quinta-feira, 11 de agosto de 2011

BEM, LULA CONFESSA QUE NÃO FALOU A VERDADE…

Leia primeiro o post abaixo
No dia 14 de março, publiquei dois posts sobre as muitas vezes em que Lula foi avisado da existência do mensalão. Quando estourou o escândalo, a primeira reação do PT foi negar. Quando isso se tornou impossível, Lula pronunciou a frase célebre: “Eu não sabia”, que acabou virando motivo de piada. Mas foi nela que se baseou a defesa do presidente. A resposta que Lula dá agora ao STF é uma espécie de admissão: “Olhem, eu não disse a verdade; eu sabia”.
O jornalismo demonstrou — com destaque para a revista VEJA — as muitas vezes, cinco!!!, em que Lula fora advertido da lambança. E o que ele fez? Nada! Por que o presidente  não foi incluído na denúncia do Procurador Geral da República? Vai saber…
E cumpre notar: a hipótese de que Lula apenas “sabia” é a benevolente. Segundo Waldemar Costa Neto, do PR, Lula estava presente a uma reunião em que ficou acertado que o PT repassaria, por fora, a seu partido, a bolada de R$ 10 milhões. Nas respostas ao STF, o presidente admite que a reunião existiu, mas disse não se lembrar de que se tenha falado em dinheiro… É o “eu não sabia” em novo contexto.
Abaixo, o post do dia 14 em que trato, sim, da questão do mensalão. Mas falo, também, sobre a função do jornalismo, lembrando também o escândalo da Bancoop.
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Vamos conversar um pouco sobre política, a natureza de alguns políticos e a obrigação do jornalismo.
As capas
Duas capas da VEJA abriram a vereda para se chegar a dois grandes mistérios da República petista: a origem da dinheirama do mensalão e a da grana que pagaria o dossiê dos aloprados. E, tudo indica, as picadas conduzem a João Vaccari Neto, amigo pessoal do presidente Lula e figura de proa do petismo. O PT, como se tornou um hábito, nega tudo. Quanto vale uma negativa do PT? Quem vai responder a essa pergunta, como veremos, é o próprio Lula. Já chego lá. Antes, outras considerações importantes.
O depoimento do corretor Lúcio Funaro à Procuradoria Geral da República é dos mais contundentes. Segundo ele, Vaccari era o homem que cuidava da corretagem junto aos fundos de pensão das estatais. O esquema, na sua versão, era de uma espantosa simplicidade: essas instituições bilionárias faziam pesados investimentos em alguns bancos, e estes repassavam uma comissão ao partido. Relata reportagem da VEJA:
Entre 2003 e 2004, os três bancos citados pelo corretor - BMG, Rural e Santos - receberam 600 milhões de reais dos fundos de pensão controlados pelo PT. Apenas os cinco fundos sob a influência do tesoureiro aplicaram 182 milhões de reais em títulos do Rural e do BMG, os principais financiadores do mensalão, em 2004. É um volume 600% maior que o do ano anterior e 1 650% maior que o de 2002, antes de o PT chegar ao governo. As investigações da polícia revelaram que os dois bancos “emprestaram” 55 milhões de reais ao PT. É o equivalente a 14,1% do que receberam em investimentos - portanto, dentro da margem de propina que Funaro acusa o partido de cobrar (entre 6% e 15%).
Os cinco fundos de pensão, no caso, são Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa Econômica), Nucleos (Nuclebrás), Petros (Petrobras) e Eletros (Eletrobrás). Juntos, têm um patrimônio de R$ 190 bilhões.
Das negativas
Vaccari emitiu neste sábado uma nota acusando uma espécie de conspiração contra o partido. E atacou a revista VEJA, como era de se esperar. Comentei na semana passada as formas a que o PT recorre para tentar se safar das acusações. A Carta ao Leitor da revista desta semana (ver post) trata do assunto. Os petistas dedicam menos tempo a negar as falcatruas do que a acusar uma grande armação dos adversários em conluio com a famosa “mídia”.
Como sabemos, o PT chama “mídia” àquela coisa nefasta que noticia o que o partido não gosta de ler. Já as informações que atingem seus adversários são coisas do mais refinado “jornalismo”. Na entrevista que concedeu à Folha em 2005 denunciando a existência do mensalão, o então deputado Roberto Jefferson (PTB) asseverou que havia advertido Lula sobre o esquema. O Planalto sentiu cheiro de carne queimada: era de tal sorte grave a denúncia que o imbróglio poderia resultar numa acusação de crime de responsabilidade - de que poderia decorrer o impeachment. Na versão oficial, Lula ignorava  a tramóia e não se lembrava de ter sido advertido por Jefferson. Era tão inocente que, ao fazer um pronunciamento sobre o caso, orientado por Márcio Thomaz Bastos, chegou a se dizer “traído” - só não disse quem o traiu.
O PT começava a popularizar o que acabou se transformando num clichê partidário e numa blague no meio político: a frase “Eu não sabia!” Pois é…
A bolada do PL
