Por Ana Clara Costa, na VEJA.com:
Na última sexta-feira, toda a artilharia petista se armou contra o
banco Santander depois que um relatório enviado a clientes de alta
renda previa mais dificuldades para a economia brasileira se a
presidente Dilma Rousseff se reeleger. Temendo represália, o banco
enviou nota ao mercado desculpando-se pelo texto da equipe de análise e
assegurando que medidas haviam sido tomadas em relação aos responsáveis.
No mesmo dia, o partido silenciosamente protocolou uma representação
contra a consultoria de investimentos Empiricus Research no Tribunal
Superior Eleitoral (TSE). A justificativa foi a mesma que a usada pelo
presidente do PT, Rui Falcão, para recriminar o banco Santander na
sexta-feira: “terrorismo eleitoral”. Ou, de forma mais sofisticada,
“fazer manifestações que interfiram na decisão de voto”.
Segundo a representação, a Empiricus
estaria vinculada ao candidato tucano Aécio Neves, à coligação Muda
Brasil e ao Google numa campanha com o intuito de manchar a imagem da
presidente Dilma por meio de propaganda paga. A consultoria, conhecida
no mercado pela forma dinâmica e descomplicada com que produz suas
análises, anunciou alguns de seus textos por meio da ferramenta Google
Ads. Ao longo do último mês, permaneceram em evidência no Google
os anúncios mais clicados por leitores, que eram justamente os textos
intitulados: Como se proteger de Dilma e E se Aécio ganhar.
O ministro Admar Gonzaga, do TSE, acatou o pedido protocolado em nome
de Dilma e concedeu liminar impedindo a Empiricus de propagandear suas
análises no Google. O gigante da internet também foi alvo de
representação, assim como o candidato do PSDB e sua coligação. Em
entrevista ao site de VEJA, o autor dos textos, Felipe Miranda, afirmou
que a medida não intimidará seu trabalho. “O que já vínhamos falando aos
nossos clientes sobre a gestão do governo e a condução da política
econômica só piorou com esse cerceamento. Mas vamos continuar atuando da
mesma forma. Não tenho rabo preso e sou pago pelos meus clientes para
falar o que penso”, afirma. Confira trechos da conversa.
O TSE informou a consultoria sobre a representação do PT?
Não, ainda não recebemos nenhum comunicado oficial. Ficamos
sabendo pela internet. Mas a situação é absurda, pois não há campanha
eleitoral da nossa parte. Podem não gostar do que escrevemos, mas
nos colocar ali é absurdo.
Estão impedidos de produzir análises com foco eleitoral?
Não. Há uma liminar que nos obriga a tirar aqueles textos do
ar. Mas não existe a possibilidade de alguém nos proibir de fazer nossas
análises críticas, pois aí seria censura explícita. Já seria um ato
institucional contra a liberdade de expressão. Além disso, o que já
vínhamos falando aos nossos clientes sobre a gestão do governo e a
condução da política econômica só piorou com esse cerceamento. Mas vamos
continuar atuando da mesma forma. Não tenho rabo preso e sou pago pelos
meus clientes para falar o que penso.
Como o Google distribuiu os anúncios dos textos produzidos pela Empiricus?
Os dois textos são muito claros: tratam de uma tese econômica
que não é nova e que mostra que a bolsa cai quando a Dilma sobe nas
pesquisas, e sobe quando o Aécio melhora. O objetivo é simples: nossos
clientes devem se proteger desses solavancos. Os anúncios dos textos
chegam de forma idêntica ao Google, mas, de acordo com a métrica de
distribuição desses anúncios, ficam mais expostos os que são mais
clicados. Diante disso, podemos escolher tirar do Google Ads os anúncios
menos rentáveis. O que não foi o caso dos anúncios sobre as
perspectivas econômicas num cenário de vitória da Dilma e do Aécio.
A consultoria sofreu algum tipo de represália fora a representação no TSE?
Tirando esse clima de caça às bruxas, de perseguição, nada foi
feito. Há, claro, a militância. Desde a semana passada recebo
xingamentos e ameaças de toda a natureza por email e por meio das redes
sociais. Nosso site já caiu várias vezes e tentaram invadir nossos
emails.
Desde a repercussão do caso Santander, o mercado está mais amedrontado?
Não posso falar pelo mercado, pois não estou a par. Mas o que é
certo é que estão tentando cercear nossa liberdade e nosso dever
fiduciário de prover boas dicas. Nós estamos pessimistas em relação à
economia e não posso ignorar isso em minhas análises. No caso do
Santander, entendo que ficou feio para o banco ter de voltar atrás na
opinião de um analista. Mas não me surpreende, pois os grandes bancos
não querem romper relações com o governo. Mas nós somos independentes e
só temos compromisso com nossos clientes.