Ex-corregedora nacional elogia decisão de Marco Aurélio e diz que o senador alagoano –afrontado com a lei– quis acuar o Judiciário.
A ex-corregedora nacional de Justiça Eliana Calmon elogiou a liminar do
ministro Marco Aurélio, decisão provisória que afastou, nesta
segunda-feira (5), o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência do
Senado.
“Como sempre, o Ministro Marco Aurélio surpreende. Desta vez entendo que
agiu muito bem, afastando a chicana que por vezes ocorre nos
julgamentos, quando um julgador submete a seu capricho a maioria dos
colegas, em atitude inaceitável”, diz a ministra aposentada.
“Considerei a decisão sobretudo didática pela atitude e pelos
argumentos. Parece que os políticos ainda não se deram conta que o
Brasil mudou e o povo não mais aceita a velha política.”
O comentário é uma referência ao pedido de vista do ministro Dias
Toffoli, que, no dia 3 de novembro, interrompeu o julgamento de ação que
proíbe que réus ocupem posto na linha sucessória da Presidência da
República.
Na decisão liminar, Marco Aurélio registra que, após cinco votos
proferidos, Toffoli pediu vista. O decano, ministro Celso de Mello
antecipou o sexto voto, sendo alcançada a maioria absoluta, de seis a
zero.
“Os seis ministros concluíram pelo
acolhimento do pleito formalizado na inicial da arguição de
descumprimento de preceito fundamental, para assentar não poder
réu ocupar cargo integrado à linha de substituição do Presidente da
República. O tempo passou, sem a retomada do julgamento. Mais do que
isso, o que não havia antes veio a surgir: o hoje Presidente do Senado
da República, senador Renan Calheiros, por oito votos a três, tornou-se
réu, considerado o inquérito nº 2.593.
Mesmo diante da maioria absoluta já
formada na arguição de descumprimento de preceito fundamental e réu, o
Senador continua na cadeira de Presidente do Senado, ensejando
manifestações de toda ordem, a comprometerem a segurança jurídica“, afirmou Marco Aurélio, ao conceder a liminar.
Para que a liminar seja confirmada pelo plenário, Dias Toffoli precisa liberar o seu voto.
Reação das “velhas raposas”
Em reportagem de Murillo Camarotto, publicada nesta segunda-feira (5) no jornal “Valor Econômico”,
Eliana Calmon disse que as mudanças feitas pela Câmara no pacote
anticorrupção e a pressa na aprovação da Lei de Abuso de Autoridade
configuram uma reação das “velhas raposas” ao avanço das investigações
contra os políticos.
Ainda segundo a reportagem, a ministra aposentada do STJ alinha sua
opinião à do juiz federal Sergio Moro, de que este não é o momento ideal
para o Congresso tratar da Lei de Abuso de Autoridade, uma prioridade
de Renan Calheiros.
“Acho que o Moro tem toda a razão. Pela primeira vez o Congresso está
sendo afrontado com a lei. Neste momento, os políticos estão sentindo na
pele e eles pensavam que nunca aconteceria”.
“O que o Renan fala dos super salários, ele está certo. Agora, ele não
faz isso em defesa da Constituição, mas como forma de botar a
magistratura acuada”, disse Eliana Calmon. - DO J.TOMAZ
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