quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Delegado abre o jogo no caso do filho de Lula



O psicólogo e ex-vereador Marcos Cláudio Lula da Silva vive momento de extrema dificuldade, sem qualquer atividade, derrotado na reeleição para vereador em São Bernardo do Campo e sob a suspeita de envolvimento com drogas.
O fato é que o filho de Lula por algum motivo está refugiado e isolado em Paulínia, morando na casa de um amigo e por suas atitudes despertando suspeitas na vizinhança.
A denúncia partiu justamente de um vizinho. O cidadão ligou dizendo que suspeitava que havia armas e drogas em duas residências na região, uma delas onde residia o filho do ex-presidente.
Tratando-se de uma denúncia muito séria, o cidadão foi convidado a comparecer na delegacia. Esse morador foi até a presença da autoridade policial, se identificou e narrou os motivos de suas suspeitas.
Na sequência, a polícia fez campanas na região. As suspeitas aumentaram em função da movimentação no imóvel e a presença de veículos com placas de outros estados.
Tais fatos foram relatados para a juíza da comarca de Paulínia, que diante do relato, deferiu o pedido de busca e apreensão.
Tratou-se, portanto, de uma ação eminentemente policial, sem qualquer cunho político eleitoral.
Até a realização da diligência para cumprimento do mandado de busca e apreensão, não se sabia quem era o morador da residência sob suspeita.
O alvo era o local e não os moradores da residência.
No dia dos fatos, não foram encontrados drogas. Diante disso, a polícia fez a apreensão de outros objetos como computador e DVDs, um material que periciado poderia apontar indícios de infrações penais.
Antes que qualquer perícia fosse realizada, a Justiça determinou a devolução de tudo o que foi apreendido, o delegado foi afastado e o filho de Lula saiu ileso.
Só não explicou o que faz em Paulínia, cidade conhecida pelo grande volume de circulação de drogas e armamento pesado.
Quanto ao delegado que conduziu a operação, Rodrigo Luís Galazzo, em entrevista a Revista Veja ele garante que ‘não se arrepende de nada’ e que se voltasse no tempo, ‘faria tudo exatamente igual’.
da Redação DO J.DACIDADE

Abraçado ao gambá, PSDB foge do mau cheiro

Josias de Souza
Presidente interino do PSDB, o senador Tasso Jereissati passou a defender a saída de Aécio Neves do comando da legenda. “Eu acho que ele não tem mais condições, dentro das circunstâncias, de ficar na presidência do partido”, disse Tasso nesta quarta-feira. “Precisamos ter uma solução definitiva, e não provisória. Não tem mais condições.” Heimmmm?!?!?
Na véspera, Tasso e todos os tucanos presentes à sessão do Senado posicionaram-se a favor de Aécio na votação que devolveu ao correligionário o mandato que o Supremo Tribunal Federal havia congelado. Quer dizer: depois de impor aos brasileiros o retorno de Aécio à ribalta, o tucanato quer se livrar do companheiro tóxico, renunciando-o de uma presidência partidária da qual já está licenciado.
Submetido ao paradoxo, Tasso disse que a decisão do Senado foi “mal interpretada”. Hã?!? “No meu entender, é dar ao senador Aécio o que ele não teve até agora, que foi o direito de defesa.” Conversa fiada. Afastado do mandato, Aécio conservava intactos os direitos de investigado. O que lhe falta não é direito de defesa, mas a própria defesa. Os R$ 2 milhões recebidos da JBS em malas e mochilas transformaram o príncipe do tucanato num sapo indefeso.
“Agora, aqui, no próprio Senado, ele vai ter o Conselho de Ética. E, no Conselho de Ética, vai ter que se defender”, acrescentou Tasso. Lorota. Aécio já teve a chance de enfrentar de fronte alta um primeiro pedido de cassação do seu mandato. Preferiu a fuga. Aliou-se à fina flor do arcaísmo para obter o arquivamento da representação no Conselho de Ética. Acossado por uma segunda peça, nada faz supor que adotará comportamento distinto.
“Ao mesmo tempo, o julgamento no Supremo continua”, prosseguiu Tasso. “E, no Supremo também ele vai ter o direito de apresentar sua defesa.” Lero-lero. Se Tasso estivesse preocupado com os rumos do processo, teria votado não a favor de Aécio, mas da manutenção da decisão da Primeira Turma da Suprema Corte. O afastamento de Aécio não prejudicava a defesa. Ao contrário, era um estímulo para que o investigado priorizasse a busca de explicações que ainda não foi capaz de apresentar.
Devolvido ao Senado como se nada tivesse sido descoberto sobre ele, Aécio ganha outra prioridade: conspirar contra qualquer iniciativa que se pareceça com um esforço anticorrupção. Vale a pena, a propósito, recordar um trecho do diálogo vadio que o senador tucano manteve com o delator Joesley Batista, da JBS:

