Servidores da rede reclamam dos salários, dos contratos de trabalho e das gratificações. Atendimento a pacientes está prejudicado
Médicos e funcionários da rede estadual de saúde da Bahia iniciaram greve por tempo indeterminado nesta terça-feira (3). Apenas serviços de urgência e emergência estão sendo mantidos.
Os grevistas afirmam que existe uma situação de “calamidade” na saúde estadual que se deve ao salário dos servidores. As principais críticas são o salário-base dos médicos, de R$ 683 por 20 horas semanais, e a ausência de reajuste em gratificações fixadas em 2009 e a existência de contratos precários de trabalho.
O governo Jaques Wagner (PT) afirma que a crítica ao salário-base é uma “meia-verdade” usada para influenciar a opinião pública, já que nenhum médico recebe apenas o piso. Diz ainda que o aumento das gratificações está em implantação e que já substituiu mais de 3.000 terceirizados.
Os 41 hospitais estaduais da Bahia, 17 deles em Salvador, fazem cerca de 98 mil atendimentos por dia. São aproximadamente 36 mil funcionários, entre concursados e terceirizados, dos quais 3.500 são médicos.
Os relatos sobre adesão à greve de governo e sindicatos são divergentes. Enquanto os sindicatos dos médicos e dos servidores apontam alta participação, a Secretaria da Saúde informou que o atendimento estava normal em cinco unidades verificadas, entre elas o HGE (Hospital Geral do Estado).
A reportagem, contudo, constatou na manhã desta terça (3) situação diferente no HGE, com usuários voltando sem atendimento para casa. Com um dreno no peito a ser revisado, Flávio César, 29 anos, disse ter sido orientado a ligar no dia seguinte, porque não havia médicos.
César e Fernanda Ferreira, 31 anos, haviam chegado à unidade às 6h30, provenientes da Boca do Rio, bairro de classe média baixa a 7 km dali. Ferreira estava com uma queimadura na mão e também ficou sem atendimento.
Na porta do hospital, cerca de cem grevistas protestavam com faixas, apitos e críticas ao microfone. Em uma adaptação de “Asa Branca”, clássico de Luiz Gonzaga (1912-1989), cantavam “Quando olhei meu contracheque / com salário de ilusão / eu perguntei a Jaques Wagner / por que tamanha humilhação”.
Uma “carta aberta à população” distribuída no local justificava o movimento pela “situação insustentável” da saúde estadual. “Lá se vão quatro anos, e a promessa de melhoria da assistência à saúde, que ajudou a eleger o governo Wagner, não se concretizou”, diz trecho do texto.
O superintendente de Assistência Farmacêutica, Ciência e Tecnologia em Saúde do governo, o médico Alfredo Boa Sorte (PC do B), criticou o fato de a greve ter sido decidida em 14 de abril e a pauta de reivindicações ter sido entregue ao governo somente dez dias depois. “É extemporânea essa radicalização. Sem negociação já querem ter greve”, afirmou ao iG.
No final de semana e nesta terça (3), o governo Wagner publicou anúncio em jornais locais com o título “O governo da Bahia faz mais pelo servidor da saúde”, em que relaciona medidas de valorização do servidor e do sistema de saúde no Estado.