Presidente interino do PSDB, o senador Tasso Jereissati passou a
defender
a saída de Aécio Neves do comando da legenda. “Eu acho que ele não tem
mais condições, dentro das circunstâncias, de ficar na presidência do
partido”, disse Tasso nesta quarta-feira. “Precisamos ter uma solução
definitiva, e não provisória. Não tem mais condições.” Heimmmm?!?!?
Na véspera, Tasso e todos os tucanos presentes à sessão do Senado posicionaram-se a favor de Aécio na
votação
que devolveu ao correligionário o mandato que o Supremo Tribunal
Federal havia congelado. Quer dizer: depois de impor aos brasileiros o
retorno de Aécio à ribalta, o tucanato quer se livrar do companheiro
tóxico,
renunciando-o de uma presidência partidária da qual já está licenciado.
Submetido
ao paradoxo, Tasso disse que a decisão do Senado foi “mal
interpretada”. Hã?!? “No meu entender, é dar ao senador Aécio o que ele
não teve até agora, que foi o direito de defesa.” Conversa fiada.
Afastado do mandato, Aécio conservava intactos os direitos de
investigado. O que lhe falta não é direito de defesa, mas a própria
defesa. Os R$ 2 milhões recebidos da JBS em malas e mochilas
transformaram o príncipe do tucanato num sapo indefeso.
“Agora,
aqui, no próprio Senado, ele vai ter o Conselho de Ética. E, no Conselho
de Ética, vai ter que se defender”, acrescentou Tasso. Lorota. Aécio já
teve a chance de enfrentar de fronte alta um primeiro pedido de
cassação do seu mandato. Preferiu a fuga. Aliou-se à fina flor do
arcaísmo para obter o arquivamento da representação no Conselho de
Ética. Acossado por uma segunda peça, nada faz supor que adotará
comportamento distinto.
“Ao mesmo tempo, o julgamento no Supremo
continua”, prosseguiu Tasso. “E, no Supremo também ele vai ter o direito
de apresentar sua defesa.” Lero-lero. Se Tasso estivesse preocupado com
os rumos do processo, teria votado não a favor de Aécio, mas da
manutenção da decisão da Primeira Turma da Suprema Corte. O afastamento
de Aécio não prejudicava a defesa. Ao contrário, era um estímulo para
que o investigado priorizasse a busca de explicações que ainda não foi
capaz de apresentar.
Devolvido ao Senado como se nada tivesse sido
descoberto sobre ele, Aécio ganha outra prioridade: conspirar contra
qualquer iniciativa que se pareceça com um esforço anticorrupção. Vale a
pena, a propósito, recordar um trecho do diálogo vadio que o senador
tucano manteve com o delator Joesley Batista, da JBS:
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—
Aécio: Esses vazamentos, essa porra toda, é uma ilegalidade.
—
Joesley: Não vai parar com essa merda?
—
Aécio:
Cara, nós tamos vendo (…) Primeiro temos dois caras frágeis pra caralho
nessa história é o Eunício [Oliveira, presidente do Senado] e o Rodrigo
[Maia, presidente da Câmara], o Rodrigo especialmente também, tinha que
dar uma apertada nele que nós tamos vendo o texto (…) na terça-feira.
—
Joesley: Texto do quê?
—
Aécio: Não… São duas coisas, primeiro cortar o pra trás (…) de quem doa e de quem recebeu.
—
Joesley: E de quem recebeu.
—
Aécio:
Tudo. Acabar com tudo esses crimes de falsidade ideológica, papapá, que
é que na, na, na mão [dupla], texto pronto nãnã. O Eunício afirmando
que tá com colhão pra votar, nós tamo (sic). Porque o negócio agora não
dá para ser mais na surdina, tem que ser o seguinte: todo mundo assinar,
o PSDB vai assinar, o PT vai assinar, o PMDB vai assinar, tá montada. A
ideia é votar na… Porque o Rodrigo devolveu aquela tal das Dez Medidas,
a gente vai votar naquelas dez… Naquela merda das Dez Medidas toda essa
porra. O que eu tô sentindo? Trabalhando nisso igual um louco.
—
Joesley: Lógico.
—
Aécio: O Rodrigo enquanto não chega nele essa merda direto, né?
—
Joesley: Todo mundo fica com essa. Não…
—
Aécio:
E, meio de lado, não, meio de leve, meio de raspão, né, não vou morrer.
O cara, cê tinha que mandar um, um, cê tem ajudado esses caras pra
caralho, tinha que mandar um recado pro Rodrigo, alguém seu, tem que
votar essa merda de qualquer maneira, assustar um pouco, eu tô
assustando ele, entendeu? Se falar coisa sua aí… forte. Não que isso?
Resolvido isso tem que entrar no abuso de autoridade… O que esse
Congresso tem que fazer. Agora tá uma zona por quê? O Eunício não é o
Renan.
—
Joesley: Já andaram batendo no Eunício aí, né? Já andaram batendo nas coisas do Eunício, negócio da empresa dele, não sei o quê.
—
Aécio:
Ontem até… Eu voltei com o Michel ontem, só eu e o Michel, pra saber
também se o cara vai bancar, entendeu? Diz que banca, porque tem que
sancionar essa merda, imagina bota cara.
—
Joesley: E aí ele chega lá e amarela.
—
Aécio:
Aí o povo vai pra rua e ele amarela. Apesar que a turma no torno dele, o
Moreira [Franco], esse povo, o próprio [Eliseu] Padilha não vai deixar
escapulir. Então chegando finalmente a porra do texto, tá na mão do
Eunício.
(…)
—
Joesley: Esse é bom?
—
Aécio:
Tá na cadeira (…). O ministro [da Justiça] é um bosta de um caralho,
que não dá um alô, peba, está passando mal de saúde pede pra sair.
Michel tá doido. Veio só eu e ele ontem de São Paulo, mandou um cara lá
no Osmar Serraglio, porque ele errou de novo de nomear essa porra desse
(…). Porque aí mexia na PF. O que que vai acontecer agora? Vai vim um
inquérito de uma porrada de gente, caralho, eles são tão bunda mole que
eles não (têm) o cara que vai distribuir os inquéritos para o delegado.
Você tem lá cem, sei lá, 2.000 delegados da Polícia Federal. Você tem
que escolher dez caras, né?, do Moreira, que interessa a ele vai pro
João.
—
Joesley: Pro João.
—
Aécio: É. O Aécio vai pro Zé (…)
(…)
—
Aécio: Tem que tirar esse cara.
—
Joesley: É, pô. Esse cara já era. Tá doido.
—
Aécio: E o motivo igual a esse?
—
Joesley: Claro. Criou o clima.
—
Aécio: É ele próprio já estava até preparado para sair.
—
Joesley: Claro. Criou o clima.
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Difícil
saber o que é maior, se a desfaçatez ou a insensatez. Ao pregar a saída
de Aécio da presidência do PSDB um dia depois de ter votado a favor do
retorno dele ao Senado, Tasso Jereissati exagera no cinismo. Parece
supor que a plateia é feita de bobos. Luta por um partido limpinho ao
mesmo tempo que tenta zelar pelo conforto do companheiro enlameado.
Ainda não se deu conta. Mas faz o papel do sujeito que tenta fugir do
mau cheiro abraçado a um gambá.