Não julgueis, para que não sejais julgados.
Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós.
E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho?
Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu?
Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão.
Mateus 7:1-5
OS VIRA-LATAS DO BUMBA
(crônica de Maria Rita Kehl)
A chuva no Rio deu uma folga, mas espero que o assunto não saia dos noticiários. Não é hora de esquecer a catástrofe causada não pela intempérie, mas pelo descaso habitual do poder público em relação à vida dos pobres. No momento em que escrevo, a contagem das vítimas está em 412 feridos resgatados dos escombros em todo o Estado. E 251 mortos. Por enquanto.
Entre as muitas imagens dos deslizamentos, não me sai da cabeça a foto de um cachorrinho vira-lata encontrado ainda com vida depois de três dias soterrado no morro do Bumba, em Niterói. O pelo encharcado, dorso arqueado, como fazem os cães com muito medo, rabo entre as pernas, claro - e aquele olhar de interrogação que só bichos domésticos têm quando sofrem: " O que eu fiz para apanhar assim? Cadê o meu pessoal? Onde estou?".Imagem muda de desolação e desamparo, o vira-lata do morro do Bumba teve muita mais sorte do que muita gente, e com certeza terá mais facilidade de encontrar um novo lar. Também são sortudos os cães farejadores que passaram mal com o cheiro do gás metano do antigo lixão e puderam descansar até terem condições de procurar os corpos das pessoas que viviam em cima do mesmo cheiro de gás.

Ou, então,a comoção que sentimos nesse caso talvez seja de natureza diversa da que produz lágrimas fáceis. Talvez esteja mais perto do desespero e da resignação humilhada do que da piedade.
No ensaio "Da tristeza", Montaigne se indaga sobre o episódio narrado por Heródoto no qual o rei egípcio Psammenit, derrotado pelo persa Cambises, vê desfialarem diante de si a filha vestida como escrava e o filho a caminho da forca. Psammenit suporta, cabisbaixo, a tragédia que abate seus filhos; mas explode em lágrimas diante da visão de um velho amigo da família (a tradução é controversa: amigo ou criado?) que pede esmolas aos soldados, como um mendigo faminto.
Montaigne considera a possibilidade de que na visão do velho amigo teria sido a gota d'água que fez transbordar o ''pote até aqui de mágoa" do rei vencido.
mas considera também o relato de Heródoto, para quem a dor ante o destino dos familiares do rei era grande demais para ser chorada. As grandes dores estariam além de qualquer possibilidade de expressão.
É mais suportável sofrer pelo cachorrinho do que pelos moradores do Bumba, assim como parece mais imediata nossa identificação com a impotência dele.
Conhecemos a ladainha do fatalismo brasileiro: primeiro se tenta o jeitinho, a viração. Vamos que vamos; se não piorar, já está bom. Depois vem a calamidade (chuva? Seca? Expulsão da terra? Bang bang) e a tragédia; depois a renovada esperança de tudo se ajeitar e a velha, santa paciência.
Do outro lado, os governos federal, estadual e municipal, que só agora liberam verbas, removem famílias de outras regiões de risco, determinam terrenos para construções de moradias de emergência.
A Caixa Econônica vai liberar empréstimos para as famílias reconstruírem suas casa.
Empréstimos? Não seria mais exato falar em indenizações?
Agora, só agora, as providências - se é que o dinheiro do Rio não vai parar outra vez na Bahia. Ah, o velho PMDB, nossa mais vergonhosa resignação! Qual a diferença, hoje, em relação ao ex-PFL?
No morro do Borel,
150 pessoas - somente desabrigados e seus familiares - fazem protesto contra a
precariedade de sua condição e exigem a presença do poder público. Manifesto do
Comitê de Mobilização e Solidariedade das Favelas de Niterói critica a
especulação imobiliária que expulsa famílias pobres dos bairros para suas
encostas e contribui para a deteriorização do meio ambiente. E exige
"...compromisso com os problemas públicos, que nos respeitem como cidadãos e
seres humanos."
Não
faltarão autoridades para acusar os poucos que se mobilizam para protestar de
politizarem a questão. Uai: mas a quastão não é política? Querem que acreditemos
que viver sobre um velho lixão (há 17 mil pessoas em condições semelhantes na
Grande São Paulo) é uma situação...natural? Nós somos os derrotados que não
conseguem chorar. Vivemos, todos, sobre uma espécie de lixo mal soterrado.
Antigamente se chamava entulho autoritário. Somos o cachorrinho do morro do
Bumba, salvos por um triz, sem entender o que temos a ver com aquela bagunça
toda. (CRÔNICA DA PROFESSORA E ESCRITORA MARIA RITA KEHL, EXTRAÍDA DO SEU LIVRO - 18 CRÔNICAS E MAIS ALGUMAS - Editora BOITEMPO EDITORIAL) Uma belíssima e verdadeira crônica, sem a menos dúvida. Maria Rita Kehl é uma das pessoas escolhidas por Dilma Rousseff para fazer parte da "COMISSÃO DA VERDADE". Nome errado, completamente errado como provam a imoralidade, a corrupção e as imundices pelas quais este país passou nos últimos quase doze anos. Doze anos de governo PT, partido justamente daqueles que se disseram perseguidos e torturados pelos militares, que agora, com esta indecente comissão, querem julgar. A comissão deveria sim se chamar de " COMISSÃO DA HIPOCRISIA" a maior que este país já viu.

TORCI PARA QUE OS PERSEGUIDOS DAQUELA ÉPOCA, UM DIA PUDESSEM CHEGAR AO PODER E MOSTRAR CARÁTER E DIGNIDADE.
MAS O QUE ACONTECEU? JUSTAMENTE ESTES ME PROVARAM QUE PODE EXISTIR ALGO AINDA PIOR QUE A VELHA DITADURA. ALGO BEM MAIS SUJO, PODE EXISTIR A HIPOCRISIA, A INSEGURANÇA, A CORRUPÇÃO, MENSALÕES, IMUNDICES NUNCA ANTES VISTAS NESTE PAÍS E ACIMA DE TUDO, PODE EXISTIR A TOTAL IMPUNIDADE CONTRA TODOS ESTES SALAFRÁRIOS E BANDIDOS QUE UM DIA CLAMARAM POR JUSTIÇA E LIBERDADE.
ERA ESTA A LIBERDADE QUE QUERIAM? ROUBAR OS COFRES PÚBLICOS E SE DEFENDEREM ENTRE SÍ?
AGORA CRIAM UMA COMISSÃO, QUE OUSAM CHAMAR DE "COMISSÃO DA VERDADE"?
NÃO, TIREM PRIMEIRO O ARGUEIRO DOS SEUS OLHOS, DEPOIS, TALVEZ....
(SIEGMAR)
P/S - Abra seus olhos e sua mente sra. Maria Rita Kehl, a senhora esta do lado errado, esta do lado dos bandidos.
DO UPEC