Michel
Temer terá saudades do inquérito sobre portos quando sentir na carótida
o nó da investigação que o vincula ao departamento de propinas da
Odebrecht. A Lava Jata deflagrou nesta terça-feira, em Curitiba, sua 51ª fase.
Entre os encrencados estão os ex-presidentes da Câmara Eduardo Cunha e
Henrique Eduardo Alves, dois ilustres membros da “turma do charuto”.
Gente que, nos áureos tempos, jogava fumaça e conversa fora na varanda
do Jaburu, em jantares promovidos pelo então vice-presidentre de Dilma
Rousseff.
A nova incursão da força-tarefa de Curitiba envolve um contrato firmado pela Diretoria Internacional da Petrobras com a Odebrecht. Coisa de US$ 825 milhões, dos quais US$ 56,5 milhões viraram propina. Em reais, o jabaculê gira na casa dos R$ 200 milhões. O grosso foi destinado ao (P)MDB de Temer, conforme delatou a Odebrecht no ano passado. Um dos delatores, Márcio Faria, ex-presidente da empreiteira, disse ter tratado da encrenca, em 2010, numa reunião da qual participaram Cunha e o próprio Temer (reveja no vídeo lá do alto).
Depois desse encontro, informou o delator, a Odebrecht repassou ao grupo de Temer 5% do valor do contrato —o equivalente a US$ 40 milhões. Ou R$ 142 milhões em moeda nacional. Já acomodado na poltrona de presidente, Temer chegou a divulgar um vídeo para responder ao delator. Ele confirmou ter participado da reunião. Mas negou que o tema da conversa tenha sido o contrato com a Petrobras ou a propina que ele renderia. (Reveja abaixo as explicação de Temer).
Temer só não foi incomodado nesta terça-feira porque seu caso está sendo tratado não em Curitiba, mas em Brasília. Por enquanto, a batata do presidente assa na Procuradoria-Geral da República e no Supremo. A partir de janeiro, já bem passado, o tubérculo será transferido para a Procuradoria no Paraná e para a mesa de Sergio Moro. Há muito o que explicar, pois Márcio Faria disse ter providenciado o repasse para o (P)MDB a pedido de Temer e Cunha.
A transação foi acertada em reunião no escritório de Temer, em São Paulo. Participou da conversa, além de Cunha, outro personagem tóxico: João Augusto Henriques. Era o operador do partido dentro da Petrobras. Temer alega que recebeu o delator a pedido de Eduardo Cunha. Por quê? Alega que o sujeito manifestara o desejo de fazer doação eleitoral à legenda. Temer também reconheceu que o operador João Henrique estava na sala.
O presidente jura que não se falou na reunião nem de dinheiro nem de contrapartidas. Se Eduardo Cunha celebrou negócios depois do encontro, agiu por sua conta e risco. Não se trata propriamente de uma explicação, mas de uma caricatura burlesca de um velhon bordão: “Eu não sabia”.
A delação de Márcio Faria não é o único contencioso de Temer no capítulo da Lava Jato referente à Odebrecht. Outro delator, o ex-executivo da empreiteira Claudio Melo Filho, contou ter testemunhado o jantar no qual o então vice-presidente Temer, em pleno Jaburu, mordeu Marcelo Odebrecht em R$ 10 milhões. A doação foi legal, sustentam Temer e Eliseu Padilha, que o acompanhava no jantar. Caixa dois, rebate o delator, cujo depoimento já foi confirmado posteriormente pelo próprio Marcelo Odebrecht.
Temer se considera um político honrado e inocente. Sua honradez é incrível, porque é cada vez mais difícil de acreditar que alguém que presidiu o PMDB por 15 anos, convivendo com cunhas, renans e jucás, ainda consegue brandir uma reputação inatacável. Sua inocência é inacreditável, porque não é fácil acreditar que um personagem com o seu histórico —30 anos de vida pública, presidente da Câmara três vezes— seja ingênuo a ponto de se deixar usar por gente como Cunha.
