segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Temer viveu no domingo a síndrome do 1º morto


A intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro alterou sensivelmente a rotina de Michel Temer. Em vez de votar a reforma da Previdência, como estava previsto, a Câmara analisará nesta segunda-feira (19) o decreto da intervenção. E o presidente estava mais preocupado neste domingo com o sistema carcerário fluminense do que com o Legislativo. Na expressão de um ministro que conversou com o blog na madrugada desta segunda, “o presidente viveu a síndrome do primeiro morto.”
Deve-se o desassossego de Temer ao temor de represálias do crime organizado nas 54 cadeias do Rio. A primeira rebelião explodiu no presídio Milton Dias Moreira. Começou na tarde de domingo, um dia depois da visita de Temer ao Estado. E só foi inteiramente controlada na madrugada desta segunda. A encrenca foi deflagrada a partir de uma tentativa de fuga. Contidos, os presos fizeram 18 reféns. Houve troca de tiros. Três detentos ficaram feridos. Após longa negociação, os reféns foram liberados.
O vídeo abaixo, veiculado pelo Globo, exibe cenas captadas dentro do presídio. A imagem revela que havia de tudo na cadeia, de armas a celulares com acesso à internet. A certa altura, um dos presos declara: ''Bota essa porra no Facebook, bota no Twitter.'' Ouve-se ao fundo o ruído de tiros. Outro detento narra a fuzarca: ''A bala comendo, a bala comendo…''. A tensão no presídio eletrificava as conversas em Brasília.
Em suas manifestações oficiais, Temer referiu-se à intervenção como uma “guerra”. Prometeu respostas ''duras'' contra a desenvoltura da bandidagem. Nomeou como interventor um general: Braga Netto, comandante militar do Leste. Reza o decreto que o interventor se reportará diretamente ao presidente da República. Em nota veiculada no Twitter, na sexta-feira, o comandante do Exército, general Villas Bôas, cuidou de escrever coisas definitivas, definindo muito bem as coisas.
“Acabei de reunir-me com o general Braga Netto, nomeado interventor federal na segurança pública do RJ”, ele escreveu. “Da análise, concluímos que a missão enlaça o general diretamente ao Sr PR [Presidente da República]…”, acrescentou, como que decidido a realçar que se considera, por assim dizer, excluído da cadeia de comando da intervenção.
Ou seja: se tivesse prevalecido a pior hipótese na primeira rebelião carcerária do ciclo intervencionista, os cadáveres cairiam sobre o colo de Temer. Daí a “síndrome” a que se referia o ministro ouvido pelo blog.
Até aqui, a ação de Brasília foi 100% feita de marketing. A rebelião deste domingo serviu para realçar que a ''guerra'' deflagrada por Temer não será vencida com propaganda.
Josias de Souza