Lembram-se da bolada que o PT pagou a Valdemar Costa Neto, do PL? Reproduzo trecho de uma entrevista concedida pelo próprio: “A reunião foi no apartamento do deputado Paulo Rocha. Estavam lá o Lula, o José Alencar, o Dirceu e o Delúbio. O presidente sabia o que a gente estava negociando. O Lula sabia o que o Dirceu estava fazendo. O Lula foi lá para bater o martelo. Lula foi lá pra autorizar essa operação.” O PL queria, inicialmente, R$ 20 milhões, deixou por R$ 10 milhões, mas recebeu um pouco menos, segundo Valdemar. E o pagamento foi feito depois que Lula já era presidente. O corretor Funaro, diga-se, operou para o chefão do PL - leia a reportagem de capa na VEJA desta semana.
Outra capa
Vaccari e os outros petistas estão bastante indignados com as duas mais recentes capas da VEJA. Entendo. O partido também não gostou desta:
capa-lula-alertado
Trata-se da edição nº 1914, de 20 de julho de 2005. E se lia lá:
Nas últimas quatro semanas, VEJA conversou com 29 autoridades para responder à pergunta primordial do escândalo atual: Lula sabia? Lula foi avisado de que deputados aliados receberam dinheiro para aderir à base governista? Lula foi alertado de que aliados vinham embolsando uma mesada de 30.000 reais para votar a favor das propostas do governo? VEJA entrevistou quatro ministros, cinco assessores, seis senadores, doze deputados e dois governadores, sendo que todos eles tiveram contato direto ou indireto com o assunto, e chegou a uma conclusão: o presidente Lula soube mais do que admitiu oficialmente até agora. VEJA encontrou cinco episódios nos quais o presidente estava presente quando se falou do chamado mensalão. O primeiro episódio identificado por VEJA aconteceu em 25 de fevereiro do ano passado, e o portador da notícia da existência do pagamento de mesada foi o deputado Miro Teixeira, na época líder do governo na Câmara. A quinta ocasião foi a única que já veio a público com detalhes. O alerta foi dado pelo deputado Roberto Jefferson, em 23 de março passado, no gabinete de Lula no Planalto.
O levantamento sobre o que chegou aos ouvidos do presidente tem uma evidente lacuna nas diferentes versões. O deputado Roberto Jefferson, desde a sua primeira e explosiva entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, tem dito que levou a denúncia do mensalão ao presidente Lula “em duas conversas”. Na semana passada, por meio da assessoria de imprensa, o deputado confirmou a VEJA que a primeira conversa com Lula aconteceu em 5 de janeiro deste ano, no Palácio do Planalto, tendo sido testemunhada apenas pelo ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia
Vai admitir
O Ministério Público Federal enviou 33 perguntas a Lula sobre o mensalão. Uma das indagações é se Jefferson o advertira ou não sobre o esquema. Segundo informou a Folha de S. Paulo, Lula finalmente admitirá que foi, sim, avisado por Jefferson. É o que assegurou a capa de VEJA há quase cinco anos. E não só por ele. Abaixo, vocês encontrarão quadros sintetizado as outras quatro vezes em que o presidente fora “avisado”. Lula também dirá que participou daquela reunião com o PL. Mas ignorava qualquer rolo com dinheiro.
Quanto vale mesmo?
Quanto vale mesmo a negativa de um petista com a importância de Lula? Por ela, pode-se estimar o valor da negativa de um petista com a importância de Vaccari. O comportamento das estrelas do partido varia muito pouco. Quando Hamilton Lacerda, assessor pessoal de Aloizio Mercadante, foi flagrado carregando a dinheirama do dossiê dos aloprados, o que disse o senador, então candidato ao governo de São Paulo e um dos beneficiários diretos da falcatrua caso ela tivesse prosperado? “Eu não sabia!” Para quem Lacerda ligou uma hora antes de passar a bolada aos outros bandidos? Para Vaccari.
Quando se descobriu que a Casa Civil, sob o comando de Dilma Rousseff, havia preparado um “dossiê” (eles adoram essas coisas) contra FHC e sua mulher, Ruth Cardoso, os petistas seguiram a sua aborrecida rotina: 1) o dossiê não existe; 2) se existe, o governo não sabia; 3) existe, mas não é dossiê…
Encerrando
Na estranha lógica do petismo, esses escândalos só vêm à luz porque estamos em ano eleitoral, e tudo não passaria de uma guerra entre governo e oposição. O juiz que rejeitou, por enquanto, a quebra do sigilo bancário de Vaccari lembrou do especial cuidado que é preciso ter em tempos assim. Claro, claro… O curioso é que esses argumentos poderiam ter protegido o bando que atuou com José Roberto Arruda no Distrito Federal, não é mesmo? A eleição, de resto, é um motivo a mais para denunciar as safadezas. O eleitor tem o direito de saber dos fatos para decidir com mais clareza. O presidente vai admitir agora o que VEJA estampou na capa há quase cinco anos? Assim são as coisas.
Lula é este cara: está sempre fazendo história. E tornando históricas as capas da revista. A cada semana, há uma VEJA nova nas bancas e na casa dos assinantes. E, como se nota, sob certo ponto de vista, a revista não muda. E isso é fazer história.
Por Reinaldo Azevedo
REV VEJA

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