Graças à sua virtuosa inocência, Michel Temer tem um grande passado pela frente. Quando deixar a Presidência, em 1º de janeiro de 2019, o personagem talvez se arrependa de ter tratado com tanto desprezo o seu futuro.
A nova incursão da força-tarefa de Curitiba envolve um contrato firmado pela Diretoria Internacional da Petrobras com a Odebrecht. Coisa de US$ 825 milhões, dos quais US$ 56,5 milhões viraram propina. Em reais, o jabaculê gira na casa dos R$ 200 milhões. O grosso foi destinado ao (P)MDB de Temer, conforme delatou a Odebrecht no ano passado. Um dos delatores, Márcio Faria, ex-presidente da empreiteira, disse ter tratado da encrenca, em 2010, numa reunião da qual participaram Cunha e o próprio Temer (reveja no vídeo lá do alto).
Depois desse encontro, informou o delator, a Odebrecht repassou ao grupo de Temer 5% do valor do contrato —o equivalente a US$ 40 milhões. Ou R$ 142 milhões em moeda nacional. Já acomodado na poltrona de presidente, Temer chegou a divulgar um vídeo para responder ao delator. Ele confirmou ter participado da reunião. Mas negou que o tema da conversa tenha sido o contrato com a Petrobras ou a propina que ele renderia. (Reveja abaixo as explicação de Temer).
Temer só não foi incomodado nesta terça-feira porque seu caso está sendo tratado não em Curitiba, mas em Brasília. Por enquanto, a batata do presidente assa na Procuradoria-Geral da República e no Supremo. A partir de janeiro, já bem passado, o tubérculo será transferido para a Procuradoria no Paraná e para a mesa de Sergio Moro. Há muito o que explicar, pois Márcio Faria disse ter providenciado o repasse para o (P)MDB a pedido de Temer e Cunha.
A transação foi acertada em reunião no escritório de Temer, em São Paulo. Participou da conversa, além de Cunha, outro personagem tóxico: João Augusto Henriques. Era o operador do partido dentro da Petrobras. Temer alega que recebeu o delator a pedido de Eduardo Cunha. Por quê? Alega que o sujeito manifestara o desejo de fazer doação eleitoral à legenda. Temer também reconheceu que o operador João Henrique estava na sala.
O presidente jura que não se falou na reunião nem de dinheiro nem de contrapartidas. Se Eduardo Cunha celebrou negócios depois do encontro, agiu por sua conta e risco. Não se trata propriamente de uma explicação, mas de uma caricatura burlesca de um velhon bordão: “Eu não sabia”.
A delação de Márcio Faria não é o único contencioso de Temer no capítulo da Lava Jato referente à Odebrecht. Outro delator, o ex-executivo da empreiteira Claudio Melo Filho, contou ter testemunhado o jantar no qual o então vice-presidente Temer, em pleno Jaburu, mordeu Marcelo Odebrecht em R$ 10 milhões. A doação foi legal, sustentam Temer e Eliseu Padilha, que o acompanhava no jantar. Caixa dois, rebate o delator, cujo depoimento já foi confirmado posteriormente pelo próprio Marcelo Odebrecht.
Temer se considera um político honrado e inocente. Sua honradez é incrível, porque é cada vez mais difícil de acreditar que alguém que presidiu o PMDB por 15 anos, convivendo com cunhas, renans e jucás, ainda consegue brandir uma reputação inatacável. Sua inocência é inacreditável, porque não é fácil acreditar que um personagem com o seu histórico —30 anos de vida pública, presidente da Câmara três vezes— seja ingênuo a ponto de se deixar usar por gente como Cunha.
Graças à sua virtuosa inocência, Michel Temer tem um grande passado pela frente. Quando deixar a Presidência, em 1º de janeiro de 2019, o personagem talvez se arrependa de ter tratado com tanto desprezo o seu futuro.
Josias de Souza