A história que segue, relatada pela Agência A Tarde, da Bahia, é do balocobaco. É um pouca longa, mas não deixe de ler. Ao conhecer um acampamento do MST, suas regras e sua ética, quatro haitianos descobrem onde, de fato, fica o… Haiti…
Por Mário Bittencourt, da Agência A Tarde:
Embora seus integrantes tenham sido tratados com carne, verduras e banheiros químicos pelo governo baiano (apesar de terem invadido e acampado no estacionamento e entorno da Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária do Estado semana passada), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra-MST não retribuiu a gentileza a quatro estudantes universitários haitianos que vieram para o Brasil em setembro do ano passado dentro de um programa de intercâmbio de ajuda humanitária do governo brasileiro: eles estão passando necessidades na Bahia e não vêem a hora de voltar para casa. Instalados desde dezembro no município de Itamaraju, a 743 km de Salvador, no extremo sul da Bahia, disseram que ficaram 14 dias sem água potável, cinco dias sem comida e receberam alimentação vencida no Assentamento Cruz de Ouro, do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), que está responsável pela estada dos haitianos na região.
Embora seus integrantes tenham sido tratados com carne, verduras e banheiros químicos pelo governo baiano (apesar de terem invadido e acampado no estacionamento e entorno da Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária do Estado semana passada), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra-MST não retribuiu a gentileza a quatro estudantes universitários haitianos que vieram para o Brasil em setembro do ano passado dentro de um programa de intercâmbio de ajuda humanitária do governo brasileiro: eles estão passando necessidades na Bahia e não vêem a hora de voltar para casa. Instalados desde dezembro no município de Itamaraju, a 743 km de Salvador, no extremo sul da Bahia, disseram que ficaram 14 dias sem água potável, cinco dias sem comida e receberam alimentação vencida no Assentamento Cruz de Ouro, do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), que está responsável pela estada dos haitianos na região.
Ferde Merisnet, 30 (estudante de química); Rony Joseph, 28 (estuda informática); Loudaline Pierre, 25 (discente de administração); e Florence Philist, 30, (estudante de enfermagem), moraram por quatro meses (de dezembro de 2010 a março deste ano) em assentamentos do MST em Itamaraju, onde dizem ter passado todo tipo de necessidade e chegaram a ser proibidos de sair e manter contato com familiares, seja por telefone ou via internet. Os sem-terra, segundo eles, diziam que a cidade era muito violenta, o que os amedrontava.
Desde o dia 31 de março, eles estão morando de favor numa casa de um obreiro da Igreja Adventista da cidade, que conheceu por acaso um dos estudantes, Ferde, também da mesma igreja que ele, durante o culto evangélico. Depois de a situação ter sido relatada, os haitianos resolveram deixar o Assentamento Cruz de Ouro, o segundo para onde foram mandatos - antes, haviam passado pelo Pau Brasil e pelo Terra Vista, em Itabuna. Não querem mais nem sequer ouvir falar em MST. A casa em que estão é mantida com ajuda de pessoas da igreja, que deram móveis e comida.
Os haitianos estão no Brasil desde 27 de setembro de 2010 e vieram para o país junto com 72 conterrâneos com objetivo de aprender noções básicas de português, geografia, história e economia brasileira e latino-americana, durante um mês, na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) do MST, em Guararema (SP). Depois desse período, foram distribuídos por oito estados do país e passaram a viver em assentamentos rurais do MST. Eles foram trazidos pela Via Campesina, que engloba vários movimentos sociais, dentre eles o MST, e o plano era para ficar até setembro deste ano conhecendo experiências agrícolas no Brasil.
Nos assentamentos, estava previsto que eles tivessem contato com bancos de sementes, viveiros de muda, centros de produção agroecológica, aprendizado de técnicas de captação e armazenamento de água, dentre outras coisas. Porém, relatam eles, o que houve foram vídeo-aulas sobre ocupações do MST em fazendas alheias. “Não aprendemos nada, não fizemos nada, e nem queriam deixar que a gente saísse e nem falasse com ninguém”, diz o estudante Rony Joseph, arranhando o português.
Florence Philist reclama que ela precisa ir ao médico ginecologista e ninguém fez nada por ela. “Estou com a guia para fazer a consulta, mas ninguém nunca quis saber. Acho que eles querem que eu morra”, desabafou Florence.
