Luislinda Valois tornou-se ministra de Direitos Humanos de Michel Temer por ser negra, mulher e tucana. Já havia anulado os efeitos de sua feminina negritude ao requerer o direito de acumular uma aposentadoria de desembargadora com o contracheque de ministra. Imaginou-se que permanecia no cargo graças à sua filiação ao PSDB. Mas foi renegada pelo tucanato. Nesta quinta, desfiliou-se da legenda. E anunciou a pretensão de permanecer na Esplanada dos Ministérios.
O apego ao cargo causa espanto. Sobretudo quando se recorda que, sob a alegação de que sua situação, “sem sombra de dúvida, se assemelha ao trabalho escravo”, madame Valois tentou embolsar, noves fora “atrasados” de cerca de R$ 300 mil, uma remuneração mensal de R$ 61,4 mil. Açoitada nas manchetes, a doutora recuou. Deu-se por satisfeita com a maior remuneração permitida por lei na administração pública: o teto de R$ 33,7 mil.
Antes de dar meia volta, a ministra soara assim numa entrevista: “Como é que eu vou comer, como é que eu vou beber, como é que se vai calçar? Eu, como aposentada, podia vestir qualquer roupa, podia calçar uma sandália havaiana e sair pela rua. Mas como ministra de Estado eu não me permito andar dessa forma. Eu tenho uma representatividade.”
Num governo lógico, Luislinda teria sido enviada ao olho da rua no instante em que evocou a escravidão para beliscar um privilégio. Tendo sobrevivido ao inacreditável, teria sido demitida diante da retórica em que se misturaram num caldeirão de desfaçatez a dieta, o guarda-roupa e as havaianas. Tendo resistido ao impensável seria exonerada pela contradição de afeiçoar-se ao cargo que a escravizava.
Um governo lógico já teria dado a Luislinda uma carta de alforria. A ex-tucana continua ministra porque não pode ser lógico o governo presidido por um denunciado criminal, por onde já passaram Geddel Vieira Lima e Romero Jucá e que ainda abriga Eliseu Padilha e Moreira Franco. Num governo assim, Luislinda escravizará o contribuinte pelo tempo que desejar.
Josias de Souza
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