Aécio: Esses vazamentos, essa porra toda, é uma ilegalidade.
Joesley: Não vai parar com essa merda?
Aécio: Cara, nós tamos vendo (…) Primeiro temos dois caras frágeis pra caralho nessa história é o Eunício [Oliveira, presidente do Senado] e o Rodrigo [Maia, presidente da Câmara], o Rodrigo especialmente também, tinha que dar uma apertada nele que nós tamos vendo o texto (…) na terça-feira.
Joesley: Texto do quê?
Aécio: Não… São duas coisas, primeiro cortar o pra trás (…) de quem doa e de quem recebeu.
Joesley: E de quem recebeu.
Aécio: Tudo. Acabar com tudo esses crimes de falsidade ideológica, papapá, que é que na, na, na mão [dupla], texto pronto nãnã. O Eunício afirmando que tá com colhão pra votar, nós tamo (sic). Porque o negócio agora não dá para ser mais na surdina, tem que ser o seguinte: todo mundo assinar, o PSDB vai assinar, o PT vai assinar, o PMDB vai assinar, tá montada. A ideia é votar na… Porque o Rodrigo devolveu aquela tal das Dez Medidas, a gente vai votar naquelas dez… Naquela merda das Dez Medidas toda essa porra. O que eu tô sentindo? Trabalhando nisso igual um louco.
Joesley: Lógico.
Aécio: O Rodrigo enquanto não chega nele essa merda direto, né?
Joesley: Todo mundo fica com essa. Não…
Aécio: E, meio de lado, não, meio de leve, meio de raspão, né, não vou morrer. O cara, cê tinha que mandar um, um, cê tem ajudado esses caras pra caralho, tinha que mandar um recado pro Rodrigo, alguém seu, tem que votar essa merda de qualquer maneira, assustar um pouco, eu tô assustando ele, entendeu? Se falar coisa sua aí… forte. Não que isso? Resolvido isso tem que entrar no abuso de autoridade… O que esse Congresso tem que fazer. Agora tá uma zona por quê? O Eunício não é o Renan.
Joesley: Já andaram batendo no Eunício aí, né? Já andaram batendo nas coisas do Eunício, negócio da empresa dele, não sei o quê.
Aécio: Ontem até… Eu voltei com o Michel ontem, só eu e o Michel, pra saber também se o cara vai bancar, entendeu? Diz que banca, porque tem que sancionar essa merda, imagina bota cara.
Joesley: E aí ele chega lá e amarela.
Aécio: Aí o povo vai pra rua e ele amarela. Apesar que a turma no torno dele, o Moreira [Franco], esse povo, o próprio [Eliseu] Padilha não vai deixar escapulir. Então chegando finalmente a porra do texto, tá na mão do Eunício.
(…)
Joesley: Esse é bom?
Aécio: Tá na cadeira (…). O ministro [da Justiça] é um bosta de um caralho, que não dá um alô, peba, está passando mal de saúde pede pra sair. Michel tá doido. Veio só eu e ele ontem de São Paulo, mandou um cara lá no Osmar Serraglio, porque ele errou de novo de nomear essa porra desse (…). Porque aí mexia na PF. O que que vai acontecer agora? Vai vim um inquérito de uma porrada de gente, caralho, eles são tão bunda mole que eles não (têm) o cara que vai distribuir os inquéritos para o delegado. Você tem lá cem, sei lá, 2.000 delegados da Polícia Federal. Você tem que escolher dez caras, né?, do Moreira, que interessa a ele vai pro João.
Joesley: Pro João.
Aécio: É. O Aécio vai pro Zé (…)
(…)
Aécio: Tem que tirar esse cara.
Joesley: É, pô. Esse cara já era. Tá doido.
Aécio: E o motivo igual a esse?
Joesley: Claro. Criou o clima.
Aécio: É ele próprio já estava até preparado para sair.
Joesley: Claro. Criou o clima.

Difícil saber o que é maior, se a desfaçatez ou a insensatez. Ao pregar a saída de Aécio da presidência do PSDB um dia depois de ter votado a favor do retorno dele ao Senado, Tasso Jereissati exagera no cinismo. Parece supor que a plateia é feita de bobos. Luta por um partido limpinho ao mesmo tempo que tenta zelar pelo conforto do companheiro enlameado. Ainda não se deu conta. Mas faz o papel do sujeito que tenta fugir do mau cheiro abraçado a um gambá.