Leite vencido
Loudaline Pierre, depois de passar fome por três dias durante fevereiro, recebeu leite em pó vencido em janeiro deste ano, no Assentamento Cruz de Ouro. “Não quero mais nem ouvir falar em MST, quero ir é embora pra Porto Príncipe”, disse ela. Outro drama que os haitianos estão vivendo é que o visto deles está vencido desde 27 do mês passado, o que os deixa ilegal no país. Foram à Polícia Federal (PF) em Porto Seguro e acabaram descobrindo que o MST os teria colocado como foragidos.”O MST sabe que estamos aqui nessa casa, mas mesmo assim dizem que fugimos, é mentira”, falou Joseph.
Loudaline Pierre, depois de passar fome por três dias durante fevereiro, recebeu leite em pó vencido em janeiro deste ano, no Assentamento Cruz de Ouro. “Não quero mais nem ouvir falar em MST, quero ir é embora pra Porto Príncipe”, disse ela. Outro drama que os haitianos estão vivendo é que o visto deles está vencido desde 27 do mês passado, o que os deixa ilegal no país. Foram à Polícia Federal (PF) em Porto Seguro e acabaram descobrindo que o MST os teria colocado como foragidos.”O MST sabe que estamos aqui nessa casa, mas mesmo assim dizem que fugimos, é mentira”, falou Joseph.
Delegado da PF em Porto Seguro, Ariosvaldo Renovato informou que ainda não tinha muitas informações sobre o caso e disse que daria mais informações durante a semana. O haitiano Ferde Merisnet, que também mora na casa, está em viagem há uma semana a Vitória (ES), participando de uma missão da Igreja Adventista. A Embaixada do Haiti, em Brasília, não estava sabendo do fato e informou, por meio do conselheiro Jackson Bien-Aimé, que procurará os quatro estudantes.
Coordenador do MST diz que passagens estão compradas
O coordenador do MST no extremo sul da Bahia, Evanildo Costa, disse nesta segunda-feira que as passagens para os quatro haitianos já estão compradas e espera que até o dia 10 deste mês a situação esteja resolvida. “Só estamos esperando que o pessoal de São Paulo nos dê uma resposta sobre a situação”, disse ele, que negou que os haitianos tenham passado fome nos assentamentos. “Acho que eles vieram para cá pensando uma coisa, e viram que era outra. Nos assentamentos não temos mordomia e pode sair na hora que quiser, pra onde quiser”, falou.
O coordenador do MST no extremo sul da Bahia, Evanildo Costa, disse nesta segunda-feira que as passagens para os quatro haitianos já estão compradas e espera que até o dia 10 deste mês a situação esteja resolvida. “Só estamos esperando que o pessoal de São Paulo nos dê uma resposta sobre a situação”, disse ele, que negou que os haitianos tenham passado fome nos assentamentos. “Acho que eles vieram para cá pensando uma coisa, e viram que era outra. Nos assentamentos não temos mordomia e pode sair na hora que quiser, pra onde quiser”, falou.
Sobre o leite vencido, Costa declarou que foi uma “falta de sorte” dos haitianos. “O leite que estava lá foi doado por outro assentamento. Quando recebemos, já estava perto de vencer. A Conab [Companhia Nacional de Abastecimento] já manda o leite com a data perto de vencer também. Isso aí que ocorreu foi um azar deles”, diz o sem-terra, que reconheceu que o MST não tinha condições de dar curso nenhum para os haitianos. “Isso aí, é verdade”, afirmou.
Segundo Evanildo Costa, os haitianos estão participando esta semana, em Sergipe, de um curso de agroecologia. “Os outros seis haitianos que estão aqui na Bahia já estão lá participando deste curso”, informou ele, que não soube dizer se, em outros locais, foram promovidos eventos que contemplassem o cronograma de estudos que estava sendo proposto o programa de ajuda humanitária. Um dos responsáveis pela estada dos haitianos do Brasil, Geraldo Gasparim, que é coordenador geral da Escola Nacional Florestan Fernandes, disse que duvida de que os haitianos tenham passado fome nos assentamentos.”Não tivemos problema com nenhum deles; só esses quatro que querem voltar, pois não concordaram com a metodologia do MST. Mas estamos providenciando isso e, logo, logo, eles estarão de volta”, declarou, sem especificar data para a volta dos haitianos.
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