A
derrota sofrida por Dilma na comissão do impeachment desafia a lógica
elementar de um torneio de sinuca. A oposição prevaleceu por 38 a 27 num
jogo contra a dona da mesa, com as regras e os tacos da casa —e com o
governo comprando quem pudesse lhe causar problemas.
Num
golpemício realizado no Rio de Janeiro, Lula
discursou:
“A comissão acabou de derrotar a gente. Mas isso não quer dizer nada. A
comissão foi montada pelo Cunha. É o time dele. A nossa luta vai ser no
plenário. Domingo é que temos que ter clareza. Sabemos que temos que
conversar com os deputados.''
Não é bem assim. Eduardo Cunha de
fato tentou compor uma comissão com as suas digitais. Mas o STF,
acionado pelo protogovernista PCdoB, redefiniu as regras, anulou os atos
de Cunha e mandou refazer o processo. Em vez de chapa avulsa, os nomes
foram indicados pelos líderes partidários, como queria o Planalto. A
votação secreta tornou-se aberta. E o plenário apenas referendou os
nomes dos líderes, elegendo um colegiado de maioria governista.
À
medida que o torneio foi avançando, desapareceram na caçapa das ilusões o
poder de sedução de Lula e o comando dos líderes dinheiristas sobre
suas bancadas. De resto, percebeu-se que, sob a ruína produzida por
Dilma, maiorias irresistíveis viram minorias especializadas em
sobrevivência.
Nem nas suas contas mais pessimistas o Planalto
imaginou que pudesse ser derrotado na comissão por uma diferença de 11
votos. A certa altura, sonhou com a vitória. Depois, imaginou que
perderia por 33 a 32. Nas suas contas mais pessimistas, imaginou que
faria 30 votos, contra 35 da turma do ‘Fora, Dilma’.
Num ponto,
Lula tem razão: o governo terá de conver$ar muito com os deputados até a
final de domingo. Se for encaçapada novamente no plenário da Câmara,
Dilma chegará ao Senado em frangalhos.