PAZ AMOR E VIDA NA TERRA
" De tanto ver triunfar as nulidades,
De tanto ver crescer as injustiças,
De tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus, o homem chega
a desanimar-se da virtude,
a rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto".
[Ruy Barbosa]
Em
visita a Moscou, Michel Temer teve uma reunião de trabalho com Vladimir
Putin. Eles assinaram uma declaração conjunta. Nela, listaram 35
compromissos. Num deles, o Brasil de Temer e a Rússia de Putin
comprometeram-se a intensificar os esforços no combate à corrupção.
Escreveram: ''Os dois países entendem que a cooperação anticorrupção
deve ter como objetivo a obtenção de resultados concretos.''
Longe
do Brasil, Temer sentiu-se à vontade para assumir compromissos em nome
do Brasil desconsiderando o que ocorre no Brasil. Ele assinou o acordo
bilateral sem levar em conta que seus compromissos podem ficar velhos em
dois minutos. Ou em duas delações premiadas. Quando terminar sua
viagem, Temer retornará não apenas ao Brasil, mas à realidade de um país
em que o próprio presidente é acusado de corrupção.
É preciso
reconhecer: mergulhados em escândalos, Temer e Putin são especialistas
na matéria. No Brasil, a contribuição de Temer e do PMDB no combate à
corrupção é revolucionária. A exemplo de outras legendas, o PMDB
desenvolveu uma forma inconsciente de desnudar a corrupção. Desvenda os
crimes praticando-os em proporções tão amazônicas que ficou impossível
não perceber as pistas.
O ex-presidente Lula é considerado a personalidade mais nociva para o Brasil envolvida na Lava-Jato. É o que indica uma pesquisa do Instituto Paraná.
No Distrito Federal, o petista é visto como o mais perigoso para 37%. Em seguida, para 14,5%, Aécio Neves. Preso, Eduardo Cunha é o pior deles para 12,7%.
Levantamento foi feito pelo Instituto Paraná Pesquisas
Em levantamento inédito feito pelo Instituto Paraná pesquisas, 71% responderam que o juiz Sergio Moro vai condenar Lula no caso do tríplex. Já 24% disseram que o ex-presidente será absolvido, enquanto 4,4% dos entrevistados não souberam opinar.
O instituto perguntou também se o magistrado persegue Lula.
Segundo 61%, Moro não está perseguindo o ex-presidente. Enquanto 35,9%
disseram que Lula é perseguido. E 3% dos ouvidos não souberam opinar.DO R.ONLINE
Joesley Batista, da JBS, chega para depor na superintendência da PF, em Brasília
CAMILA MATTOSO REYNALDO TUROLLO JR. RUBENS VALENTE
DA FOLHA- BRASÍLIA
Em depoimento à Polícia Federal, o empresário Joesley Batista
afirmou que o presidente Michel Temer tentou colocar um amigo, o
advogado José Yunes, para defender o grupo J&F em uma disputa
judicial.
O acordo que precisava de intermediação renderia ao escritório de Yunes, segundo o dono da JBS, que fez acordo de delação premiada, cerca de R$ 50 milhões.
Yunes é um dos melhores amigos do presidente e foi assessor especial do
Planalto até dezembro passado, quando pediu demissão ao ser citado na
delação do ex-executivo Cláudio Melo Filho, da Odebrecht, como
intermediário de um pacote com R$ 1 milhão que conteria dinheiro para
campanhas do PMDB.
Joesley afirmou, porém, que o acordo a ser feito para beneficiar o amigo
de Temer nem chegou a ir adiante e que quem ficou responsável pela ação
judicial foi Francisco de Assis, do departamento jurídico do grupo –
também delator.
Não há informações no depoimento de Joesley sobre qual era a briga judicial nem as partes em litígio.
"Se recorda também de uma tentativa de inclusão do advogado José Yunes,
por indicação do presidente Michel Temer, para intermediar um acordo com
uma empresa em disputa judicial em andamento contra a J&F e que
renderia ao escritório de José Yunes cerca de R$ 50 milhões", consta no
termo de depoimento prestado por Joesley à PF.
FORA DA DELAÇÃO
Em uma ligação telefônica interceptada pela PF, o lobista da J&F
Ricardo Saud pede a uma pessoa para tirar o nome de Yunes da delação
premiada que estava sendo negociada.
Não ficou claro o motivo pelo qual o amigo de Temer foi retirado da colaboração.
O telefonema entrou no relatório da polícia, que destacou as principais
conversas –mais de 3.000 ligações foram gravadas com autorização
judicial.
Saud contratou uma pessoa, de nome Rodolfo, para pesquisar endereços de
entregas de propina que estariam em sua delação. No diálogo, o delator
diz: "Sabe o que eu estava pensando? Naquele relatório... É... Você
podia fazer para mim, que eu estou indo hoje para Nova York, para levar
ele. Tira aquele negócio tudo que tem do Yunes...".
