Ex-presidente da República foi condenado a nove anos e seis meses.
O juiz Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava Jato na
primeira instância, condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
em uma ação penal que envolve o caso da compra e reforma de um
apartamento triplex em Guarujá, no litoral de São Paulo. Ele foi
condenado a nove anos e seis meses.
A sentença foi publicada nesta quarta-feira (12).
O G1 tenta contato da defesa de Lula.
Triplex no Guarujá
O que diz o MPF: A construtora OAS destinou à família do ex-presidente
Lula um triplex no Condomínio Solaris, em frente à praia, em Guarujá.
Antes de a empreiteira assumir a obra, o edifício era comercializado
pela antiga cooperativa de crédito do Sindicato dos Bancários de São
Paulo, conhecida como Bancoop, que faliu. A ex-primeira-dama Marisa
Letícia tinha uma cota do empreendimento.
O imóvel, segundo o MPF, rendeu um montante de R$ 2,76 milhões ao
ex-presidente. O valor é a diferença do que a família de Lula já havia
pagado pelo apartamento, somado a benfeitorias realizadas nele.
Parte da denúncia é sustentada com base em visitas que Lula e Marisa
Letícia fizeram ao apartamento, entre 2013 e 2014. Segundo procuradores,
a família definiu as obras a serem feitas no imóvel, como a instalação
de um elevador privativo.
O que diz a defesa: A defesa de Lula reconhece que Marisa Letícia tinha
uma cota para comprar um apartamento no Condomínio Solaris. No entanto,
diz que ela desistiu da compra quando a Bancoop faliu e a OAS assumiu o
empreendimento.
Segundo os advogados, o apartamento 164 A está em nome da OAS, mas,
desde 2010, quem detém 100% dos direitos econômico-financeiros sobre o
imóvel é um fundo gerido pela Caixa Econômica Federal.
Sobre as visitas de Lula e Marisa ao apartamento, a defesa alega que
eles queriam conhecer o imóvel e planejar uma possível compra. Afirmam,
porém, que, mesmo com as benfeitorias realizadas pela construtora, a
compra não foi realizada.
Armazenamento de bens
O que diz o MPF: A OAS pagou R$ 1.313.747,24 para a empresa Granero
guardar itens que Lula recebeu durante o exercício da presidência, entre
2002 e 2010. O pedido foi feito pelo presidente do Instituto Lula,
Paulo Okamotto, e pelo próprio ex-presidente da República.
O que diz a defesa: Os itens sob a guarda da Granero não eram bens de
uso pessoal do ex-presidente, mas faziam parte do acervo presidencial,
que lhe foi concedido pela Secretaria-Geral da Presidência da República,
assim que ele deixou o mandato. Segundo o Instituto Lula, a maior parte
dos materiais são cartas, camisetas e peças de artesanato.
Conforme Paulo Okamotto, o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro se
ofereceu para ajudar temporariamente o Instituto Lula a armazenar os
objetos em um espaço que a empresa já alugava na Granero. Okamotto nega
qualquer irregularidade no apoio dado pela OAS.
Nomeações na Petrobras
O que diz o MPF: Quando era presidente, Lula usou seu poder para manter
na Petrobras os ex-executivos Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco e
Renato Duque – já condenados na Lava Jato por atuar em favor de um
cartel que fraudava contratos na Petrobras. O MPF defende que a
manutenção deles nos cargos favoreceu o consórcio liderado pela OAS.
O que diz a defesa: Todas as nomeações para as diretorias da Petrobras
foram feitas a partir de indicações de aliados políticos. Lula apenas
assinou as ordens para que as pessoas assumissem os respectivos cargos.
Benefícios para a OAS
O que diz o MPF: Consórcios dos quais a OAS fazia parte conseguiram
contratos para obras na Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em
Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, e na Refinaria Abreu e
Lima (Rnest), em Pernambuco.
Na Repar, antes da licitação, a Petrobras fez um orçamento para a obra e
estimou que gastaria até R$ 1,4 bilhão. No entanto, a estatal acabou
fechando contrato no valor de R$ 2,079 bilhões, quase 50% a mais do
esperado. Outros dois contratos com sobrepreço ocorreram na Rnest.
Juntos, custaram cerca de R$ 4,4 bilhões.
O que diz a defesa: Lula não atuou em favor de cartel na Petrobras, e
não há evidências que suportem a denúncia. O foco de corrupção alvo da
Lava Jato está restrito a alguns agentes públicos e privados, que
atuavam de forma independente, regidos pela dinâmica de seus próprios
interesses, e alheios à Presidência da República.
Todos os réus do processo
Além de Lula, outras seis pessoas foram envolvidas nesta ação penal. Veja abaixo as acusações contra cada réu.
•Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente: corrupção passiva e lavagem de dinheiro
•Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS: corrupção ativa e lavagem de dinheiro
•Paulo Gordilho, arquiteto e ex-executivo da OAS: lavagem de dinheiro
•Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula: lavagem de dinheiro
•Agenor Franklin Magalhães Medeiros, ex-executivo da OAS: corrupção ativa
•Fábio Hori Yonamine, ex-presidente da OAS Investimentos: lavagem de dinheiro
•Roberto Moreira Ferreira, ligado à OAS: lavagem de dinheiro
Outros processos de Lula
O ex-presidente é réu em outras duas ações da Lava Jato, em uma ligada à
Operação Janus, que trata de contratos no BNDES, e outra relacionada à
Operação Zelotes, que apura venda de medidas provisórias.
Lula também foi denunciado no caso envolvendo o sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, no âmbito da Lava Jato.
Ele é alvo ainda de dois inquéritos na Lava Jato: um sobre a formação
de organização criminosa para fraudar a Petrobras, e outro sobre
obstrução das investigações ao tomar posse como ministro de Dilma. Na
Zelotes, ele é investigado em inquérito sobre a edição da medida
provisória 471, que criou o Refis.
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