Josias de Souza
Pela manhã, Michel Temer discursou
para investidores estrangeiros em São Paulo. “A responsabilidade rende
frutos”, declarou. À tarde, de volta a Brasília, Temer assumiu o comando
de uma articulação irresponsável
para assegurar que o suplente de deputado Rodrigo Rocha Loures, o homem
da mala, não perca o escudo do foro privilegiado. Como um centauro
metafórico, o governo Temer mantém a cabeça nas alturas do mercado
globalizado e o corpo aqui embaixo, na politicagem enlameada, nos
arranjos de um presidente investigado que tenta evitar a aparição de
outro delator.
Em Brasília, para segurar a língua do potencial delator Rocha Loures, Temer corre atrás de um deputado paranaense que se disponha a assumir uma vaga no ministério, pois Osmar Serraglio (PMDB-PR), que cedera a poltrona ao suplente da mala, não topou ser rebaixado da pasta da Justiça para o Ministério da Transparência. Conselheiros do presidente avisam que a utilização tão escancarada do organograma do Estado pode pegar mal. Aconselham moderação. Mas a simples cogitação de plantar um deputado qualquer na sacrossanta pasta da Transparência apenas para adular um potencial delator é reveladora do ponto a que chegou a gestão Temer.
A cabeça do centauro assegura que o governo vive situação de franca normalidade. Mas o Supremo Tribunal Federal autorizou a Polícia Federal a interrogar o investigado Temer sobre a movimentação anormal do corpo do centauro, dado a travar diálogos desqualificados com empresários suspeitos no escurinho do Palácio do Jaburu.
Aos pouquinhos, Temer vai consolidando o projeto iniciado nos 13 anos de administrações petistas. Consiste em transformar o Brasil numa república de bananas. Assim eram chamadas as nações da América Central governadas por oligarquias corruptas e subservientes ao capital estrangeiro. Uma Banana Republic era, normalmente, pequena. Mas o Brasilzão, com suas peculiaridades, entra no clube como um bananão onde a corrupção generalizou-se de tal forma que tudo tende a acabar em palavras com a desinência ‘ão’ —como acordão, por exemplo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário