quinta-feira, 20 de março de 2014

Vaiada, Dilma diz que respeita 'direito de opinião' e democracia

A presidente Dilma Rousseff (PT) foi vaiada nesta quinta-feira (20) em Belém ao subir no púlpito para fazer um discurso sobre investimentos federais em projetos de mobilidade urbana na capital paraense.
Devido ao protesto, Dilma abriu o discurso dizendo que "respeitava o direito de opinião dos brasileiros" e ressaltou que "o país vive na democracia". O governador do Pará, Simão Jatene, e o prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho, ambos do PSDB, também receberam vaias.
Um grupo composto por cerca de 45 manifestantes protestou porque não foi incluído no programa federal de habitação Minha Casa, Minha Vida. No auditório, havia cerca de 550 pessoas. De acordo com um dos manifestantes, Floriano Vieira, 36, os moradores do bairro de Jurunas tiveram suas casas desapropriadas para ampliação de uma pista em 2008.
A promessa, segundo ele, é que seriam incluídos agora no programa de habitação, o que Vieira afirma não ter ocorrido. "Eles nos pagam R$ 450 como forma de compensar o problema, mas é muito pouco. Só meu aluguel hoje é R$ 600", diz Vieira.
Outro manifestante, Andrei Guilherme, 37, relatou que, durante o protesto, seguranças da Presidência ameaçaram expulsá-los do auditório caso não silenciassem as vaias. "No fim do evento conseguimos entregar um documento para a presidente contendo nossas reivindicações, mas duvido que ela vá ler", disse. Os seguranças da Presidência negaram à reportagem que tenham ameaçado expulsar os manifestantes.
GAFE
Durante sua fala, como tem sido usual nos eventos presidenciais, Dilma destacou a importância dos programas sociais do seu governo, como Pronatec, Minha Casa, Minha Vida e Mais Médicos.
Durante o discurso, porém, a presidente cometeu uma gafe ao trocar o nome do Estado do Pará pelo Ceará. Ao perceber o incômodo da plateia, se desculpou prontamente. "Quis dizer Pará... Desculpa gente. É porque ontem vim do Ceará", disse, em referência a viagem a Fortaleza e Sobral realizada ontem.
Adversário político de Dilma, o tucano Simão Jatene fez afagos à presidente, a quem elogiou "pelo espírito republicano" de investir recursos federais mesmo em Estados que não são da base aliada. Outro rival, o prefeito Zenaldo Coutinho elogiou o incentivo da União aos projetos de mobilidade urbana.
MARABÁ
Em Marabá (PA), onde Dilma foi entregar máquinas a prefeitos e lançar a licitação de uma obra, as vaias se concentraram em Jatene (PSDB), e chegaram a interromper seu discurso. Ele comentou: "Eu acho isso fantástico na democracia".
A presidente, porém, saiu em sua defesa. "Brigar a gente tem que brigar, pela democracia, contra a desigualdade, mas eu quero dizer para vocês, também temos que lutar para que todas as pessoas tenham o direito de falar, tenham o direito de externar sua opinião".
Jatene teve sua popularidade desgastada no sudeste do Pará desde a época do plebiscito para a divisão do Estado, no fim de 2011, quando ele se posicionou contra os novos Estados, provocando insatisfação na população do sudeste, onde seria criado o Estado de Carajás.
DA FOLHA-SP

Executivos rebatem versão de Dilma sobre a Petrobras


A presidente Dilma Rousseff e todos os demais membros do Conselho de Administração da Petrobras tinham à sua disposição o processo completo da proposta de compra da refinaria em Pasadena (EUA), segundo dois executivos da estatal ouvidos pela Folha.
Na documentação integral constavam, segundo os relatos, cláusulas do contrato que a petista diz que, se fossem conhecidas à época, "seguramente não seriam aprovadas pelo conselho" da estatal.
Reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo" trouxe ontem a informação de que Dilma, na época presidente do Conselho de Administração da Petrobras, votou a favor da compra de 50% da refinaria em 2006, pelo valor total de US$ 360 milhões.
Em resposta ao jornal, ela justificou que só apoiou a medida porque recebeu "informações incompletas" de um parecer "técnica e juridicamente falho".
O episódio gerou mal-estar na Petrobras, tensão no Executivo e corrida no Congresso para a aprovação de uma CPI em pleno ano eleitoral para investigar o caso.
A compra da refinaria é investigada pelo Tribunal de Contas da União, Ministério Público do Rio e pela Polícia Federal. A principal polêmica é o preço do negócio: o valor que a Petrobras pagou em 2006 à Astra Oil para a compra de 50% da refinaria é oito vezes maior do que a empresa belga havia pago, no ano anterior, pela unidade inteira.
Além disso, a Petrobras ainda teve de gastar mais US$ 820,5 milhões no negócio, pois foi obrigada a comprar os outros 50% da refinaria. Isso porque a estatal e a Astra Oil se desentenderam e entraram em litígio. Havia uma cláusula no contrato, chamada de "Put Option", estabelecendo que, em caso de desacordo entre sócios, um deveria comprar a parte do outro.
Editoria de Arte/Folhapress

Na nota divulgada por Dilma, a presidente afirma que o resumo executivo analisado na reunião do conselho não citava essa e outra cláusula em questão, que, se conhecidas, "seguramente não seriam aprovadas".
Dois executivos da Petrobras ouvidos pela Folha afirmam que o parecer distribuído aos conselheiros não tratava especificamente das duas cláusulas porque se limitava a fazer uma defesa do negócio em si, considerado lucrativo em 2006 pelo governo e pela Petrobras.
Mas o "procedimento normal" de todos os encontros do conselho da estatal, segundo esses integrantes, prevê que, além do resumo executivo, os conselheiros também tenham à disposição o processo completo para análises antes e durante a reunião.
"Ela [a presidente] poderia ter lido todo o processo mas, pelo visto, ficou só no resumo executivo", disse um dos integrantes da estatal, que pediu anonimato.
Além disso, funcionários da estatal afirmam que a existência da cláusula chamada de "Put option" é comum em contratos internacionais.
Responsável pelo resumo executivo que embasou a decisão de 2006 do conselho, Nestor Ceveró, então diretor da área internacional, está sendo pressionado pelo governo a pedir demissão de seu atual cargo de diretor financeiro da BR Distribuidora. Uma possível saída do executivo, seis anos depois do episódio, alimentou a avaliação de que o governo busca um culpado pela compra, hoje tida como um "mau negócio".
O Planalto informou à Folha que a presidente só teve conhecimento das duas cláusulas que elevaram o preço do negócio em 2008. Questionado se ela não requisitou o processo completo, o governo informou simplesmente que "ela não teve acesso".
A Petrobras não quis fazer comentários oficiais sobre o caso. Tanto a atual presidente da Petrobras, Graça Foster, como seu antecessor, José Sérgio Gabrielli, que comandava a estatal na época do negócio, defenderam a operação no Congresso em pelo menos três ocasiões em 2013.
Em maio do ano passado, Foster afirmou que o debate no Conselho de Administração da Petrobras é sempre intenso e a preparação para uma reunião toma "semanas de discussão". Foster não era titular do conselho na época da compra, mas afirmou que participou de algumas reuniões nos últimos 15 anos como "assistente".
DA FOLHA-SP