incluir no debate meio quilo de ideias sobre o barateamento das campanhas. Derramam dinheiro limpinho numa poça de lama.
Relator da proposta, o petista Vicente Cândido suprimiu do texto até as regras sobre a divisão do dinheiro conforme o cargo em disputa. Por ora, está entendido que a cúpula dos partidos poderá ratear a grana como bem entender. Num instante em que o governo ameaça a plateia com o aumento de impostos, os parlamentares criaram para si uma forma graciosa de gastar dinheiro público como se fosse dinheiro grátis.
Pela proposta, o Congresso não precisará quebrar a cabeça para remanejar verbas do Orçamento da União. Decidiu-se escrever na Constituição que os bilhões eleitorais poderão estourar o teto de gastos, convertendo-se em déficit público. A divisão do bolo entre os partidos será definida noutro projeto. Nenhuma palavra sobre a imposição de limites à marquetagem milionária que vende candidatos como sabonetes. Nada sobre a reformulação da propaganda-espetáculo. Nem sinal de mecanismos de fiscalização e punição para os lavajatistas que continuarem bebendo no caixa dois.
Enquanto os congressistas definiam os contornos da tunga, Michel Temer discutia com a equipe econômica, do outro lado da Praça dos Três Poderes, o estouro do déficit nas contas públicas. A meta fiscal para 2017, que previa um rombo de R$ 139 bilhões, vai virar uma cratera ainda maior. Coisa de R$ 158 bilhões. A meta para 2018, antes deficitária em 129 bilhões, deve virar um abismo de R$ 170 bilhões.
É contra esse pano de fundo que os congressistas informam aos contribuintes que ninguém deve fazer muitas perguntas sobre a mordida eleitoral. Pague o Imposto de Renda e todas as outras tributações em dia. E vê se não chateia.