Ou a banda muda do Senado faz barulho ou os cangaceiros da Mesa Diretora darão à maioria dos senadores uma péssima reputação. O processo que levou o Supremo Tribunal Federal a converter Renan em réu mistura o que há de mais nefasto na política brasileira. Renan teve uma filha fora do casamento. Até aí, problema dele e da patroa. Acusado de pagar a pensão da criança com dinheiro recebido da Mendes Júnior, enrolou-se nas explicações. E o problema passou a ser do contribuinte, que já não suporta fazer o papel de bobo.
Os senadores tiveram a oportunidade de se livrar de Renan em 2007, quando as pulsões do senador ganharam as manchetes. Em troca da renúncia à presidência do Senado, preservaram-lhe o mandato. Mais tarde, devolveram-lhe a poltrona de presidente mesmo sabendo que o caso resultara em denúncia da Procuradoria. Deitando-se ao lado de Renan na mesma cama pela terceira vez, o Senado levará seu desembaraço moral às fronteiras do paroxismo, humilhando-se de forma inédita. O Brasil não merece.
Com atraso de quase uma década, Renan vive o seu ocaso. Afora o caso em que virou réu, responde a outros 11 inquéritos, oito dos quais relacionados à Lava Jato. Cedo ou tarde, terá o mesmo destino de Eduardo Cunha, hoje um hóspede do PF’s Inn de Curitiba. Já se sabia que o Congresso brasileiro tem um comportamento de alto risco. Mas não se imaginou que os senadores iriam para o suicídio abraçados ao cangaço.
Segundo a cultuada concepção de Churchill, a democracia é o pior regime com exceção de todos os outros. Pois o Senado parece decidido a dar razão a todos os que defendem as alternativas piores. Para usar as mesmas palavras de Renan: ''A democracia, mesmo no Brasil, não merece esse fim.'' Resta agora saber como reagirá o plenário do Supremo. - DO JDESOUSA
Ao se omitir, Senado estende tapete para o STF
Réu, Renan recebeu ordem do ministro Marco Aurélio Mello, do STF, para deixar a presidência do Senado, retirando-se também da linha de sucessão da Presidência da República. E decidiu simplesmente descumprir a ordem. Fez isso com a cumplicidade da Mesa Diretora do Senado, majoritariamente composta de vassalos.
As manobras de Renan para descumprir a ordem de um ministro do Supremo transformaram a encrenca judicial de um senador num processo de desmoralização do Senado. Renan tentou atrair também o apoio de Michel Temer, que preferiu o silêncio.
Se Deus escolhesse um lugar para morar, seria o Brasil. Como não pode, Renan se oferece para substitui-lo. Alguém precisa mostrar a Renan Calheiros que ele também está sujeito à condição humana. Ao se omitir, o Senado estende um tatepe vermelho os ministros do Supremo Tribunal Federal desfilarem. DO J.DESOUSA
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