Estava fora de casa resolvendo assuntos
particulares e nem tomei conhecimento da notícia mais relevante do
universo, a julgar pelas redes sociais: o assédio do “galã” da TV Globo
José Mayer.
Não tenho muito o que acrescentar a
comentários de amigos, que publico aqui com o único intuito de reforçar a
mensagem de que nossa sociedade precisa abandonar o coletivismo, a
transferência de responsabilidade para entes abstratos como “sociedade”,
e começar a falar mais em ações individuais com volição.
Essa história do José Mayer é muito
elucidativa. Vocês sabem: ator da Globo assediou figurinista,
figurinista denunciou e a casa caiu. E agora, José? Globo emitiu nota,
atrizes protestaram, carnaval em Salvador, garanhão pediu desculpas por
meio de carta pública. José Mayer é aquele sujeito que mulher nenhuma
consideraria galã se não fosse ator da Globo. Virou ator, ficou bonito.
Nos bastidores, quis conhecer biblicamente a figurinista. A figurinista,
que não é religiosa, não quis conhecer
biblicamente o tipo. Há quem garanta que é o jeitão dele mesmo, que não
se trata de assédio de verdade, ele brinca com todo mundo. Não sei, não
quero ter Mayer no meu cangote para tirar a prova. Mas o engraçado disso
tudo, para além dos arreganhos justiceiros a que já estamos
acostumados, é que José Mayer, que tem mulher e filha, disse que sim,
errou, que “tristemente, sou sim fruto de uma geração que aprendeu,
erradamente, que atitudes machistas, invasivas e abusivas podem ser
disfarçadas de brincadeiras ou piadas. Não podem. Não são”. Vejam só
como o tiro ideológico sai pela culatra da realidade. Progressistas e
militantes adoram esse argumento: “sou criminoso porque fui levado a
isso”. Agora, um machão esperto usou a seu favor: “sou fruto de uma
sociedade machista”. Não, José Mayer, você não é fruto. Não é vítima.
Você é um senhor já avançado em anos e sabe muito bem o que se pode ou
não se pode fazer com as meninas. E, ao não aceitarmos a justificativa
dele, não podemos aceitar as justificativas deles: progressistas e
militantes. O homem é livre para fazer maldades: homicídio, tráfico de
drogas, sequestro, assalto e, que coisa, até mesmo assédio sexual.
Fiquei sabendo por cima do caso de
assédio envolvendo o ator José Mayer. Li, entretanto, a cartinha que ele
mandou para a VEJA como “pedido de desculpas”. Em determinado
momento de seu texto, ele se diz “fruto de uma geração que aprendeu,
erradamente, que atitudes machistas, invasivas e abusivas podem ser
disfarçadas de brincadeiras ou piadas”. Na prática, quer socializar sua
culpa, colocando ela também na sociedade, que serve de pau para toda
obra. A coletividade abstrata sempre surge como co-responsável dos
canalhas individuais.
Os criminosos juvenis matam dentistas
porque a sociedade os oprimiu. Os tarados apalpam vaginas alheias porque
a sociedade é machista e patriarcal. Os corruptos afanam dinheiro
público porque a sociedade é corrupta. A sociedade virou um recipiente
de culpas para toda sorte de criminosos e vagabundos.
1. Para minha surpresa, apareceram na
minha timeline comentários repulsivos dando conta de que seria “normal”,
produto da interação “espontânea” entre os sexos, adotar certas
expansões gestuais – o que, no caso específico, aparentemente envolve
tocar as partes íntimas de uma mulher sem o seu consentimento. Uma dica,
“amiguinho”: cresça (independente da idade) e aprenda a diferença entre
ser contra o politicamente correto e ser um inconveniente boçal.
2. O ator
errou duplamente. A primeira quando, a julgar pela sua confissão,
efetivamente cometeu o desatino. A segunda ao querer responsabilizar a
“cultura” e a “sociedade”, a “geração machista” a que pertence por uma
vergonha que é só sua. Geração machista é a pqp, seu covarde! Assuma a
responsabilidade pelos seus erros em vez de querer jogar confete para
plateia feminista.
Não sou da geração de José Mayer. Fica o
registro. Aliás, sou de geração nenhuma. Indivíduo responsável
exclusivamente pelas próprias desgraças.
Ao culpar a “sociedade machista” Zé
Mayer se esconde no refúgio criado pela própria esquerda. A desculpa
dele é tão esfarrapada e mentirosa quanto a do pivete que bota fogo em
um dentista durante um roubo ou daquele que atira em sua vítima porque
ela “reagiu”. Foi duplamente canalha.
Na geração Zé Mayer, os homens cumprimentam as mulheres pegando em suas partes íntimas.
Na geração nutella trans-globo, os homens cumprimentam outros homens pegando em suas partes íntimas.
Leva a mal não, mas a minha geração é a
mais legal: o bom e velho beijo no rosto e sorriso na cara pras gatas; e
o cumprimento de mão, com tapa nas costas, pros irmãos.
O assédio machista, a cantada fora de
hora, o tom vulgar de um flerte e a piadinha infame sobre mulheres são
alguns dos problemas ocultos e diluídos nas relações diárias de
trabalho. O fato é que não se cria uma civilização presumindo que o
homem é bom, demasiadamente bom e a cultura machista que corrompe.
Rousseau estava completamente errado. Quando conservadores — os sérios
e, nesse caso, os caricatos — falam em direito de defesa, a esquerda
torce o nariz. No entanto, quer condição
mais importante do que ensinar mulheres a se defenderem de machistas
tarados? Não há. A relação homem e mulher na história sempre foi
problemática justamente pela ameaça contra as mulheres. A “rua”, o
“trabalho” e a “guerra” eram ambientes hostis e sujos. A casa, pelo
contrário, o lugar sagrado e supostamente protegido. Isso é passado.
Hoje todos coexistem em espaços não mais diferenciados. Mudou-se os
espaços e a coexistência, mas não mudaram as ameaças O humano permanece.
Alguma coisa de correta há no politicamente correto. Chamar atenção
para a hostilidade machista dos homens, talvez. O problema é que o
politicamente correto parece que descobriu ontem que o homem é um ser
canalha e miserável. Eu não desrespeito as mulheres porque me sinto
pressionado pelo politicamente correto, não desrespeito porque acho
coisa de gente troglodita, gente bárbara, porca e nojenta. É com banho
de civilização (bom senso) que se construirá o respeito necessário para a
coexistência pacífica e não com textão no Facebook exorcizando os
demônios da cultura.
Rodrigo Constantino