Rodolfo responde concordando com a orientação, e Saud continua: "E põe
só confirmando que nesse endereço mora... é o escritório de fulano de
tal, põe tudo aquilo, amigo do cara, tal.... eu quero mostrar que você
foi lá para mim e confirmar que lá era o coronel tal, tal, tal...".
A referência feita pelo lobista diz respeito ao coronel aposentado da
Polícia Militar João Baptista Lima Filho, também amigo de Temer. Ele é
apontado pela JBS como receptor de propina de R$ 1 milhão ao presidente.
A Folha procurou Yunes e Temer, mas não teve resposta até o momento.
Romério Cunha - 12.dez.2012/Vice-Presidência
Temer e Joesley Batista, em inauguração de fábrica de celulose em Mato Grosso do Sul, em 2012
Após votar contra a reforma trabalhista na Comissão de Assuntos
Sociais do Senado, Hélio José (PMDB-DF) sofreu retaliação automática. O
Planalto exonerou dois apadrinhados que o senador acomodara na máquina
pública. Abespinhado, o agora ex-aliado passou a enxergar a gestão de
Michel Temer com outros olhos: é um “governo totalmente atacado de
corrupção para todos os lados”, declarou. Para ele, o governo foi
transformado “em balcão de negócios.”
Foram exonerados Vicente
Ferreira, que era diretor de Planejamento da Superintendência de
Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), e Francisco Nilo, que
respondia pela Superintendência da Secretaria do Patrimônio da União no
Distrito Federal. Hélio José emplacara os afilhados no ano passado, às
vésperas do impeachment de Dilma Rousseff, quando se achegou a Temer.
Houve
revolta na SPU do DF com a nomeação de Francisco Nilo para o posto de
superintendente. O senador não se deu por achado. Foi à repartição.
Reuniu os descontentes. E avisou: “Isso aqui é nosso. Isso aqui eu ponho
quem eu quiser aqui. A melancia que eu quiser aqui eu vou colocar!”
Nessa época, Hélio José se servia do balcão que agora diz abominar.O J.DESOUZA
Na judicialização da politicagem,
milagres não acontecem por acaso. O estranho adiamento da decisão sobre a
prisão preventiva (ou não) e a manutenção do mandato (ou não) de Aécio Neves,
combinada com a “soltura” (em prisão domiciliar, kkkkk) da irmã e seu primo,
sugerem que existem mais coisas entre os políticos e as togas do que pode supor
a vã filosofia. Repetiu-se uma rotina esquisita: um poderoso que sabe demais
sobre tudo e todos sempre consegue postergar a punição nos andares elevados do
Judiciário. O fenômeno joga no ar uma dúvida cruel: será que a Lava Jato
atingiu as togas superiores?
O povinho pensante nas redes sociais
achou muito estranho o fato de o relator da suprema Lava Jato, Edson Fachin,
ter tirado das mãos de Sérgio Moro vários casos que envolvem o ex-Presidente
Lula e a Odebrecht. Moro tem tudo para decidir, ainda esta semana, se condena
ou inocenta o poderoso Lula. É enorme a chance de uma condenação com pena alta
e decretação de prisão. Do mesmo jeito como é altíssima a chance de Lula ser
beneficiado com o direito a recorrer em liberdade de uma eventual condenação.
Afinal, ele é um daqueles que sabe (demais) sobre tudo e todos nos três
poderes...
O regramento excessivo – uma das
causas da corrupção sistêmica e da impunidade no Brasil – viabiliza que tudo
possa acontecer. Quando os operadores dos “mecanismos do sistema” desejam
assassinar a reputação de alguém, o rigor seletivo da jagunçagem opera a plena
velocidade. Quando o interesse é proteger delinqüentes comprovados, o espírito
maligno da razão cínica e canalha baixa nos “interpretadores da lei”, e os
bandidos conseguem uma blindagem que deixa o cidadão honesto muito pt da vida,
indignado ou desanimado. Eis a nossa hedionda “normalidade” do Crime
Institucionalizado.
Até quando o Brasil vai conseguir
suportar um Presidente da República que perdeu todas as condições morais de
seguir (des)governando? A todo momento surge uma delação premiada que arrasa
com Michel Temer. Depois da famosa gravação do Joesley Batista, agora veio a
dedurarem do “corretor de valores” (na verdade, o doleiro de todos) Lúcio
Bolonha Funaro. Fatos por ele revelados e comprovados arrasam com Temer,
Eduardo Cunha, Moreira Franco, Geddel Vieira Lima e outras figuras muito
próximas do maridão da bela Marcela. A dúvida é: até quando a maioria
parlamentar vai conseguir blindar Temer, indicando que não aceitará denúncias
da Procuradoria Geral da República contra ele no Supremo Tribunal Federal?
Resumindo: tem coisa muito mais
estranha no ar que o fato incomum de o Rio de Janeiro ficar debaixo d’água no
mês de junho – marcado pela secura e quando não costuma chover. É o inverno
doido no inferno criminoso de Bruzundanga. O País na (a)normalidade caminha a
todo vapor para um desastre de conseqüências inimagináveis. Criminalidade fora de
controle sempre redunda em explosão descontrolada de violência – o que pode
gerar o caos ou servir de estopim para mudanças estruturais.
