A Universidade Federal do Rio de Janeiro aplicou no domingo (4) um verdadeiro panfleto petista em forma de prova do edital nº 293/2016 para candidatos a servidores públicos da própria UFRJ em áreas técnico-administrativas e de nível superior, incluindo vagas para médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) e na Maternidade Escola (ME).
Este blog obteve a reprodução de cada página da prova por meio de candidatos que julgaram “revoltante” o alto grau de propaganda político-ideológica de esquerda contida nas questões a que foram submetidos num dos quatro locais de realização do concurso na ilha do Fundão.
“A prova de português inteira foi assim: totalmente tendenciosa”, diz um médico. “Ela foi aplicada tanto para nível médio quanto superior, então todo mundo fez essa prova, a maior parte dela chamando o impeachment de ‘golpe'”, contou.
É compreensível.
O texto panfletário da questão 1, “A Idade Média nacional”, é de Wanderley Guilherme dos Santos, o mesmo que, em 2005, formulou com Marilena Chauí a tese adotada pelo PT (e até hoje repetida em outros escândalos) de que noticiar e denunciar o mensalão era uma tentativa de “golpe das elites” contra o “governo popular” de Lula.
Se a denúncia do mensalão, que rendeu cadeia a José Dirceu e outros petistas graúdos, já era “golpe” para Wanderley, por que o impeachment por crime de responsabilidade não seria, não é mesmo?
[Veja em tamanho ampliado: AQUI.]
Durante o primeira mandato de Dilma, Wanderley presidiu por dois anos a Casa de Rui Barbosa, cargo de confiança subordinado ao Ministério da Cultura.
A banca, porém, usa a velha artimanha de apresentar o autor como mero “cientista político” e “professor aposentado da UFRJ”, dando a impressão de isenção que ele sempre afetou para adaptar discursos “científicos” às conveniências do lulismo.
A fonte do texto é atribuída ao site Segunda Opinião, embora também tenha sido reproduzido na coluna de Wanderley – adivinhe – no Brasil 247, de Leonardo Attuch, citado na Lava Jato por ter recebido 120 mil reais do lobista do petrolão Milton Pascowitch, sem falar nos milhões de reais recebidos de verba de publicidade federal durante o governo do PT.
Wanderley rotula de “golpistas”, sem refutar a argumentação contrária, aqueles que destituíram legalmente Fernando Lugo no Paraguai e Dilma Rousseff no Brasil; e afirma, sem dar exemplos, que “o conservadorismo hegemônico só se sustenta pela asfixia da divergência”, na qual não está ausente a “violência nas ruas, com a brutalidade que for necessária”.
É um típico texto (de) petista em suas omissões, inversões e demonizações baratas.
– Como se o impeachment não tivesse tido apoio da parte da esquerda não aliada ao PT;
– Como se todos que repudiassem os crimes petistas fossem (tais como os por ele demonizados) conservadores;
– Como se a “asfixia da divergência” (por meio de prisão ou fuzilamento) não fosse historicamente a regra em ditaduras de esquerda parceiras do PT, como a cubana;
– Como se a “brutalidade” vista com frequência pelos petistas nos atos pró-impeachment não tivesse sido a de manifestantes tirando fotos ao lado da PM;
– Como se a violência nas ruas e a pregação dela (até no Palácio do Planalto no governo Dilma) não fossem frequentes apenas nos casos de entidades e movimentos de esquerda ligados ao PT, como MST, MTST, CUT, UNE etc., o que as últimas semanas voltaram a deixar claro, com a depredação na Esplanada dos Ministérios de um lado (o deles) e o protesto nacional pacífico de 4 de dezembro do outro: o dos brasileiros que exigem dentro da lei o cumprimento da Constituição.
A questão 1, sob o pretexto da interpretação de texto, já legitima, na prática, o universo paralelo da propaganda petista, sendo a letra “a”, que nem sequer apresenta entre aspas a palavra “golpe”, uma possível resposta oficial:
A questão 2, sob o mesmo pretexto, apresenta hipóteses de interpretação para o trecho sobre “reescrever a Constituição pela força tirânica de maioria institucional”.
