Governador de MG é acusado de receber R$ 15 milhões em propina para favorecer Odebrecht; defesa nega. Decisão da Corte, contudo, foi adiada após pedido de vista de ministro.
O ministro Herman Benjamin, do Superior Tribunal de Justiça (STJ),
votou nesta quarta-feira (29) em favor de tornar o governador de Minas
Gerais, Fernando Pimentel (PT), réu pelo crime de corrupção passiva.
Relator do caso, Benjamin também se manifestou contra afastar o
governador do mandato caso a denúncia do Ministério Público seja aceita
pela Corte.
Após o voto de Herman Benjamin, também votou pelo recebimento da
denúncia o ministro Jorge Mussi. Terceiro a votar, Og Fernandes pediu
vista, ou seja, mais tempo para analisar o processo. Com isso, o
julgamento foi interrompido e não há data para ser retomado.
A decisão sobre tornar Pimentel réu ou não depende da maioria dos votos
dos 15 ministros que compõem a Corte Especial do STJ. Eles também
decidirão se afastam ou não o governador do mandato se a denúncia for
recebida.
Acusação
Pimentel é acusado de pedir e receber R$ 15 milhões em propina para
favorecer a construtora Odebrecht na obtenção de seguros de créditos
obtidos pela construtora junto ao BNDES para obras na Argentina e em
Moçambique, nos valores de US$ 1,5 bilhão e US$ 180 milhões,
respectivamente.
Segundo a denúncia, Pimentel teria ajudado a empresa na condição de
ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), entre
2011 e 2014, durante o governo Dilma Rousseff.
Os seguros foram concedidos em 2013 pela Câmara de Comércio Exterior (Camex), ligada ao ministério e presidida por Pimentel.
Além de Pimentel, foram acusados:
- Eduardo Serrano, chefe de gabinete no MDIC;
- Pedro Medeiros, apontado como intermediador dos recursos destinados ao governador;
- Benedito de Oliveira, empresário próximo de Pimentel;
- Marcelo Odebrecht, ex-presidente da Odebrecht
- João Nogueira, diretor da construtora.
Entenda o caso
Apresentada com base nas delações de Bené, Odebrecht e Nogueira, a
denúncia narra que em 2012, no cargo de ministro, Pimentel teria pedido a
Medeiros para lhe informar sobre interesses de empresas junto ao MDIC
nos quais poderia intervir para receber valores.
O chefe de gabinete teria, então, verificado que a Odebrecht tinha dois
pedidos para obtenção de seguros de crédito na Camex, para empréstimos
que já havia conseguido junto ao BNDES.
Um dos empréstimos, de US$ 1,5 bilhão, bancaria projeto de Soterramento
da Linha Ferroviária de Sarmiento, localizada em Buenos Aires. O outro,
de US$ 180 milhões, foi destinado à construção de um corredor
interurbano de transporte público na cidade de Maputo, em Moçambique.
Segundo a denúncia, Pimentel recorreu a Bené para se aproximar de João
Nogueira, diretor de crédito à exportação da Odebrecht. Num encontro em
2012, Pimentel teria pedido ao executivo R$ 20 milhões. Presidente da
construtora, Marcelo Odebrecht teria concordado em dar R$ 15 milhões.
Com base nos relatos dos delatores, a PGR listo uma série de mensagens
telefônicas entre Bené e Nogueira para acertar os pagamentos. O dinheiro
em espécie era recebido por Pedro Medeiros em hotéis em São Paulo entre
2012 e 2013, mediante o fornecimento de senhas previamente combinadas.
O que diz a defesa
Na tribuna do STJ, o advogado de Pimentel, Eugênio Pacelli, disse que a
denúncia é fruto de "perseguição política" contra o governador.
Ele lembrou que a investigação começou em outubro de 2014, quando a
Polícia Federal em Brasília recebeu a informação de que Bené
desembarcaria na capital federal com malas de dinheiro.
O advogado contou que, quando o empresário chegou à delegacia para ser
interrogado, o delegado lhe perguntou se ele era filiado a partido
político e se conhecia Pimentel.
"Vamos provar que Fernando Pimentel era o alvo, foi investigado por
perseguição política. Tudo se tratava e se tratou de diligência movida
por interesses políticos [...] O alvo sempre foi Fernando Pimentel. Está
muito claro o vício originário da Operação Acrônimo, que foi fruto de
delação anônima", afirmou Pacelli.
Na sustentação, ele também apontou supostas falhas na investigação que
poderiam anular a denúncia, como o fato de a informação sobre o caso
terem chegado à PF pela Polícia Civil de Minas Gerais e pelo Ministério
Público Estadual, que não poderiam investigar um ministro.
Voto do relator
No julgamento, Benjamin rebateu a tese da defesa e descartou motivação política da Polícia Federal na investigação.
"Não seria crível que a PF teria envolvimento político contra a
campanha do governador Fernando Pimentel. Estamos falando de órgão
federal, e a presidência da República era ocupada por integrante do
partido do candidato", disse o ministro.
Ele também considerou que como os crimes teriam ocorrido antes do
mandato de Pimentel como governador, não seria necessário afastá-lo do
cargo.
"Em segundo lugar, não há nenhum ato do denunciado Fernando Pimentel
que vise obstruir ou criar entrave à investigação criminal. Não vejo
necessidade do afastamento do cargo", disse Herman Benjamin.
O eventual recebimento da denúncia pelo STJ não representa culpa do
governador, somente a existência de indícios de que ele cometeu crime.
Só ao final do processo, após depoimentos de testemunhas e análise das
provas, ele poderá ser condenado ou absolvido.DO
Por Renan Ramalho, G1, Brasília
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