O plenário do Supremo Tribunal Federal marcou para esta quarta-feira o julgamento
de um recurso vital para o futuro da Lava Jato e de outras operações
anticorrupção em curso no país. Os ministros da Corte decidirão se a
delação premiada dos executivos do grupo JBS pode ou não ser revista.
Dirão também se Edson Fachin, relator da Lava Jato, agiu corretamente ao
homologar um acordo de colaboração judicial que os delatados sustentam
não ter vinculação com o petrolão.
No fundo, o Supremo informará
ao Brasil de que lado está no combate à roubalheira. Deve-se o sucesso
do esforço que amedronta a oligarquia político-empresarial a três
fatores: 1) o assalto aos cofres públicos passou a dar cadeia; 2) o pavor de ir em cana potencializou as delações; 3)
as colaborações judiciais vitaminaram as investigações. Dependendo das
decisões que tomar, o Supremo pode fortalecer o círculo virtuoso ou
ressuscitar a roda da impunidade.
Na pior das hipóteses, o
plenário do Supremo endossa a tese de que os crimes da JBS não têm nada a
ver com a Petrobras e retiram o processo das mãos de Fachin, anulando
os atos praticados por ele. Iriam para o beleléu as delações e todas as
suas consequências. Michel Temer e Aécio Neves levantariam um brinde e a
investigação recuaria à estaca zero.
Numa hipótese intermediária,
a conexão com a Lava Jato é reconhecida e Fachin permanece na
relatoria. Entretanto, a maioria dos seus colegas consagra o
entendimento segundo o qual o plenário do Supremo pode, sim, rever
acordos de delação. Sobretudo num caso como o da JBS, em que a
Procuradoria-Geral da República concedeu a Joesley Batista e Cia. o
prêmio máximo: a imunidade penal.
Se isso acontecer, delações que
esperam na fila para acontecer, como a do ex-ministro petista Antonio
Palocci e a do ex-presidente da OAS Leo Pinheiro, podem subir no
telhado. Novos delatores talvez concluam que os negociadores da
Procuradoria, enfraquecidos, não terão mais como assegurar o cumprimento
dos termos dos acordos.
Numa terceira hipótese, aparentemente
improvável, o Supremo dá uma banana para os investigados e prestigia a
relatoria de Fachin. De quebra, avaliza as delações superpremiadas no
pressuposto de que a emenda pioraria o soneto. Melhor apanhar os
delatores na próxima esquina, quando vierem à luz os resultados da
investigação sobre o uso da informação privilegiada da delação para
lucrar nos mercados de câmbio e de ações.
Em maio de 2015, quando a
Lava Jato tinha pouco mais de um ano, Emílio Odebrecht espetou no
noticiário uma nora com o seguinte teor: ''A corrupção é problema grave e
deve ser tratado com respeito à lei e aos princípios do Estado
democrático de Direito, mas é fundamental que a energia da nação,
particularmente das lideranças, das autoridades e dos meios de
comunicação, seja canalizada para o debate do que precisamos fazer para
mudar o país. Quem aqui vive quer olhar com otimismo para o futuro -que
não podemos esquecer-, sem ficar digerindo o passado e o presente.''
Meses
depois, a Odebrecht oferecia à força-tarefa da Lava Jato aquela que
entraria para a história como delação do fim do mundo. O Apocalipse
remexeu o passado e convulsionou o presente. Se transformar a delação da
JBS em algo parecido com aquele que Romero Jucá chamava de “estancar a
sangria”, o Supremo consolidará a vocação do Brasil para o papel de mais
antigo país do futuro do mundo.
Existem
vários tipos de solidariedade. São todos admiráveis. Mas o amparo do
PSDB a Aécio Neves está próximo da patologia. Virou sintoma de
sadomasoquismo. O impulso autodestrutivo da legenda só não é maior do
que o egoísmo do seu filiado encrencado. Aécio utiliza o partido para
transformar a morte prematura do seu projeto político numa morte
procrastinada. O senador sabe que sua carreira definha. E faz questão de
que o tucanato murche junto.
Nesta terça-feira, a Primeira Turma
do Supremo Tribunal Federal adiou em uma semana o julgamento sobre o
pedido de prisão de Aécio. E o PSDB também transferiu a reunião de sua
Executiva, que definiria nesta quarta-feira a coreografia da
substituição definitiva de Aécio na presidência da legenda.
Tranformando-se a indefinição tucana numa metáfora culinária, pode-se
dizer que a insensatez do ninho ultrapassou o ponto de cozimento.
A
confusão entre o tempo da Justiça e o tempo da política a fez dessas
dar a mistura. O molho queimou. E o que era para ser um gesto de
solidariedade converteu-se em mais um vexame do PSDB. Por mal dos
pecados, Aécio acabou correspondendo aos que não encontravam motivos
para confiar nele. Como ainda não foi inventada uma maneira de desfritar um ovo, o PSDB transformou sua solidariedade em suicídio no instante em que se jogou dentro da frigideira.