Entenda
por que José Dirceu montou a tresloucada operação para tentar se safar
no Supremo, sem poupar STF, PGR ou imprensa. Ele quer mais do que a
absolvição. Ele quer é, finalmente, ter o controle total do PT.
Ai, ai,
terei de apelar a um autor que eles julgam “deles”, mas que José Dirceu
certamente não leu porque não consta que o folgazão tenha sido um
socialista muito disciplinado. No “18 Brumário”, ao esculhambar Luís
Bonaparte — o sobrinho de Napoleão, que tentava viver como farsa as
glórias do tio — escreveu Marx, acusando-o de se ligar à pior escória e
formar um exército informal de vagabundos e desclassificados:
“(…) só quando ele próprio assume a sério o seu papel imperial, e sob a máscara napoleônica imagina ser o verdadeiro Napoleão, só aí ele se torna vítima de sua própria concepção do mundo, o bufão sério que não mais toma a história universal por uma comédia e sim a sua própria comédia pela história universal.”
“(…) só quando ele próprio assume a sério o seu papel imperial, e sob a máscara napoleônica imagina ser o verdadeiro Napoleão, só aí ele se torna vítima de sua própria concepção do mundo, o bufão sério que não mais toma a história universal por uma comédia e sim a sua própria comédia pela história universal.”
A tirada
serviria tanto para definir Luiz Inácio Lula da Silva como José Dirceu. O
primeiro, no entanto, já está virando história (e esse fato é central
nesta pantomima) — e fatalmente chegará o tempo em que será revisitado,
por mais que o país emburreça. A caracterização da personagem patética,
que faz de si mesmo uma imagem que os fatos se negam a referendar, serve
hoje como a luva em José Dirceu, certamente o elemento mais deletério
do petismo porque não carrega consigo nem mesmo a marca de certa
inovação que Lula, sem dúvida, representou num dado momento da história —
depois o sindicalista se perdeu e se dedicou à construção do aparelho
partidário que ambicionaria, como ambiciona, substituir a sociedade.
Dirceu, com o
aporte de Lula, está na raiz de uma frenética movimentação para tentar
desmoralizar as instituições brasileiras. Nada escapa ao seu radar, como
aqui se vem dizendo desde o fim de março: Procuradoria-Geral da
República, Supremo Tribunal Federal e, obviamente, a imprensa. A exemplo
de Luís Bonaparte, também tem a sua escória: o subjornalismo pistoleiro
— em versão impressa e eletrônica — e uma gangue organizada para
patrulhar a Internet e constituir uma enorme rede de difamação de
adversários. O objetivo é um só: demonstrar que ninguém tem autoridade
moral no país para condená-lo e aos demais quadrilheiros (como os
caracterizou a Procuradoria Geral da República).
Todas as
acusações que há contra a turma — escandalosamente recheadas de
EVIDÊNCIAS E CONFISSÕES, como a feita por Duda Mendonça — seriam fruto
de uma grande conspiração. Não por acaso, Rui Falcão, presidente do PT, a
lorpa da democracia e do estado de direito, saiu atirando contra a o
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e contra a imprensa.
“Contra a imprensa, não, contra a VEJA!”, diria um bobinho. Isso é
bobagem! Podem ter lá a sua hierarquia de desafetos dentro do ódio
geral. Mas o ódio que cultivam é à liberdade de expressão. Basta que
lembremos quantas vezes eles tentaram criar mecanismos para censurar o
jornalismo. Lula teria feito a promessa solene a alguns interlocutores
que ainda conseguirá esse intento antes de sair de cena. Na semana
passada, Falcão anunciou que a “mídia” será o próximo alvo do governo
Dilma. Consta que falou por sua própria conta. De todo modo, o dinheiro
público continua a financiar a esgotosfera, prática inexistente nas
demais democracias do do mundo. Sigamos.
Povo nas ruas
O “Zé” agora deu para espalhar por aí, com convicção mesmo, a seus interlocutores que “a sociedade não aceitará a sua condenação” e que, se isso acontecer, “haverá reação”. É mesmo? Reação de quem? Dirceu está confundindo a súcia virtual criada pelos seus sequazes, que finge formar um exército de milhões na Internet, com pessoas de verdade. Quem irá às ruas por José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino? Ousaria dizer que, hoje, nem mesmo o sindicalismo da CUT, que sabe ser pragmático quando interessa, se apressaria mover uma palha em favor deste senhor.
O “Zé” agora deu para espalhar por aí, com convicção mesmo, a seus interlocutores que “a sociedade não aceitará a sua condenação” e que, se isso acontecer, “haverá reação”. É mesmo? Reação de quem? Dirceu está confundindo a súcia virtual criada pelos seus sequazes, que finge formar um exército de milhões na Internet, com pessoas de verdade. Quem irá às ruas por José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoino? Ousaria dizer que, hoje, nem mesmo o sindicalismo da CUT, que sabe ser pragmático quando interessa, se apressaria mover uma palha em favor deste senhor.