Embora a opção “d” seja possivelmente a resposta oficial, a “c” é a mais emblemática, pois menciona o “fato” de que, tendo sido consumado um “golpe parlamentar”, “o próximo passo será a mudança forçada da Constituição pela maioria golpista”.
Não por coincidência, o discurso do PT era de que o impeachment seria um meio para frear a Lava Jato, sendo que 98% dos deputados petistas, depois do impeachment, votaram a favor da “Lei de Intimidação” à Lava Jato, como os próprios procuradores da operação definiram a desfiguração das 10 medidas anticorrupção no plenário da Câmara.
A questão 6 apresenta uma opinião – adivinhe – de Emir Sader sobre – adivinhe – o “avanço conservador”.
[Veja em tamanho ampliado: AQUI.]
Sader, apresentado na prova apenas como “professor”, é na verdade um estrategista petista, antecessor de – adivinhe quem – Wanderley Guilherme dos Santos na presidência da Casa de Rui Barbosa, e organizador de um livro sobre a primeira década do PT no poder, “10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil: Lula e Dilma”.
Já mostrei em vídeo um trecho (abaixo, no ponto) do próprio Sader falando, em debate promovido pelo PT, que “hegemonia, no sentido gramsciano, é isso: mesmo aqueles que são vítimas ou adversários incorporam os seus valores”.
A prova da UFRJ é o enésimo exemplo da aplicação das ideias do ideólogo comunista italiano Antonio Gramsci, que pregava a ocupação de espaços, inclusive em universidades, para disseminação sorrateira das ideias que interessam ao Partido.
[Não deixa de ser sintomático que, numa prova com opiniões políticas de Wanderley Guilherme dos Santos e Emir Sader, haja também um texto (nº 4) de Carlos Castilho, do Observatório da Imprensa, sobre a “era da pós-verdade”, na qual os juízos são “baseados mais em sensações que em evidências” e a “verossimilhança ganhou mais peso que a comprovação”.
Obviamente, porém, a UFRJ não questiona se isto se aplica aos autores anteriormente citados.]
A página 5 apresenta uma charge em que a personagem Mafalda aparece na dianteira de uma fila de vacinação dizendo à profissional de saúde:
“Viemos tomar a vacina contra o ódio!”
A prova não diz, mas esta charge foi reproduzida em março, durante o processo de impeachment, por Luís Nassif, militante da rede virtual petista segundo o próprio presidente do PT, Rui Falcão, e autor do blog que recebeu R$ 1.274.671,00 em verba de publicidade federal só em 2015.
O PT acusava e, claro, acusa de “ódio” quem se volta contra os crimes comuns ou de responsabilidade cometidos por petistas. A mão entregando flores que aparece em quadro na charge alude ao símbolo do PDT, aliado do PT contra o impeachment.
A propaganda do discurso petista é tão evidente na prova que nenhuma questão aborda diretamente a charge; ela apenas ilustra a questão 9, que – adivinhe – trata dos significados do verbete “golpista”.
[Veja em tamanho ampliado: AQUI.]
A questão 10 apresenta um texto sintomático de ataque ao projeto Escola Sem Partido (ESP), criado por Miguel Nagib justamente para alertar estudantes de todo o Brasil contra doutrinações ideológicas como a da prova da UFRJ.
Este blog perguntou, então, a Nagib a sua opinião a respeito e a reproduz abaixo na íntegra:
“Caro Felipe,
Essa prova é também uma prova do aparelhamento político e partidário das escolas e universidades no Brasil. Das escolas e universidades esse tipo de prática se espalhou por toda a máquina do estado. Em maio deste ano, uma prova de seleção de estagiários para o MPF em Minas também foi notícia por causa do viés partidário. [Veja AQUI.]
No caso, embora as questões de português não exijam do candidato um alinhamento político, elas deixam claro o viés ideológico do funcionário/professor responsável, o que é ilegal. Esse comportamento é uma tara. O militante simplesmente não consegue se conter.
