Quando se sente acuado, Renan ataca.
Faz barulho.
E, por meio dele, tenta atrair apoios.
Como fazia Eduardo Cunha, hoje, preso em Curitiba (27/10/2016)
Ricardo Noblat
A arenga do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) contra o Poder Judiciário
pode ser chamada por qualquer nome, mas está longe de indicar que o
país esteja às vésperas de uma crise institucional.
O Poder Legislativo é composto pelo Senado e pela Câmara dos Deputados. Renan preside o Senado.
Quando o Senado e a Câmara se reúnem para deliberar, diz-se que o
Congresso está reunido. E é o presidente do Senado quem comanda a
sessão.
Renan é, pois, o presidente de uma das casas do Poder Legislativo. Não é o presidente do Poder Legislativo.
Na linha direta de sucessão do presidente da República, o presidente do
Senado é o terceiro. Antes dele estão o vice-presidente e o presidente
da Câmara.
Michel Temer não tem vice, como José Sarney não teve, nem Itamar
Franco. Os três substituíram presidentes afastados por impeachment
(Collor e Dilma) e por morte (Tancredo Neves).
Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual presidente da Câmara dos Deputados, não está em rota de colisão com o Poder Judiciário.
Quem está é Renan. E não por que um juiz de primeira instância
autorizou a Polícia Federal a prender agentes da Polícia do Senado,
suspeitos de sabotarem a Lava Jato.
Mas porque Renan está encrencado com a Justiça onde responde a 11 processos, e vê a Lava Jato aproximar-se mais e mais dele.
Quando se sente acuado, Renan ataca. Faz barulho. E, por meio dele,
tenta atrair apoios. Como fazia Eduardo Cunha, hoje, preso em Curitiba.
Como sabe que é generalizado no Congresso o medo da Lava Jato, Renan se
oferece como líder da resistência contra suas investidas.
Falta-lhe coragem, porém, para bater no alto. Bate então num “juizeco” e
em um ministro a quem se refere como “chefe de polícia”.
Não bate em Sérgio Moro. Muito menos em ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF) que o julgarão em breve por ter recebido dinheiro de uma
empreiteira para pagar pensão à ex-amante.
Diante de uma reprimenda da ministra Carmén Lúcia, presidente do STF, mia como um gato e renova seu apreço ao Judiciário.
No dia seguinte, sugere que faltará a uma reunião convocada pela
ministra para tratar de segurança pública. Para horas depois confirmar
que estará, sim, presente à reunião.
É incentivado pelos colegas a ir em frente. Mas eles não se dispõem a
acompanhá-lo. Está só. E a três meses do fim do seu mandato como
presidente do Senado.
A Lava Jato está longe do fim. O mandato de dois anos da ministra Cármen Lúcia como presidente do STF está só no começo.
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