Por que tanto desespero?
Lula e Dirceu se uniram nessa batalha por motivos diferentes. O primeiro não quer que seu governo fique com a marca de ter protagonizado o maior escândalo da história republicana. Se for superado, será pelo próprio petismo — algo me diz que, bem investigada, as relação do governo federal com a Delta pode disputar o primeiro lugar. Lula já reescreveu o passado, fez com o presente o que bem quis — porque boa parte da crítica política houve por bem suspender o juízo — e agora pretende aprisionar o futuro. Tem alma de ditador, mas contida por uma institucionalidade que nunca foi de seu agrado. De todo modo, está de olho na história.
Lula e Dirceu se uniram nessa batalha por motivos diferentes. O primeiro não quer que seu governo fique com a marca de ter protagonizado o maior escândalo da história republicana. Se for superado, será pelo próprio petismo — algo me diz que, bem investigada, as relação do governo federal com a Delta pode disputar o primeiro lugar. Lula já reescreveu o passado, fez com o presente o que bem quis — porque boa parte da crítica política houve por bem suspender o juízo — e agora pretende aprisionar o futuro. Tem alma de ditador, mas contida por uma institucionalidade que nunca foi de seu agrado. De todo modo, está de olho na história.
Dirceu não!
Dirceu está mesmo é de olho num, como direi, futuro mais próximo, que já
começa a ser presente. Lula, é fato, perdeu muito de seu vigor. Ainda
que venha a recobrar a saúde possível, já não é mais aquela força da
natureza. Poucos se deram conta de que o PT começa a ensaiar os
primeiros passos da sucessão — não sucessão formal, claro! Esta é
irrelevante. O partido começa a dar os primeiros passos em busca da nova
força unificadora. A máquina é gigantesca, e esse é um processo muito
lento.
Atenção! Não
se trata de buscar um novo Lula — isso não haverá, como não houve um
novo Getúlio Vargas (Emir Sader, o apedeuta diplomado, escreve
“Getulho”!!!). Trata-se de consolidar posições para liderar uma era
partidária pós-Lula. Se José Dirceu for condenado — e, acreditem, há
mais gente no PT torcendo por isso do que no PSDB!!! —, é evidente que
ele e seu grupo perdem força. Ninguém se candidata a liderar uma das
maiores legendas no país com uma condenação das costas de “chefe de
quadrilha”. Gente com essa denominação merece é aquele terno listrado.
O Zé não
está apenas querendo limpar a sua biografia ou pensando, sei lá, em
obter ganhos pessoais. Nessa área, ele é um portento, não é mesmo? Já
foi até consultor da construtora… Delta! Nada disso! O Zé quer é o poder
mesmo! Se não for ele a liderar esse PT pós-Lula, pensa lá com seus
botões, será quem? Sabe que a eventual condenação no Supremo provocará a
deserção de alguns de seus generais. O Zé precisa da absolvição para
travar a luta interna, que faltamente virá.
Perderam o juízo e a vergonha
Daí o vale-tudo. Essa gente perdeu o que restava de juízo e também a vergonha. E anda falando demais! Aqui e ali, os supostos votos no Supremo estão sendo cantados e anunciados como se a Corte fosse a casa da mãe-joana, e os ministros pudessem ser separados entre aqueles que estão enquadrados e aqueles que não estão. Prefiro pensar que isso tudo é fantasia e uma forma de difamação da corte. Nesse sentido, a defesa que ministros do Supremo fizeram ontem de Gurgel foi positiva.
Daí o vale-tudo. Essa gente perdeu o que restava de juízo e também a vergonha. E anda falando demais! Aqui e ali, os supostos votos no Supremo estão sendo cantados e anunciados como se a Corte fosse a casa da mãe-joana, e os ministros pudessem ser separados entre aqueles que estão enquadrados e aqueles que não estão. Prefiro pensar que isso tudo é fantasia e uma forma de difamação da corte. Nesse sentido, a defesa que ministros do Supremo fizeram ontem de Gurgel foi positiva.
Eis Dirceu!
Na luta pelo poder, este senhor não mede consequências. O que o Supremo
vai decidir, além da sua culpa ou da sua inocência perante a Justiça (e
que os ministros decidam segundo os autos), é se o Brasil continuará ou
não sujeito a seus métodos e à sua comédia pessoal, vivida como se fosse
a história universal.
*
Se gostaram, passem o texto adiante. Vocês, de hábito, são do balacobaco. Nestes últimos dias, no entanto, têm se superado na grandeza. Muito obrigado! Texto publicado originalmente às 5h20
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Se gostaram, passem o texto adiante. Vocês, de hábito, são do balacobaco. Nestes últimos dias, no entanto, têm se superado na grandeza. Muito obrigado! Texto publicado originalmente às 5h20
RE VEJA
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