Temer abre os cofres por Aécio: R$ 200 milhões

Josias de Souza
Unido a Aécio Neves por solidariedade política e penal, Michel Temer mobilizou-se para devolver ao senador tucano o mandato, a liberdade noturna e o passaporte. O presidente gastou mais do que saliva. Para virar votos no plenário do Senado, Temer autorizou seus operadores políticos a acenar com a liberação de R$ 200 milhões em emendas orçamentárias.
Aécio precisava de pelo menos 41 votos. Amealhou 44 apoios. Os três apoios excedentes vieram da bancada do Mato Grosso do Sul: Simone Tebet e Waldemir Moka, ambos do PMDB; e Pedro Chaves, do PSC. Em privado, diziam que votariam contra Aécio. Após o aceno orçamentário, votaram a favor.
Convalescendo de uma cirurgia, o senador Romero Jucá, presidente do PMDB e líder do governo, avisara que não daria as caras no plenário nesta terça-feira. Ao farejar o cheiro de queimado, Temer estimulou-o a comparecer. Além de gotejar mais um voto no cesto de Aécio, Jucá ajudou o Planalto a demonstrar aos aliados que havia milhões de razões para socorrer Aécio.
Presidente do Conselho de Ética, o senador João Alberto, que já aliviara a barra de Aécio uma vez, arquivando um pedido de cassação do seu mandato, estava com uma cirurgia agendada para o horário da votação. Desmarcou. João Alberto é homem de José Sarney, que trata Aécio como um neto desde que herdou do avô dele, Tancredo Neves, a poltrona de presidente da República.
Numa terceira tentativa de prejudicar Aécio, a bruxa provocou um mal súbito no senador Paulo Bauer, líder do PSDB. Levaram-no para um hospital. Abre-alas do bloco ‘Somos Todos Aécio’, Renan Calheiros ponderou: “É fundamental fazermos um apelo ao senador Paulo Bauer, para que ele faça um esforço a mais e venha. Afinal, o João Alberto cancelou uma cirurgia. E o Romero Jucá teve arrancada metade das tripas e está aqui. Firme!”
Tirado da forca sem método, Aécio fez pose numa nota oficial: ''A decisão restabeleceu princípios essenciais de um Estado democrático”, escreveu. Para bom entendedor, suas meias palavras soaram como uma insinuação de que o Supremo atentara contra a democracia ao suspender-lhe o mandato.
Salvo pelo déficit público à moda de Temer, pela recuperação dos enfermos, pela solidariedade suicida do tucanato e pelo instinto de sobrevivência de 17 senadores que votaram com o nó da Lava Jato no pescoço, Aécio está agora em posição análoga à da formiguinha da anedota —aquela que foi resgatada pelo elefante.
Não basta a Aécio dizer “muito obrigado”. Temer espera receber sua retribuição na Câmara, onde tramita a segunda denúncia da Procuradoria contra ele. Aécio já ajudara a organizar o enterro da primeira denúncia. O Planalto espera que auxilie muito mais no segundo velório. Uma mão lava a outra. Mas o resto permanece sujo. O ruído que se ouve ao fundo é o eco do diálogo vadio que Aécio manteve com o delator Joesley Batista.

Devassidão ética inviabiliza o esconde-esconde

Josias de Souza

Em meio ao surto de devassidão ética que acometeu a política brasileira, os políticos passaram a cultivar o desejo de viver uma vida pública como se fosse privada. O Senado se esforçou para votar o caso de Aécio Neves secretamente. Michel Temer e seus aliados se irritaram com a divulgação do conteúdo da delação do doleiro Lúcio Funaro, que expôs detalhes da relação íntima do presidente com a banda devassa do PMDB. Todos fogem dos olhares do eleitor.
A má notícia é que os políticos, sempre apaixonados pela sombra, continuam se esforçando para sonegar informações à opinião pública. Não se deram conta de que a sujeira já vazou pelas bordas do tapete. A boa notícia é que a tentativa frustrada de fuga expõe um certo sentimento de vergonha. Não resolve o problema. Mas pode ser um começo. Resta torcer para que o eleitor saiba usar a transparêcia a seu favor.
Se pudessem, os políticos apagariam as luzes eternamente, com medo de que houvesse eleitores escondidos no claro. Por sorte, já não é possível brincar de esconde-esconde na política. As listas de votação estarão na vitrine de 2018. No Senado, o caso de Aécio. Na Câmara, o caso de Temer. E todos os outros casos que ainda estão por vir. Os políticos já não conseguem escapar nem mesmo do espelho, cujo reflexo é de uma franqueza brutal e irretocável.