segunda-feira, 5 de novembro de 2018
Em tempos de relativismo feroz e "pós-verdade", a verdade é afirmada -
por jornalistas, sociólogos e até filósofos - como inexistente. Se o
mundo é constituído de narrativas, visões pessoais, étnicas, coletivas,
não há verdade universal. Não há fato que torne uma "narrativa"
dominante, isto é, universal (ora, por isso mesmo tudo é relativo).
Ciência? Mera narrativa. Afirmações? Puramente subjetivas. E por aí vai.
Vence a mentira, como, a propósito, ressalta o texto de Bruno
Garschagen publicado pelo Gazeta do Povo:
Aceitar como válida – ou até mesmo legítima – qualquer observação que
vincule a aceitação de Sergio Moro para ser ministro da Justiça de Jair
Bolsonaro com a sua atuação na Lava Jato e supostas pretensões
políticas para 2022 não é só fazer o jogo da esquerda: é fazer-se
instrumento de uma artimanha ideológica que tenta atribuir à operação
aquilo que a esquerda quer que ela seja: uma grande conspiração da
direita para prender Lula, impedi-lo de ser candidato e destruir as
chances do PT de voltar ao poder. O lulopetismo é, de fato, um delírio.
Essa é, aliás e desde o início, a tese que a esquerda, capitaneada
pelo PT, tenta vender publicamente. Quem a amplifica e se esforça para
legitimá-la travestida de análise imparcial dos fatos são os
intelectuais e a intelligentsia do antigo regime petista, fauna e flora
que reúne políticos, professores universitários, comentaristas
políticos, jornalistas e repórteres. Se você achava que tinha lido de
tudo o que é equivocado na grande imprensa durante a eleição, deve estar
vendo agora que nada é tão esquerdado que não possa mais esquerdar.
Incapazes de racionar fora de um esquema mental que se provou
desatualizado e inadequado para o atual momento do país, quando não
estritamente orientado por um vínculo ideológico, o grupo que ainda tem
influência na opinião e na política comete contra Moro um erro de
natureza similar ao que cometeu ao analisar a candidatura de Bolsonaro, a
sua vitória e o que pensa e deseja a numerosa parcela da sociedade que o
elegeu.
Mesmo quando diziam ser falsa a narrativa do PT, os comentaristas que
citavam a hipótese já contribuíam para colocá-la no debate e para
alimentar a máquina petista de destruir reputações. Foram muitos os que,
a pretexto de negar o que estava sendo declarado aos quatro cantos
pelos esquerdistas, colaboraram como instrumentos de propagação dessa
mentira. Ainda mais quando se dizia que a decisão de Moro contribuía,
sim, para reforçar a acusação dos petistas, como se os petistas tivessem
credibilidade e legitimidade para acusar alguém de qualquer coisa.
Outros jornalistas, como Janio de Freitas, fizeram, em vão, um
malabarismo verbal para garantir que a aceitação de Moro arranhou o seu
prestígio e fortaleceu o “projeto autoritário e reacionário de Jair
Bolsonaro”. Considerando que não há qualquer dado empírico que confirme
tal afirmação, e o próprio Freitas se contradiz ao dizer que Moro
fortalece Bolsonaro (só se pode fortalecer alguém quando se tem
prestígio para tal), suspeito que Moro teve seu prestígio arranhado
apenas dentro do grupo do qual faz parte o comentarista, que não definiu
nem demonstrou o que será essa mistura de autoritarismo com
reacionarismo do próximo governo eleito.
Ardilosamente, Freitas colocou sob suspeita as decisões do juiz
federal no âmbito da Lava Jato e cobrou dos magistrados que terão a
responsabilidade de julgar os recursos contra as decisões por Moro já
proferidas uma postura diferente daquela que o colunista chamou de
“temerosa, oportunista, facciosa”. Num só artigo, ele lançou suspeições
sobre o trabalho do juiz-símbolo do combate à corrupção e de todos os
demais desembargadores do Tribunal Regional Federal que ratificaram as
condenações.
Além das “análises”, houve também quem usasse o espaço no jornal para
difundir ataques formulados por entidades petistas como se fossem
posições sérias e insuspeitas. Foi o caso da nota assinada pela
Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABDJ) e publicada
pela jornalista Monica Bergamo em sua coluna. Essa associação serve como
satélite do petismo no mundo jurídico e agiu para ratificar a tese da
condenação de Lula como sendo uma prisão política, mas é tratada desde
sempre como se fosse um grupo independente com reputação para atacar
quem quer que seja. A nota toda é um ataque ideologicamente enviesado
contra Moro. A narrativa é a mesma: ao aceitar o convite de Bolsonaro, o
juiz federal assinou uma confissão pública de que esteve a todo momento
atuando politicamente em favor da candidatura vitoriosa. No passado,
quando Bolsonaro era considerado carta fora do baralho, essa mesma
esquerda acusava Moro de estar a serviço do PSDB.
Tudo parece ser um ataque coordenado para minar as escolhas do
presidente eleito depois das tentativas de minar a sua campanha: foi
assim com as escolhas de Hamilton Mourão para vice e de Paulo Guedes
para ministro da Fazenda. Várias foram as “reportagens” que abriram mão
de informar para convencer o leitor de que Bolsonaro era o cão
(fascista, homofóbico, misógino) chupando manga.
Uma coisa é fazer críticas oportunas aos poderes que estarão
concentrados nas mãos de Sergio Moro no Ministério da Justiça. É dever
dos analistas fazê-lo, assim como, se for o caso, apontar caminhos mais
adequados. Porque, por mais bem-intencionados que Bolsonaro e Moro
possam ser, a concentração de poder e o seu exercício sem os devidos
contrapesos podem provocar consequências negativas imprevistas e
anabolizar o Megatério que é o Estado brasileiro.
Outra coisa é, entretanto, ocultar uma clara intenção de atacar
sistematicamente um presidente, suas escolhas e seus escolhidos sob o
disfarce de análise isenta e de jornalismo imparcial. Não é problema
comentaristas, analistas e jornais terem posições políticas definidas e
pautar seus trabalhos a partir de suas ideologias e visões de mundo, mas
essas informações devem ser de conhecimento pleno dos leitores: pelo
bem da honestidade intelectual e da integridade do jornalismo. DO O.TAMBOSI
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