Em artigo na
revista Época, Guilherme Fiuza afirma que "o governo popular acabou". O
que teremos, a partir de janeiro, é uma presidência-fantasma, sem
credibilidade, que tem como objetivo maior não ser enxotada do poder
pelo impeachment:
Um
deputado do PT propôs transformar as manifestações golpistas em crime
hediondo. Pulemos o registro da demagogia e da desonestidade
intelectual, porque isso já é intrínseco ao modus operandi do partido. O
que vale registrar é a tática definida daqui para a frente contra o
cerco do petrolão: construir uma narrativa de injustiça contra os
defensores do oprimido. O governo popular acabou. Iniciará uma
Presidência-fantasma em 1º de janeiro, com sua credibilidade apodrecida e
um único objetivo: não ser enxotado pelo impeachment. Não será fácil.
A bravata
do tal deputado fica no terreno do folclore. Cultivar o fantasma do
golpe é um dos truques preferidos dos companheiros. É bem verdade que
eles têm o plano – e aí não é folclore – de controlar a imprensa, com o
mesmo argumento de que a burguesia quer derrubar o governo popular a
golpes de manchete. Se Chávez, Kirchner e sua turma conseguiram, por que
não tentar no Brasil? Enquanto isso, aproveitam para dizer que os
protestos contra o governo podre são atos pela volta da ditadura.
Não
percamos mais tempo com isso. O grande herdeiro da ditadura militar no
Brasil é o PT. Tanto Dilma quanto os mensaleiros vivem eternamente da
mitologia da resistência aos milicos, um heroísmo canastrão do qual
extrairão até a última gota de propaganda maniqueísta. As redes sociais
do Planalto não param de espalhar releases e notinhas sobre os anos de
chumbo e os valentes mocinhos da época – viraram os bandidos de hoje,
mas essa parte não aparece no release. O PT ama a ditadura militar. Vive
dela.
Essa é a
parte mais tosca da estratégia de resistência – não mais aos militares,
mas aos democratas que querem seu dinheiro roubado de volta. A parte não
tão tosca do plano é a que ultrapassa a militância para contar com os
inocentes úteis, uma classe em franca expansão no Brasil, para alegria
dos companheiros. Entre as vozes a favor, que defendem Dilma para se
sentir progressistas (não é piada, elas existem aos montes), surge o
postulado central para tentar salvar o pescoço do governo: relativizar a
corrupção da Petrobras.
Novamente
é preciso ressalvar: não é piada. Um crescente número de pessoas que se
acham sérias e não estão (ainda) a soldo do petismo deu para dizer por
aí que o petrolão é normal. Quer dizer: uma coisa bem brasileira,
arraigada no Estado patrimonialista e toda aquela sociologia de beira de
praia. É o mesmo recurso estilístico sacado por Lula no mensalão: caixa
dois todo mundo faz. Um empresário chegou a escrever que hoje se rouba
até menos na Petrobras que em outros tempos. Vamos explicar aos
ignorantes ou mal-intencionados (a esta altura, dá no mesmo): o PT não
ficou igual aos outros; o PT não é corrupto como os outros, nem um pouco
menos, nem um pouco mais; o PT é o único, sem antecessor na história do
Brasil, que montou um sistema de corrupção no Estado brasileiro, de
dentro do Palácio do Planalto, para enriquecer o partido e se eternizar
no poder.
O
ex-ministro-chefe da Casa Civil e homem forte do presidente foi preso
por montar um duto entre as estatais e o caixa do partido governante.
Privatizou na fonte o dinheiro do contribuinte. Não há precedente no
país. Ao raiar do governo petista, foi montada uma diretoria na
Petrobras para um saque bilionário em benefício do grupo político
governante, como está demonstrado pela Polícia Federal a partir das
investigações sobre o doleiro Alberto Youssef.
Deu para
entender, queridos inocentes úteis? O roubo não é a velha esperteza de
uns oportunistas com cargos na máquina. O roubo é um projeto político de
poder. Que aliás, graças a seres compreensivos como vocês, dá certo há
12 anos.
E agora? O
Brasil se sujeitará ao esquema por mais quatro anos? Só os inocentes
inúteis podem crer que essa forma de dominação sofrerá uma metamorfose
redentora em 1o de janeiro. Eles não sabem fazer de outro jeito. Dilma
já tenta legalizar o rombo fiscal, diante de um Brasil abobado. Nem o
mensalão, nem a queda de sete ministros no primeiro ano de governo –
nada modificou em um milímetro o esquema parasitário.
Vocês estão esperando o quê? Que um companheiro bata na sua porta informando-lhe com ternura que veio buscar suas calças?
ORLANDOTAMBOSI