Antigamente, a doutrinação estava restrita às disciplinas de história, geografia, sociologia… Hoje está em todo o curriculum. Os militantes adoram dar aula de Português, por exemplo, porque podem obrigar os alunos a ler os textos que eles, professores, gostam de ler. Então, é um festival de artigos extraídos de Carta Capital, Midia Ninja, Agência Pública e da esgotosfera petista em geral.
O texto sobre o ESP, usado na prova, fala de uma professora que foi flagrada em vídeo, usando sua aula para ‘explicar’ aos alunos por que os professores entrariam em greve. Ou seja: a professora estava usando seu cargo para promover os seus próprios interesses; estava roubando o tempo de aprendizado dos alunos para tentar obter a sua adesão à pauta de reivindicações do sindicato. E por isso ela teria sido denunciada e estava tentando se fazer de vítima. Ora, vítimas são os alunos! Ela tinha mais é que levar uma sanção disciplinar para aprender a respeitar a lei e os estudantes. Mas duvido que isso tenha acontecido.
Essa prova é um escândalo.”
Pois é, Nagib.
Mas a exploração da agenda de esquerda na prova não para por aí.
A questão 11 usa trecho da notícia sobre o Colégio Pedro II liberar saia para meninos e adotar em listas de chamada o “nome social” escolhidos por alunos e alunas transexuais.
A questão 12 cita diálogo de Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia sobre se ela queria ser chamada de “presidente ou presidenta” do STF e depois defende que o segundo termo, usado por Dilma e dispensado por Cármen, está consignado no dicionário Houaiss.
A banca apresenta então três opções de repercussão do diálogo na imprensa, com as respectivas manchetes: uma do G1, uma da revista Carta Capital, outra da revista VEJA; e foca a questão – adivinhe – no grau de isenção.
A prova omite que a manchete afiada de VEJA, na verdade, é de um de seus colunistas de opinião, Augusto Nunes, não da redação.
É um modo sorrateiro de fazer a Carta Capital, aquela revista cujo editor é pautado por Lula, como confirmou uma gravação da Lava Jato, parecer mais isenta que VEJA.
[Veja em tamanho ampliado: AQUI.]
O texto 5 da prova é uma adaptação da notícia do UOL sobre a conclusão fajuta da “pesquisa” do Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, segundo a qual “Um em cada 3 brasileiros concorda que mulher tem culpa por estupro”.
Este blog já refutou essa conclusão em setembro: AQUI.
Mas a banca da UFRJ prefere investir no engodo sobre a “cultura do estupro” no Brasil.
A questão 16 usa trecho de Sergio Rodrigues que, na prática, equipara “os anacolutos de Dilma” às “mesóclises de Temer”.
A questão 17 apresenta um texto sobre o “choque” da sessão de votação do impeachment para os brasileiros.
Caminhando para o final, os próprios autores da prova já não conseguiram nem disfarçar sua militância no enunciado:
“Dentre as bizarrices ditas durante as indevidas declarações de voto, chamaram atenção diversos atropelos à norma culta da língua…”
Para mostrar vários, eles pedem então que se marque a alternativa em que não ocorre erro de concordância.
Ou seja: numa questão, minimizam o mau português de Dilma com crítica à “cafonice bacharelesca” de Temer; na outra, exploram o mau português dos deputados na sessão do “golpe”.
[Veja em tamanho ampliado: AQUI.]
[Veja em tamanho ampliado: AQUI.]
Anos atrás, eu defini o Enem como um manual de guerrilha em forma de quiz.
A banca da UFRJ conseguiu superar o Enem em favor do PT.
Essa gente quer reescrever mais uma vez a história do Brasil e usar o sistema de ensino aparelhado para inculcá-la em estudantes do país inteiro.
Como queríamos demonstrar em vídeo de 11 de agosto:
“Com Lula réu e Dilma ré, resta ao PT mentir às próximas gerações”.
DO FELIPEMOURASBRASIL
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